A mente triste de Draco Malfoy
Aquele domingo foi uma tristeza só. Não estava preparada para ouvir aquilo nem nos meus piores pesadelos. Tive medo de vasculhar o futuro e ver a Snape matando Dumbledore.
Certa vez eu perguntei se Snape já tinha matado alguém, ele afirmou mas não justificou. Para alguns é injustificável um ato homicida, mas claramente não era bem assim.
Eu passei horas pensando no que fazer para resolver isso e não achei nada. Talvez se eu matar Draco? Narcisa? Ah, não era minha meta de vida me sujar por eles, nem por Snape a esse nível, mas não posso dizer que não pensei em um plano para explodir Dumbledore. Será que eu conseguiria? Bom, imagino que todos saberiam que fora eu, meu histórico era compatível com explosões.
Nem sinal do Draco na Sala Comunal a tarde, nem a noite após o jantar. E, claro, fui novamente até os dormitórios, se não o visse lá eu iria até a Sala Precisa procurar por ele.
- O que você faz aqui? - Perguntou Blasio um pouco impressionado num tom de ameaça. Ele vestia apenas uma bermuda preta deitado em sua cama com um livro nas mãos.- Já chegou a esse nível?
- Eu já cheguei a todos os níveis. Sabe onde está o Draco?
- Ah, agora está saindo com ele? Deve estar por aí...
- Com Crabbe e Goyle? Porque esses merdas também não estão aqui.
- Olá, Jenna. - Disse Cássio nu, em sua cama, apenas com um lençol fino cobrindo parte de suas pernas. Eu achei aquela cena hilária por um momento, ele afrontava a todos de um jeito único, elegante e "educado".
- Ah... Oi. Bom, acho melhor eu ir...
- Não se sinta acanhada, - disse ele com malícia - afinal a gente já trocou figurinhas. - E ele soltou um leve riso. - Quero dizer, de certa forma, eu troquei. Aquela noite foi bem interessante.
- Ah... bom, acho que... - Eu fiquei meio perdida, sem saber o que dizer.
- Blasio não tem tanta coragem assim de abrir a boca, quero dizer, depende. - Seguiu ele com um sorriso ainda mais malicioso apoiando o braço em uma das pernas flexionada.
Aí-meu-Deus, eu vi coisas.
Notei que Blasio tinha um medo enorme do Cássio quando ele abaixou a cabeça e voltou seu olhar para o livro rapidamente, e por um minuto eu tive medo de entender o que estava acontecendo e de olhar novamente para Cássio, até porque, ele não parecia nem um pouco incomodado em expor sua excitação, mas eu sim, me arrependi de ter entrado no quarto quando comecei a desconfiar que algo tinha rolado antes.
- Bom, de qualquer forma eu preciso achar o Draco.
- Sei.- Falou Cassio com orgulho.- Se precisar do meu corpo, fica a vontade. - Concluiu ele apontando com as mãos o próprio corpo nu.
Eu achei que fosse sentir agonia do desfecho daquela situação, mas eu não senti não, achei a ideia até interessante mesmo eu tendo considerado malicioso e assustador a observação dele. Apesar do susto eu saí dos dormitórios dos meninos rindo de nervoso.
Fui para o sétimo andar pisando firme , irritada, porque eu não queria ficar de babá daquele palhaço tarde da noite. Andar até o sétimo andar era cansativo.
- E aí Goyle, tá gostando de ser uma Mariazinha virgem? - Ele me olhou assustado e antes de tentar derrubar o vaso que eu tirei de sua mão.- Da o fora daqui!
Ele saiu correndo e eu fiquei um tempo olhando para a parede, precisando entrar onde Draco estava para ajudá-lo no que ele precisava.
A Sala Precisa tem uma falha que poucos conseguiram deduzir, apenas o tempo de "uso" fez eu notar. Ela não se lacrava em sua acomodaçãomas original e se Draco tivesse um pouco de atenção ele faria algo a respeito. Mas de fato, eu realmente queria ajudá-lo, mas não do jeito que ele esperava.
Após a porta aparecer, eu entrei e larguei o vaso em qualquer lugar. Estava tudo caótico tudo ali, mas consegui achá-lo depois de um tempo. Draco estava sentado em um banquinho chorando na frente do tal armário, parecia estar rezando.
- Você não sabe rezar.
Draco se assustou cambaleando e quase caiu do banco, mas se levantou rapidamente ao notar que era eu.
- Eu não estou planejando matá-lo. - Defendeu-se passando as mãos umidas de lágrimas na calça.
- E o que está planejando? - Perguntei me aproximando.
- Eu só quero que essa merda funcione direito! É menos um problema, talvez ele até mude de ideia se...
Eu ri. Voldemort mudar de ideia? Até eu sabia que não.
- Você precisa jantar, Draco, almoçar. Está obcecado. Talvez você consiga estando mais relaxado. - Ele me olhou pensativo. - Vamos nos sentar naquele sofá, ele é confortável.
Não sei como Draco não percebeu que meu interesse era falso.
- Porque está preocupada comigo? - Questionou com um olhar melancólico.
- Bom, eu acho que já está na hora de eu tentar alguma coisa por você, afinal, você é importante. - Falei pegando em seu braço e o arrastando até um esquisito sofá de couro de alguma criatura estranha, mas era confortável.
- Verdade? - Disse ele se sentando e eu ao seu lado.
- Sim. - Não. - Sabe, eu já consigo ver além, mesmo tendo medo de esbarrar em um futuro caótico, mas já sinto que mesmo doloroso você é parte de algo maior.
- E como você vê? Como é a sua vivência funciona? Bola de cristal?
Eu ri mais um pouco.
- Não seja ridículo. Eu sou uma vidente de verdade e não uma patética adivinhadora como a Sibila.
- O que quer dizer?
- Quer dizer... - Sussurrei eu me aproximando do seu rosto. - Que eu sou... diferente.
E então eu o beijei.
Ok, parece injustificável, mas foi o jeito que eu achei de penetrar na mente do Draco. Uma vez Sophia me disse que isso era uma particularidade bizarra do meu dom, e ela acertou, Draco abaixou a guarda , correspondeu com ligeira intensidade e eu fui a fundo em suas lembranças.
Me vi em um imenso jardim com um garotinho loiro correndo atrás de borboletas, Draco parecia contente em sua pequena missão de querer ser tocado por elas, parecia ter seis ou sete anos.
- Draco, pare! - Gritou sua mãe. Narcisa era mais bonita quando mais jovem. A responsabilidade de ser uma Comensal não pesava tanto. - Menino educado não corre, não seja bobo, vem aqui e sente-se.
Ele obedeceu de cabeça baixa e se sentou na cadeira ao lado de sua mãe que estava conversando com outra moça, tomando chá. Ele pegou um pergaminho e uma varinha de brinquedo que se parecia um giz e começou a desenhar uma borboleta. Ele desenhava bem pra uma criança tão pequena.
- Draco, não desenhe esses insetos arquesoso, nem mágicos são. - Disse sua mãe com uma voz ríspida.
Draco nada disse e pegou outro pergaminho, dessa vez ele começou a desenhar um elfo doméstico.
- Veja, Narcisa.- Apontou a amiga debochada, rindo com a mão na boca. - Ele está desenhando um elfo. -E tornou a rir como se isso fosse uma piada.
Narcisa olhou com raiva e reprovação ao filho e lançou o feitiço "incêndio" nos desenhos dele. Até eu me ofendi com tal brutalidade. Draco engoliu o choro e ficou parado, não disse nada, apenas olhou para o jardim para onde estava a borboleta e pareceu forçar a se tirar daquela situação focando em sua imaginação.
A cena mudou e estávamos em sua sala - deduzi. Ele estava um pouco mais velho e olhava pela janela com um semblante triste. Um pássaro no jardim voava livremente entre as muretas do pomar e por vezes pulava dento de uma pequena poça.
- Queria ser livre como você. - Murmurou ele.
- Draco! - Gritou seu pai do sofá. - Está falando sozinho?
- Não senhor, acho que pensei alto.
- Só quem tem algum tipo de demência se comporta assim, você não é doente, pare com isso.
- Desculpe, senhor.
E antes de eu conseguir ver o final da sua profunda suspirada, cena mudou novamente e estávamos na mesa jantar.
- Potter é o garoto que sobreviveu. - Disse seu pai que estava sendo servido por um elfo doméstico. - Não toque em nada, Dobby! - Esbravejou Lúcio ameaçando o elfo com uma varinha. - Apenas magia!
- Uhum. - Murmurou o elfo com visivel medo assentindo com a cabeça amedrontado. Ele havia esbarrado na cadeira sem querer.
- Então Draco, imagino que vá querer ficar entre os mais populares.
- E valiosos. - Acrescentou sua mãe com um sorriso orgulhoso.
- Sim, mãe.
- Vai se dar conta que algumas famílias de bruxos são melhores que outras. - Orientou Lúcio. - Não vai quer ficar perto de um Waesley.
Sua mãe riu.
- E porque?
- Aqueles ruivos são sujos e mal educados. Tiveram vários filhos e são incapazes de cuidar deles. - Disse Narcisa comendo com elegância mas um olhar arrogante. - Nem deveríamos falar em seus nomes, são nojentos.
- É importante, Narcisa. - Disse Lúcio friamente. - Ele precisa saber quem deve ou não se aproximar.
Draco não parecia muito bem, parecia confuso. Um emaranhado de sons só fusos e caóticos misturados com votos passou e o mesmo olhar distante pode ser visto em outra cena, em que ele está no jardim sentado em um banco de mármore, parecia ter 13 anos. Ele observava no chão um passarinho que pulava algumas vezes na mureta de separação entre a grama e uma trilha de pedras bem elegante.
- Não tenho liberdade nem para pensar... - Desabafou ele muito baixo. - Meu pai disse que eu não deveria fantasiar nada com a Pansy, que a Croush era melhor.
Eu estava ficando farta disso, eu pulei logo para suas memórias e sentimentos mais recentes e o vi no banheiro, que acredito ser dos garotos, chorando no chão numa madrugada dessas.
- ... então eu não posso tentar uma coisa, nem outra...- Disse ele soluçando, arrasado com os olhos inchados e voz embargada- ...se não, eu posso atingir mais gente...e ela mandou eu parar, porque se ela mandou... - e suspiros forte - provavelmente ela está certa, eu acho, mas o Lord não vai parar de ameaçar minha mãe... Ele está na minha casa, tem noção? Hospedado na minha casa!- Ele arregalou os olhos, pensativo. - Ele pode matá-la a qualquer momento... E eu não consigo consertar aquela droga! Eu sou um incompetente!
Murta o assistia com tristeza, a tristeza típica dela mas com um olhar de empatia.
- Se me contar o que precisa fazer nesse armário, eu posso descobrir um feitiço pra ajudar você.
- Não posso colocar você nessa história, não importa o quão... - ele olhou para ela sério - distante da realidade esteja, você só seria mais uma inocente nessa loucura.
Murta sorriu com lágrimas nos olhos. E Draco estava sendo imensamente sincero e gentil com ela, era até estranho ver isso vindo dele, mas existia uma humanidade reprimida nele. Seus pais foram verdadeiros monstros, não mereciam ser salvos.
Eu decidi que já era hora de ver seu futuro. Eu tentei ir longe, quanto mais melhor, afinal eu não queria ver vestígios da guerra, isso eu deixei bem claro para mim mesma.
Era uma outra casa, uma mansão com uma grande janela que dava para umas montanhas lindas, cobertas por neve.
Draco estava de pé, parecia um pouco mais velho. Ao lado seu pai e mãe estavam sentados descontraídos em um sofá muito elegante na frente de uma grande lareira acessa.
- Deveriam agradecer ao Potter por estarem livres. - Disse Draco olhando para janela com uma expressão de desgosto.
- Não seja estúpido, Draco. - Respondeu seu pai com expressão de asco e raiva na voz. - Estávamos pulando do barco antes mesmo de você sugerir por causa do que a sobrinha do Gibbon te contou. O Lord enlouqueceu, virou um líder tirano e desequilibrado.
- Isso quer dizer que se outro líder ascender com as mesmas convicções você irão apoia-lo? - Perguntou Draco se virando para eles.
- Não há mais nada lá para nós.- Apontou sua mãe.- Aqui na zona-neutra podemos ser e viver como quisermos.
- Vocês não responderam.
- Fique longe do Potter. - Continuou seu pai com severidade sem responder. - Só isso que aconselho para você.
Draco parecia irritado, ele olhou para a janela novamente ainda pensativo, ele regressaria para sua mansão em Londres, mas seus pais não.
Quando voltei a realidade Draco já estava encima de mim e eu quase deitada. Não que seus beijos fossem ruins, mas não era minha intenção continuar.
- Sai de cima de mim. - Ordenei me afastando o empurrando de lado e me retirando do sofá.
- O que!? O que aconteceu? Você não gostou?
- Não é isso. - Respondi andando pelo pequeno espaço a frente. - Eu preciso pensar.
Realmente eu não tinha chegado a conclusão alguma só agradeci não ter visto nada demais.
- Pensar? Pensar em quê, se a gente..?
- Eu só consegui entender o quão lixo seus pais são. Meu Deus Draco, como consegue se sacrificar tanto por eles?
- Eu só tenho eles, são meus pais. - Respondeu ele com olhar confuso.
- Você mal tinha liberdade para pensar, isso é um absurdo!
- Perai, então você estava lendo minha mente..? Não estava afim..? Ah... - Ele começou a entender e esboçar decepção.- Você é mais estranha do que pensei.
- E você mais complicado e triste do que eu previa. Foi o único jeito de saber o que está planejando, ou seja, nada. Mas se vê que é tão bom em oclumência quanto o Neville.
- Ah... Então é isso que vem fazendo com ele aqui? Achei que estavam de caso.
- Aff! Não seja medíocre. Eu estou ensinando a ele o que eu aprendi com Snape.
- E porque? Porque ele?
- Porque eu quero.
Na verdade, isso se tornaria muito útil mais tarde, mas até então eu não sabia, fazia parte da minha intuição.
- Bom, então eu acabei de ser iludido, não é?
Coitado. Como se ele já não sofresse o suficiente.
- Não quer saber o que eu vi no seu futuro?
- Só me diz se meus pais estavam vivos.- Pediu ele com um olhar atento.
- Infelizmente...sim.
Ele se levantou sorrindo.
- Então...
- E te digo mais: se eles continuarem a apoiar Voldemort, eles vão morrer. Porque... Só sobreviverão porque de certa forma mudam de lado e pararam de apoiar o Lord.
- Entendo. - Disse ele pensativo. - Então eu vou conseguir realizar as missões.
- Não tenho tanta certeza, mas isso não importa porque...
- ...sobreviveremos.
- Com certeza o mérito não é todo de vocês. Você deve estar ciente do Voto Perpétuo do Snape com sua mãe.
- É. Ele falou. Parece que pelo menos alguém nesse castelo se importa comigo.
- Snape se importar com você?
- Bom, ele está se sacrifi...
- Ele não gosta de você. Não faz isso por você, nunca foi gentil por você. Foi sempre pela sua mãe, só por ela.
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