𝖺 𝖽𝖾𝗎𝗌𝖺 𝖽𝗈 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈
𝗎𝗆𝖺 𝗏𝖾𝗓 𝗇𝗈𝗌 𝖺𝖼𝗁𝗈𝗎 𝖾𝗇𝖼𝖺𝗇𝗍𝖺𝖽𝗈𝗋𝖾𝗌
𝖾𝗅𝖺 𝖽𝗂𝗌𝗌𝖾 𝗊𝗎𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗏𝖺 𝗍𝖾𝗇𝗍𝖺𝗇𝖽𝗈
𝗉𝖾𝗍𝖾𝗋, 𝖾𝗅𝖺 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗏𝖺 𝗆𝖾𝗇𝗍𝗂𝗇𝖽𝗈?

𝘦𝘮 𝘮𝘪𝘯𝘩𝘢𝘴 𝘤𝘰𝘴𝘵𝘦𝘭𝘢𝘴,
𝘴𝘪𝘯𝘵𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘭𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘢𝘷𝘢

. ˚ ⚘ CAPÍTULO 02
•────•─────────•────•
Meninos perdidos
•────•─────────•────•

Quando o sol nasceu na manhã seguinte, imponente e luminoso, aquecendo as árvores lá fora, Elowen Malfoy já estava de pé há muito tempo. Ela se vestiu perfeitamente ─ bem, ao seu modo ─, tento certa dificuldade com a gratava do uniforme. A capa da Corvinal certamente pareceria um insulto a Lucius, quando ele a visse, mas a maior preocupação de Elowen era para com sua família. Seus pais certamente já pensavam ter caído em desgraça e, a esta altura, estavam fulminando de ódio. Ah, mas Elowen sabia que nada se comparava a como os pais de Sirius estariam ─ provavelmente bolando algo tenebroso para fazê-lo pagar. Cinco dias sem comer, quando voltasse para casa? Talvez até usassem aquele feitiço do silêncio...

Sentindo as mãos suarem, Elowen desceu para o Salão Principal, suas colegas de quarto cochichando entre si mais à frente. Por um momento, Elowen parou, encarando as quatro longas mesas. Sentia um misto de ansiedade e esperança ─ uma esperança que, ela sabia, seus pais dariam um jeito de transformar em pó; em algo irrelevante. Ainda assim, ela suspirou fundo e seguiu para a mesa da Corvinal, tentando se enturmar.

━━ Olá ━━ ela disse a uma garota de cabelos curtos que parecia especialmente empolgada, estendendo a mão. ━━ Eu sou Elowen Malfoy.

A menina de cabelos curtos franziu as sobrancelhas, encarando a mão de Elowen com ceticismo. ━━ Hã... Elowen é um nome bonito ━━ respondeu, voltando a olhá-la, forçando um meio sorriso.

Elowen sorriu ingenuamente.

━━ Obrigada! Eu não gosto muito, mas mamãe diz que é um nome forte! Algum dia, espero que todos saibam o meu nome. Eu ficaria imensamente feliz se me tornasse uma grande escritora, entende. Quero aprender a criar feitiços e poções! Eu poderia fazer remédios para doenças, isso não é absolutamente incrível de se pensar? Seria tão magnífico curar pessoas... Pensando bem, talvez eu devesse dar uma chance à medicina bruxa! Seria bom ser uma curandeira, hum?

A outra menina discos os olhos algumas vezes, forçando um risinho de quem se importava. ━━ Você fala bastante, não é? Quanta... afobação...

Elowen franziu as sobrancelhas de leve, mas o sorriso ainda permanecia em seu rosto.

━━ Mamãe odeia que eu fale. Ela diz que mocinhas precisam se comportar como perfeitas senhoritas ━━ ela estalou a língua. ━━ "Nada de falar como uma matraca, apenas abra a boca para responder perguntas feitas diretamente a você". Eu não costumo falar muito com ela, senão ela pode costurar minha boca.

━━ Hã... ━━ a menina arregalou os olhos. ━━ Talvez você devesse levar o que sua mãe diz em consideração. Ninguém gosta de pessoas que... sabe, que falam como se... alguém gostasse de ouvi-las. Então, por favor, não fale comigo.

Dito isso, ela se levantou e seguiu para o outro extremo da mesa, levando junto seu copo com suco de abóbora.

Elowen ficou ali, estática, como se tivesse levado um balde de água fria diretamente na cabeça. Ela encarou a pilha de torradas à sua frente, sentindo o estômago roncar, e pôs umas cinco em seu prato. Passou muita geleia de framboesa em cada uma delas, comendo como se não houvesse amanhã. Sua mãe não gostava de vê-la comer demais. Seraphine sempre a repreendia quando a julgava ser demais ─ "Você está comendo demais"; "Está falando demais"; "Está sorrindo demais, rindo demais, vivendo demais!". Elowen riu sozinha, quase um riso histérico, sentindo a garganta fechar, mas continuou comendo, agora observando os demais colegas das outras casas.

Do outro lado do salão, sentados à mesa da Grifinoria, James Potter tornara-se uma grande sensação. Ele estava ao lado de seu novo amigo, Sirius Black, que girava uma maçã vermelha na mão, rindo de algo. Seus olhos azuis escuro brilhavam com um tipo de arrogância que Elowen conhecia bem, algo típico da família aristocrata ao qual ele pertencia. Os alunos ao redor ─ tanto calouros quanto veteranos ─, pareciam achá-los uma grande dupla com muito potencial e riam de tudo que eles falavam ─ mesmo que, às vezes, fosse só um comentário casual sobre o tempo ou sobre as aulas.

Mas Lily Evans, sentada do lado oposto, ao lado do pequeno Peter Pettigrew, com um livro aberto à altura de seus olhos verdes como esmeraldas, parecia fazer grande esforço para não azará-los. Ela segurava a capa do livro com certa força, as sobrancelhas ruivas franzidas, mordendo o interior da bochecha. Odiava aquele tipo de gente, arrogantes e, definitivamente, um mal exemplo do que ser num ambiente escolar. Lily esforçava-se para não deixar transparecer o quão nervosa estava com o início das aulas, com medo de não ser suficientemente boa, e queria estudar mais um pouco para não passar vergonha, mas aqueles dois ali, rindo como se nada importasse, fez seu sangue ferver.

━━ Ei ━━ ela disse de repente, fechando o livro com precisão. Seus colegas de calaram por um momento, virando-se para olhá-la. ━━ Se gostam tanto de aparecer, porque não fazem logo um circo no centro do salão? Certeza que vão arrancar boas gargalhadas do resto do pessoal.

James e Sirius se entreolharam, sorrindo cúmplices. Sirius, então, pigarreou e deu um de seus sorrisos mais bonitos a Lily, que manteve a expressão impassível.

━━ Ei, ruivinha, isso deve ser muito para você, não? ━━ ele disse, inclinando-se de leve. ━━ Quero dizer... meu amigo Potter e eu, isso deve ser muito charme para uma garota só.

━━ Acho que você não sabe o significado de "charme", Black ━━ resmungou Lily, levantando-se e saindo do salão apressada, sua capa arrastando-se no chão à sua volta.

Lily mal desapareceu pelas portas do salão e, da mesa da Sonserina, Severus Snape se levantou e deu uma leve corrida para segui-la, quase tropeçando no caminho. James e Sirius se entreolharam mais uma vez, fazendo uma careta.

━━ Devíamos presentear aquele seboso com um kit de banho, acho ━━ disse James, fazendo o grupo ao seu redor rir. Peter deu um riso ainda mais alto, fazendo grande esforço para ser notado, mas James fingiu nem vê-lo e continuou fazendo piadas. ━━ Nunca pensei que Hogwarts abrangisse tantos esquisitos, mas parece que é isso que torna as coisas divertidas por aqui, não é mesmo?

Sirius anuiu com um riso leve, antes de finalmente dar uma mordida em sua maçã.

━━ Mas a minha prima Bellatrix sempre vai estar no topo da lista! Vocês deveriam conhecê-la! Hum... não, não deveriam. Ela é louca!

A mesa da Grifinoria explodiu mais uma vez em risos acalorados. Remus Lupin, franzido e com marcas esbranquiçadas pelo rosto, não parecia achar muita graça. Se achava, disfarçava muito bem, porque não esboçou nem um pequeno sorriso. Nenhum indício de divertimento. Ele apenas deu de ombros, aproveitando a boa comida que Hogwarts oferecia, enquanto seus colegas faziam daquele café da manhã um stand-up ruim.

Querendo ainda mais atenção dos amigos, James ajeitou a postura e ergueu o dedo, como se fosse anunciar algo importante.

━━ É claro que não podemos nos esquecer dela! ━━ ele apontou deliberadamente para a mesa da Corvinal, onde Elowen Malfoy terminava suas torradas. ━━ A mais esquisita dos calouros... bem, depois do Snivellus... Elowen Malfoy!

Eles se viraram para olhá-la, como se fosse uma atração do zoológico. Elowen estava distraída comendo, balançando os pés, com os lábios sujos de geleia e farelo. Ela murmurava sozinha sobre sua própria vida, sem perturbar ninguém. Quando notou os olhares em sua direção, levantou os olhos azuis e, com uma inocência quase fofa, acenou e sorriu para o grupo de grifinorios.

Isso foi o suficiente para fazê-los cair na gargalhada.

James sorriu satisfeito, sentindo-se importante. Enquanto observa os amigos rirem, seus olhos se fixaram nos de Elowen por um breve segundo, mas foi o suficiente para fazer seu estômago revirar com algo que, em outra situação, ele chamaria de "culpa", mas preferiu fingir que os doces de ontem não lhe fizeram bem.

Elowen continuou ali, boba, tentando entender o porquê dos risos frenéticos. Ela acabou rindo junto e estava quase se levantando para ir se juntar a eles, quando sentiu uma mão segurar seu pulso com firmeza, mas sem machucar. Era Lucius. Imponente, parecendo meio irritado meio entediado. Ele afrouxou os dedos ao redor do pulso da prima e suspirou.

━━ Corvinal, Elowen? ━━ ele cruzou os braços, o distintivo de Monitor reluzindo em seu peito. ━━ Tsc, espere só até as corujas chegarem. Aposto como você vai receber um berrador de seus pais.

━━ Imagino que Corvinal não seja tão ruim quanto Grifinoria ━━ ela respondeu depressa, ciente do que estava dizendo, com um tom quase pretensioso. ━━ Narcissa já foi brigar com o primo dela? ━━ ela lançou um olhar despretensioso à mesa da Sonserina e Narcissa ainda estava lá, a postura ereta, os cabelos perfeitamente presos em um rabo de cavalo, fingindo indiferença ao mundo. ━━ Oh, aparentemente ela tem coisa melhor 'pra fazer. Nada, no caso.

Lucius bufou, mas não pôde reprimir um leve sorriso no canto dos lábios.

━━ Sempre tendo muito a dizer, não é, Elowen? ━━ ele perguntou, sem conseguir ficar irritado por muito tempo, permitindo-se bagunçar os cabelos louros dela, que riu. ━━ Mas você tem um ponto: Corvinal é superior à Grifinória, mas não é tão boa quanto a Sonserina. Você sabe disso.

━━ Vou me dar bem aqui ━━ Elowen disse, apontando para sua mesa. ━━ Acho que sou... mais esperta que os demais, entende?

Lucius tombou a cabeça para a direita, analisando-a minusciosamente. ━━ Não acho que é por isso que você foi selecionada para a Corvinal, mas está certo, podemos fingir que você é a garota mais inteligente de toda Hogwarts. Que tal?

Elowen sorriu. ━━ Está bom para mim. Obrigada.

Como de se esperar, as corujas chegarem momentos mais tarde, trazendo cartas, e cestas de doces. Mas Elowen não recebeu nada. E ela sinceramente não sabia se deveria ficar triste ou feliz por isso. Sirius recebeu um extenso pergaminho de seus pais, xingando-o com todos os nomes que conheciam e ameaçando até sua centésima geração. Potter, por outro lado, foi um dos que recebeu doces e cartas fofinhas dos pais, parabenizando-o e enchendo-o de mimos. Ele dividiu seus doces com os amigos, ainda rindo e fazendo brincadeiras para diverti-los.

E Elowen ficou ali, da mesa da Corvinal, assistindo-a com um brilho de curiosidade e expectativa nos olhos. Queria fazer parte daquele grupo ─ ou apenas de algum grupo ─, mas ela sabia que não pertencia a lugar nenhum. Ela só ficaria por ali, durante os próximos sete anos, tentando viver tudo, tentando ser tudo, mas sem nunca pertencer a nada. Sem nunca encontrar seu lugar no mundo.

E, curiosamente, ela estava satisfeita com isso.