ㅤㅤA vida nem sempre foi um morango para Ji-soo. Sempre foi uma menina doce e alegre, que tinha vários amigos e tudo que uma criança precisava para ser feliz. Bom, pelo menos, foi o que seus pais disseram.

ㅤㅤPark perdeu a memória em um acidente de carro que acabou sua vida dos dezoito até os vinte e quatro, sendo que agora estava vivendo seus vinte e sete anos. Grande parte de sua vida tinha sido apagada, mas... Ela não podia dizer que estava mal.

ㅤㅤSua vida estava mais do que perfeita. Tinha apartamento lindo onde morava com Im Na-yeon, sua noiva. Para ela, Na-yeon era a sensação de paz e ela achava que, se encontrasse alguém assim, se casaria. Ou seja, tudo era perfeito.

ㅤㅤMas, ao mesmo tempo, as coisas não eram perfeitas. Ji-soo sempre tinha a sensação de que algo estava faltando... algo importante. Mas ela nunca saberia que coisa é essa, já que tinha perdido tudo que tinha.

ㅤㅤ— Amor, tem algo errado? Você está mais calada que o normal. — Na-yeon pergunta. Estava descansando a cabeça no colo de sua noiva, recebendo carinho da mesma que nem sequer prestava atenção nisso.

ㅤㅤ— Não, estou bem. — era verdade, mas não sabia que tipos de coisas estavam escondidas dentro da sua cabeça. Estava sempre cheia de pensamentos que desconhecia. — Só estou... um pouco cansada. — Levou a mão na cabeça, soltando um longo suspiro.

ㅤㅤ— Posso te dizer uma coisa para te alegrar? — Na-yeon inclina a cabeça com um pequeno sorriso.

ㅤㅤ— Claro que pode. — Seu sorriso a contagiou.

ㅤㅤ— Sou a mulher mais feliz por ser sua noiva. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado, e não digo isso brincando. Eles dizem que só encontramos o amor uma vez na vida. E é essa.

ㅤㅤJi-soo sorriu. É claro que suas palavras eram lindas, mas ela ainda assim sabia que não se encaixavam para ela. Não era bem "amor" a palavra que ela designaria à Na-yeon. Era mais parecido com conforto, e isso já era o suficiente para ela.

ㅤㅤ— Você é um amor, Nay. — Beija o topo de sua cabeça. — Acho que vou dormir um pouco. — Levanta sua cabeça de seu colo e, em seguida, se levanta do sofá. — Você vem?

ㅤㅤ— Daqui a pouco. — Se deita novamente, com uma preguiça que tinha cara de quem ia assistir televisão a noite inteira e acabar se atrasando pro trabalho.

ㅤㅤFalando em trabalho, essa é uma das coisas que mudaram em sua vida. Desde que se lembrava, Ji-soo sempre teve vontade de abrir um negócio. Queria vender comida, roupa, ou sabe-se-lá-o-quê. Mas ter um seguro por causa de sua perda de memória só dificultou as coisas, agora era vista como uma inválida.

ㅤㅤTirou as roupas que vestia e colocou um pijama confortável para dormir a noite toda, como fazia todos os dias, dormindo até tarde por não ter nenhuma obrigação, ao mesmo tempo em que tinham noites que ela quase dormia, e isso estava ficando preocupante.

ㅤㅤSe deitou e fechou os olhos. Pegar no sono era fácil, difícil era mantê-lo até a hora de acordar. Ji-soo estava ficando cada vez mais exausta do estilo de vida que vinha tendo. Parecia mais como um pesadelo. Na-yeon era uma das partes boas disso tudo, ela jamais esqueceria o quão bem ela a acolheu depois de ter esquecido de tudo.

ㅤㅤO sono finalmente a pegou, enquanto pensava no quão difícil a vida estava sendo. No seu inconsciente, o chip implantado nela — como em várias pessoas — traziam memórias de seu passado, mas sempre coisas bobas, que não lembraria no dia seguinte.

ㅤㅤMas tudo tem um começo e um fim. Atualmente, os sonhos estavam se tornando cada vez mais lúcidos em sua cabeça, como se ela realmente estivesse lá, vivendo tudo aquilo uma segunda vez, sentindo todas as coisas que sentiu.

ㅤㅤE lá estava ela, sentada em um sofá que não reconhecia de nenhum lugar ao silêncio completo. Ninguém por perto, mas alguns objetos ali chamavam sua atenção, mas ela não sabia explicar o porquê.

ㅤㅤDe repente, um telefone toca bem ao seu lado. Ela poderia simplesmente esticar seu braço e atendê-lo, mas não sabia quem era, onde estava... Sentiu medo. Ao mesmo tempo, aquele momento estava bem nas suas memórias, então não deveria ter acontecido nada de tão terrível.

ㅤㅤFez o que deveria, esticou o braço para pegar o telefone, porém, no momento em que fez isso, uma mão a segurou. De repente, surge uma mulher que não se lembrava de ter visto nunca na sua vida, mas com um rosto maravilhoso que jamais esqueceria novamente.

ㅤㅤ— Quero falar com você.

ㅤㅤJi-soo abriu os olhos. O quarto todo estava iluminado pelo sol da manhã. Na-yeon dormia como um anjo ao seu lado, e ela não queria atrapalhá-la por conta de um pesadelo... ou seja lá o que foi aquilo.