𝟬𝟭. BLACKCAT E SEUS PARCEIROS
A BRISA NOTURNA atravessava os leves e finos fios de cabelo ruivo de Yeoboo. Dentro da SUV preta do Yang, o rapaz dirigia rumo ao Cassino ilegal que um dos capangas, Park Song-hyuk estaria. Boo movia a mão direita por fora do carro, imitando uma onda no mar e curtindo o tempo. O local era um pouco longe do centro da cidade de Seul e o caminho um pouco longo a se percorrer. Junho ligou o som e colocou a playlist que ele e a Hong mais nova escutavam quando estavam juntos no carro. Colocou baixinho, para que assim, qualquer coisa que Yeoboo falasse, o mesmo pudesse escutar.
Era um pouco estranho, pois Yeoboo estava a quase meia hora sem falar nada. O Yang tentou puxar assunto, rir de algum meme, trazer alguma lembrança, mas nada. Nada. Boo apenas respondia monossilábica, com sim ou não, e voltava a olhar para fora do carro.
─ Eu sei que você não quer que eu pergunte nada, mas não gosto de ver você calada. É esquisito, Boo. ─ Admitiu, a olhando de lado de vez em quando. Junho sabia extamente o que estava passando pela cabeça dela. ─ Tenho certeza que seu halabeoji está orgulhoso de você. ─ Disse, referindo-se a Hong Yuchan. ─ Eu estou.
A Hong finalmente tirou os olhos da rua e deu atenção para Junho. Ele estava ali, focada na estrada, ao mesmo tempo que tentava tirar respostas da sua melhor amiga. Yeoboo, ainda calada, pousou o braço direito sob a porta do carro e apoiou a cabeça, sem tirar os olhos do Yang.
"Ele é tão bonito", pensou. Poderia falar "ele é tão bonito sério" ou "ele é tão bonito quando é engraçado", mas parecia pouco. Junho era bonito vinte e quatro horas por dia, sete vezes por semana, 365 dias do ano.
Um sorriso surgiu em seus lábios quando veio a sua mente o Junho preocupado. Preocupado com ela. Tentando entendê-la, mesmo que muitas vezes fosse difícil. Odiava fazer drama ou parecer mimada, mas se sentia sempre tão bem quando o rapaz demonstrava importância ─ ou seja, durante quase todo dia. Se sentia segura.
"Para de pensar nisso, sua maluca, vocês são melhores amigos", a outra voz, a consciente, lembrou desse fato.
─ Sei que você sabe que eu não falei por mal, só estava preocupado com você. ─ Junho tirou a vista da rua por alguns segundos, apenas para lhe dar um sorriso. ─ Você pode achar bobo, mas... Você sempre vai ser a pessoa mais importante para mim, Yeoboo. ─ Confessou. Yeoboo levantou a cabeça e não conseguiu parar de encara-lo. Yang não olhou para ela nessa hora. Pelo contrário, virou seu rosto para o lado esquerdo. ─ Já perdi minha mãe por causa desses babacas. Não vou perder você também.
Só foi o tempo para que Junho acabasse de falar, que eles chegaram no cassino. Yang estacionou uma quadra ao lado, um tanto escondida. Ele tirou as chaves do carro, olhou pelo parabrisa e arrumou os fios de cabelo que foram bagunçados por causa do vento. Aparentemente nervoso, suspirou para ele mesmo e abriu a porta do carro, saindo.
─ Pronta? ─ Junho abaixou minimamente, para que ficasse na altura do banco do carro. ─ O que? ─ Perguntou, erguendo a sobrancelha direita, um pouco confuso ao vê-la parada. ─ Por acaso ficou nervosa? ─ Ele riu, achando engraçado. Yeoboo nunca ficava nervosa com nada. Normalmente, muito cara de pau.
─ Nada. ─ Mentiu, engolindo seco. Claro, ela não diria que ficou nervosa com a fala dele. Esquisito, porquê Yang Junho sempre lhe causava sensações e sentimentos fortes. ─ Obrigado, Juno. ─ Agradeceu. Se pudesse resumir em uma palavra as suas demonstrações desengonçadas, seria vergonha.
Yeoboo desceu do carro. Ela bateu levemente na calça azul de linho para poder tirar as dobrinhas que insistiam em ficar e arrumou o blazer de mesma cor no corpo. No conjunto, também havia tênis brancos que combinavam com o azul claro e uma camiseta branca sem estampa. Boo arrumou suas cabelos, deixando as pontas alinhadas e a franja no lugar. Pendurada no ombro, uma bolsa que pegou emprestada de sua mãe, apenas para combinar com o roupa. Aquele conjunto em si, não era nada muito parecido com o que ela costumava usar. Porém, para parecer mais séria e mais velha, usou roupas que Chayoung costumava usar.
Sendo os tênis brancos e super confortáveis, a coisa mais parecida com sua personalidade.
─ O que acha? Parece muito exagerado? ─ Perguntou para Junho, ficando de frente a ele como um manequim. Fez uma pose, e outra, e mais uma. Ele riu, fechando os olhinhos e achando engraçado. ─ Quis parecer um pouco mais séria, sabe? Se não eles não vão nos deixar entrar. ─ Mesmo já com a maior idade, os dois ainda pareciam ter saído do ensino médio. Jovens. ─ Meu personagem é "uma mulher de negócios que se apaixona em um cassino clandestino ". ─ Riu, fazendo uma pose com as mãos, como se mostrasse um daqueles letreiros de cinema. ─ Gostou?
─ Não. ─ Falou sinceramente. A ideia de tentar conquistar um assassino, só para depois meter a porrada nele, ainda o incomodava. Bem que poderia ficar apenas na porrada. ─ Mas você está muito bonita. Combinou com você.
Claro que combinou ─ tudo combinava com ela, não é, Yang? O sorriso de Yeoboo conquistava cada vez mais o coração já dominado de Junho. Aquele jeitinho dela. Aquele jeitinho fofo, engraçado e caótico. As ideias completamente perigosas que ela não parecia sentir nenhum medo de realizar. Sua perseverança. Sua generosidade. Sua vontade de ajudar as pessoas. Até mesmo os defeitos, como sua impaciência e sua teimosia que a levava a se meter em confusões 24 horas por dia. Chayoung ensinou bem.
─ Eu sei, puxei a mamãe. ─ Disse convencida, piscando para ele. ─ Agora vamos.
Yeoboo e Junho foram até a entrada da casa onde ficava o cassino, falando a senha para poder entrar. E como sabiam da senha? Minutos antes, ainda dentro do carro, Boo hackeou as câmeras do cassino, verificando as câmeras da frente. Deu um zoom no rosto dos convidados e, fazendo leitura labial em um deles, descobriu qual era a senha do dia ─ pois para dificultar a entrada de pessoas estranhas, os organizadores costumavam mudar as senhas.
Yeoboo e Junho ficaram extremamente surpresos ao ver quanta elegância havia naquele ambiente. Não era como se eles não tivessem ideia de como aquelas casas clandestinas eram, nas ainda sim era uma novidade. Era a primeira vez que eles estavam em uma missão disfarçados e em um lugar como aquele.
─ Se chamar a polícia não fica um pra contar história. ─ Junho soltou a piada. A Hong olhou para ele e o mesmo desfez o sorriso. ─ Ok, o que fazemos?
─ Hm... ─ A garota rolou os olhos pelo lugar, procurando seu alvo. ─ Ali. ─ Ela chamou atenção do melhor amigo para um garoto por volta de seus 25 anos, sentado na mesa do bar. ─ Eu vou falar com ele.
─ Ainda não gosto dessa ideia. ─ Yang cruzou os braços, passando a língua por cima do próprio lábio inferior. ─ Ele não tem cara de ser tão otário como você falou. Na verdade, tem cara de ser bem esperto.
─ Junho para com isso e sai logo daqui. Ou as pessoas vão desconfiar. ─ Yeoboo empurrou o rapaz para o lado e seguiu seu caminho em direção ao criminoso.
Ela estava um pouco nervosa, mas deixou isso de lado, pois nada poderia dar errado naquele momento.
De maneira elegante e sutil se aproximou da bancada. Olhou para o lado rapidamente, encarando os olhos do rapaz por dois segundos e desviando, com um sorrisinho. Pediu um martini com gelo e ajeitou as mechas do cabelo ruivo com a ponta dos dedos. Notou que que o capanga da Choi Myeong-hui, denominado Park Song-hyuk, não parava de olha-la. O incomodo do mais velho parecia nítido e estava claro que a qualquer momentos ele puxaria assunto. Por esse motivo Yeoboo não falou absolutamente nada. A graça seria que ele iniciasse aquela conversa.
─ Oi, licença, tudo bem? ─ Não demorou muito para os pensamentos da Hong serem interrompidos pelo que ela já imaginava que iria acontecer.
─ Falando comigo? ─ Se fez de boba, apontando para si mesma. Ela piscou os olhos e largou a taça de martini. O rapaz concordou balançando a cabeça e deu seu melhor sorriso para a ruiva. ─ Ah... Claro, estou sim e você? ─ Ele concordou mais uma vez. Deveria ser ruim de papo. ─ Então... Como é seu nome? ─ Puxou assunto.
─ Park Song-hyuk... Mas pode me chamar só de Song-hyuk se quiser. ─ O sorriso do rapaz não saia de seus lábios. Ele certamente havia se encantado por Yeoboo. ─ E o seu?
É sério que ele não sabia quem ela era? A família dela era o principal alvo da Babel, como ele não sabia quem ela era? Capanga incompetente.
─ Meu nome é Park Min-jun... Mas pra você pode ser Junnie. ─ Ela pôs a mão por cima da boca, rindo e fingindo estar envergonhada. O que de verdade estava sendo ao ter que bolar aquela cena. ─ Com todo respeito, mas posso chamar você de Hyuk-a? Acho que não temos uma diferença de idade muito grande. Eu tenho 25 anos e você?
─ Eu também tenho 25 anos. ─ Song-hyuk se levantou de seu banco e o arrastou um pouco mais para perto do de Yeoboo. ─ Está tão barulhento aqui, não consigo te escutar direito. ─ Alegou, dando uma desculpa esfarrapada. ─ E bom... Você pode me chamar do que quiser. Temos a mesma idade.
─ A mesma idade e também somos Park... isso é muita coincidência. ─ A Hong passou mais uma vez os dedos pelos fios alaranjados do cabelo. Hyuk a observou todos seus movimentos seguintes, a encarando como se ela fosse a primeira maravilha do mundo. ─ Hm... Esse martini está ótimo... Deveria provar, Hyuk-a.
Do outro lado da sala, sentado em uma poltrona enquanto tomava um copo de Whisky, Yang Junho não sabia se iria aguentar olhar aquela cena por muito tempo. Era torturante ─ mesmo que fosse apenas uma encenação, ver Yeoboo dando chance para um assassino. Ele não conseguia fingir desgosto e se as outras pessoas não estivessem tão ocupadas em seu mundinho rico, alguém já teria percebido o olhar tortuoso e irritado do futuro advogado.
─ Você tem que fingir melhor, ragazzo. ─ Falou um rapaz se sentando ao lado de Junho. Não só pela voz, mas por ter olhado para o lado para ver quem era, Junho viu que era Matteo Cassano. ─ Então, ela já tocou nele ou chamou ele por algum nome fofo? ─ Perguntou se esticando para pegar um pouco do aperitivo que estava em cima da mesinha. ─ Normalmente isso já resolve com virgens que nem ele.
─ Como você encontrou a gente? ─ Junho ignorou todos os outros comentários para perguntar o óbvio.
─ Coloquei um rastreador no celular da Yeoboo. ─ Falou de maneira simples e direta. ─ Meu irmão mandou ficar de olho nela porque... "è proprio come sua madre". ─ Disse em italiano a frase que Vincenzo falou por algumas vezes ao irmão mais novo "ela é igual a mãe dela". ─ Para um leigo como você isso significa que ela é igual a mãe dela.
─ Como é? Você não tem modos não? ─ Junho quase falou alto, mas se controlou para não chamar atenção. ─ E você simplesmente fez o que ele mandou? Você não pode colocar o rastreador no celular de alguém.
─ Eu estou cuidando dela como o Vincenzo pediu. ─ O Cassano mais novo encarou o Yang. Não se importava em quebrar regras básicas de senso para fazer o que lhe era pedido. ─ E eu já imaginava que ela tentaria fazer algo... É tão óbvio. ─ Soltou uma risada, encostando na poltrona. ─ Mas eu admiro isso nela. Ela tem coragem. ─ Comentou, olhando para Yeoboo de relance. ─ Isso vai ser um pedido óbvio, mas você não pode contar a ela.
─ E você acha que eu vou fazer o que você tá mandando? ─ Junho respirou fundo, achando um absurdo a falta de respeito.
Matteo largou o copo de Whisky que havia pego alguns segundos atrás e colocou na mesinha com um tanto de força, que fez o vidro dos dois objetos fazerem barulho ao se chocarem. Ele puxou Junho pela gola e o encarou tão próximo, que poderia sugar a alma dele só o encarando.
─ Se você gosta mesmo dela você vai calar essa sua boca grande e me deixar fazer o meu trabalho, tá me ouvindo? ─ Falou mais sério, bufando. Uma careta de raiva surgiu no rosto antes debochado do rapaz. ─ Eu não tô fazendo isso porque é divertido, mas sim porquê ela está em perigo, assim como a senhorita Hong, entendeu?
─ Então você vai ficar seguindo ela para todos os lugares? Isso parece maluquice. ─ Junho retrucou no mesmo tom, sem mostrar sem estava ou não com medo dele.
─ Não se você me ajudar. ─ Matteo soltou a gola de Junho e se recompôs, pegando o copo de Whisky de volta. ─ Você gosta dela, não gosta? ─ Falou mais como afirmativa do que como uma pergunta. ─ Então me ajuda. Não estou pedindo para confiar em mim, porquê não estou nem ai se você gosta de mim, mas estamos do mesmo lado.
Antes que Junho respondesse, Yeoboo e Song-hyuk se levantaram do bar e foram em direção a uma sala no fim de uma corredor. Matteo tomou o resto de Whisky do copo, se levantou e olhou para Junho, esperando que ele fizesse o que ele normalmente já parecia fazer e protegesse a Hong mais nova.
─ Vamos, está na hora.
Junho também se levantou de seu lugar, mas não se prestou a olhar para Matteo, que apenas revirou os olhos ao ver o ignorando.
Deixando as desavenças de lado, os dois chegaram na frente da sala. Junho olhou para o outro e pediu silêncio, para escutar se alguém estava falando algo, mas não ouviu nada. Matteo também fez o mesmo, mas assim como o Yang não ouviu nada.
Ao tentar abrir a porta para ver o que estava acontecendo, não conseguiu. Matteo empurrou para frente e para trás, mas nada da porta abrir, pois deveria está trancada. Os dois rapazes olharam um para o outro e pensando o mesmo, chutaram a porta que quebrou no segundo que os pés deles fizeram força contra o objeto. Em pose de ataque eles procuraram os dois pelo quarto, encontrando Park Song-hyuk estirado na cama. Desacordado.
─ Cadê ela? ─ Junho perguntou para si mesmo, preocupado com o que poderia ter acontecido.
─ Aqui! ─ Yeoboo apareceu com o rosto na porta do banheiro, sorrindo como se nada tivesse acontecido.
─ Porra, que susto! ─ O Yang pôs a mão no coração, fazendo uma careta de quem havia acabado de morrer de susto. Estava ofegante. ─ Você tá bem?
─ Claro. É que eu tava limpando meu braço... Esse idiota me mordeu. ─ Soltou um "aish", resmungando de ter sido babada e mordida por Song-hyuk. ─ Vocês acreditam que ele nem sabe desviar direito de um soco? ─ Disse praticamente indignada. ─ Esse cara é mesmo capanga de alguém? Agora estão contratando qualquer um pra ser assassino?
─ Você ficou maluca? E se ele estiver aramado? ─ Junho a repreendeu, preocupado com ela ter se machucado. ─ Você não é policial e nem mesmo mafiosa.
─ Ah, para de ser chato. ─ Matteo o empurrou para o lado para falar com a ruiva. ─ Porra, você mandou bem. ─ Apontou para ela, sorrindo satisfeito e estendendo a mão para que ela fizesse um high five com ele. ─ Se eu fosse mafioso eu te chamaria para fazer parte. Como fez isso? Só desmaiou ele? Fez ele perder o ar? Hm... Ou bateu bem forte na cabeça dele?
─ Vocês tão me zoando? ─ Junho deu um soco no lado esquerdo do peitoral do Cassano, devolvendo o empurrão com um soco. ─ Já chega, precisamos ir.
─ Tem calma Junho, a gente vai agora. ─ Yeoboo deu um tapinha no ombro do melhor amigo. ─ Podemos sair aqui por trás, tem uma saída. ─ Apontou para uma porta do outro lado do quarto. ─ Eu já bati nele, agora vocês que carreguem.
─ O Junho vai fazer isso. ─ Matteo falou, já distribuindo a tarefa. ─ E antes que você me conteste, você só tem duas escolhas... Ou leva ele e sai logo daqui, ou ficar e aproveita o gran finale da festa.
─ Gran finale? ─ Yang repetiu, recebendo um sorriso do Cassano.
─ Essa festa vai pegar fogo de tão boa.─ O Cassano deu uma piscadinha para Yeoboo e pediu para que ela saísse logo dali. ─ Vão logo. Daqui a pouco encontro vocês.
─ A gente te espera no carro, oppa.
─ Porquê você continua chamando ele de oppa em? ─ Fez uma careta para o Cassiano, que por pura provocação, sorriu para ele.
Matteo saiu no mesmo segundo, sem dizer mais nada. Yeoboo bateu no ombro de Junho para que ele tomasse uma atitude e parasse de conversa mole. Ainda que olhasse para ela, deixando bem claro que não queria fazer aquilo e arrastar um homem desmaiado pelo chão, o Yang suspirou e fez o que ela pediu. Para a sorte dele o rapaz não era tão pesado e, como Jun-ho fazia academia e artes marciais há muito tempo, foi relativamente fácil para carrega-lo nas costas.
CINCO MINUTOS SE PASSARAM desde que eles chegaram no carro. Abaixados no banco da frente, esperavam atentamente a volta de Matteo. Na verdade, Yeoboo esperava isso, pois se fosse por Junho, eles já teriam ido embora faz tempo.
─ Porquê ele tá demorando? ─ O Yang sussurrou, mesmo sem precisar. Batia o pé direto no chão do carro, um pouco nervoso. ─ Deveríamos ir embora.
─ Você não deixa um amigo para trás. ─ A Hong respondeu, olhando para o perímetro.
─ Ele não é meu amigo. ─ Junho respondeu, recebendo um olhar raivoso da melhor amiga.
─ Mas é meu amigo.
─ Eu sou seu amigo.
─ Desde quando você ficou chato, em? ─ Boo fez menção a bater nele, mas parou. Se fosse contar quantas vezes ela já teve vontade de fazer isso e dar uma lição nas implicâncias do melhor amigo, demorariam dias. ─ Cadê o Junho divertido?
─ Preocupado com você. ─ Respondeu em claro e bom som.
Yeo olhou para o lado, percebendo quando séria havia sido aquela fala. Junho nem pestanejou ao falar, mudando seu tom de voz para o mais firme possível. Ela o encarou com suas orbis, sentindo seu coração palpitar um pouco. Não era a primeira vez que ele falava aquilo, mas porquê naquele exato momento ela havia sentido algo? Estranho, pensou.
Sua boca abriu por um mísero segundo para dar uma resposta, mas nada saiu. Junho a olhou de volta, sem entender porque ela havia ficado calada. Observou os lábios dela ficarem mais seco, a respiração pesada e as pálpebras que não piscavam. Estou duas vezes os dedos na frente do rosto da Hong, a tirando do transe.
─ O que? ─ Perguntou, a encarando.
─ Para de falar essas coisas... ─ Falou com raiva, mudando sua expressão. Junho se assustou, não entendendo o que havia a deixado tão brava. ─ Parece até meu namorado falando.
─ Você nem tem namorado. ─ Retrucou, voltando a olhar para frente.
─ Por culpa sua. ─ Soltou um aish e virou para frente. Ela cruzou os braços com birra, mordendo o próprio lábios inferior e se controlando para não falar alguma besteira.
─ Se você quer namorar, então namora. ─ Deu de ombros, fingindo não se importar. ─ Agora se você namorar um assassino, a culpa não é minha.
A ruiva preparou toda a raiva repentina que construiu naquele momento e estava pronta para jogar na cara dele. Possivelmente surtaria com ele e ameaçaria mais uma vez de bater nele. Nem que fosse no ombro, como de costume. No entando, para a sorte de Yang Junho, Matteo Cassano abriu a porta do carro e se sentou no banco traseiro. Ao lado do corpo ainda desmaiado do Park Song-hyuk.
─ Andiamo coreano. ─ Ele bateu duas vezes no banco do motorista onde Junho estava sentado, o mandando proseguir. ─ Os fogos já vão começar.
─ O que? Que fog...
Junho e Yeoboo assustaram-se ao ouvir o barulho do alarme de incêndio tocar. O rapaz que estava no banco do motorista arregalou os olhos quando viu todos que estavam na festa, correr para fora da casa. Quando uma mulher gritou "fogo" o ápice para o resto da sua calma fosse embora e ele se desesperasse.
No mesmo segundo ele ligou o carro, passou a marcha e pisou no acelerador, tentando ir para longe do local o mais rápido possível. Se sentiu um pouco egoísta ao deixar aquelas pessoas sem nenhum amparo, pois realmente achava que a partir dali aconteceria uma tragédia. Porém, não queria ficará para responder por um crime que não cometeu e já tinha problemas demais para lidar.
─ Você colocou fogo lá mesmo? ─ Yeoboo perguntou olhando para o banco de trás. Matteo sorriu, balançando a cabeça em afirmação. ─ Ficou maluco?
─ Rilassati, non moriranno. ─ "Relaxa, eles não vão morrer", Matteo falou. Parecia tranquilo, tendo em vista que acabou de colocar fogo em um local cheio de pessoas. ─ Não fiz isso pra matar ninguém, porquê se fosse, teria trancado todas as portas. Só quis dar um susto neles.
─ Um susto? Um susto? ─ Gritou para ele, que se assustou com a raiva "repentina" da garota. ─ Você enlouqueceu? ─ Gritou novamente, surtando o ombro do mais velho, que gemeu baixinho pelo impacto, mas fingiu não sentir nada. ─ A gente só veio pegar eles, não matar aquelas pessoas.
─ Eu disse que ele era maluco. ─ Junho respondeu com uma expressão neutra. Sem tirar os olhos da rua.
─ Ai, quem você acha que é pra bater em mim, em? Só pra você saber, eu sou da ma... ─ Matteo gritou de volta, se segurando no último segundo para não soltar uma notícia bombástica. Os melhores amigos perceberam. ─ Não precisa bater em mim. ─ Mudou de assunto, alisando o local onde levou um soco. ─ Eles não vão morrer... Eu calculei tudo. É impossível.
FALTAVAM TRINTA MINUTOS para chegar no galpão. Como Vincenzo já tinha combinado que ele, Chayoung e o senhor Nam sequestrariam as bolas de cristal de Choi Myeong-hui, com o propósito de usá-los, o Cassano pediu para que o irmão mais novo arruma-se um galpão que serviria para alguns fins. Dentre esses, sequestrar e ameaçar a vida de Park Song-hyuk e Lee Hwang-soo. O que ele não tinha ideia, era de que a filha da senhorita Hong e o melhor amigo dela, fariam as honras de inaugura-lo sem que ele imaginasse.
Se não fosse por Matteo, é claro.
Quando Teo perguntou se Yeoboo sabia para onde levar o corpo desacordado de Park Song-hyuk, ela disse que não. Que não havia pensado nisso e que eles poderiam, quem sabe, levar para sua casa. Matteo disse que não, que seria muito suspeito e alguém poderia desconfiar. Então, lembrando do galpão que Vincenzo havia pedido para ele arrumar, deu a ideia de levá-lo para lá.
Enquanto Junho dirigia e Yeoboo mexia em seu tablet, Matteo mandou uma mensagem para Vincenzo, avisando do ocorrido. Tudo bem, ele entendia o que a ruiva estava fazendo e que queria se vingar da Babel por todos os transtornos e pela morte do seu querido avô, mas não deixaria que ela se machucasse. Ele e Vincenzo sabiam como lidar da melhor forma com situações como aquela, não eles. Era perigoso demais deixar que apenas a aura de vingança das Hong fosse o suficiente para destruir a Babel. Porquê não era.
─ Chegamos. ─ Matteo falou, apontando para o galpão na esquina seguinte.
Junho dirigiu por mais alguns metros e estacionou o carro próximo do portão. Ele tirou as chaves e guardou no bolso, saindo do carro sem dizer uma palavra. Yeoboo sabia que ele estava bravo com ela, coisa que raramente acontecia, já que os dois se davam muito bem. Preferiu deixar para lá por um momento. Talvez estivesse sendo muito egoísta para perceber que só se importava com vingança naquele momento, mas se permitiu ser assim, quando a única coisa que ela lembrava naquele momento era a imagem do seu avô estirado no chão do restaurante.
Matteo arrastou o corpo de Park Song-hyuk para fora do carro e sem nenhuma dificuldade sequer, jogou o corpo dele por cima de seu ombro, o carregando.
─ Como sabe sobre esse lugar? ─ Ela perguntou, caminhando entre os dois rapazes.
─ Meu irmão pediu para que eu arranja-se esse lugar. ─ Matteo respondeu, abrindo o portão do galpao que já não estava mais trancado. ─ Como sabem ele já iria fazer isso que você fez, mas você foi mais rápida, como um... gatto.
─ Meu apelido de heroína quando eu estava no colégio era blackcat. ─ Yeo riu, imitando um gato mostrando as garras. ─ Ei gostava. Acho um nome bem legal... Além disso gatos pretos são os meus favoritos.
─ Você gosta de heróis? Eu prefiro os vilões. ─ Matteo nunca foi da de heróis. Nem mesmo quando ainda não fazia parte da família Cassano. Achava brega demais.
─ Eu não sei... ─ Disse um tanto pensativa. ─ Heróis também são legais e as histórias dos vilões são interessantes... ─ Fez um biquinho, tentando analisar os dois lados. ─ Mas hoje em dia eu não sei o que seria. Eu... Não tenho apenas pensamentos de mocinhos como antigamente.
Yeoboo as vezes duvidava da sua própria sanidade mental. Infelizmente, com uma vida com tantas "emoções" e o meio em que escolheu trabalhar, sabia que em muitas situações não haveriam boa escolhas e que ela teria que partir da premissa de escolhe o "menos pior". Advocacia não era fácil, e na Coreia, muito menos. Não precisava ser mafioso para ser perigoso. Não precisava se esconder para desgraçar a vida de alguém. Não precisava se muito para ser um "rei", apenas, dinheiro.
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