As genialidades das Gemialidades
No primeiro dia de Agosto as coisas estranhas no mundo bruxo só estavam piorando, eu sentia e Zyra também percebia, dado os resmungou quando olhava para fora de casa, sempre alertando de que os bruxos das trevas estavam cada dia mais organizado.
Jorge me mandou uma coruja com um panfleto falando da data da abertura da loja, dia 13, um sábado. Não que fosse ruim, mas eu acabei ficando ansiosa todos os dias até a data. Quase não deixei Zyra solto depois disso, eu prefiria ficar sozinha com meus pensamentos.
- Hoje vou na loja deles. - Disse ao Djinn. Eu acordei tão cedo e já estava arrumando o vestido e me olhando no espelho imaginando como eu ficaria. - É sempre tenso sair de casa. Na pior das hipóteses eu sempre acho que vou pedir a você para salvar a minha vida.
- Eu sei. - Disse Zyra fazendo carinho na Charlote no chão. Ele estava deitado em uma posição parecida com a dela.
- Seria um desperdício.
- Acho que você sabe se defender. E a sua namorada vai estar com você, qualquer coisa ela faz as maldições dela ou chama a escravinha...
- Njal é uma serva gentil, e não fale assim da Sophia!
- Isso foi um pedido? - Toda vez ele falava isso e eu tinha que ameaçá-lo mostrando o receptáculo. - Tá bom, tá bom. Estou brincando.
- Mas só estou tentando desabafar, eu não tenho opção.- Soltei meus cabelos e comecei a me imaginar com outra cor nas pontas. - Eu ainda não me decidi sobre os últimos dois pedidos.
- Você quer livrar a família do menino nobre da maldição da elfa na esperança que sua relação com ele melhore.
Achei muito interessante a observação dele, mas me incomodou.
- Você por acaso é a incorporação do veritasserun?
Ele riu de boca fechada de um jeito assustador.
- Eu sei que é um dos seus desejos, só não entendo porque você tem simpatia por um bruxo que quase te enforcou.
- Ele queria realmente fazer isso?
- Hum... - Disse ele se sentando no chão de pernas cruzadas com uma expressão de orgulho.
- Você sabe, não sabe?
- Não sei... mas talvez você tenha que me pedir pra dizer o que ele estava pensando...querendo. - Disse ele cinicamente.
- Entra!
- Merda.
Eu não podia favacilar muito. Apenas de eu estar trancando a porta de maneira trouxa, com a chave, nunca se sabe quando meus pais iriam entrar sem bater. Eu deixava o receptáculo ao lado da bolsa na minha mesa de estudo, não tinha porque esconder de mim mesma mas se algo acontecesse eu tinha sempre uma mentira bem elaborada.
Fiquei um tempo lendo a revista que o Jorge tinha me dado sobre tranças e achei que uma embutida dupla, no estilo que eu sei que ele iria adorar seria uma boa forma de chamar sua atenção, como se isso fosse mudar nossa condição.
Toc toc.
- Sua mãe. - Resmungou mamãe do outro lado. Pelo tom de voz estava um pouco irritada. Escondi a bolsa debaixo do travesseiro.
- Ah. - Destranquei a porta e voltei a olhar a revista. - A senhora acha que consegue fazer essa em mim? - Disse mostrando a ela o penteado.
- Sim. - Disse secamente.
- E o que você quer?
- Tome isso. - Disse ela fechando a porta e me entregando um frasco com algum tipo de poção.
- O que é?
- Beba.
- Tá, mas logo hoje?
- Beba agora! - Disse ela bem firme e séria.
Ela parecia preocupada, então eu bebi. O sabor era muito famíliar.
- É Poção de Jasmin.
- Beba tudo!
- Ah, mãe, não vai acontecer nada hoje! - Fiquei constrangida, nunca imaginei minha mãe de dando aquilo.
- Não teria tanta certeza.
- Eu tenho, apesar de adorar eles, não faz o menor sentido me aproximar.
- Eu te conheço melhor que você, acredite, é melhor você tomar.
- AFF.
Acho que minha mãe deve ter tido uma visão minha grávida, eu também tinha, mas ao contrário dela a minha precisão era melhor.
- Qual é a da porta? Primeiro o anti-ruido agora tranca? - Disse ela cruzando os braços.
- É que o Júnior começou a entrar sem bater... - Meu alibe.
- Sei.
Ela sempre desconfiava de mim, mas raramente errava.
- Qual cor você acha que seria legal? - Disse eu mostrando as pontas do cabelo, como era de costume em quase todas as férias.
- Loiro.
- O que?
- Sim. Vou clarear de um tom bonito. Vi numa trouxa e lembrei de você.
- Ah, que fofo mãe.
- Ela era uma prostituta.
Minha mãe tinha um jeito peculiar de me ofender.
Após ela clarear e fazer as tranças, eu me senti mais confiante com o vestido. No pequeno espelho do guarda-roupa eu consegui ver que era uma opção muito ousada.
Um vestido verde de alças caídas abaixo dos ombros com um decote não muito discreto, não era coisa de bruxa. O vestido ainda deixava a cintura mais marcada com um cinto de fivelas. Os trouxas não se vestiam nada confortáveis com seus modelos de vestido. A barra desalinhada era uma pouco mais bufante, com um babado do mesmo tecido, mais longa atrás e curta na frente. Se eu tivesse um espelho de parede igual do gêmeos eu poderia me ver melhor, ou o feitiço espelhado seria uma boa opção mas só pode ser feito por si mesmo e eu não me arriscava como a Sophia em fazer feitiços em casa. Os sapatos pretos simples que eu tinha ajudava mas com certeza não colocaborou para me deixar discreta.
- Sorte a sua que seu pai está no trabalho. - Disse minha mãe ao me ver descendo as escadas. A bolsinha com o Zyra fazia eu parecer uma pirua desajeita. - Ele jamais aceitaria você saindo sozinha vestindo isso.
- Aí, como vocês são retrógrados!
- Ele iria te barrar mesmo.- Disse Junior descendo logo atrás. - Como teve coragem de comprar isso?
- Sabia que a Keilah ajudou?
- Você viu ela!? - Disse ele impressionado.
- Sim, ela que deu a ideia.
- Caramba... Ela perguntou de mim?
- Sim. - Disse eu achando graça me dirigindo a lareira.
- O que!?
- Só perguntou se estava bem. E você está?
- Estou. - Respondeu ele pensativo, parecia não ter notado meu tom de deboche.
- Porque não vai na inauguração?
- Porque hoje eu vou na sinagoga com o papai.
- Ah, suas paradas judaicas. Ok.
- Mas Jenna, Keilah não perguntou mais nada não? - Ele estava a fofamente curioso.
- Quer um conselho? Vai até ela. Ela trabalha a um quilômetro daqui. - Disse eu entrando na lareira. - E leve um livro de sociologia com uma dedicatória da vovó. Ela iria se emocionar muito.
Junior suspirou e olhou para mamãe com os olhos arregalados, mas só pude ouvir ele falando "O mãe..." Antes de dizer: Consuelo's Bar, Beco Diagonal.
Era um bar novo. Achei curioso um bar abrir no momento em que estávamos passando, mas Fred e Jorge também estavam inaugurando uma loja, então o que eu entendia sobre a vida.
Sophia estava debruçada no balcão olhando a barista com interesse, nem notou eu chegando, ela estava bebendo. A amiga estava com uma calça de couro marrom com uma bota da mesma cor de salto, o que provavelmente iria deixar ela ainda maior. Uma blusa social branca com bordados em formato de várias cobra dava a ela um charme quase que do campo, seu cabelo estava com as laterais presas para trás, dando a ela um topete baixo muito elegante.
- Vai parecer clichê. - Disse para ela me escorando no balcão fingindo ser discreta com o decote. - Mas você sempre consegue ficar dia mais bonita.
Sophia pareceu tomar um leve susto e largou a taça de lado e me pegou pela cintura.
- Consuelo, essa é a minha mulher.- Disse Sophia me olhando com carinho. - Ela é a dona do bar. - Disse a amiga apontando para a moça.
- Não exagera. Bom dia, senhora.
Consuelo tinha olhos negros bem grandes e me olhou com um sorriso enigmático, parecia um pouco sem jeito, não largava a varinha. Seus volumosos cabelos castanhos escondia bem um rosto de meia idade, mas suas bochechas dava a ela um semblante jovial principalmente com um vestido rodado colorido, típicos de alguma cultura latina. Ela apenas sorriu em cumprimento.
- Essa cretina é o amor da minha vida.
- Você está alterada.- Era visivel os olhos mais fechados e o sorriso frouxo.
- Deve ser o álcool. Bebi essa garrafa.
- Está maluca? Qual o seu problema?
- Essa é a questão, agora eu não tenho nenhum.
- Eu não teria tanta certeza, pare e vamos.
Ela riu e me deu um beijo na boca com desejo. Achei intrigante de como ela sentada ficava do meu tamanho. E sim, ela estava com arroma etílico no rosto, mas vindo dela eu sentia que tudo ficava bom, mesmo me preocupando com sua sanidade.
- Preciso de você sobrea sempre.
- Ta bom, desculpa.- Disse ela descontraía tirando um fraco com uma poção dos bolsos. - Eu só queria me libertar um pouco. - E bebeu.
- O que é isso?
- É uma poção para quebrar o efeito do álcool, demora um pouco mas funciona.
- Meu Deus, você pensa em tudo.
- Agradeça a Zury, ela me mandou um livro muito bom essa semana.
- Porque pessoalmente vocês são estranhas?
- Essa é um boa pergunta. - Disse a amiga descontraída se levantando dando um tchauzinho para a barista.
- Você está uma delícia... Pra mim você não se arruma assim.
- Ah, não diga isso... - Mas fazia muito sentido, mas na real, eu com Sophia tinha um estilo diferente, preferia ficar sem roupa com ela.
- Está me chamando pra gente fazer igual da última vez. - Disse ela praticamente se abaixando pra dizer no meu ouvido.
- Nossa, seria uma ótima ideia. - Acho que minha mamãe está mirando errado meu futuro.
Saímos do bar rindo e seguimos pela rua com ela tentando morder meu pescoço, mas sua altura só deixava a situação mais estranha e engraçada.
- Para! - Disse para ela tentando evitar seus beliscos de cossegas.
- Nossa fuga foi épica! - Disse ela provavelmente se lembrando do noivado da Patrícia. - Agradeço ao deus Hanukka de ninguém do Profeta Diário saber quem éramos nós, ninguém dedurou.
- Deixa voltarmos para Hogwarts.
- Vai ser incrível!
Não sei aonde.
Vimos que a maioria das lojas estavam fechada, até o Olivaras.
- Estranho. - Disse eu parando na frente da sua loja.- Os jovens londrinos esse ano não vão ter o prazer de conhecer o Olivaras, vão ter que comprar suas varinhas em outro lugar.
- Comprei a minha em Gales, o Sr. Bevan era um fofo, mas faleceu em fevereiro. - Disse ela chutando pedras na rua vazia do Beco.
- É, agora vai ficar tudo mais difícil.
- Os ataques estão piorando, você sabe não é? - Parecia que a poção estava mesmo começando a fazer efeito, Sophia estava voltando com seu tom de voz. - Zyra anda dizendo alguma coisa?
- Nada de novo, qualquer coisa ele me pergunta se é um pedido.
- Huf, criatura chata...
- Ele está entendiado.
- Ahhhhh, o bichinho quer sair pra passear, Jenna.
- Soph, eu entendo ele, mas acho que em Hogwarts ele vai ficar melhor.
Ela se adiantou e correu para loja dos gêmeos. A entrada dela estava bem parecida com o desenho do Fred. Uma pontinha de orgulho e saudade me tomou. Talvez não tão "pontinha" assim, era excitante.
- Olha, esses caras são maravilhosos demais. - Disse ela lendo um panfleto na porta.- Se eu não fosse gay com certeza eu ia agarrar um deles.
- Ou os dois.
É, eles eram incríveis.
- Seria um sonho seu realizado, não seria? - Perguntou ela com malícia ao abrir a porta.
- Cala a boca. - Seria sim.
Quando entramos a loja vários bruxos e bruxas de várias idades estavam a todo vapor experimentando os produtos e curiosos com o excesso de informações que havia por todo lado. Acho que eu tinha perdido muita coisa do processo. Me arrependi amargamente de ter terminado com o Fred. Se eu tivesse algo para voltar no tempo eu com certeza iria dar um aviso a mim: não termina com ele sua vaca!
Entramos em um grande salão no térreo e um patamar com uma simpática escada levava ao primeiro andar, se via que tinha mais andares. Havia coisas penturadas por toda parte, brinquedos, fantoches, falsas corujas e dragões voando para todo lado assustando e brincando com clientes.
- Olha isso. - Disse Sophia olhando uma placa de ferro com vários nomes, provavelmente as dedicatórias. Ela se aproximou para ver melhor e eu a acompanhei. - Acho bom esses merdinhas não deixarem a gente por último. - Se via o meu nome e o dela na ordem, estávamos no meio, logo abaixo do Neville. Eu não quis ler mais, provavelmente teria nomes dos quais eu não iria gostar.
Avistei um dos gêmeos no andar de cima notando nossa presença, era o Fred.
- Hey, seu cretino! - Gritou Sophia para ele. - Eu gostei disso! Se meu nome estivesse em último eu iria arrebentar vocês!
- Não dúvido! - Gritou ele lá se cima e voltam sua atenção para um grupo de clientes.
Eu decidi dar uma andada e ver mais coisas. A decoração era incrível. Tinha um canto todo rosa que me chamou atenção.
- Não acredito que está fazendo isso comigo. - Disse uma voz atrás de mim quando entrei no corredor.
A frase não fazia o menor sentido. Me virei e Jorge estava com as mãos nos bolsos me olhando com aflição. Ele estava com um terno vinho escuro muito lindo.
- Como é que é?
Ele aproximou de mim olhando para os lados com se estivesse temendo um ataque.
- Você... Está... - E foi baixando a voz. - Assustadoramente... Excitante.
- Ah, eu sei, Sophia já deixou isso bem claro.
- Esse cinto...
- É fofinho, não é?
- Não é exatamente isso que está chamando atenção.
Ele estava muito sério.
- Ah... Seu irmão já viu, aposto que não deve chocar mais tanto... - Eu tinha o dom de deixar Jorge chateado. Eu e minha boca nervosa!
- Jenna? - Disse Fred a minhas costa, me fazendo me virar. - Meu Deus, o que foi que aconteceu?
- Ah, vocês estão ótimos também. Amei o terno!
- Caramba, eu estou começando a me sentir um merda por deixar você terminar comigo.
- Eu fiz um favor a você. - Mentira. - Olha como essa loja está incrível! Aquilo ali é a Umbrigde?! - Disse eu apontando para uma boneca estanha pendurada.
- Sim. - Disse Fred se aproximando do meu rosto. - Se quiser pode tacar fogo nela. - Disse ele com um sorriso sarcástico.
- Sério!?
- Você só precisa poder ser de maior idade...
- Eu já sou. - Disse Sophia que estava ouvindo a conversa. Ela apontou sua varinha para a boneca e gritou "incêndio", fazendo parte dos bruxos da loja se assustarem.
A Umbrigde pendurada ficou incendiada mas logo voltou sua forma estranha original e começou a esbravejar xingamentos.
- Isso é genial! - Gritou Sophia aos pulos.
- E porque já pode fazer magia Sophia?- Perguntou Jorge ao meu lado.
- Fui emancipada.
- Legal! - Disse Fred cumprimentando Sophia de punho serrado que correspondeu com um soco também.
- Olha essa cena. - Disse ela olhando Jorge e Fred ao meu lado.
- Menos, Sophia. - Eu entendi a entonação dela.
- Se Colin estive aqui com a câmera dele eu pagaria mil galeões por essa cena.
- Você tem tudo isso? - Perguntou Fred.
Sophia deu uma gargalhada, me perguntei se ainda estava bêbada, mas acho que não.
- Eu tenho uns mil disso... multiplicado por dez. - Disse ela mordendo os lábios e rindo mais pra si mesma.
Não duvidei.
Olhei para o Jorge e ele estava olhando pra mim com um sorriso discreto.
- Fica a vontade. - Disse ele se afastando me medindo e suspirando. Eu não queria que ele se afastasse.
- Hey, me diz uma coisa Jenna. - Disse Fred. - Foi você a responsável pela confusão do noivado do louco do Rachid?
- Mas é claro que fomos nós, seu otário. - Disse Sophia indo mais ao fundo do salão.
- Ela está bem?
- Ela está livre, Fred. Depois que sua tia a emancipou por livre e espontânea opressão, ela perdeu o filtro. Acho que vai levar um tempo para ela se encontrar.
- Pra onde foi a tia dela?
- Ela teve que se esconder, você-sabe-quem quis a obrigar a ficar do lado dele...
- Poxa, que merda, hein.
- ... então Sophia ainda está na casa dela com a elfa ajudando na proteção, mas acho que não vai ficar por muito tempo, sabe?
- Desgraçado. - Disse Fred pensativo.- Isso está cada dia pior.
- Pois é. - Disse eu olhando para ele com preocupação. - E vocês abrindo uma loja. Estão seguros? Tem certeza?
- A gente da conta. Estamos morando aqui, sabe?
- Sério?
- Tem um apartamento lá em cima, se quiser conhecer... - Disse ele com malícia.
- Sr. Weasley? - Disse uma moça um pouco mais velha que eu com vestido simples vinho, da mesma cor que a do Fred. - Estão me perguntando sobre o catálogo, eu já posso mostrar?
- Ah, sim, Vera. Se os clientes forem mais velhos, pode sim.
- Ok. - Disse a moça de cabelos curtos castanhos em reverência.
- Quem!? - Disse eu para o Fred.
- Vera Martins. Era da lufa-lufa, muito esforçada.
- Vocês têm funcionária!
- Mas é claro, olha o tamanho disso.
- Nossa... São tão adultos. - Uma sensação nostalgia estranha me tomou. Eu não queria mesmo ver a gente envelhecendo.
- É... E o que tem feito?
- Nada. - Transando com Sophia e capturando um Djinn.
- Hum... Sabe, a gente ainda poderia viajar.
Olhei pra ele triste. Eu não queria me lembrar de tudo que vivemos e... perdemos.
- Vocês têm muito o que fazer aqui, está tudo tão lindo, dando tudo certo. Não consigo acreditar que já se passaram dois anos do dia que você me contou na Copa. Tudo aconteceu muito rápido.
- Tem razão, mas já fazia um tempo que estávamos planejando.
- Eu sei.
- Jorge tinha te contado, não é?
- Ah... não exatamente.
- Você anda tendo muitas visões?
- Não muitas, ainda bem. Mas sabe que as últimas foram boas, acho que já posso controlar.
- Sério? - Disse ele se aproximando. - Já sabe o nosso futuro?
- Ah... Não. Não vi você ou seu irmão ainda... - Não gostei de ter dito aquilo. - Mas tudo bem, não quer dizer nada.
- Hum... Se pode controlar, então porque não tenta agora?
- Não, não quero saber da gente, Fred.
- E porque não? Você não me perdoou, não é?
- Não é sobre isso...
- Porque disse aquilo para Angelina? Porque não falou que foi por causa daquela merda que eu fiz, a nossa briga.
- Eu não quis expor a gente, não devo nada a ela.
- Hum... Você deveria perdoar o Jorge também.
- Perdoar do quê!?
- Hoje eu consigo entender ele melhor, ele sempre tentou defender a Angelina de você, sabe?
- Como é que é!? - Depois daquela frase eu considerei ir embora.
- Ah, acho que você não notou.
Ou o Fred estava de brincadeira comigo, ou estava mentindo, não seria a primeira vez.
- Eu vou deixar você com seus clientes.
- Jenna!?
- Me deixa!
Ele bufou mais respeitou, resmungou algo como "só não vá embora" quando eu estava me afastando.
Eu estava começando a ter pena do Fred, só reforçava ainda mais a necessidade de eu me afastar, mas ainda assim, não conseguia entender como ele não tinha notado o óbvio ou visto o irmão me beijar na confusão contra a Umbrigde.
- Jenna, vem ver isso.- Disse Sophia me arrastando para uma prateleira. - Mágicas de trouxa! Ou truque... Não sei dizer.
- É com cartas, papai chegou a fazer uma época nas férias lá em Kiel.
- Ótimo, vou levar e zoar o pessoal da Sonserina, vou modificar também, esse ano todo mundo vai surtar na minha mão.
- Não exagera, Sophia, pode acabar mal.
- Você já preveu eu me dando mal?
- Não.
- Então está tranquilo.
Ah, que ótimo, eu destruí a sanidade da minha amiga revelando o futuro! Eu teria que tentar ser a trava moral dela.
Ficamos um tempo olhando as prateleiras, e os vários clientes tendo reações as balas que eles vendiam, e a expressão de choque quando provavam os atidotos.
- Sabe que eu acho, Jenna? - Disse Sophia assistindo uma demonstração dos gêmeos a um casal com dois filhos, os filhos pareciam mais chocados, os pais estavam em êxtase. - Acho que eu deveria ter feito algum tipo de acordo documentado com esses caras. Tipo co-autoria com esses antídotos, não só apenas colaboradoras. Se pensar bem, metade deles e dos feitiços que esses caras estão usando são graças a nós.
- O que quer dizer? Que deveriamos receber créditos por isso?
- Não digo financeiramente, porque é óbvio que eles são melhores do que nós nisso e olha pra mim, eu não preciso de galeões, mas sei lá, eu sinto que é mais do que um nome naquele painel ali.
- Hum, eu não me sinto injustiçada. Eu adoro eles, faria tudo e muito mais por eles se eu podesse.
- Mas eu gosto de ser valorizada, sabe?
- Eu sei, você ajudou a reduzir algumas poções. Porque não conversa com eles?
- Hum... Uma reunião?
- É, algo do tipo.
- Hum.
Sophia e seu orgulho intelectual latente. Não acho que tínhamos ajudado tanto mas sabia que se ela tinha tocado no assunto, ia vir mais coisa sobre.
Ela apontou para o Jorge que estava indo para o fundo da loja desaparecendo por de trás de uma cortina.
- É o Jorge?
- Sim.
- Vai lá falar um pouco a sós com ele, eu seguro o Fred.
- Uau, nossa, obrigada. - Disse com sarcasmo.
- Jenna, por favor. - Ela estava séria. - Qualquer segundo da realidade vale a pena com quem se ama, vai por mim, eu sei.
Decidi aceitar mas estava mais interessada em xeretar o fundo. Quando passei pelas cortinas vi que haviam mais prateleiras, só que discretas, sem nada escrito. Jorge estava em uma delas colocando alguns objetos dentro de gavetas, mas fechou ao me ver.
- Parece mais sério aqui.
- E é. - Disse ele se virando para mim e largando a caixa em cima de uma mesa. - Essa repartição é nosso maior trunfo no meio das brincadeiras. As vezes de uma brincadeira nasce uma grande ideia.
- Me explica melhor. - Perguntei me aproximando.
- Bom, o chapéu-escudo se mostrou valioso.- Disse ele sério evitando me olhar.- O Ministério testou vários feitiços nele e chegaram a conclusão que podemos fazer uma linha de Defesa contra feitiços básicos e avançados, mas ainda está em teste, vamos expandir.
- Isso é extraordinário! - Resmunguei impressionada.
- É.- Disse ele me olhando de canto. - Dessa vez pode elogiar o Fred, não foi só uma ideia dele, mas foi ele quem criou o feitiço escudo.
- Wow, isso é tão maravilhoso! As vezes nem sei o que dizer para vocês, é tudo tão... Ah, eu não sei...
Eu não estava muito bem para falar, aquela sensação de imensidão e euforia típicas de quando eu estava com ele. Nos sonhos isso era atenuado mas alí, era real, era forte, me dava vontade de chorar e abraçar ele e nunca mais soltar.
- Fred acha que brigamos porque você quer proteger a Angelina.
- De certa forma...
- Nunca quis fazer mal a ela. Eu nem preciso. A nossa ligação é real.
- Hum... - Disse ele se afastando com uma expressão estranha.
- Vocês começaram a namorar? - Eu sentia isso.
Ele relutou em responder.
- Não era isso que você queria?
Eu senti meu mundo cair.
- Não é bem assim!
Ele bufou negando algo com a cabeça.
- Não tínhamos outra saída.
- Porque? Ela está grávida?
- Não fala besteira, estou me referindo a nós.
- Você é o único que se negou a tantas coisas que pedi, e sobre isso você aceitou.
- Jenna... - Disse ele com seriedade. - Eu preciso esquecer de você.
Nesse instante Fred colocou a cabeça pra dentro da sala como se estivesse acontecendo algo ruim dentro. Sophia não conseguiu segurar ele. Foi bom, porque eu já estava quase chorando.
- Vocês têm que se tratar, essa cara de velório não muda.
- Ninguém vai morrer, apesar de eu estar começando a reconsiderar essa vontade.
- Do que estão falando?
- Jenna tem medo sabe, do que estamos nos metendo.
Jorge era o rei do improviso e da omissão.
- Não responda por mim!
- Você anda muito nervosa. - Disse Fred. - Tenho algumas ideias em andamento, talvez você goste.
- Hey. - Dessa vez era Sophia brotando entre as cortinas. - Vai rolar um swing aqui e eu não fui convidada?
Eu não fiz cara de quem estava achando graça.
- Que nada, olha. - Disse Fred para Sophia como se já estivessem conversando sobre algo. - Uma linha de Defesa contra as Artes das Trevas é uma revolução. - Disse ele apontando para as prateleiras. - Várias objetos com feitiços protetivos. Os próximos testes serão com capas.
- Seu cretinos de merda! - Esbravejou Sophia. - Como podem ser tão fodas!?
- Viu Sophia, eles não são tão maus assim.
- Ah, é mesmo? - Disse ela se aproximando com deboche. - Tem sempre um lado bom nesses coisinhas que você curte, qual será o lado bom do Zyan?
- Ou do Snape. - Retruquei sem pensar, eu estava chateada pelo o que Jorge tinha acabado de me dizer.
- Snape? - Perguntou Jorge.
- Hey. - Disse Fred estendendo as mãos para mim - Você precisa abaixar um pouco a guarda, hoje tem que ser um dia legal. Pegue.
Eu achei estranho, mas decidi pegar em sua mão.
Ele desaparatou comigo e após uma rápida tontura eu me vi em um patamar aberto, parecia uma galeria mas era um quarto em um mesanino com beiral. Estávamos no que imaginei ser do segundo ou terceiro andar, não havia prateleiras ali, abaixo tinha uma sala e uma cozinha.
- Meu Deus, onde estamos?
- No meu quarto. - Disse Fred soltando da minha mão. - Desculpa, mas acho que você precisava de um ar diferente.
- Nossa, esse lugar é muito legal!
- Maneiro, né? Jorge dorme no quarto de baixo, ele é mais careta. Essa visão panorâmica a noite é maravilhosa. As vezes quando o céu está limpo eu consigo ver as estrelas.
Poxa, Fred era incrível mesmo. No meio de tantas piadas e brincadeiras tinha um cara sensível e suavemente romântico, ele era demais para mim. Ele via sempre encanto nas coisas mais simples, ou no óbvio que o caos do dia a dia escondia.
- Você é muito especial.
- Ah, sou nada. É só charme... Hey, vem aqui. - Disse ele se aproximando de um grande guarda-roupa e abrindo-o.
Notei que havia um cabide com o uniforme de Quadribol entre outros tanto cabides com várias roupas. Eu toquei em seu uniforme enquanto ele abria uma gaveta, a sensação era de quase luto.
- Eu nunca mais vou ver você com esse uniforme.
- Se quiser eu visto para você agora. - Disse ele com malicia. Eu quase disse sim.
- Não seja bobo, isso não é um tipo de fetiche, é só um sentimento de... saudade. Agente cresceu muito rápido.
Ele pegou um cachecol da Grifinoria.
- É, eu sei. Eu sinto falta também... - E colocou o cachecol no meu pescoço. - Agora é seu.
- Poxa, isso é lindo, tem até seu cheiro de orquídea.
Ele se aproximou ainda mais arrumando ele no meu pescoço com um sorriso mais contido.
- Parece que você está tentando esconder o meu decote.
- Talvez. - Disse ele sorrindo.
Acho que ao se aproximar mais, ele estava querendo um beijo, uma reaproximação.
- Fred, isso não vai acontecer.
Eu era uma besta. Outro momento da minha história que se eu pudesse voltar no tempo eu mudaria completamente.
- Eu posso sonhar, não é?
- Eu sinto saudades dos sonhos eróticos que eu tinha com você.
- Caramba!- Disse ele rindo me dando um simples abraço, tocando no meu braço. - Eu não sabia disso.
- É... vivíamos ocupados demais. Aliás, você espalhou da gente na sala da Umbrigde?
- Hum... - Resmungou ele com orgulho. - Talvez.
- Sabia. Ficamos populares.
- Não mais do que já éramos.
Ele ficou um tempo olhando para as minhas tranças.
- Minha mãe é habilidosa nisso. - Tentei disfarçar.
- Você fez isso pelo Jorge, não foi?
E mais uma vez a sensação do chão se abrir na minha frente, só que dessa vez o tombo seria maior.
- O que!?
- É, não sou tão bobo assim. Ele vivia falando das suas tranças. Você nunca superou ele, não é?
Eu não sabia o que dizer. Me afastei e me debruçei no beiral já que eu não podia sair correndo.
- Você merece muito mais. - Pronto. Agora a verdade estava alí, me reduzindo a pó.
- Hum. - Disse ele se aproximando. - Sabe que eu não me importo com isso.
- Não seja ridículo.
- Gosto muito de você.
Merda!
- Eu me importo com isso... - Disse eu o encarando enquanto ele se debruçou no beiral também. - Eu os amo tanto, que não ouso amá-los.
Fred pareceu se emocionar, ele me encarou piscando bastante, parecia não saber o que dizer. Talvez tenha sido a primeira vez eu tinha dito a ele que o amava. Ele me ofereceu novamente a mão, não sabia onde íamos.
Nós aparatamos no andar abaixo e ele abriu uma porta que levava a uma sala. Provavelmente tinha transferido sua sala de poções e testes para lá também, era bem menor que o guarda-roupa com feitiço expansivo, mas bem mais organizado. Poderia compará-lo a um laboratório trouxa.
- Eu quis testar uma receita que o Jorge começou, mas acho que fui além. - Disse ele abrindo uma gaveta de uma prateleira.
Me sentei em uma das cadeiras e me debrucei para xeretar um caldeirão cheio.
- Tem um cheiro bom.
- Não é muito bom se aproximar. Eu acho que desenvolvi uma tipo de poção viciante, sabe?
- Viciante?
- Não me leve a mal, mas eu estava pesquisando outra coisa. - Disse ele pegando uma caixinha marrom do tamanho da palma da mão, e me entregando.
Eu a abri e havia balas - ou eu poderia chamar de pílulas? - de cores vermelhas escarlate, eu nunca tinha visto aquela consistência.
- Me inspirei nos remédios trouxa. - Prosseguiu ele . - Jorge disse que queria fazer algo para as pessoas ficarem mais felizes e tal, tipo água-de-riso, mas acho que ficou mais complexo que isso. Dura segundos, sempre depende do tamanho da pessoa e peso. Eu achei hilário, então queremos desenvolver uma linha para as pessoas fazerem piadas ou algo do tipo.
- O que tem nelas?
- Experimenta. - Disse ele com um sorriso sarcástico passando a mãos uma na outra.
Quando eu experimentei eu senti uma euforia crescente e sabia muito bem que aquela sensação era famíliar.
- É a poção do louco!
Pior que o Jorge já tinha me contado. Prefiro fingir a desentendida e não revelar.
- Isso! Eu pensei em uma bala em formato de palhaço, não seria a coisa mais patética que já criamos, não acha?
- Eu acho que agarraria você facilmente nessa sala, você é um gênio! - Eu disse com tanta malícia que tentei fechar a boca inutilmente, porque comecei a rir. Era tão intensa quando a poção veritasserun.
- Hilário, não é!?
- Você é muito louco mesmo, é a sua cara esse tipo de absurdo! E eu sou louca por isso.
- Eu sei, o problema é que eu acho que essas estão viciantes porque essa poção na sua frente eu extrai dela, sabe, é bem interessante como as coisas foram evoluindo...
- Quer me fazer de cobaia? Porque eu topo qualquer coisa com você! - É, ainda estava fazendo efeito, e eu estava me sentindo muito feliz.
- Eu sei. - Dias ele rindo com malicia. - Mas é melhor me devolver, não coma mais ou a gente vai fazer algo que eu sei que você não quer.
- Talvez eu queira, é óbvio, mas meu juízo me bloqueia...
- Continue com seu juízo, eu não quero que você se arrependa de nada. - Disse ele pegando a caixa da minha mão com um sorriso triste.
- Nunca me arrependi de nada que fiz com você. - Mas olhei para bolsa com o Djinn e fiquei curiosa pensando que talvez poderia pedir a ele para minha conexão e história com o Jorge fossem apagadas.
- Qual é a da bolsa? - Disse Fred guardando a caixinha em uma das gavetas e eu a momoziei com firmeza.
- Nada.- Mas poderia ser tudo. - Só estou testando um novo estilo. Onde é o banheiro por aqui?
- Na porta ao lado. - Disse ele com desconfiança.
Eu saí e me dirigi ao banheiro. Entrei e fiquei um tempo pensando. Era simples o espaço, todo branco e moderno. Tinha um espelho e uma bancada de mármore em que deixei a bolsa e abri o receptáculo. Zyra apareceu atrás de mim com os braços cruzados, olhei para o espelho e não consegui ver o seu reflexo, era medonho.
- Você não está em perigo.
- Não, não estou mas...
- Sabia que existia uma chance de você estar naquela sala ao lado sendo jogada nas prateleiras?
- Seria uma ótima ideia, mas me diz uma coisa. - Eu estava improvisando. - Como eu posso conseguir algo de você sem pedir?
- Está tentando sabotar a magia?
- Obviamente.
- Hum... - Disse ele pensativo olhando para todo os cantos do banheiro. - Você quer aquela caixa.
- Exatamente.
- Porque não me pede logo para todos esquecerem do outro ruivo..?
- Porque eu vou lembrar.
- Posso fazer você esquecer também.
Achei tentador, mas o que eu sentia pelo Jorge era real e esquecer de situações não era esquecer de um sentimento, eu não queria perder aquilo por nada. O Djinn não era capaz de compreender isso.
- Você sabe que eu não quero isso. - Disse eu olhando para baixo. - Você quer ficar mais tempo livre?
- Humm... - Zyra se aproximou como se estivesse me analisando de dentro para fora. - Bisneta da Hannah, você é um muito sagaz e tola... Sim, eu quero ficar longe desse negócio insuportável.
- Então se eu te deixar por aí, não vai ficar me incomodando mas vai aparecer quando eu te chamar?
- E eu já precisei de você em algum momento? ... - Ele parecia um adolescente rebelde. - Hum, ok!- Disse ele com cara de nojo.
- Ótimo, então vai querer me ver feliz. Eu não vou pedir nada, faça você a sua parte que eu faço a minha.
- Você está mesmo fazendo esse acordo?
- Zyra, eu também não preciso de você. Quer voltar pra de dentro?
- Não...- Disse ele fazendo rapidamente a caixinha aparecer em suas mãos- É isso?
- É fácil chantagear você.
- Eu sou muito fraco.
- Não mesmo. - Disse abrindo a caixinha e pois a guardando na bolsa. - Vou mostrar pro Snape.
- Porque não pediu pro boboca lá fora? Ele se mataria por você.
- Cala a boca.
- É um pedido?
Eu pisquei fundo e suspirei profundamente.
- Zyra, pode ficar vontade, só não o bastante pra me incomodar.
Sai do banheiro sem me importar muito com as consequências, afinal, eu estava começando a ficar muito entediada e chateada comigo mesma e isso sim tinha consequências graves.
- Estava falando com alguém? - Perguntou Fred me aguardando do lado de fora.
- Com o meu juízo. Acho que já é hora de eu partir.
- Vai com o cachecol no pescoço?
- Mas é claro, é o meu maior troféu de hoje. - Falsa.
- Eu não queria que você fosse. - Disse ele visivelmente chateado. - Apareça mais vezes.
Ele se dirigiu pra escada de cabeça baixa. Eu me senti mal mesmo, eu deveria ter feito mais, algo sobre isso. Tem momentos que eu sabia que seriam valiosos, mas pouco fiz para fazer valer a pena.
- Eu não sei. Talvez quando eu aprender a aparatar eu não tenha mais que dar satisfação.
- Poxa, verdade. Logo você se torna de maior e será mais livre. Mas se quiser, temos uma lareira, você pode ir embora por ela, você viu?
- Sim. - Nem reparei. - Mas tudo bem, estou com Sophia, talvez ela queira dar uma passada em Londres, irmos andando. Eu moro em Soho.
- Nossa, eu não lembrava, é aqui do lado.
- Verdade, você nunca foi lá em casa. - Acho que eu estava falando demais.
- Bom, ainda da tempo.
Dava, mas eu fui uma tremenda idiota.
Quando terminamos de descer pro primeiro andar, percebi que a loja continuva bastante cheia. Sophia ria em algum lugar, a voz dela era muito marcante. Eu me debrucei no beiral para olhar para baixo e com certeza, foi uma das visões que mais me doeu até aquele momento.
Angelina chegará e estava muito animada, ela beijou Jorge com orgulho, que o retribuiu na mesma intensidade.
Desci as escadas rapidamente muito chateada. Por um segundo odiei estar lá, eu precisava ir embora e tentar esquecer do choque que senti.
Quando cheguei no último degrau eu percebi que eles já tinham se soltado e Sophia se aproximou com várias sacolas e tirou algo do bolso.
- O que é isso? - Perguntei.
- Um cantil.
- Pra que serve?
- Para por whisky, suas boba. Você precisa viver mais, Jenna.
- Você é um poço de incongruência! É a coisa mais feminina e masculina ao mesmo tempo que eu conheço, é muito confuso as vezes.
- E você ama isso! - Disse ela com os braços abertos.
- Com certeza eu amo muito, agora vamos embora!
- Ah, você deve ter visto aquela cena...
- Não vamos falar sobre isso, vamos logo.
- Jenna, vê se aparece. - Disse Fred logo atrás numa tentiva fracassada se atenção.
- Olha, com certeza eu apareço. - Disse Sophia fechando o cantil após beber o que tinha dentro. - A gente tem que acertar aquilo, não é Jorge?
- Verdade, você acha que consegue aquela pomada para quando? - Disse ele se aproximando mas Angelina ficou receosa.
- Provavelmente em dois dias.
- Só?
- Agora eu sou uma garota livre.
- Sophia, já chega! Eu não preciso de você pra ir embora.
- Nossa, tá bom. Minha princesa me chama pessoal.
Fred riu, provavelmente não entendia os galanteio de Sophia, não era exatamente uma piada. Jorge se despediu de Sophia apertando sua mão e olhou para mim e para o cachecol com uma expressão de dúvida.
Eu respirei fundo no meu orgulho bobo e decidi abraçar Fred em despedida. Eu não fazia ideia de que aquele fora um dos abraços mais importantes que eu daria nele. Ele até ficou surpreso e ficou um tempo com sua cabeça repousada na minha, era realmente uma ação que eu poderia ter feito antes, muitas vezes antes.
- Não suma de mim. - Disse ele no pé do meu ouvido. Sinceramente eu acho que ele deveria ter feito isso antes de nos despedirmos.
Saímos da loja sem eu olhar para o Jorge. Enfim, eu não precisava, eu sempre sonhava com ele.
Sophia ao me ver cabisbaixa apoiou seu braço do meu ombro e deu um beijo na minha cabeça.
- Você é a mulher mais bonita que eu conheço.
- Digo o mesmo pra você.
- Eu só lamento que esse lance de vidência te deixe tão instável. Se esse Djinn fosse meu eu faria todo seu sofrimento acabar.
Eu deveria fazer isso mesmo.
Já estava quase escurecendo quando entramos pela entrada do Caldeirão Furado pelo Beco. O bar estava razoavelmente lotado, como sempre. Talvez ao atardecer fosse mais movimentado mesmo.
Sophia chamou tanto atenção que eu tive a impressão que metade do bar parou de conversar para olhar para ela. Ela foi até o balcão puxar assunto com o dono do bar, e eu a acompanhei.
- E ai Tom, você é o Tom, não é?
- Eu posso ser quem você quiser. - Disse ele rindo mais consigo mesmo. Sua voz era rouca e ele era provavelmente muito velho.
Eu não estava afim de me demorar, era só entrar na lareira e ir embora, ou ir andando mesmo.
- Tá bom, me vê uma garrafa de hidromel para viajem. - Sophia olhou para mim com uma expressão de deboche, eu estava preocupada com olhares crescentes para nós. - Minha tia acha essa bebida marginalizada, não temos em casa.
- Jenna!? - Uma voz grave me fez me virar no susto e ficar de costas para o balcão. Era Snape.
- Ah, nossa. Porque está aqui? - Ora, sua besta, porque ele é adulto e pode ir onde quiser?
- Você não deveria estar aqui. - Disse ele se aproximando.
O mais estranho é que ele não parou de se aproximar e de me lançar um olhar intenso analisando cada parte do meu corpo. Achei que ele fosse me beijar. Tentei me afastar mas não dava muito, já que eu estava me aproximando ainda mais do balcão.
- Ele bebeu um pouco. - Ouvi Zyra dizer a um ponto distante apoiado no balcão. - Ele está alterado e bem interessadoooo. - Concluiu cantarolando com deboche.
O Djinn, que só eu estava vendo, reforçou o óbvio. Mas sinceramente, eu estava adorando aquele olhar do Snape.
- Snape!? - Disse Sophia ao meu lado com uma certa seriedade. - Professor Severo Snape!? - Praticamente gritou fazendo vários bruxos se assustarem inclusive o professor que tirou os olhos de mim e se afastou um pouco. - Temos que ir agora!
A amiga lançou a ele um olhar quase de fúria, ela notou que ele aproximou demais e isso era assustador em público.
- Ah, vamos ir embora pela lareira. - Foi o que consegui dizer a ele.
Snape não disse mais nada, apenas confirmou com a cabeça. Sophia me pegou pelo braço com um certo nervosismo.
- Desgraçado. - Disse a amiga me arrastando para próximo da lareira do bar. - Achei que fosse te agarrar. Ok, até entendo ele, mas isso seria ultrajante nesse lugar!
- Calma Sophia, ele não ia fazer nada em público.
- Não dúvide do potencial merda dele.
E o meu, não é?
- Ok, pode ir...
- Não, você vai na frente, não quero você de graça com Snape aqui. Se eu for primeiro tenho certeza que vai ficar tentada a se aproximar dele.
Ela me conhece.
- Hey, menina! - Disse o dono do bar. - Sua garrafa.
- Ah, é! - Disse Sophia me largando por um segundo para pegar seu pacote.
Eu me adiantei nesse meio tempo e peguei a caixinha com as tais balas estranhas e a abri pegando uma, eu estava com vontade de me sentir melhor, e não estava afim de pensar muito, só esquecer das últimas sensações que eu estava sentindo. Aquelas balas eram viciantes mesmo! Entrei na lareira um pouco chateada, mas fui melhorando.
- Bom, até mais, Jenna.
- Se cuida Sophia. Casa dos Gibbon, Soho.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro