Nos trilhos da amizade
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Ahh, férias de Natal!
Gostaria de poder dizer que algo importante aconteceu nesses dois meses que se passaram, mas não foi o caso. Nem as fofocas sobre o Potter me interessavam. Minhas únicas distrações foram minhas investidas em Snape. Descobri que a melhor forma de manter um diálogo com ele era fingir que não tinha entendido alguma coisa. Ele, então, me explicava novamente, o que era bastante interessante... pelo menos até ele perceber que eu já tinha entendido. Ele era perspicaz e sempre sabia quando algo não era o que parecia.
- Bom dia meninas.- Disse Medellin se levantando na manhã de domingo, dia em que o trem iria nos levar de volta para Londres. - Todas vão voltar pra casa né?
- E tem opção de ficar? - Perguntou Pansy arrumando as malas.
- Tem.- Afirmou Jackeline, parada na cama abraçando as pernas, parecendo triste. - Eu gostei daqui. Sabe, em casa não é tão legal, meu padrasto só sabe me criticar e minha mãe não faz nada. Aqui eu conheci você e as meninas. Mas mamãe mandou eu voltar para passar o natal em casa.
- Ah... eu lamento.- Falei com sincera pena.- Espero que um dia você possa escolher.
Sophia já estava arrumada e com suas malas no pé da cama, enquanto foleava uma revista do Pasquim sentada, mas sem parar de observar a nossa conversa.
Após nos arrumarmos, decidimos ir juntas até os portões do castelo. A brisa pesada branqueava a paisagem: a neve havia coberto a grama e as árvores. Nós seis voltamos para a estação em uma carruagem. Med se gabava de suas viagens de Natal, Jack ainda lamentava ter que ficar com a mãe, Sophia lia um livro que eu havia emprestado, enquanto eu explicava para Thayla e Pansy o motivo de não ter um Natal exatamente como a tradição cristã.
- Meu pai é judeus, eu e minha mãe não somos, mas não nos importamos de não ter um natal típico. Eu e ela ficamos empolgadas e trocamos presentes, mas meu irmão e meu pai não comemoram do mesmo jeito, é Hanukkah , um pouco diferente, tem orações e tal.
- Poxa, que chato. - Disse a Thay endiada com o longo caminho.
Provavelmente meu assunto as entediava também, não era tão interessante conversar.
Chegando na estação, ficamos para trás; os mais velhos e experientes sempre pegavam as melhores cabines e por azar não achamos cabines que cabiam 6. Med e Thay ficaram com garotas do 4° ano, Ema e Jack com a Patrícia e a Jasmine, eu e Sophia encontramos apenas um lugar "suportável" antes do trem sair, já que era insustentável ficar com alunos da Sonserina.
Vimos Neville Longbottom, Dino Thomas e Simas Finnigan, da Grifinoria, em uma cabine que cabia mais gente. Sophia não disse nada, apenas fez careta sacodindo os ombros e confirmou com a cabeça quando eu olhei para dentro, o trem já estava saindo
- Hey, podemos? - Perguntei no impulso me escorando no batente da cabine.
Eles nos encaram com uma expressão desconfiança.
- Quem são vocês mesmo? - Perguntou Thomas.
- Eu sou Jenna Gibbon, essa Sophia Rosier. - Respondi sorrindo.
Neville fez uma expressão de medo e um silêncio constrangedor pairou no ar, ambos ficaram um pouco corados , sem saber o que dizer.
- Sério que vocês preferem aqui? - Indagou Simas, inseguro.
- Sim. - Respondeu Sophia com uma confiança intrigante, mesmo ruborizada também.
- Ok. Ta bom. O que vocês acham? - Perguntou Dino, aos amigos.
Ambos assentiram com a cabeça de forma acanhada. Neville teve que levantar e sentar ao lado dos amigos para nos deixar acomodadas a sua frente.
- Por favor, não zombe da gente nem nos ofenda. - Disse Neville com uma voz chorosa olhando para nós sem nos encarar. Dino e Simas ficam paralisados como se estivesse esperando uma cilada.
- Ai gente, relaxa! - Bufei para eles segurando a raiva.- Que exagero! - E me sentei na sua frente. - Só quero chegar em casa logo.
- O que está lendo? - Perguntou Simas curioso ao ver Sophia com um livro nas mãos se sentando.
- Magia em desuso. Jenna me emprestou, é bem interessante. - Respondeu a amiga abrindo o livro e apontando para uma página.- Veja : Magia para aumentar os pés em caso de emergência com sapatos de outra pessoa. Isso pode ter outras serventias, aposto que tem, fala sobre aumentar ossos e diminuir, diz que tem uso medicinal nos tempos modernos.
- Não é mais inteligente modificar o sapatos? - Perguntou Neville lentamente, parecia com medo.
- É claro, por isso não se usa mais. - Ela respondeu sorrindo.
- Hum, entendi. - Disse Simas meio desapontado. - O que mais tem de interessante nesse livro?
- Isso é interessante, é uma magia para aumentar ossos. - Repetiu Sophia friamente.
Os 3 se entre olharam, pareciam não entender o tom dela.
- Tem como aumentar ossos e não aumentar a pele sabia? - Continuou ela lentamente, agora parecendo pensar algo com um sorriso maldoso.
Neville arregalou os olhos e ficou mais vermelho do que já estava.
- Você quer estudar Medicina Bruxa? - Perguntei para quebrar o clima.
- Sim! - Respondeu ela surpresa batendo o livro em suas pernas. - É sobre isso que estou tentando dizer! Curanderia.
- Legal! - Disse Dino com humildade.
Estávamos no meio da viagem quando Neville começou a contar sobre sua avó. Também não o pude deixar de falar sobre a atitude do Malfoy contra ele na primeira aula de vôo, ele ficou mais sorridente e tranquilo quando viu que eu não era boboca ou debochada como Draco, e que nem todos da Sonserina eram cruéis como todos falam. Talvez a maioria de nós tivéssemos uma personalidade mais bruta, mas maldade não era unanimidade.
Dino sempre criticava a Sonserina ou insinuava que iríamos nos tornar mestres em artes das trevas, afim de esboçar alguma reação negativa nossa, mas eu e Sophia apenas ignorava ele e ela sempre tentava introduzir um assunto interessante sobre magia.
- Olha o feitiço que a mãe da Jenna usa no cabelo dela - continuava a amiga a falar - Magia para mudar a cor dos cabelos de forma temporária ou definitiva, e pode usar em pelos de animais também. Não é mais usada porque saiu de moda e existem algumas poções que se popularizaram mais. - Ela explicava empolada.
Nunca a vi conversar tanto, aos poucos ela se soltava, mas também se fechava quando alguém fazia uma pergunta mais pessoal. Sophia começou a contar histórias estranhas que eu julgava mentirosas, mas faziam sucesso na Sala Comunal. Chegou a dizer que fez amizade com todos os fantasmas, eu não duvidei.
Rimos de muitas situações, Simas também contava vitória por Grifinoria ganhar o primeiro jogo de Quadribol. Mas no segundo jogo, Sonserina havia ganhado de Lufa-Lufa levando 2 jogadores para ala Hospitalar.
- Mas também não é muito difícil levar um lufano para lá. - Disse Dino rindo, fazendo nós duas rir também. Apenas Neville parecia desconfortável com as piadas. - Achei que vocês eram babacas, como todos da Sonserina. - Concluiu ele quando já estávamos quase chegando no centro de Londres.
- Não todos. - Brinquei.
Nos despedimos, e na estação até cheguei a ver o pai trouxa de Simas apontando para nós e dando um tchauzinho que eu correspondi.
- Ele é trouxa, não é? - Perguntou minha mãe, baixinho com um olhar fixo no homem.
Papai estava de braços cruzados com Júnior ao lado, achei que ficaria feliz em me ver, mas provavelmente estava brigado com minha mãe.
- É sim. - Respondi. - Ele é professor de Física numa universidade de Londres.
- Coitado. - Disse minha mãe dando meia volta e eu ao seu lado , acompanhando-os para sair da estação - imagina o choque de saber que a mulher é bruxa.
- Ah, ele se adaptou, parece querer estudar a gente.
Papai bufou e seguiu em frente falando:
- Nunca entenderá nossa magia.
Me lembro que os primeiros dias de férias foram alegres e até interesses, tentando mediar o que contou ou não a meu pai, mas na segunda, eu tive um sonho muito realista . Fazia um tempo que os sonhos semelhantes e abstratos estavam tomando forma para algo mais legível e eu estava desconfiada que aquilo era uma visão:
Me vi em uma floresta escura, com uma manada de centauros vindo em minha direção, eu não conseguia correr. Conseguia sentir cheiro deles e até o estremecer do chão em meus pés; eu corria e caia e eles me alcançavam, senti até as patas tocar nas minhas pernas e esse choque foi o suficiente para me deixar em pânico. Acordei gritando.
- Ahhhhhhhh!!!!
Em segundos minha mãe apareceu no meu quarto e me abraçou.
- Não foi real, acredite, não foi. - Disse ela limpando meu rosto suado sentada ao meu lado.
- Mas mãe, eu senti dor. - Falei ofegante.
- Mas não é real Jenna. Provavelmente está relacionado com seu dom, você também é empata. - E suspirou pensativa. - Você está na fase de evolução da vidência, vai sentir e ver coisas que não são suas, e vai ter que aprender a se equilibrar emocionalmente, e se controlar. Ninguém me ensinou quando tive essa fase, claro que oara mim foi mais tranquilo, porque não sou tão poderosa quanto você. - Desabafou ela com uma expressão de tédio. - Mas suas visões irão se intensificar e ficar mais nítidas com o tempo, sinto dizer que você vai ter que encontrar um jeito de ser forte.
Foi a primeira vez que a minha mãe deu sinais que conhecia algo sobre meu futuro. Fiquei um pouco curiosa, mas não corajosa o suficiente. A questão que veio à minha mente foi outra.
- O que Snape tem haver com Potter? - Indaguei no impulso.
- Hmm, porquê esse interesse neles?
- Eu vi os dois juntos com Weasley e a Granger em uma visão, faz tempo, mas foi nítida.
- Me lembro do Snape quando era aluno em Hogwarts - Disse ela com as mãos no queixo e pensativa. - Ele é um anos mais velho do que eu, estudou com seu pai. Ouvi dizer que ele andava com a Lilian Potter, antes dela ser Potter, é claro. A mãe do menino Harry, antes que me pergunte. Bom, lembre-se que sei de muita coisa por causa do Uniário, rola muita fofoca por lá , não se pode escrever nada íntimo que se torna público. E eu só estou te contando isso porque eu sei que você precisa saber. - E abaixou o tom da voz. - Desculpa não falar sobre o Encantamento Primordial da Sonserina. Ele é centenário pelo que temos no Uniário de registro, não podia contar até saber se você iria para Sonserina. Que bom que não surtou, porque eu surtei, tentei avisar o Dumbledore no meu primeiro ano e acabei desmaiando. É uma dádiva ter esse Uniário; você entende melhor das situações do mundo bruxo, aprender magias e feitiços raros, compartilhar segredos e reflexões, é como um grande amigo. Patrícia Pattogth é uma grande aliada minha agora, ela te observa, mas não se preocupa, não interfere em nada nas suas ações. - Eu abaixei a cabeça pensativa porque fiquei preocupada com essa observação. - Você está tão diferente, achei que iria ser mais arruaceira como era aqui. Parece estar mudando, acredito que vai mudar muito mais.
Minha mãe estava se precipitando na minha opinião, eu estava conhecendo o território, ainda tinha medo de algumas coisas do Castelo, era tudo muito novo pra mim.
Ela passou a mão nos meus cabelos despenteados, e continuou com sua reflexão falando mais sério.
- Você será uma grande profeta, Jenna. A tal da Sibila Trelawner já fez algumas profecias mas ela é totalmente desequilibrada, nem sabe quem ela realmente é. Vai conhecê-la no 3° ano. - E ela bufou.- E não fique preocupada com o autoritarismo das meninas da Sonserina, elas ficam loucas no 5° ano quando recebem o Uniário, eu pirei também, o mundo se abriu para mim. Quer um chá?
Minha mãe não conseguia manter um assunto sério por muito tempo comigo, eu já estava acostumada. A parte "grande profeta" ficou ecoando na minha cabeça e minha dúvida sobre meu pai ter defendido Snape também ficou martelando meu juízo, mas esse assunto também tive medo de perguntar.
- Quero. - Respondi sem sinceridade.
- Vou fazer.
Na manhã de Natal abri meus presentes com minha mãe na sala, papai estava fazendo o café da manhã sorridente, acho que eles fizeram as pazes.
- Jenna! - Chamou minha mãe com um pacote. - Sua tia Anastasia mandou um vestido tão lindo, ele vai se adaptar ao seu corpo pelo resto da sua vida! Não é incrível?
Não fiquei tão feliz por saber que ela tinha aberto o presente. O vestido era azul marinho, brilhava como se fosse roxo num tecido parecido com veludo, tinha pedras brilhosas discretas nos ombros e no colarinho. Sula mangas eram alongadas justas até o cotovelo, depois aumentava lembrando uma cascata. Parecia muito antigo o modelo, eu esperava ganhar muito mais coisas legais, mas parece que eu não era mais criança, todos já me viam como uma adolescente em ascensão.
- É, vai dar para eu me casar com ele. - Falei com sarcasmo, demonstrando desinteresse.
Mamãe riu e concordou de má vontade, acho que ela achou cafona também, mas não quis dizer. Junior também ganhou presentes, mas não de natal, de Hanukkah. Papai me deu uma agenda, minha mãe me deu um sapato preto com um pequeno salto. Eu deveria ter previsto aqueles presentes bobocas para ter expectativas menores. Meu pai disse que eu estava virando mulher indo para a escola, que os presentes mudariam, eu só pude me conformar.
Vinte dias passou rapidamente, quando dei conta, já estava na estação de novo.
- Que pena que você não quer levar a Charlotte novamente. Não queria que se sentisse só. - Disse minha mãe, me dando um abraço.
Me despedi de todos e até dei um abraço no Júnior. Papai tinha ido trabalhar, então nos despedimos em casa.
- Mãe, não esqueça de pensar sobre a vassoura. - Avisei me despedindo.
Ela me lançou um sorriso amarelo antes do tchau. Esse pedido estava acima do orçamento, eu deveria ter pedido jujubas.
Antes de Hogwarts, o final de ano era um período bobo onde eu esperava por presentes, ou simplesmente ficava em casa ou em Kiel no Hanukkah da vovó Eileen entediada, agora era interessante poder voltar e ver meus pais, eu estava em uma nova fase da minha vida.
Como eu consegui chegar cedo no trem, consegui pegar uma cabine; esperei as meninas chegarem e decidimos seguir viagem de volta todas apertadas, juntas agora, mesmo desconfortáveis. Sophia não tocou no assunto da ida com os garotos da Grifinória, então decidi omitir também.
Chegando em Hogwarts, o clima de janeiro estava melhor, contemplei a volta de forma positiva. Voltamos para nossos dormitório e me senti tão feliz quanto a Jackeline, que parecia ter voltado para ao paraíso ao abraçar sua cama. Sonserina tinha seus pontos positivos mesmo sendo tão sombria.
- Sabia que não podemos contar nem para nossas mães sobre o encantamento, Thayla? - Disse Medellín se sentando tristonha na cama.
- Sim, descobriu da pior forma, não é? - respondeu Thayla, colocando uma das malas na cama, para desfazê-la.
- Pois é, tentei contar numa noite para mamãe e caímos no sono. - Disse Medellín. - Ah, só não esqueci que eu queria contar sobre o encantamento, parece que mamãe não esqueceu do dia , mas esqueceu de como foi parar no quarto e a nossa conversa toda, puff. - E ela bufou. - Foi terrível, uma amnésia estranha e injustificável. Minha mãe culpou a vodka e eu só pude concordar.
- Pelo menos você não desmaiou no café da manhã de Natal, eu perdi o dia todo, mas tudo bem, eu estava de saco cheio mesmo de todos os visitantes. - Desabafou Thayla chateada.- A família inteira da minha mãe ficou se lamentando por eu ter entrado na Sonserina, foi o pior Natal da minha vida.
Eu senti pena, não soube nem como consola-la, apenas pude dar ouvido e murmurar "sinto muito".
Sophia também trouxe mais livros. Jackeline ganhou uma coruja rara, preta. Pansy se lamentava por voltar também, mas estava feliz por ter ido a Paris no Natal.
Na noite de retorno foi agradável o jantar, até a conversa a mesa estava tranquila. Blásio estava contando da viagem que fez para o Santuário dos Dragões na Alemanha, Pedro e Cássio passaram o Natal juntos na casa dos Pomod que eram primos distantes, e claro, se gabaram por terem ganhado relógios de ouro.
Eu concluí que eu era a mais pobre das alunas do meu ano, eu não tinha nada de interessante para contar, nada de interessante a mostrar.
Na volta do jantar eu estava sozinha e decidi passar na sala do professor Snape para ver se ele estava lá, e ele realmente estava. Como sempre, o professor estava abastecendo as prateleiras do fundo para suas futuras aulas. Sua sala estava muito escura com poucas velas acesas, nem percebeu quando entrei na sala.
- O senhor está distraído. - Falei baixo e lentamente para não assustá-lo.
- Previ certo que viria me aborrecer. - Disse ele em tom de desdém.
- O senhor teve um bom Natal!? Voltou para sua casa? Viajou? - Perguntei com sincera curiosidade em sua vida.
Ele não estava olhando para trás para me responder, então me sentei na primeira carteira próximo a mesa dele.
- Não e não. - Ele respondeu secamente distraído com alguns frascos.
- Eu deveria ter trazido algum presente para o senhor. Eu vou tentar trazer no próximo Natal. - Falei me debruçando sobre a mesa.
- Não preciso.
- São muitos "nãos" , sabia? - Indaguei me aborrecendo. Nunca era um diálogo fácil com Snape, mas eu não desistia.
Ele olhou para trás, parecia mais pálido que de costume. Pegou uma cadeira e a posicionou na frente da carteira em que eu estava, se sentando de maneira formal.
- A vida me deu muitos nãos . - Desabafou ele não me olhando nos olhos, fingindo estar preocupado com algo lá fora.
Apesar da personalidade amargurada dele, aquele dia ele estava mais brando, puderia dizer que estava até calmo.
- Senhor, porque implica tanto com o Potter? - Perguntou com sincera curiosidade.
- Você não desiste, não é? - Indagou o professor, voltando seus olhos para mim com uma expressão cansada.- Eu implico com todos. Você já teve que dar uma aula?
- Não.
- Sabe da responsabilidade que é ser um diretor de uma Casa?
- Não.
- Sabe o que é ter jovens que precisam ser disciplinados por você?
- Não.
Eu também tinha muitos "nãos".
- Eu já fui curioso como você.- Prosseguiu ele lentamente me observando, parecia estar fazendo uma análise. - Esse castelo é traiçoeiro, pode matar qualquer um se quiser. Tem coisas escondidas aqui extremamente perigosas, das quais nem aqui deveria estar. - E ele bufou cruzando os braços.
- Tipo um trasgo? - Perguntei.
- Exatamente. Vocês precisam de disciplina, precisam respeitar as regras, suas vidas são nossas responsabilidades. Trasgo aparecer de maneira suspeita no Castelo é o menor dos problemas esse ano.
- Acho que entendi. - Parecia que ele estava tentando dizer algo sem dizer. - E porque não vai pra casa no Natal com seus familiares? - Eu ainda tinha curiosidade na sua vida privada.
- Eu não tenho nada nem ninguém me esperando. - Respondeu pensativo, novamente olhando para as pequenas janelas das masmorras.
Fiquei quieta e triste por ele. Era a primeira vez que ele manteve uma conversa sincera e aberta comigo, achei estranho mas fiquei muito feliz.
- Porque está me respondendo? - Questionei ficando envergonhada.
- Poucas pessoas parecem se importar comigo, como você. - Ele respondeu com a voz muito baixa olhando para algo distante. - O seu pai também se preocupava com as pessoas...
Bruscamente ele se levantou e disse com a voz mais grossa:
- Volte para sua Casa, esse Castelo é muito perigoso à noite. Boa noite.
Eu me levantei lentamente ainda curiosa olhando para ele que se afastava, voltando para suas prateleiras. Enquanto ele me ignorava ao sair, me lembrei das palavras da minha mãe.
- Lamento por Lilian. - Falei antes de cruzar a porta.
Ele não respondeu nem me olhou, pegou sua varinha e lançou um tipo de assopro que apagou todas as velas da sala.
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