𝟬𝟬. ENTRE O ÓDIO E A VINGANÇA
UMA SEMANA DEPOIS da morte de Hong Yu-chan, Hong Cha-young havia assumido a advocacia de seu pai: a Jipuragi. Ela e Hong Yeo-boo, sua filha, não estavam nenhum pouco bem. Chayoung se arrependia amargamente de não ter se acertado antes com seu querido pai e Yeoboo, sofria com a morte de seu avô tão incrível. Um avô que lhe ensinou muito e tornou seus dias ainda mais felizes. Um avô fez questão de sempre sair com ela para fazerem algo divertido juntos. Piadas bobas, programas ecléticos que iam de ir ao cinema até um parque de diversões e um carinho imensurável. Diferente do desentendimento que teve com sua filha Chayoung, o relacionamento de Yuchan e sua neta Yeoboo, fez valer a pena todos os momentos.
Para ele, a única coisa triste era não poder fazer isso com as duas pessoas mais importantes da sua vida: sua filha e sua neta.
E lá estava Yeoboo, sentada em uma cadeira de rodinhas e encarando seu notebook de capa azul claro. O canivete que tinha desde os 13 anos de idade, quando aprendeu a usar, rodava entre os dedos da mão direita. Se movimentando com certeza rapidez. Ela sempre fazia aquilo quando estava pensando, entediada ou ansiosa. O movimento do instrumento relaxava sua mente e parecia ajudar a abstrair todos os sons que não fossem tão importantes naquela hora.
Ela girou a cadeira algumas vezes, apoiando a cabeça para trás e olhando para o teto. Girava e girava lentamente algunas vezes, sem deixar que o canivete caísse. Frustrada, a Hong bufou. Sua mãe Chayoung, que estava na bancada principal da sala, bem de frente para as outras mesas do escritório, parou o que estava fazendo e olhou para o lado. Sabia que Yeoboo estava com raiva e, com certeza, tentado bolar alguma coisa que pudesse afetar a Babel ou a Wusang. Isso era perigoso. A Hong mais velha sabia que, assim como ela, quando Boo colocava algo na cabeça, era extremadamente difícil de tirar.
─ Yeoboo. ─ Chayoung chamou a filha. Boo não ouviu e continuou olhando para o teto. ─ Querida? ─ Ela a chamou novamente, sem nenhum retorno possível. A mais velha olhou para o senhor Nam, que deu de ombros e não entendeu porquê Yeoboo não respondia.
─ Senhorita Yeoboo. ─ Nam Ju-seong também a chamou, falando informalmente. Juseong era como um tio para Boo, então não tinha problema algum. Ele a conheceu quando a mesma foi visitar seu ex chefe, Hong Yuchan, na Jipuragi. Ele era considerado por Yeoboo como o "tio engraçado e divertido". ─ Está tudo...
─ Eu vou matar eles! ─ Yeoboo gritou, se levantando com tudo da cadeira e assustando tanto sua mãe, como principalmente o senhor Nam. ─ Nós precisamos acabar com eles. Nós vamos acabar com eles, não e? ─ Dessa vez direcionou a pergunta para Chayoung e Juseong. Os dois se entre-olharam e ficaram em silêncio, esperando os próximos picos de raiva.
Das várias cosias que Yeoboo e Chayoung tinham em comum, uma delas era o momento em que elas ficavam com raiva e o qualquer um que amasse sua própria vida, acabaria tentando se esconder em um buraco de tanto medo. Inclusive, o senhor Nam.
─ Ha, ha, ha, ha... Eles não vão escapar da gente. ─ A risada maléfica e nada natural, estilo "vilões vingativos", foi ativada, causando momentos de pânico no senhor Nam. ─ Estão achando o que? Que vamos ficar parados olhando eles se derem bem depois de tudo o que fizemos? ─ Uma folha de papel foi amassada pela mão esquerda de Yeoboo.
─ Bom dia pessoal! ─ Yang Junho abriu as portas da Jipuragi, cumprimentando todo mundo. ─ Estou pronto para meu primeiro dia de trabalho! ─ Juno bateu palmas, chamando atenção de Chayoung e Juseong. ─ Vamos derrotar aqueles idiotas da Wusang e acabar com o Grupo Babel. Vim com meu espírito de equipe.
O silêncio permaneceu na sala. A entrada espalhafatosa e alegre de Junho não foi páreo para as expressões completamente raivosas de Yeoboo. Ele olhou para Chayoung, que olhou de volta mas não falou nada. A Hong apontou com os olhos para a filha, dando a entender que era algo acontecendo com ela. O jovem também olhou para Juseong, que se escondia atrás da tela do notebook e balançava a cabeça para Junho. Para que o mesmo permanecesse calado.
─ O que aconteceu, senhor Nam? ─ Junho perguntou baixinho, quase em um sussurro.
─ Ela está dando aquela risada de vilã, Junho. ─ Respondeu também em um sussurro. Assim como com Yeoboo, Chayoung e Vincenzo, Junho era a outra única pessoas que de vez em quando, usava a informalidade. Não fazia isso com mais ninguém. ─ Tem como você acalmar ela? Eu estou com medo da senhorita Hong acabar ficando com raiva também.
Só foi Yeoboo se mexer novamente que o senhor Nam se escondeu ainda mais, dessa vez, quase entrando em baixo da mesa. Junho riu, mas entendeu que era caso de socorro. Boo tinha a mesma ira de sua mãe. Quando estavam com raiva, dificilmente a faziam desistir de fazer algo.
Antes de entrar na sala, Junho abriu o porta-sapatos, que ficava bem na entrada da advocacia e trocou os sapatos, por pantufas limpinhas. Suas pantufas estavam ali antes de Chayoung assumir a Jipuragi. Depois que Yeoboo começou a falar com o avô e sempre ir visitá-lo, Yang também passou a ir com ela. Então, por sempre ter a presença do garoto na Jipuragi, Yuchan também separou uma pantufa para que ele usasse todas as vezes que fosse visitá-lo. Era um ato de amor e carinho. Na cultura coreana, entrar em lugares com sapatos que utilizamos para ir em todo e qualquer lugar, é proibido. Eles acreditam que, por pisarmos en tudo, os sapatos podem carregar tanto sujeiras físicas, quanto as espirituais. Nossa casa ou nosso espaço em que sempre estamos é um local sagrado. Portando, precisa ser protegido.
─ Zangado. ─ Ele a chamou, escutando um "O que?", impaciente vindo dela. Junho andou até sua amiga, puxou a cadeira da mesa em que Vincenzo usava e que ficava ao lado da de Yeoboo, e se sentou ao lado dela. ─ Senta aqui por favor. ─ Pediu, dando algumas batidinhas na cadeira dela. A Hong olhou para ele e fez uma cara de poucos amigos. Junho a olhou de volta, sem parecer que estava intimidado. Mesmo que por dentro, ele estivesse morrendo de medo dela pular na garganta dele. ─ Eu fiz cookies. Daqueles que você e a senhorita Hong adoram.
─ Eu também gosto. ─ Nam Juseong enfatizou, tirando uma risada de Junho.
─ Claro, e você também senhor Nam! ─ Yang sorriu, dando um joinha para o mais velho.
Junho abriu sua mochila de couro e cor preta, e tirou de lá uma vasilha de plástico cheia de cookies. O rapaz havia feito pouco tempo depois de acordar, para que os biscoitos saíssem fresquinhos e gostosos. Apesar de ter sido criado em berço de ouro, com diversas regalias, mordomos, cozinheiros e entre outros, Yang aprendeu a gostar de cozinhar e ser independente. Ele aprendeu a gostar de cozinhar, mas não para todo mundo.
─ Eu quero, passa pra cá! ─ Chayoung foi arrastando sua cadeira até o mais novo e esperou que ele lhe desse. Yeoboo sentou na cadeira, no meio dos dois, mas não disse nada. Sua mãe e seu melhor amigo olharam para ela, esperando uma resposta. Nada.
Junho estendeu a vasilha dos biscoitos com a mão direita, enquanto a esquerda apoiava o braço estendido. Sendo dessa, outra etiqueta de respeito e educação com o próximo. Ele era íntimo o suficiente de Chayoung para usar apenas uma mão para entregar algo ─ como fazia com Yeoboo, mas preferia manter o máximo respeito com ela. Ainda que Hong Chayoung não se importasse com isso, já que se sentia muito próxima do jovem.
─ Ei. ─ Yang Junho deu um leve empurrão em Yeoboo, mas ela não se mexeu. O rapaz continuou tocando nela, balançando ela e logo mais, fazendo cócegas nela. Nada. Ele odiava o silêncio, principalmente o dela que tagarelava como ele. ─ YA!!! ─ Aumentou o tom de voz. ─ Me dá atenção!
Yeoboo o olhou emburrada, mas Junho não cedeu e cruzou os braços. O rapaz olhou para os lados e enfiando a mão na bolsa, tirou mais uma vasilha ─ também de plástico, que continha mais dos mesmos biscoitos. Sua expressão mudou na mesma hora, sumindo com a cara de morte que fazia anteriormente. Junho puxou a cadeira de Yeoboo em um solavanco para perto dele e aproximou seu rosto do ouvido da moça.
─ Eu separei uns só pra você. ─ Sussurrou no ouvido dela, para que ninguém mais escutasse. Yang costumava fazer aquilo todas as vezes que trazia seus famosos cookies para seus amigos. Separava o deles e o da Boo, para que sua melhor amiga não precisasse dividir com mais ninguém. Ela era um pouco egoísta quando se tratava de comida.
Yeoboo sentiu seu coração palpitar ao sentir a respiração de seu melhor amigo próximo de sua orelha. Por um momento Junho sorriu. Um sorriso petulante e provocador, mas com a mesma pitada de carinho de sempre. Por um momento acreditou que estava tudo bem agir daquela maneira. Por um momento achou que não se sentiria um pouco envergonhado. Foi ai que ele lembrou que eles, aparentemente, eram só melhores amigos. E o sorriso sumiu, dando espaço a insegurança.
Como o flash, Junho empurrou a cadeira de Yeoboo para longe. A cadeira bateu contra a mesa de Chayoung e derrubou uma pilha de papel enorme. Boo ficou estática, sem entender o porquê dele fazer aquilo. Chayoung e Juseong só presenciaram o momento em que a Hong mais nova olhou para o Yang e perguntou se ele estava ficando louco, mas escutaram o barulho dos objetos se chocando.
─ Foi uma brincadeira, não me mata. ─ Ele deu um sorriso amarelo. Claro que não tinha sido uma brincadeira. Todo mundo percebeu. Até mesmo a lerdinha da Yeoboo.
Para quebrar o clima vergonhoso, Vincenzo Cassano chegou. Ele passou os olhos por toda sala, identificando cada um deles. Chayoung, Yeoboo, Juseong e... Quem era o cara de cabelos sedosos e roupa chique? Sabia que ele tinha dinheiro. O terno preto de linho, a camisa social branca, a gravata tradicional preta e sem textura, os botões prateados, a calça preta de material fino e os sapatos caros. O conjunto de um estilista que ele conhecia. Não o mesmo favorito que ele e Chayoung compartilhavam, mas também era um muito bom.
─ Senhoritas Hong? Senhor Nam? ─ Chamou os dois, posando as mãos nos bolsos da calça azul marinho. ─ O que está acontecendo aqui? ─ Seu olhar neutro e calmo intercalou entre os três colegas de trabalho. Suas expressões nunca foram espalhafatosas. ─ Quem é esse? ─ Vincenzo perguntou aos outros, encarando Junho.
─ Oi, tudo bem? Meu nome é Yang Junho. ─ O rapaz se levantou da cadeira de rodinhas e se apresentou. Ele ofereceu a mão direita para Vincenzo, pondo a esquerda um pouco abaixo do peito e fazendo reverência, como os coreanos costumavam cumprimentar os outros. Principalmente os mais novos com os mais velhos. ─ Eu sou o novo estagiário da Jipuragi.
Por educação, o Cassano pegou na mão do mais novo e o cumprimentou. Sua cabeça tombou um pouco para o lado e ele olhou para Chayoung ou Yeoboo, esperando que uma delas respondessem porquê tinham contratado um novo estagiário. Todos os planos contra a Babel ou a Wusang eram compartilhado entre eles, senhor Nam e Matteo, ter um novato ─ que ele imaginava sem desconhecido, atrapalharia tudo.
─ Não se preocupe, o Junho é da família. ─ Chayoung respondeu Vincenzo, colocando um pedaço de cookie na boca. ─ Quer? ─ Ela levantou a vasilha, oferecendo ao italiano, que apenas negou com a cabeça.
─ Por favor, resuma. ─ Vincenzo olhou para Yeoboo, esperando que a mesma respondesse direito. Imaginava que iria se arrepender de perguntar, pois tinha quase certeza que ela responderia muito mais do que ele havia pedido. ─ E não precisa me dizer a relação de vocês. Apenas quero entender o porquê ele está aqui.
─ Eu e o Junho nos conhecemos no acampamento de verão, antes do ensino médio, Vince... ─ Vincenzo colocou a mão na testa assim que Yeoboo começou a falar. Não era possível que nenhuma delas consegui apenas dizer o que ele queria saber. Cassano não queria saber de coisas íntimas da vida delas. Pelo menos, não por enquanto. E ele odiava apelidos. ─ Nós dois viramos melhores amigos e passamos na mesma faculdade de advocacia. O Junho é muito confiável e veio para nós ajudar.
─ Ele é filho do chefe da promotoria de Namdongbong. ─ Senhor Nam completou, chegando na parte em que Vincenzo quería saber. ─ Mas ele não tenho uma boa relação com o pai e nem mesmo concorda com as coisas que ele faz.
─ E? ─ Ainda não tinham o convencido de que Yang Junho os ajudaria. Vincenzo desconfiava de qualquer um.
─ E que agora ele está com a gente e vai nos ajudar. ─ Yeoboo encerou sua participação naquele assunto colocando um ponto final nas dúvidas do italiano.
─ Não ajudo a traição de família. ─ O homem cruzou os braços, se negando a aceitar que o rapaz participasse. ─ Se eu fizer isso, não poderei achar ruim se fizerem o mesmo comigo. Teria de aceitar.
─ Não é considerado família quando eles não ligam para você e sim, para a aparência e o dinheiro. ─ Junho se defendeu. Não gostava do pai, dos avós, dos tios e muito menos da madrasta. Sua querida mãe havia morrido e seu irmão mais novo que tanto amava, tinha que morar com os pais.
Ele odiava ter esse sentimento, mas se acostumou com o tempo. Não podia evitar. Sua família era pobre.
─ Senho Cassano, ele agora faz parte do nosso grupo. Ponto final. ─ Chayoung fechou uma pasta que ela estava lendo e que continha alguna arquivos importantes e se levantou da cadeira. Caminhou até a frente da bancada dela e se escorou, cruzando os braços. ─ Agora vamos ao que interessa? Já perdemos muito tempo explicando o óbvio para você.
─ Não somos um grupo. ─ Vincenzo reprovou, corrigindo o comentário.
─ Nossa, como você é chato em. ─ Chayoung fez uma careta, mostrando seu biquinho de indignação. ─ Bom, e o plano? ─ Mudou de assunto, antes que se irritasse ainda mais com o italiano. ─ Sabe, aquele plano de sequestrar as bolas de cristal da Choi Myeong-hui e assusta-los. O básico, só para constar.
─ O Matteo já os encontrou. ─ O Cassano caminhou até sua mesa temporária, que ficava entre a de Chayoung e a de Yeoboo, puxou a cadeira de rodinhas e se sentou. Ele cruzou as pernas e sorriu de lado, imaginando as diversas ideias perversas que já havia criado. ─ Hoje a noite lidamos com eles.
─ Falando di me? ─ Matteo Cassano falou, chamando a atenção dos demais e adentrando a Jipuragi. Ele não gostava de tirar os sapatos, pois, apesar de ter descendência coreana e saber um pouco da cultura, ainda não tinha se acostumado a ficar tirando seus sapatos em certos lugares.
Matteo Cassano era o irmão adotivo de Vincenzo. O mais velho encontrou Matteo quando tinha 12 anos, roubando comida em uma padaria famosa, que ficava localizada nas ruas de Milão. O pequeno Matteo, que na época não tinha um sobrenome, foi abandonado pelos pais aos 8 anos de idade. Foram quatro anos sozinho. Quatro anos agindo como um ladrão. Correndo pelos becos e pulando pelos ladrilhos das casas para fugir das pessoas, depois de roubar algo para tentar sobreviver. Uma criança assustada. Sem família. Sem um lar.
Até que, no dia 12 de Março, Vincenzo resgatou o garoto, o tornando parte da família Cassano e o considerando como seu irmão mais novo.
─ Teo oppa. ─ Yeoboo o cumprimentou com um aceno, recebendo um sorriso do mais velho. Junho olhou para Matteo e o encarou. Já havia o visto outra vez, apenas por vista, mas já sabia que ele e Yeoboo havia se dado bem logo de início. E vê-la o chamando de oppa o deixava com um pouco de ciúmes. ─ Conseguiu?
─ O que você acha? ─ O rapaz sorriu convencido, deslizando o tablet na mesa em que Vincenzo estava sentado. ─ Aqui estão as informações sobre os dois. ─ Ele apontou para o aparelho eletrônico, mostrando a ficha dos bandidos. ─ O mais novo estará em um cassino clandestino e o outro podemos marcar um encontro com ele. Podemos nos... ─ Matteo parou de falar na mesma hora, percebendo a presença de uma pessoa que nunca havia visto. Era o Yang. ─ Chi è lui?
─ Junho. ─ Ele respondeu, mesmo sem entender o significado do que Matteo perguntou. O Cassano mais jovem o encarou e passou alguns poucos segundos assim. Pela cara que ele fez, Yang supôs que o estrangeiro não queria que ele respondesse. Mesmo assim, fez. ─ Eu não entendi o que você falou, mas ficou meio óbvio.
Matteo olhou para Vincenzo, recebendo um "ok" com um aceno da cabeça. Daquela mesma forma que ele sempre fazia. Um biquinho e uma única afirmada. Vincenzo ainda não confiava fielmente em nenhum deles que não fosse seu irmão mais novo, mas confiava ainda menos em Junho. Porém, a breve relação que ele teve com o advogado Hong, o fez conhecer Chayoung e Yeoboo, no qual passou a, involuntariamente, querer ajudar. Porquê ele estava fazendo isso? Ninguém sabia.
Não que o senhor Nam também não fosse digno de confiança ─ já que ele havia se tornado parte do grupo, é que Yeoboo e Chayoung o chamava a atenção. As duas tinham algo a mais dentro delas. Algo poderoso.
─ Matteo. ─ Dessa vez, o olhar matador do jovem de mesma idade de Junho, desfez, dando lugar a um sorriso educado. Claramente, Matteo Cassano era mais sociável que seu irmão mais velho. ─ Acho que você é o amigo da Yeoboo, não?
─ Melhor amigo. ─ Corrigiu, mas não de forma grosseira. Matteo Riu, percebendo o ciúmes totalmente perceptível do Yang.
─ A Boo falou um pouco de você... mas não muito. ─ Provocou. "A Boo". De cara, já havia notado um sentimento mais profundo no olhar de Junho. Muito mais do que um olhar de melhores amigos. Matteo achou outro passatempo para brincar.
Junho não parecia ruim. Na verdade, era legal conhecer pessoas da sua idade. Ele não tinha amigos jovens como ele na Itália.
─ Como vocês dizem por aqui? ─ O Cassano pousou o dedo indicador abaixo maxilar, tentando se lembrar. ─ Se vuoi possiamo da amici? ─ Era algo como"se você quiser podemos ser amigos" ou "talvez sejamos amigos".
─ Claro. ─ Yang estendeu sua mão, quebrando o clima esquisito que criou na sua própria cabeça. Qual é Junho, você faz amigos com facilidade e raramente briga com as pessoas. Havia um ponto, mas o rapaz mais alto não estava pronto para admitir.
─ Sei que isso parece um pouco errado, mas eu sinto que não irei me arrepender de dar uma lição na Babel. ─ Yeoboo comentou em voz alta. Ela se sentia um pouco mal em admitir isso. Em admitir que não se arrependeria de fazer algo ruim e perigoso. Em tentar destruir alguém. No entanto, no fundo, ela ainda odia ─ Não ligo se é perigoso. Quero que eles paguem pelo que fizeram.
Chayoung olhou para a filha um pouco apreensiva. Tudo bem que ela, Chayoung, se metesse em confusões e entrasse nessa de cabeça, mas não podia deixar que nada acontecesse a coisa mais preciosa que havia acontecido em sua vida. Para ela, sua filha Yeoboo era a pessoa mais importante do mundo.
─ Eles mataram o senhor Hong. ─ Vincenzo lembrou, citando o avô da garota. Faria muito pior se outros mafiosos fizessem algo contra alguém da família Cassano. ─ Está vingando a sua família e a honra dele.
─ Já te disseram que você tem uns papos esquisitos de mafioso? ─ Chayoung cruzou os braços, torcendo o beiço e arqueando a sobrancelha. Ela se inclinou para o lado de Vincenzo e sussurrou. ─ Eu não sou burra, senhor Cassano.
─ Não sei do que a senhorita está falando, advogada Hong. ─ Ele olhou para ela, a julgando com o olhar e se afastando um pouco da advogada. "Esquisita é você", pensou. ─ Meu sonho seria que você me deixasse em paz.
─ Então acorde. ─ Yeoboo falou, achando muito o pedido do mafioso. Todos, menos Chayoung e Vincenzo riram. Até mesmo o próprio Matteo. Ela conhecia a mãe e se conhecia. Vincenzo não teria paz até que ajudasse as duas a resolver essa questão.
Era burro ou muito ingênuo, se acreditava que as duas não suspeitavam de algo vindo dele.
─ Como posso ajudar? ─ Juno perguntou se levantando da cadeira. Estava disposto a ajudá-los da forma que podia.
─ Não pode. ─ Vincenzo prontamente o barrou. Negando a ajuda ou qualquer esforço. ─ É um estagiário e não sabe nada disso. ─ O Cassano não arruinaría seu plano, apenas para fazer o gosto de dois jovens que estavam procurando por "aventura". Aceitar que eles dois soubessem de seus planos já era demais. ─ Nenhum de vocês dois.
─ Eu lutava karatê, seu engomadinho! ─ Boo se defendeu, fazendo uma careta que Vincenzo ignorou. Seu pedido indireto de pena, seguido de uma raiva instantânea por não conseguir o que queria não funcionaram.
─ Vocês são crianças. Não vão. ─ E ponto final. O Cassano nem se preocupou em olhar para os dois. Abria e fechava o isqueiro, pensando em como eles pegariam as "bolas de cristal".
─ Ele tem nossa idade. ─ Mais uma vez, Yeoboo contestou. Agora, apontando para Matteo que tinha a mesma idade dela.
─ Mas ele sabe como lidar com isso. ─ Vincenzo não parecia preocupado em nenhum momento. Seu rosto se mantinha neutro e ele girava em meia lua na cadeira de rodinhas. Levemente para um lado, levemente para o outro. ─ Enfim, agora por favor, pode parar com isso? Estou ficando com dor de cabeça.
─ Não interessa, eu vou. ─ Como uma criança mimada, Yeoboo bateu o martelo.
─ Senhorita Hong, acho melhor resolver isso. ─ "Resolva logo com a sua filha antes que eu mate esse pequeno protótipo de você". Já não bastava Hong Chayoung, ainda tinha que aguentar a filha teimosa, que era três vezes pior.
─ Não posso dizer que é errado ela fazer isso se eu também estarei fazendo. ─ Seria hipocrisia de sua parte e Chayoung gostava de ser sincera ao menos com sua filha. ─ Além do mais, será apenas dessa vez. ─ Esse era o ponto que Yeoboo temia: a proibição de sua mãe. Estava na cara que Chayoung não deixaria que ela se metesse em tudo, pelo seu próprio bem. ─ Para os dois. ─ Junho também murchou. Ainda tinha esperança que pudesse se envolver totalmente dm algum caso sério como esse. ─ Os dois estão aqui para tratar da papelada, não para bancar super espiões.
Papelada, blá blá blá. Estagiários blá blá blá. Muito novos blá blá blá. Tudo entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Ué, era a Yeoboo, a Chayoung acreditava mesmo que ela concordaria com essas condições? Mesmo depois de tudo que aconteceu?
Hong Yeoboo se levantou da cadeira e puxou Junho pelo braço, para fora da advocacia. Chayoung até chamou a filha, mas a mesma respondeu que depois conversaria com a mãe. Estava chateada, óbvio. Era difícil entender que Chayoung tinha um bom ponto. Eles pegaram seus sapatos, os calçaram e caminharam pelos corredores, até chegar a entrada do prédio. Boo desceu as escadas e olhou ao redor, com as mãos posada no blazer com azul claro que usava. Ela olhou para os lados, pensativa.
─ Eu tive uma ideia. ─ Junho não tinha um pressentimento muito bom. Ele sabia que todas as ideias de Yeoboo acabavam envolvendo uma mínima chance de morrer ou ao menos quebrar alguma parte do corpo.
─ Sobre? ─ Perguntou, já receoso.
─ Como podemos convencê-los de ter nossa ajuda. ─ E aí estava. Era óbvio que ela não iria deixar para lá e obedecer fielmente tudo o que Chayoung e Vincenzo haviam ordenado. ─ Chegamos primeiro no local e pegamos os caras.
─ Você ficou maluca? ─ "Claro, deve ser fácil pegar dos capangas que mataram várias pessoas". Mesmo que as habilidades de Karatê de Yeoboo e das de Junho no Muay Thai fossem grandes, não parecia ser suficiente para deter dois assassinos. Eles não eram especialistas, apenas dois jovens prontos para entrar em uma furada. ─ Nós nem sabemos quem eles são!
─ Eu quero fazer isso. Eles mataram meu avô e estão matando diversas pessoas apenas para livrarem a própria pele. ─ Yang nunca havia visto esse lado da Hong. Tudo bem que ela fosse raivosa, impaciente e tivesse grandes chances de bater em alguém, mas parecia estar passando dos limites normais dos "dois lados de Yeoboo". ─ Quer mesmo ficar de fora? O seu pai está envolvido nisso.
─ Não, eu gostaria muito que ele pagasse por tudo que fez... tudo que ele fez com a minha mãe, mas... também não quero morrer. ─ Os dois tinham suas justificativas. Yeoboo talvez estivesse tão focada em fazer justiça por ela e pelo Yang, que não parece realmente para entender que ela já estava em grande perigo. ─ Somos advogados, não justiceiros.
A Hong suspirou, colocando a cabeça para trás e olhando para o céu. Ela ficou ali por alguns poucos minutos, apenas pensando. Junho tinha razão, não é? Eles poderiam morrer e acabar com o resto de chances de viver que eles ainda tinham. A partir do momento em que Chayoung, depois da morte do pai, saiu da Wusang, assumiu a Jipuragi e se juntou com Vincenzo Cassano para acabar com a Babel, eles, automaticamente, estavam no corredor da morte.
─ Tudo bem, eu estou sendo egoísta de arrastar você para isso... Não quero que você se machuque. ─ A Hong coçou a cabeça e se culpou por tentar convencê-lo de ajudá-la. Suas mãos foram até o rosto, tapando seus próprios olhos e os esfregando. ─ Me desculpa. ─ Pediu, dessa vez olhando para ele e dando um sorriso amarelo logo em seguida. ─ Eu vou resolver isso. Não precisa se preocupar.
─ E você acha que falando isso vai melhorar a situação? ─ Yeoboo às vezes se esquecia que Junho faria qualquer coisas para ajudá-la. Mesmo que isso custasse ser alvo de um bando de assassinos. ─ Achei que já tivesse deixado claro quando viramos melhores amigos. Eu não vou deixar nada acontecer com você.
─ Eu não vou morrer, idiota. ─ Boo tinha certeza que, pela raiva que sentia, era mais fácil que ela matasse alguém.
─ Claro que não vai, porquê eu vou com você.
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