ㅤㅤA vida parecia mais leve depois de tudo aquilo. Ninguém acreditaria se fosse contado a pouquíssimo tempo atrás, mas Tae-hyung estava com a mudança praticamente concluída para sua nova casa com Roseanne.

ㅤㅤEle se sentia mais feliz do que nunca, como se tivesse recuperado seu verdadeiro eu, depois de tudo que passou. Roseanne, então, nem precisava falar. Sua felicidade não podia ser medida, depois que foi pedida em casamento pelo homem que amava desde o primeiro momento.

ㅤㅤJá era fim de tarde, quando Roseanne estava voltando da floricultura. Sempre foi o tipo de mulher que gostava de deixar a casa com um aspecto mais vivo, por mais que o homem com quem vivia só apreciava bebidas e cigarros.

ㅤㅤQuando girou a maçaneta da porta, ouviu uns barulhos vindos do banheiro. Franziu o cenho e deixou o vaso de flores em cima da mesa da cozinha e foi caminhando em direção ao barulho. Mas, quanto mais se aproximava, menos podia crer no que estava ouvindo. Mas foi obrigada definitivamente a acreditar quando o viu na banheira com uma mulher ruiva.

ㅤㅤDessa vez, foi diferente. Não era a primeira vez que o via com outra mulher, nem mesmo em um momento íntimo, mas era a primeira vez que isso acontecia quando ela pensava que ele era seu. Ela fechou a porta abruptamente, mesmo que ele já tivesse sabendo que foi pego em flagra.

ㅤㅤSe sentou no sofá da sala e sentiu algumas lágrimas de puro ódio insistirem em escorrerem pelas suas bochechas. Como foi acreditar que um homem como aquele mudaria? Mesmo depois de cuidar dele depois de Ji-soo?

ㅤㅤTalvez tenha sido sua culpa de persegui-lo o tempo todo, depois que tudo entre eles terminaram. Ou de ter dito que estava grávida. Ou por ter cuidado dele, ao ponto de não deixá-lo mais ir embora.

ㅤㅤDesnorteada, ela saiu da sua nova casa, que agora não parecia mais tão brilhante e sai sem rumo, sem ver nenhuma rua na sua frente, apenas carros e mais carros passando, enquanto sua cabeça estava um turbilhão de pensamentos. Alguma coisa sequer fazia sentido?

ㅤㅤA primeira vez em que parou foi quando viu os sinais avisando que um trem passaria em breve. Ficou bem próximo da linha, sem entender o que tinha acontecido com sua própria cabeça. Com certeza, era seu momento de menos lucidez na vida toda.

ㅤㅤ— Roseanne! — Escutou aquela voz familiar vindo de trás de si, e se virou.

ㅤㅤO trem se aproximava cada vez mais, e o homem também. Aqueles olhos que sempre foram o motivo de seu sorriso, agora ela só via maldade — apesar de sempre saber que não havia nada de bom dentro dele, se iludiu porque queria acreditar nisso.

ㅤㅤ— Por favor, eu posso explicar... — disse ao estar perto o suficiente, mas ela só se afastava, como se nem sequer estivesse o vendo de verdade.

ㅤㅤO Sol a cegava de todos os modos naquele momento, sua cabeça estava turva. Quando o trem se aproximou o suficiente, ela agiu com impulso. Empurrou Kim bem na frente dele, sentindo algumas gotas de seu sangue espirrarem em seu vestido branco como a pureza que ela costumava ser.

ㅤㅤEstava terminado.

ㅤㅤ[...]

ㅤㅤ— É uma tristeza perder uma pessoa como meu irmão, Kim Tae-hyung. — Jung-kook começou bem na frente do caixão dele — Ele nos deixou muito jovem, apesar de levar um estilo de vida que pedia por isso. — falou lamentando. — De qualquer forma, ele deixou uma família que o amava de verdade, apesar de nem sempre ele pensar assim.

ㅤㅤEm contraponto, sua viúva, bem na primeira fileira, não via nenhuma pessoa chorando, nem mesmo sua mãe e seu sobrinho. Não parecia nem um pouco que era querido quanto seu irmão descrevia. Muito pelo contrário, tinha uma centena de mulheres ali que pareciam felizes com sua morte, incluindo Momo e Ji-soo, quem mais ela se preocupava a pouco tempo.

ㅤㅤ— Vai ficar tudo bem. — Ji-mina segura sua mão.

ㅤㅤ— Eu sei. — Sorriu, sem demonstrar nem um pingo de melancolia.

ㅤㅤ— Alguém quer dar mais alguma palavra? — ele perguntou, ainda lá em cima.

ㅤㅤRoseanne se levantou, vestindo um véu preto que combinava com seu vestido da mesma cor. Todos a olharam, imaginando como conseguia estar tão forte, quando todos sabiam que ela o amava tanto.

ㅤㅤMesmo assim, ela subiu no altar com o olhar pleno e frio como nunca esteve antes. Parecia que alguma coisa específica tinha mudado dentro dela, algum brilho específico.

ㅤㅤ— Eu acabo de perder a coisa que mais amava na vida. Perdi o homem com quem acabei de me casar. — começou, e algumas mulheres pareceram debochar, talvez por vontade que fossem elas no último momento. — E eu sei que parte de mim morreu com ele bem na frente dos meus olhos. — diz, repetindo a cena na sua cabeça. — Acho que essa ferida nunca vai se curar. — finaliza, abaixando seu rosto.

ㅤㅤEntão, ela desce dali, dando fim ao discurso de despedida de Kim Tae-hyung. E, de longe, ao lado de sua melhor amiga, e também irmã dele, ela viu o caixão se fechar para sempre.

ㅤㅤNunca mais Kim Tae-hyung machucaria ninguém.