ㅤㅤ📿𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟰: 𝗗𝗲𝘀𝗮𝗽𝗮𝗿𝗲𝗰𝗶𝗱𝗮
Por incrível que pareça, desde aquele primeiro dia de aula, Yara nunca mais apareceu na escola. E isso já fazia duas semanas. Claro, estava difícil para todo mundo, mas sumir por tanto tempo?
Penny se sentia culpada, pois achava que tinham sido as coisas que disse para ela que fizera ela sumir desse jeito. Com certeza, ela passou dos limites com a garota, mas ela parecia segura o suficiente para não se abalar com a idiota da minha melhor amiga.
— Eu tenho certeza, Sofia, foi por isso... — ela fala toda cabisbaixa no meu colo.
— Ai, que besteira, eu tenho certeza que não. — Só para constar, era a milésima vez que eu falava isso naquela semana.
— Ela vai me denunciar por bullying, eu tenho certeza... Vou perder minha vaga aqui, e eu nem fiz com a intenção, Sofi, eu juro! — continuou choramingando, escondendo a cabeça no meu ombro, enquanto eu revirava os olhos.
Mas quando eu vi Diana, a garota mais famosinha da escola, se aproximando de nós, eu comecei a pensar que a denuncia tinha chegado e ela viria nos massacrar, como a defensora que eu conheci desde que cheguei.
— Meninas, desculpem, mas vocês tem visto a Yara? — perguntou sem maldade, aparentemente.
— Não, estávamos falando disso agora. — respondi, e Penny levantou os olhos assustada.
— Estamos preocupados, e resolvemos vir procurar ela, vocês topam? — perguntou em tom animado.
— Claro, mas... Onde poderíamos procurar? — perguntei, enquanto Penny parecia odiar a ideia de se meter em um lugar desconhecido.
— Ela deixou o endereço na secretaria da escola. É um pouco longe, mas poderíamos ir de ônibus, se formos só nós três. — Deu de ombros, parecendo realmente acreditar na ideia.
— Eu topo. É raro ver alguém que se importa. — respondi como uma indireta à idiota agarrada no meu braço.
— Ótimo. Podemos ir depois da aula mesmo. — Sorriu e saiu dali.
— É sério isso? — Penny me triturou com o olhar.
— Se não quiser ir, não precisa. É bom que gastamos menos. — aproveitei para zombar um pouquinho. Ela merecia, vai...
[...]
O peso na consciência, fez com que Penny estivesse bem ao meu lado esperando Diana terminar sua vida de quase prefeita da escola, de tantos amigos. O Sol queimava meus ombros e ela não parava de reclamar um segundo por esse mesmo motivo. Quando Diana apareceu, eu parecia ter visto um anjo.
— Prontas? É esse ônibus que vamos pegar. — disse, apontando para o que estava bem na frente de nossos narizes. Se soubéssemos disso antes, poderíamos ter entrado, ao invés de queimar nesse Solão. Nos sentíamos duas patetas, mas relevamos para preservar nossa saúde mental.
Nos sentamos confortavelmente nos bancos e ficamos a viagem inteira praticamente em silêncio, apenas observando a paisagem. Até mesmo a tagarela de Penny não deu um pio o tempo todo.
Porém, assim que o ônibus estacionou, eu tive uma sensação boa, como se tivesse voltado no tempo. Um Déjà Vu. Eu não sabia de onde era, só sabia que era muito estranho.
Segui Diana ao sair do ônibus e fomos recepcionados por uma velhinha bem simpática, que sorriu até demais para mim. Tive a impressão de conhecê-la, mas não tive certeza, apenas acenei de volta. Ela conversou com Diana e nós a seguimos para onde a senhora mandou, como uma fila indiana. Penny parecia tão confusa que nem disse nada.
Entramos em uma pequena casinha de palha que fez cócegas na ponta do meu nariz quando entrei, ao contrário de Penny que tivera que bater nas coitadas para que não esbarrassem em seu cabelo.
Assim que entrei ali, vi Yara cuidando da cozinha de sua casa, enquanto um garoto estava deitado em uma cama, mexendo em alguma coisa que tinha nas mãos.
— Ei... — Diana chamou sua atenção, e ela parece ter levado um grande susto. Não vou mentir, foi engraçado.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Arregalou um par de olhos enormes para cima da gente.
— Viemos ver porque você anda faltando tanto... — explicou em tom simpático.
— A escola mandou vocês? — Enxugou as mãos e foi até nós, preocupada.
— Não, só ficamos preocupadas... Você está bem?
— Estou ótima, o problema é que é muito difícil ir para escola morando aqui, e ainda tenho que conseguir passes para ir e vir. — explicou. — Agora que vocês, enxeridas, já sabem, vazem fora daqui. Vocês só perderam o tempo precioso de vocês. — disse, fazendo com que a garota da frente virasse-se de costas e saísse dali junto com a gente.
O garoto que estava deitado na cama se levantou, finalmente nos vendo. Quando olhei em seus olhos, eu lembrei de tudo e entendi o porquê da sensação de déjà vu.
— Sofia... — ele disse com um tom de voz calmo.
— Kauê... — repeti no mesmo tom, paralisada por alguns segundos.
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