Uma noite judaica
- O que ele está fazendo aqui!?
Phillip Moore estava sentado no sofá ao lado do Gustav com um livro nas mãos. Ele só me mediu dos pés a cabeça com a boca entreaberta e soltou um "uau" ao me ver.
- Não seja mal educada! - Gritou mamãe da cozinha.
- Estávamos estudando iidiche e hebraico. - Disse Junior mostrando mais um livro.- Aproveitei para apresentar o Phil a vovó...
- Ah, Junior, que desnecessário!
- Qual o problema?
Eu coloquei mais uma das balas na boca, Infelizmente aquela coisinha era saborosa também e estava me relaxando.
- Ele é gostoso de mais pra estar sentado no nosso sofá.
- O que foi que você disse!? - Perguntou Phillip rindo.
- O que está comendo? - Perguntou Junior um pouco chocado.
- Uma bala louca que o Fred criou, isso é muito perfeito. - E coloquei outra na boca.
- Do que é feito?
- O Fred? De carne, magia, desejo, muito sexo e criatividade, principalmente no banheiro, tudo é uma delícia ... Ai que merda! É viciante mesmo!
- Banheiro!? - Perguntou Phillip, ainda rindo.
- Esse é o efeito colateral, ou não, talvez seja de propósito porque na minha maravilhosa experiência com Fred , todo efeito colateral que vem dele é uma delícia. Ahh! Mas esse é o problema, eu roubei dele, ele usou a poção do Louco...
- Talvez ele tenha criado a primeira droga bruxa. - Disse Junior rindo.
- Aposto que não! - Disse mamãe aparecendo na sala. - Jenna, me dê essa caixa. - Disse ela estendendo uma das mãos olhando para mim, que estava escondendo a caixinha nas mãos.
- Mas é claro que não! Sai daqui!
- Olha como fala comigo!
- Tô olhando. Vai fazer do que!?
- Jenna. - Disse ela coçando a cabeça piscando longo com expressão de impaciência. - Não quero usar magia contra você.
- Porque eu posso explodir a casa toda!? Você tem medo de mim, não tem? Fala a verdade!
- Eu acho que vou ter que te proibir de sair de casa...
Eu dei uma gargalhada, e não foi baixa.
- Experimenta então...
- É mesmo? - Perguntou ela com sarcasmo. - Me dê , deixe eu experimentar isso.
- Eu também quero! - Disse Junior.
- Não, não foi isso que eu quis dizer, desculpa. - Debochei para minha mãe.- Isso é danoso, mas dá uma breve sensação boa.
- E porque roubo dele? - Perguntou Phillip.
- Porque eu estou me sentindo um lixo. Então eu mereço me punir com essa porcaria, eu quero me sentir melhor, poxa! Óbvio! Quer que eu sente no seu colo pra explicar ?
Ele resmungou um leve "uuuh" assentindo com a cabeça.
- Jenna, chega de papo! Me dê isso ou vou ter que imobilizar você. - Disse minha mãe séria.
- Isso aí está liberado pra venda?
- Mas é claro que não, Junior. Afinal . - Disse eu me voltando para minha mãe. - Não é você que queria que eu me aproximasse do Phillip?
- Cale a boca e me dê isso!
Minha mãe veio pra cima de mim para tentar tirar a caixa da minha mão, mas por algum motivo ela não quis usar magia. Mamãe nunca usou mágica contra os filhos, imaginei que isso era a coisa mais severa que uma mãe poderia fazer.
Eu me desvencilhei com violência das duas mãos sobre as minhas, mas antes coloquei outra bala na boca.
- Sai de cima de mim!
- Isso é inaceitável! - Disse ela tentando pegar meu braço, quando eu estava me jogando para trás. A bolsa do Zyra caiu no chão e eu pude perceber que o Djinn estava nos últimos lances da escada rindo da situação. - Você passou dos limites!
Nós duas caímos no chão aos tropeços e a caixa também, fazendo Phillip e Junior pegarem algumas balas.
- Não Phillip! É melhor não! Me solta, mãe!
- E porque não!?
- Olha sua cara, seu idiota! Está se divertindo com a gente no chão...
Mas ele não quis dar atenção e jogou duas na boca, Junior o acompanhou rindo.
Mamãe pegou a varinha do bolso da sua calça mas eu consegui arrancar da sua mão e arremessá-la para longe, em direção a cozinha.
- Não sabe fazer magia sem ela não é mesmo!? Como consegue ser uma bruxa!?
- Você é inacreditável!
- Advinha quem pensa igual!?
- Eu. - Disse Philip com uma expressão de deboche. - Te acho incrível e só me convidei para estar aqui porque seu irmão disse que você estava com um vestido horrível. Sabendo que isso é impossível...
- Hey cara, achei que fossemos amigos!
- E somo mas sou afim da sua irmã a muito tempo e você sempre soube disso, foi você que disse que ela preferia caras mais sarados...
- Como é que é, Júnior!? - Indaguei ainda segurando os braços da minha mãe.
- Claro, seu panaca, a minha única referência era o Duque que ela ficava de caso.
- E sim, é uma referência muito boa! Cala a boca, Junior! - Disse eu com esforço, Mamãe estava conseguindo se desvencilhar porque estava tentando me esmurrar.- Merda!
- Imaginei. Aliás, - Disse ele voltando seu olhar para nós no chão. - continuem brigando que está maravilhoso, espero que alguma rasgue a roupa...
- Está maluco garoto!? - Disse mamãe se levantando arrumando os cabelos.
- Ah... Desculpa Sra. Gibbon. - Disse ele tentando se recompor ficando com as bochechas vermelhas. - Esse negócio é muito louco mesmo. - E desviou o olhar.
- Ainda estou chateado com você por causa da Claudia!
- Achei que não gostasse dela.
- Não justifica você ter escondido que ela é afim de você!
- De todas as estúpidas que você já ficou, eu nunca achei que fosse ficar com aquele trasgo.
- Exatamente! - Disse eu me sentando no chão. - Vou arrebentar a cara daquela vagabunda esse ano!
- Jenna, olha a boca! Eu não te ensinei a falar isso. - Disse mamãe indo pegar a varinha.
- Você não me ensinou nada mãe, eu aprendi a usar muito bem a minha boca sozinha!
- Confundus! - Gritou mamãe após pegar a varinha, mas o feitiço não me atingiu, se desfez antes de chegar em mim.
- Você me atacou!? - Gritei do chão.
- Como conseguiu desfazer o feitiço!? - Perguntou ela confusa.
- Não fui eu! - Eu estava pegando a caixinha e colocando o resto de balas espalhadas pelo carpete.
- Foi eu. - Disse o Djinn mas só eu escutei.
- Porque está fazendo isso? - Perguntei ao Zyra.
- Eu tenho que te proteger, sabia? Mas estou adorando a confusão.
- Jenna, com quem está falando!?
- Um fantasma.
- Está alucinando?
- Me dá mais uma!? - Pediu Junior.
- Mas é claro que não! E não estou alucinando!
- Essas malditas balas são tóxicas, esses gêmeos precisam ser barrados ou...
- NÃO! - Eu fiquei de joelhos e gritei tão alto que as portas, decorações e as janelas da casa toda sacudiram fazendo mamãe ficar em pânico. Phillip e Junior olharam com os olhos arregalados ao redor , incrédulos. - Eles não têm nada haver com isso! Eu roubei! Foi só um experimento que falhou. - Disse me levantando. - Se você interferir em alguma coisa deles...
- Você vai fazer o que contra a sua mãe!? - Disse ela com os olhos ficando vermelhos.
Eu não respondi, e consegui segurar a vontade de comer mais uma bala. Tive medo de saber o que eu pensava, tive muito medo mesmo.
Mamãe conseguiu lançar um feitiço em silêncio e a caixinha sumiu da minha mão. Foi melhor assim.
- É... Agora eu sei do que você é capaz de fazer algo contra mim. - Disse mamãe triste olhando para sua varinha e subindo as escadas. Zyra desapareceu rindo antes dela passar por ele.
- Isso foi intenso. - Disse Phillip tentando quebrar o clima que ficou.
- Isso foi horrível. - Disse para ele de cabeça baixa, sem olhar em seus olhos.
- Eu sinto muito. - Disse Junior fechando o livro.
- Dane-se. - Disse me sentando no sofá ao lado. - Você foi vê a Keilah?
- Ah... - Murmurou meu irmão.
- Quem é Keilah? - Perguntou Phillip.
- Minha amiga trouxa. - Disse eu sem pensar muito.
- E o que o Júnior tem haver?
- Não fui. - Disse ele sem jeito. - Não tive coragem mas... Peguei um livro com a vovó, foi só o que consegui fazer.
- Ela é maravilhosa.
- Hum...porque não me contou dela, cara?
- É uma trouxa, sabe... E a gente nem é amigo exatamente.
- Ela vale a pena, Gustav. - Disse eu entediada olhando para o teto.
- É, mas ela é mais velha e...
- E isso nunca foi um problema pra você. - Disse eu bufando.
- Ela parece muito inteligente, estuda em uma universidade, e porque acha que iria se interessar por mim?
- Sei lá, porque você é inteligente também e tem esses papos aí sobre sociedade. Ela me pareceu muito sozinha, sabe? Não precisa namorar, paquerar, ou essas palhaçadas que você gosta. Ela ficaria feliz só com uma amizade.
- Hum... - Disse ele pensativo. - Acha que é possível uma trouxa ser uma soulmate?
Achei a pergunta pertinente, mas não me preocupei muito, isso com certeza não era um segredo e ele iria perceber a qualquer momento.
- Alma gêmea? - Disse Phillip.
- O quê? - Indaguei.
- É em latim, significa alma gêmea. Eu estudo latim.
- Nossa, isso é muito conveniente. - Disse eu com sarcasmo.
- Mas o que isso significa para vocês? - Perguntou o amigo do meu irmão intrigado.
- Ele não sabe!?
- Não. - Respondeu Junior com olhar perdido. - É um lance mágico de família que aproxima um casal que são afins, acabam se conectando de alguma forma, até se casando...
- Mas nosso avô Brown não era a tal alma gêmea da nossa avó.
- Como sabe disso!?
- Sei de muita coisa, mas eu não queria saber nada disso! - Disse me deitando de lado no sofá, abraçando uma almofada. - Eu só queria ser normal.
- E quem é seu soulmate, Jenna?
- Não é da sua conta!
- É por isso que você está triste? É um dos gêmeos?
- Não seja ridículo! - Acertou!
- Quem te deu esse cachecol? - Perguntou Junior.
- Foi o Fred.
- Hummmm.
- "Hum" o que?
- Olha. - Disse meu irmão pensativo. - Eu não sei se você nota Jenna, ele ainda luta por você.
- Não queria falar sobre isso.
Phillip levantou um das sombrancelhas pensativo.
- Então não do Fred que você gosta. - Murmurou Phillip com os olhos cerrando.
Se ele tinha notado isso tão rápido provavelmente era mais óbvio do que eu pensava. Isso me deixava envergonhada.
- Olha, Phil, eu nunca te iludiria com a minha irmã, ela é doida, instável...
- Menos, Junior, por favor. Hoje não.
- Ah... Desculpa. Papai logo vai chegar.
Me levantei num salto, era melhor ele não me ver com aquele vestido, descabelada e com arranhões. Com certeza viria bronca mais tarde.
- Bom, tchau Phillip, boa noite.
- Mas já? - Disse ele com um sorriso frouxo.
- Ele vai jantar aqui hoje. - Disse Junior.
- O que!?
Coloquei meu pijama sabendo que uma hora eu tinha que descer, era inevitável, fazia dias que minha mãe estava me ensinando a fazer algumas comida com magia, mas eu só podia olhar. Guardei o cachecol com carinho, com certeza vou dormir com ele ao meu lado por muitas noites.
- Briga bonita. - Disse Zyra aparecendo no chão de pernas e braços cruzados sentado atrás da porta. - Vai querer a caixa novamente?
- Estou começando a me arrepender de ter deixado você solto. Mas não, agora não, quando eu quiser essas balas você saberá.
- Eu poderia ficar quieto, mas acho que iria gostar de saber que sua bisavó vivia brigando com a mãe dela.
- Ah, pronto, agora vou saber que mais uma ascestral minha era louca.
- Galena não era louca, só era muito astuta. Não era vidente mas sabia que a filha não tinha uma personalidade muito comum para as bruxas da época.
- Galena?
- Sua tataravó viveu bastante, mas não quis se aproximar da Sosie quando a Hannah morreu, ela ficou enclausurada pelo resto da vida depois que o seu marido a trocou por uma bruxa mais jovem e sua única filha foi assassinada.
- Só história merda. Entendo Hannah cada dia mais.
- É. Não só bruxos tem histórias terríveis, toda a humanidade.
- Não sei como eu e minha mãe estamos vivas ainda.
- São fatalidades humanas bobas, de nada tem haver com vocês, mas o seu pai a protege muito.
- É mesmo? Continua. - Disse me sentando na cama para ouvir.
- Achei que eu estava falando muito.
- Suas fofocas são boas, não sei se são verdadeiras mas são boas.
- Seu pai não é bonzinho não, ele as vezes apaga a mente dos bruxos que tem interesse na sua mãe.
- Desde quando ele faz isso?
- Desde sempre.
- Nossa, que vida merda também. - Bufei me debruçando nos meus joelhos.
- Aí eu acho que é um ciúmes estúpido, mas você não é muito diferente.
- E quando ciúmes não é estúpido?
- Aposto que faria o mesmo se visse o que ele viu. Ele é um legilimente nato.
- Ele é um natural?
- Sim.
- Poxa a gente poderia ter nascido com isso.
- Mas vocês nasceram com uma habilidade avançada, só não perceberam ainda. - Vixi, eu já tinha consigo entrar na mente do Jorge. Não me pareceu difícil mas com certeza foi degradável . - É melhor assim, vocês são ridículos.
- Hey! Saia da porta, vou descer.
- Isso é um pedido?
Bati o pé com raiva no chão e ele riu desaparecendo. Não estava afim de deixá-lo preso, comecei a sentir pena dele. Ele era inofensivo livre e sua presença estava começando a me fazer bem, principalmente porque me contava muita coisa que eu não sabia e confesso que não me sentia tão só quando ele estava por perto.
Só me apressei a descer porque Phillip estava em casa, eu queria ver ele, e mesmo com toda a confusão, não achava que mamãe fosse ser grosseira comigo o tempo inteiro.
- Sabe porque temos geladeira, Jenna? - Disse minha mãe quando apareci na porta da cozinha, evitando olhar para o meu irmão e seu amigo na sala.
- Ah... não sei, porque papai gosta dos velhos tempos?
- E esse fogão de trouxa?. - Disse ela com sarcasmo apontando o fogão com a varinha.
- O mesmo motivo.
- E aquela coisa na sala que fala sozinha.
- A televisão.
- Porque acha que eu não mandei Gustav tirar ela da sala ?
- Mesmo motivo. - Resmunguei de má vontade cruzando os braços.
- E você, Jenna? Acha que tenho medo de você ou que te suporto por causa dele? - Disse ela levantando a sobrancelhas com expressão de asco.
- Ah... Entendi.
- Saia. Não tenho nada pra te ensinar hoje, usa sua boca pra fazer as coisas sozinha.
Eu poderia mesmo.
Me virei e percebi que os amiguinhos no sofá estavam rindo.
- Porque você não vai embora?- Disse eu, olhando para o Phillip. - Olha na sua frente uma lareira a cinco passos de distância que, com certeza, liga você a sua casa em segundos. - Disse voltando para meu lugar no sofá.
- Achei que eu fosse o gostoso do sofá. - Resmungou ele com deboche mas um olhar triste.
- Isso não tira a minha insatisfação com sua presença.
- E porque eu te incomodo?
Provavelmente porque é mais um símbolo do meu fracasso conjugal.
- Deve ser porque ela não admite que gosta de você. - Disse Junior guardando um livro na estante.
- Nunca o iludi mas também nunca disse que desgostava dele. Fica a reflexão. - E escorei minha cabeça na mão, apoiada no braço do sofá.
- Achei que gostava só da sua alma gêmea.
- A Jenna não é monogâmica.
- Tá falando igual a Keilah.
- Na minha época isso se chamava falta de vergonha na cara. - Disse mamãe xeretando a conversa.
- Hipócrita. - Murmurei para mim mesma.
- O que quer dizer? - Perguntou Phillip quando meu irmão voltou a se sentar.
- Que ela ama várias pessoas ao mesmo tempo.
- É uma boa observação. - Respondi.
- Consegue dar conta de todos esses sentimentos?
- Não só dos sentimentos. - Na cama eu conseguiria também.
- Porque disse "pessoas" e não "bruxos", Junior?
- Você analisa bem as palavras. - Elogiei.
- Porque ela fica com a Sophia.
- Não vou nem reclamar de você está falando isso, não é mais segredo. Ela me agarra em qualquer lugar.
- Não julgo, faria o mesmo. - Disse Phillip sorrindo.
Nesse momento a lareira ascendeu revelando a presença do meu pai me fazendo correr para abraça-lo. Era sempre o melhor momento do dia. Ele voltar para casa era um alívio. Eu o abracei por alguns segundos e ele me deu um beijo na cabeça.
- Shalom, garotos.
- Shalom, Sr. Gibbon
- Shalom, pai.
- Boa noite, pai. Você está bem? - Perguntei.
- Sim. Exausto, mas bem. E como foi a inauguração? - Papai me perguntou.
- Como você acha, Gustav? - Disse mamãe aparecendo na sala dando um beijo em sua bochecha.
- Acho que bem.
- Jenna trouxe uma droga para casa. - Disse minha mãe irritada.
- Exagerada.
- Eu não gostei, me senti estranho. - Disse Junior.
- Hum, uma reação interessante. - Falei. - Sophia iria gostar de estudar os efeitos em você.
- Droga? - Perguntou ele franzido o cenho.
- Mãe, não começa agora não, deixa ele ter um jantar em paz. - Pedi.
Minha mãe raramente concordava comigo mas ela olhou para o Phillip e decidiu abaixar a bola dela.
Papai deu uma longa piscada respirando fundo e sorriu para nós, ele parecia tão cansado. Após ele subir para se trocar, fomos para a cozinha arrumar a mesa para jantar. Não tínhamos sala de jantar como Sophia.
- É bem triste não poder seguir o shabat corretamente, mas preciso ajudar no ministério nesse momento.- Disse papai após a oração.
Mamãe e eu dávamos as mãos nessas horas, mas ficávamos em silêncio, não tínhamos nada a acrescentar na reza. Por mais que eu vivesse falando " meu Deus" eu nunca tinha rezado, mas acreditava na tal Força Maior que Zyra vivia dizendo.
- Eu lamento senhor, se eu poder ajudar de alguma forma. - Disse Phillip prestativo.
- Siga na fé. Acreditando...
- Bobagem. - Disse mamãe servindo a mesa com magia. - Já sabemos o desfecho dessa história, não é necessário rezar.
- Estamos todos seguros, Chloe? - Perguntou papai naquele tom que oscilava entre aborrecido e desafiador.- Você está certa disso?
- Não foi isso o que eu disse. Mas se quiser um fim, não perca seu tempo de joelhos. Isso não é estratégia, é desespero.
Acho que foi a pior das descrenças da minha mãe contra meu pai, não só a Laura tinha piorado seu comportamento preconceituoso com o tempo, mas minha mamãe também estava ficando mais cética, descrente e desesperançoa. Não sei porque mamãe se revelava tanto em casa, mas ela não era forte quanto se mostrava no trabalho.
- Um sonserino religioso é um milagre. - Disse Phillip pensativo.
- É. - Respondi. - A maioria é ateu. Sophia não entende exatamente quando falamos sobre Deus.
- Mas ela é uma boa bruxa. - Acrescentou papai.
- Uma coisa não tem nada haver com a outra. - Disse mamãe nos servindo de suco.
- Seu dia não foi bom, não é? - Perguntou papai após se servir.
Minha mãe o olhou com tristeza. Eu não sabia o que rolava na verdade, mas eu nem queria saber. Eu tinha problemas de mais para me importar com os dos meus pais.
Fiquei observando Philip jantar. Ele mastigava de um jeito meigo que me causava um sentimento maternal. Ele me parecia muito maduro, era do tipo que jamais iria se aventurar como Fred fazia comigo. Acredito que o fato dele ser religioso tinha o podado de diversas maneiras.
Nem acredito que dois anos atrás eu o beijei debaixo de uma mesa, mas sinceramente, era óbvio que poderia acontecer, ele estava embriagado tanto quanto eu.
Imagino que ele se arrependeu de me chamar para sair no meu aniversário. Eu já tinha dois colares, do Blasio e o dele. Fiquei pensando quantos caras eu ainda poderia rejeitar e se teria alguma consequência nisso.
No final da noite, meus pais ficaram com Phillip e Junior conversando na sala e até rindo da televisão, eu fiquei no mei quarto pensativa na cama.
- Seu pai não esta errado. - Disse Zyra de pé me olhando.
- Sobre?
- Rezar é uma energia mágica. Ajuda mentalmente a reger as ações e o destino da humanidade.
- Ele iria amar saber disso. - Murmurei olhando para parece.
- Iria mesmo, bisneta da Hannah.
- Porque nunca fala meu nome?
- Porque nomes são sagrados e você não vale isso.
- Hum.
- Eu lamento não poder impedir a partida do seu pai. - Disse ele sério. Nesse momento eu o encarei e fiquei emocionada. - Onde há morte, sempre haverá uma morte. Eu sei que é um dos seus desejos impedir.
- Eu não quero falar sobre isso. - Disse eu me voltando para a parede. - Se você insistir eu prendo você.
Ele sumiu, achei respeitoso ele não insistir. Após um tempo pensando no pior eu decidi ir ao banheiro e voltar ao meu quarto. Era bom ouvir meus pais rindo seja lá do que fosse enquanto eu passava pelo corredor do primeiro andar. Eles mereciam rir e eu queria vê-los rindo para sempre.
Vi mamãe subindo a escada e decidi chamar por ela.
- Venha até aqui, preciso falar com você. - Disse eu com apatia.
- Se for sobre as balas...
- Não é.
Eu entre e ela veio atrás, comigo encostando a porta.
- Diga. - Disse ela cruzando os braços.
- Você teve uma visão de mim grávida?
- Sim. - Disse ela cerrando os lábios piscando fundo.
- Eu também. Mas acho que está enganado do "quando" isso pode acontecer. Tenho certeza que vai demorar muito.
- Eu não teria tanta certeza.
- E porque?
- Porque você estava jovem e com os cabelos ainda coloridos nas pontas.
- Estranho. Estavam loiros?
- Não.
- E de qual cor estava?
- Azul.
- Credo. Jamais vou colorir meu cabelo com essa cor.
- Ahhh... Jenna, você vai. Acredite, você vai.
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