Um convite ao passado
"Querida e amada, Jenna.
As coisas por aí devem estar caóticas e me sinto covarde nesse momento por não estar ao seu lado, mesmo sabendo de tudo que iria acontecer. Infelizmente eu não estarei em Londres nesse período mas um dia você vai saber e sei que vai entender. Você sempre fica sabendo das coisas e isso é um grande alívio para mim. Lamento que a última vez em que conversamos foi no seu aniversário de 11 anos, eu queria que tivéssemos mais oportunidades. Você se lembra daquele dia? Eu suplico todo dia que tenha se lembrado acordada ou em sonho, porque aquele dia foi muito especial para mim e para você, mesmo que não tenha se dado conta. Você tem ainda o vestido que eu lhe dei? Espero que sim, ele é um exemplar raro de um vestido élfico. Sou imensamente grata dele ter chego a mim pela Sedna. Já o livro de colorir foi eu que fiz, espero que também esteja com ele. Bom, eu decidi adiar o casamento para daqui dois anos, talvez tudo esteja em paz, não é mesmo? Mas voltando a memórias felizes, que tal relembrar a última vez que nos vimos? Talvez você encontre bem mais sinais do quê há nesta carta.
Te amo, Jenna. Você vai superar tudo. Nos vemos qualquer dia desses... talvez em sonho.
Da sua tia, Anastasia Brown. "
- Estranho. - Falou Sophia.
- O que?
- O que você precisa lembrar que ela não pode falar em carta? E porque não vir aqui te visitar?
- Eu não sei, é uma boa pergunta. - Falei pensativa. - Mas achei que ela fosse falar sobre minha mãe, talvez estivesse com ela, mas parece que não.
- Eu sinto muito.
- Não sinta, ela não vale a pena. Agora me diz, como é que eu tiro um pensamento para por na penseira?
- Bom, a gente aprende isso em Feitiços Avançados, no próximo ano letivo.
- Hum. - Bufei me sentando.
- Mas como sua amiga é maravilhosa, ela já estudou sobre isso, até porque pedi a Njal para comprar um livro sobre o assunto. - Orgulhou-se ela se sentando ao meu lado. - O liquido se chama Aguaminese e é criado com fluidos mentais e água, qualquer um pode ter acesso às memórias coletadas caso não haja uma proteção mágica protegendo o objeto, mas quando o tutor morre, o líquido volta a ser apenas água.
- Então ela está viva.
- Sim, ela está. - Confirmou a amiga fazendo carinho na minha mão.
- Eu não entendo porque se esconder, sumir e não falar pra onde vai.
- Talvez a resposta esteja ali. - Falou Sophia apontando para o frasco sobre a mesa.
- Me diz primeiro como retirar uma memória minha.
- Certo. Pegue a varinha.
Eu retirei a penseira cuidadosamente que estava ao meu lado e a coloquei na minha mesa de estudos a frente da janela, que estava aberta com uma cortina beje tampado a luz do sol.
- Então. - Prosseguiu a amiga após eu me sentar. - Aponte para sua cabeça a varinha, ao lado dos olhos e relembre a cena do passado, dês do começo, horários se possível, detalhes, sabores e diálogos.
- Difícil, mas vou tentar. - Falei me posicionando.
- Após fazer isso, murmure "Memoriiun" e gire lentamente a varinha em seu eixo no próprio punho e visualize novamente as cenas e puxe a varinha lentamente afastando-a da sua cabeça. - falou ela segurando meu pulso. - As vezes pode ser pesada ou dolorosa a lembrança.
- Como assim?
- Apenas faça, você vai entender.
Eu fiz , lembrei e murmurei o feitiço, girei a varinha e lentamente a afastei da minha cabeça sentindo um suave formigamento no local como se realmente um fio longo de cabelo estivesse saindo do centro da minha cabeça, mas não doeu, foi leve. Ao abrir os olhos, um fio prateado fino aquoso girava lentamente na ponta da varinha.
- Agora vá até a penseira e "despeja-o" lá.
Eu me levantei e fui na frente da mediana bacia e inclinei minha varinha como se eu estivesse derramando algo, e lentamente, a memória caiu e girou no líquido do recipiente.
- Enfim. - Resmunguei olhando para ela. - Vamos?
- Tem certeza que quer minha presença?
- Sim, talvez eu tenha que analisar algo e com sua ajuda será muito melhor.
-- Ok.
- Fora que posso ler seus pensamentos lá dentro.
- O que!?
- Me dê suas mãos. Eu tô brincando. - Eu não faria isso sem a permissão dela.
- Como assim? - Perguntou ela confusa.
Eu peguei sua mão e a mergulhei no líquido. Ambas foram puxadas para um emaranhado de sombras, cores e gritos distantes do qual eu reconhecia serem meus e da minha mãe misturados. Nossos pés bateram no chão da cozinha da minha casa, 6 anos atrás.
- Parabéns pra você! - Cantava papai, mamãe e Junior juntos. - Muitos anos de vida!
- Vai Jenna, assopra as velas e faz um pedido. - Sugeria minha mãe. Ela parecia animada, não me lembrava desse bom humor dela.
- Você lembra do seu pedido? - Perguntou Sophia.
- Lembro. - Respondi pensativa olhando aquela menininha emburrada completando onze anos. - Queria ser a bruxa mais famosa e poderosa do mundo.
- Já tive esse sonho. - Disse Sophia sorrindo.
- É bobo. - Bufei cruzando os braços.
- Infantil, mas eramos crianças. Não sabíamos o peso da responsabilidade.
- Qual pedido, fala, fala!? - Baucuciou o pequeno Junior empolgado enfiando o dedo no bolo.
- É segredo! - Gritou a Jenna de onze anos, pegando o braço do irmão e afastando-o do bolo.
- Não tem problema Junior, eu corto esse pedaço pra você. - Disse meu pai carinhosamente.
- Olha! A coruja de Hogwarts! - Gritou minha mãe olhando para a janela da cozinha.
- Cara, isso é muito preciso, não é? - Falou Sophia com a mão no queixo. - Eu me lembro quando fiz aniversário e recebi a minha no café da manhã.
- É interessante mesmo. Tudo muito bem planejado.
- "Você foi aceita na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts..." - Leu minha mãe pra mim.
- Isso não é novidade. - Disse a pequena Jenna com tédio. - Vocês fizeram a matrícula quando eu nasci.
- Ah, meu bem. - Disse papai com gentileza com um sorriso sem graça. - Fique feliz nessa nova etapa da sua vida.
Nossa casinha era mais modesta, sem enfeites ou quadros, nada de decoração. Não havia uma festa grande com amigos e convidados, era tudo muito intimista e particular. Vendo ela melhor aos 17, comecei achar que nossas condições financeiras não era muito boa.
- Só o ano que vem! Vai demorar muito! - Reclamou a pequena "eu" do passado irritada, cruzando os braços.
- Me lembro que eu queria estar na minha avó em Kiel mas ela stava com a família trouxa dela nesse dia. Um primo ia se casar e iria usar a chácara para festejar.
- Poxa, Jenna, que chato.
- Pois é. Minha mãe ficou furiosa e eu com certeza também. Como sabíamos que eu estava em idade de afloramento da magia era melhor eu não ver os parentes trouxas.
Nesse momento um som pode se ouvido da sala e da lareira uma moça saiu.
- Uau. - Se espantou Sophia. - Quem é ela? - Perguntou a amiga com espanto olhando a moça se aproximando.
- Essa é a minha tia, Soph. Anastasia Brown.
- Caracas, hein. - Indagou a amiga em tom de elogio.
Minha tia era tão simples e humilde que dava raiva, o oposto da elegância da minha mãe. Só que combinava, definitivamente, aquele estilo nela - Uma mulher baixa de longos cabelos castanhos claros, boca naturalmente mais rosada, olhos grandes e verdes com bochechas grandes e fofas banhada por um tom de pele bronzeado que a deixava brilhosa. Sua blusa de manga longa não combinava nada com uma saia larga, porém era acinturada, curvas que ela escondia atrás daquelas vestes levemente envelhecidas com o tempo. Se esse era seu melhor estilo eu não queria saber qual era o pior mas uma coisa era certa, ela era perfeita. Um brinco com uma pena azul de algum pássaro a deixava extremamente linda. Não importa o quanto minha mãe se empetecava de adornos e maquiagem, minha tia só precisava existir.
Aos 11 eu não via nada demais, não comparava e nem analisava ela. Mas alí, nos meus 17 eu via sim o motivo da minha mãe a ver como rival, principalmente quando reparei o olhar do meu pai sobre ela. Até eu a olhava da mesma forma: com admiração.
- Tia, Tati! - Gritou a aniversariante e seu pequeno irmão abraçando a tia.
- Oi, meus princesos! - Brincou ela se agachando e abraçando os dois.
Tonteada pelo abraço ela caiu no chão com os dois em cima dela a beliscando. Minha mãe mudou de expressão visivelmente incomodada.
- Saem de cima dela! - Disse Chloe puxando Júnior sem a menor gentileza. - Porque não avisou que viria?
- Ué. - Disse sua irmã mais nova se levantando sem jeito do chão.- Você não previu isso? - Debochou ela com um sorriso sarcástico.
- Não me lembrava da minha tia ter essas piadinhas com vidência. - Falei para Sophia.
- Isso também justifica o ódio no olhar da sua mãe agora.
- Muito. - Respondi rindo me vendo se levantar do chão com alegria. - Eu adorei me lembrar. Não notava esse tom debochado dela.
- Eu trouxe presentes! - Exclamou Anastasia torcendo batendo palmas. - Para os dois. - Incluiu ao ver o olhar triste do meu irmão.
- Mas é claro.- Falou a pequena Jenna com sarcasmo fazendo a tia dar uma pequena risada.
- Você continua marrentinha igual a sua mãe.
- Ela tem razão, Jenna. - Debochou Sophia.
- Ah, cala a boca! - Respondi sorrindo de nervoso.
A aniversariante se atentou a pegar um pedaço de bolo antes do irmão, só que ao invés de comer, eu dei a minha tia.
- Obrigada, minha linda. - Agradeceu minha tia pegando o pires com o bolo e passando a mão no meu cabelo.
Notei que meu cabelo estava todo em castanho, eu ainda não tinha pedido a minha mãe para mudar metade dele, mas eu me lembrava de onde viria aquele desejo incomum.
Minha mãe passou a ficar contrariada, se via quando me serviu o bolo perdendo toda a emoção que estava. Meu pai não se importou. Após comermos, fomos para a sala e eu e meu irmão nos sentamos no sofá. Minha tia ficou de joelhos em nossa frente e conjurou duas bolinhas vermelhas e nos mostrou.
- Virou palhaça agora, Anastasia? - Resmungou minha mãe de má vontade se sentando no sofá ao lado do meu pai.
- É uma brincadeira. - Respondeu minha tia sem se importar com a piada. - Em uma delas está o presente da Jenna e na outra, do Junior.
- Hum.- Bufei batendo o dedo no queixo.
- Me dá essa. - Falou Junior empolgado se adiantando mas a pequena Jenna deu um tapa em sua mão.
- Eu tenho que escolher! Eu sou a aniversariante!
- E se você errar? - Perguntou meu irmão.
- A gente troca, sua besta, é muito simples!
Junior cruzou os braços visivelmente chateado e eu o ignorei. Comecei a olhar para as bolinhas e me lembro bem qual era minha intenção: adivinhar com magia.
- Jenna, você era muito cruel com seu irmão. - Falou Sophia.
- É, eu sei. - Respondi chateada.
Eu não sei bem como a pequena Jenna fez, mas uma das bolinhas explodiu de forma cômica, espalhando confetes brilhantes que se desfizeram no ar revelando um saco de presente escrito "Jenna". Eu me lembro que isso fez meu país e irmão se assustarem. Mas acho que tinha sido um teste porque minha tia riu muito.
- Isso não tem graça! - Exclamou minha mãe nervosa.- Quem fez isso?
- Fui eu. - Respondeu minha tia.
- Não foi. - Falei para Sophia. - Mas ela me acobertava ao máximo.
- Isso era muito fofo da parte dela.
- Ah, tia. - Resmungou Junior se largando no sofá.
- Mas a graça é a surpresa, inesperado não tem emoção. Pegue. - Falou minha tia entregando uma bolinha ao meu irmão que se expandiu como uma fumaça até virar um saco ainda maior que o meu.
- Porque o dele é maior? - Perguntei irritada.
- Porque ele é menor. É uma questão de proporção, entende?
- Proporção? - falou Sophia. - Não é uma palavra muito usada no nosso vocabulário, pelo menos não o bruxo.
- Sim, foi estranho, eu não entendi nada na época. - E ainda não entedia.
Meu irmão se adiantou em abrir o saco de presentes dele e eu fui logo em seguida. Minha tia ainda sentada de pernas cruzadas no chão ficou nos observando com um sorriso meio enigmático.
- OBA! - Gritou meu irmão. - Gnomos voadores! Eles soltam bolhas de todas as formas possíveis!
- Exatamente. - Respondeu minha tia. - E se você for lá fora ele se adapta ao clima e faz coisas diferentes.
- Uau. Eu nunca ganhei um desses. - Falou Sophia.
- Eu nunca gostei de Gnomos.
- Vamos lá fora também, mãe! - Chamou Junior pegando na mão no meu pai que o acompanhou junto.
Minha mãe parou por um instante para ver o que eu havia ganhado. A pequena Jenna abriu a caixa que havia um mediano livro de colorir e uma varinha.
- Essa varinha é mágica e pinta da cor que você quiser. - Falou Anastasia . - Ela também apaga, sabia?
- É mágica mesmo? - Perguntou a pequena Jenna.
- Como se ela soubesse o nome das cores. - Falou minha mãe se levantando de má vontade do sofá.
- Eu sei sim! - Respondeu afrontosamente a aniversariante. - Vovó Eileen me ensinou tudo!
- Era sempre assim. - Resmunguei pra Sophia . - Alguém se mostrava mais disposto a me ensinar porque minha mãe não ligava pra mim. Praticamente minha avó que me ensinou a escrever.
- Uau. - Respondeu Sophia. - No meu caso foi a Njal.
Eu não fiquei impressionada, apenas mais sentida por ela ter sido criada praticamente pela elfa.
- Vamos colorir juntas? - Pediu minha tia se levantando.
- Vamos! - Falou a aniversariante se adiantando a ir para uma mesa de canto, pequena, que ficava próxima da janela da sala.
Minha mãe e meu pai foram para fora com meu irmão saltitando, enquanto minha tia se sentava na minha frente.
- Está cheia de coisas fantásticas e imagens bem bonitas, acho que você vai gostar. - Falou minha tia.
Na primeira página havia uma fadinha segurando uma vassoura voadora.
- Mas tia, a fadinha já tem asas, porque ela iria querer voar de vassoura?
- Bom, esse livro é cheio de criatividade, você pode responder por ele ou esperar ele responder pra você.
- Verdade?
- Quando você termina de pintar eles se mexem! A fadinha quer ser jogadora de quadribol, igual uma bruxa.
- Ora, ora, ora. - Resmungou Sophia.
- O que?
- Isso me soa como uma charada.
- Hum. - Murmurei desconfiada.
Na segunda página tinha dois cães iguais.
- Cachorrinhos!
- São peraltas e amáveis. São gêmeos sabia? Será que você você consegue pintar os dois iguais? - Perguntou ela com um olhar e sorriso misteroso.
- Não! Eles são diferentes mesmo sendo gêmeos.
- Eita, Jenna. - Falou Sophia colocando a mão na boca.
Eu ainda não sabia o que dizer, mas com certeza tudo estava começando a ficar claro pra mim.
Na próxima página havia o desenho de um corvo segurado livros com suas asas e havia uma capa preta nele com chapéu de bruxo.
A pequena Jenna riu.
- Corvo não usa roupas. - Falou a aniversariante com uma careta.
- Mas e se ele não for um corvo? For um... - aí ela virou a página. - Um bicho papão!
A Jenna criança riu do susto mas depois parou pensativa olhando para o guarda roupa desenhando.
- Se você conseguir pintar todo guarda roupa, o bicho papão pode até aparecer com sua verdadeira forma.
- Uau, eles são ferozes!
- Na verdade não, eles são medrosos e têm vergonha da aparência real deles.
- Isso parece triste. - Falou Sophia que recebeu apenas um olhar meu intrigado.
- Mas e se ele tentar assustar o seu irmão? - Perguntou minha tia como uma verdadeira professora esperando a resposta certa.
- Eu explodo ele. - Falou a pequena fazendo uma imagem com as mãos como se soltasse algo pra cima.
- Viu, você ama seu irmão.
- Verdade. Mas ele me irrita.
- Eu sei, a sua mãe também me irrita. - E nós duas nos olhamos e sorrimos.
Na próxima página tinha uma imagem que parecia a silhueta sem rosto de uma mulher segurando um baú nas mãos.
- Ela é estranha.
- Ela é uma fantasma que guarda um grande segredo, se terminar de pintar, ela te conta um segredo e abre a caixa.
- Eu não quero pintar ela, fantasma me dá medo.
- E se o segredo for a chave para tudo?
- Tudo? - Perguntou a aniversariante com um sorriso maroto.
- Tudo! - Respondeu minha tia sorrindo. - Principalmente como fazer um bolo. - Riu a minha tia.
- Ah, não. - Murmurou a Jenna. - Eu quero ser a maior bruxa do mundo!
- O segredo está com ela.
- Não. - Respondeu. - Vou descobrir sem ter que falar com uma fantasma.
- Inteligente. - Elogiou Anastasia fazendo uma reverência com a cabeça.
- Hummm. - Murmurou Sophia.
Na próxima página tinha um caldeirão de poções no fogo.
- Quando terminar de pintar, vai saber qual poção é.
- E onde está o professor?
- Ou professora..?- Incluiu minha tia.
- Ah , não, as mulheres estão salvando o mundo.
- De quem?
- Do maior bicho papão de todos!
- Eu sou professora, não estou salvando o mundo?
- Não, está ensinando seus alunos a salvarem.
- A certo, entendi. - Respondeu minha tia com um sorriso generoso porém um olhar enigmático.
- Legal ver como você insulta sua tia. - Falou Sophia rindo com a mão na boca.
- Tenso mesmo, criança é muito sem noção.
Na outra página havia uma lâmpada mágica.
- O que é isso? - Perguntou a pequena desconfiada.
- Um receptáculo que prende uma criatura divina. Quando terminar de pintar ele aparece.
- E porque ele precisa ser preso?
- Porque é o único jeito dele conceder três desejos. Quais você pediria?
- Poder para destruir o maior bicho papão do mundo, ser a maior bruxa ou... - a pequena Jenna parou pensativa. - Ou nada disso.
- O que?
- Eu poderia pedir pra eu nunca mais brigar com meu irmão, nem você com minha mãe.
- É... - Respondeu ela com emoção abaixando a cabeça.
- Wooommm, Jenna. - Vibrou Sophia colocando as mãos sobre o peito.- Isso foi fofo.
- É confuso tia, um desejo só para mim? - Questionou a pequena Jenna. - Ou por nós, ou para todo mundo? Eu poderia desejar que todo mundo ganhasse três desejos.
- Eu era mais inteligente aos 11. - Debochei pra Sophia.
- Era mesmo. - Brincou a amiga.
Minha tia não respondeu apenas sorriu com orgulho e virou a página. Havia um garotinho fofo com uma espada nas mãos empunhadas, mas ele estava com um semblante triste, como se estivesse se escondendo atrás de uma coluna.
- É o Rei Arthur!
- Rei?
- Das histórias da vovó Eillen.
- Legal, só que ele é um rei medroso. - Falou minha tia com uma falsa preocupação no olhar.
- Porque?
- Porque ele precisa de bons amigos que mostre para ele seu potencial.
- Ou uma rainha.
- Talvez, mas quando terminar de colorir ele, ele vai ficar muito corajoso e forte, porque ele nunca esteve sozinho.
- Ele precisa aprender ser forte sozinho, eu não posso estar sempre do lado dele. - Falei virando a última página. Não acho que eu tinha consciência do que eu havia dito.
- É verdade. - Respondeu minha tia pensativa.
Na última página tinha uma família de coelhos posando para uma foto de natal enfrente a uma lareira.
- Só tem três.
- Quando você terminar de pintar vai chegar mais familiares, a família vai ficar bem grande.
- Tia. Só vai acontecer algo legal se eu terminar de pintar?
- Boa pergunta. - Sussurrou Sophia.
- Não. Vai acontecer de qualquer forma, não se sinta obrigada. O tempo irá colorir o teu futuro, Jenna. - Falou ela séria porem orgulhosa.
- Presente, legal, tia. Obrigada . - Agradeceu a pequena pensativa. - Acho que tem muito mais histórias em cada página, não é?
- Exatamente. Cada página da nossa vida é um mistério que precisamos colorir aos poucos para ver as consequências . Não colorir nos leva a um fim, e colorir nos leva a outro. Não existe uma regra, tudo é possível no futuro.
- Mas somos videntes, não é? A gente acaba sabendo das coisas.
- Podem ou não acontecer, isso depende de nós e de mais algumas variáveis. Um dia você vai entender quais são ela e o seu poder dentro disso tudo , somos diferentes, a minha missão é alertar sobre os sinais. No Brasil a linguagem e o idioma são bem diferentes...
- Tia, porque você mora lá?
- Porque meu destino me mandou pra lá. Te conto um dia desses. Agora eu quero cantar uma música para você. - Falou ela empolgada.
- Legal! - Vibrou a pequena Jenna.
- Vamos pro sofá. - Chamou minha tia.
- Ela cantava tão bem. - Falei pra Sophia.
- Ela é adorável. - Elogio a amiga com emoção.
A pequena Jenna sentou no sofá e minha tia a acompanhou ficando ao seu lado. Ela pegou sua varinha e fez letras de partituras aparecerem no ar rodopiando em uma pequena névoa rosada.
- Essa música é especial para você.
- Legal! - Virou a pequena.
- Um dia você vai voltar a ouvi-la e vai precisar cantar, sabia?
- É mesmo? E porque?
- Hum... você vai descobrir, você é muito inteligente.
Anastasia se ajeitou no sofá e balançou um pouco a varinha fazendo a suave nuvem de elementos fofos nos circular.
" Nos dias centrados de paz e silêncio
A voz doce suave que traz o vento
Um dia em passos largos mostrará um presente
No dia do aniversário feliz e contente"
- Ela canta bem. Essa melodia vem da magia?
- Sim.
" O pano tão belo do vestido encantado
Esconde um sinal, um objeto mágico
Cante pra ele uma cansanção bem feliz
E traga a terra um destino que diz "
- Jenna. - Murmurou Sophia. - Tá vendo essas imagens pequenas?
- Sim.
- São vestidos, estrelas, meia lua.
- Acha importante?
- Muito específico, e a letra muito mais.
" Estava ela vestida pra brilhar e seu príncipe tão humorado foi gentil em trocar
Sorriam e brincaram muitos anos atrás e fizeram laces e amizades sublimes de paz
Selando o que no futuro seria um caminho
Até parece que estava sozinho
Mas nunca esteve nem a menina nem o rapaz
Só é necessário o canto da paz
O tempo é curto mas a jornada é longa
O canto tão breve que ajuda, encontra
A o caminho exato para encontrar
Selando o destino da luta e da paz"
- Lindo , tia. - Elogiou após ela concluir. - Obrigada. Como eu vou memorizar essa música? Você vai me mandar uma caixa musical com ela?
- Não. Existe outro jeito de você voltar a ouvi-la, ela é especial. - Falou minha tia olhando para o lado.
Tive a impressão que ela sabia que um dia eu estaria ali assistindo essa cena ouvindo sua música novamente.
- Jenna, - chamou Sophia. - ela sabe de tudo.
- Tudo eu não sei, mas muita coisa ela já sabia sim.
- Sabe quem me ensinou a cantar? - Perguntou minha tia carinhosamente me vendo brincar com os elementos mágicos na minha frente. - Uma elfa muito especial.
- Que interessante, tia.
- Os elfos podem criar encantamentos musicais e esconder objetos mágicos dentro de outros objetos mágicos.
- Com qual objetivo?
- As vezes é mais prático, e às vezes é para guardar algo especial.
- Tipo um segredo?
- Tipo. - Respondeu ela olhando novamente para o lado , só que dessa vez ela acertou onde eu estava e lançou uma piscadela com um sorriso orgulhoso.
- Acho que entendi. - Falou Sophia. - É quase uma charada.
- O que!? - Perguntei a amiga.
- Anastasia. - Chamou minha mãe entrando na sala. - Não está colocando caraminholas na cabeça dela , está?
- Estava cantando.
- Sei. - Respondeu minha mãe com sarcasmo.
- Eu já vou. - Falou minha tia com um olhar preocupado. - Espero que o Júnior esteja se divertindo.
- Ah, porque já vai, tia Chloe? - Indagou a pequena Jenna ficando chateada.
- É, vai ser difícil tirar ele lá de fora agora. - Respondeu minha mãe com indiferença.
- É porque é melhor assim, eu estarei sempre por perto. - Falou minha tia com carinho mas olhou para minha mãe com uma expressão séria. - Quando for necessário. - Concluiu com uma voz mais grave e depois voltou a olhar pra mim. - Você pode se preparar para Hogwarts, sabia? Sua mãe tem guardado bons livros sobre magia.
- Tá bom, eu vou me orientar.
- Já pensou em revistas também? O Pasquim tem matérias bem interessantes. Li uma matéria sobre cabelos coloridos, na semana passada.
- Aquele lixo. - Riu minha mãe cruzando os braços.
- Não insulte Xenofilio. - Pediu minha tia com assombro.
- Só porque vocês tiveram um caso!? Eu não tenho paciência com aquele maluco.
Minha tia se levantou e se aproximou da minha mãe muito séria.
- Não fala besteira na frente dela. - Murmurou irritada.
- Nem você deveria falar suas babaquices para a Jenna, ela é muito jovem.
- Fico feliz que ela é muito mais sensível que você, não vai se comportar como uma arrogante na escola nem na vida.
- Saia. - Mandou minha mãe engrossando a voz. - Você não tem filhos, não sabe o que é ser mãe.
- Eu aprendi a ser cruel com ela. - Falei para Sophia.
- Você não é como ela, com toda certeza. - Falou a amiga .
Eu não diria. Isso.
Minha tia voltou-se para mim com lágrimas nos olhos e me deu um beijo na cabeça em despedida.
- Você vai ser muito poderosa. - E se despediu com um beijo na minha testa. - Feliz aniversário, minha linda. - Falou se dirigindo para a lareira. - Eu te amo Jenna. Avise seu irmão que ele é tão incrível quanto você. - E entrou na lareira falando " Sala de reuniões, Castelo Bruxo"
A lembrança se dissipou com a minha última visão da minha mãe me olhando torno e comigo gritando com ela " você é muito chata!".
Ao sairmos da penseira, me sentei na cama sentindo uma certa ansiedade tentando digerir tudo que eu havia visto ou melhor, me lembrado.
- Sabe o que acho? - Falou Sophia ainda de pé andando pelo quarto.
- Hum?- Resmunguei desanimada.
- Você tem o vestido ainda não tem? E o tal livro de pintar?
- O vestido está no guarda roupa, o último que usou foi o Fred o livro eu não sei onde está.
- A gente pode procurar.
- Não, agora não. Muita coisa na minha cabeça, eu só quero ver se minha mãe me deixou alguma mensagem nisso. - falei olhando para o tudo em cima da mesa.
- Claro, verdade. Depois vamos atrás disso. Vamos ver o que ela deixou.
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