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、⊹ 𝗣𝕽🅾𝔏🅾Ⓖ𝚄𝙀 !

Todo mundo queria ser outra pessoa nos anos 2000. É sério! Ninguém ficava bem consigo mesmo tempo o bastante para não querer se matar, mas a grande maioria sobreviveu ao que os mais lunáticos podem chamar de "Era da Bulimia Adolescente". As calças de cintura baixa mostravam sua bunda, a TV estava cheia de programas sobre garotas más e seus segredos, alguns vampiros pálidos tentavam sugar seu sangue desde os anos 80, mas em Lalton o maior problema era Scout Kemberly.

Dezessete anos de puro desgosto para os pais, a garota era como o próprio "Satanás na terra" (palavras comuns do padre da cidade sobre ela). Assim que Scout chegava num local era possível ouvir o desagrado no silêncio, ninguém gostava dela, ninguém a queria por perto, porque Scout era uma má influência para as crianças, para a cidade, para o planeta inteiro. Era uma "predadora cruel e egoísta", que estava tentando ser alguém que ela não era e assumir um lugar que nunca seria dela.

Scout era uma garota trans e, "obviamente", isso a tornava um monstro.

Não importava que ela era boa para os animais, tinha uma das melhores notas da turma e andava de bicicleta para todo lugar porque a natureza precisava descansar dos combustíveis fósseis. Para os moradores da cidade, Scout era aquele tipo de garota que não era uma "garota de verdade" e isso devia ser um problema de todos, porque ela poderia atacar a qualquer momento.

Veja bem, Scout já era responsável por tudo de errado que dava na cidade. Se o encanamento velho da prefeitura quebrava, era porque ela dava azar ao pai. Se um garoto da sétima série com quem ela nunca falou fosse chamado de "vi*dinho" e espancado na escola, era culpa de Scout porque ela trouxe a onda dos GLS para a cidade. Não havia sido ela que disse que a nova sigla era LGBT numa aula de sociologia? Garota maluca que só queria atenção! Estava fazendo mal a cidade com sua natureza perversa!

Na noite em que desapareceu, Scout estava com sua bicicleta cor de menta como em qualquer outra. Ela podia sentir as pessoas olhando em sua direção, a julgando com uma mistura nada gentil de sentimentos. Era noite de jogo, o time de beisebol iria disputar com o time da cidade vizinha - seus rivais desde que ambos os times haviam sido fundados -, por isso, todos subiam pela rua com expressões felizes, gritando suas apostas para a partida, as caras já cheias de cerveja barata e as crianças largadas à própria sorte. Tudo estava em seu devido lugar, até Scout, que descia apreensiva apenas querendo voltar para casa, uma vez que o jogo com certeza não era para ela.

Scout não gostava de beisebol. As lembranças com o esporte lhe traziam sensações horríveis de congelar a espinha e, além do mais, tinha toda aquela gente pronta para matá-la, as quais deixavam todos os lugares prontos para recebê-la com hostilidade. Ela era a atração de um Show de Horrores Itinerante para seus vizinhos e sabia que a atenção que recebia agora não era um terço do que teria se aparecesse naquele campo, mesmo que com a intenção banal de falar com os pais.

A rua ficou uma loucura perto do final, as pessoas surgiam aos montes e quase arrastavam Scout para direção que ela menos queria seguir. A garota respirou fundo, desceu de sua bicicleta e empurrou-a ao seu lado no meio do tumulto, seu coração palpitava enquanto era engolida pela multidão.

O sol já havia partido pelo menos vinte minutos antes dela atravessar toda a rua principal, as coisas ficaram mais calmas a partir daquele ponto. Scout entrou na Rua do Mercado quase se sentindo segura, aproveitou a luz forte do lugar para repassar seu caminho até em casa como um calmante: Sair da escola. Pegar a Rua Principal. Descer pela Rua do Mercado. Passar pelos campos de milho. Pedalar ao longo da pequena ponte que atravessava o Lago James. Então chegar em casa (exatos quarenta e seis minutos após seu ponto de partida).

Ela esperava só tomar uma surra entre o milharal e o lago, como era de costume. Com toda a luz que tinha nas ruas até aquele ponto, os agressores pareciam menos determinados a machucá-la, ao menos foi o que ela imaginou até um longo assobio cortar suas esperanças.

Scout pensou em parar e olhar a sua volta - como uma idiota em filmes de terror -, mas ela já tinha visto essa história antes, então apenas apertou o passo, torcendo para ter ao menos um metrô de distância de quem quer que fosse antes de chegar no milharal. Mas logo o assobio foi seguido pelo som de passos. Scout respirou com dificuldade, aumentando o movimento de suas pernas, ela se arrependeu de não ter voltado a subir na bicicleta quando deixou a multidão para trás, pois agora estava a pé, a mercê de qualquer um que decidisse incomodá-la.

— A pequena Scout está indo na direção errada, pessoal, quem vai querer ajudá-la a achar o caminho? — A bicicleta da garota foi bruscamente parada por Dante Teller.

O garoto tinha um sorriso perverso nos lábios quando apoiou os braços guidão e tirou a bicicleta das mãos dela. Ele a olhou com divertimento enquanto seus amigos, todos vestindo o uniforme do time de beisebol, se aproximaram, cercando Scout.

— O que faz aqui, Scout? — Reginald Butler foi quem perguntou. Ele ficou bem de frente para ela, encarando a garota nos olhos simultâneamente girando seu taco em volta do corpo.

— Estou indo pra casa — ela respondeu baixinho.

Reggie sorriu de forma nada agradável. Dante deu uma risadinha também, se sentou na bicicleta dela e começou a balançar para frente e para trás.

— Pra casa? — Reggie estalou a língua no céu da boca e bateu o taco na palma da mão. — Mas isso é inaceitável. A tão amada filha do prefeito não vai dar o ar de suas graças no último jogo da temporada?

— Ah, Reggie... — Adrien Jung envolveu os ombros de Scout, surgindo atrás dela enquanto dois outros garotos do time fechavam um círculo à sua volta. Ele deu um soquinho no braço de Reginald. — Scout só estava pensando na equipe, você não vê? Ela sabe que daria azar aparecer por lá, só está dando apoio para gente. Não é, Scout?

Ela balançou a cabeça cuidadosamente, estudando os seis garotos à volta dela, todos rindo como hienas. Sua bicicleta parecia um monte de metal perigoso agora que Dante estava com ela e Reggie aparentava estar muito disposto a acertar a cabeça dela com o taco. Que beleza! Se Scout ia ao jogo, ela era espancada no final dele por aparecer por lá. Se não ia ao jogo, era espancada antes dele porque foi apanhada pelo time de beisebol tentando ir para casa. Não dava pra piorar...

— Que sorte a sua, Scout! — disse uma voz atrás de todos eles. — Eu também não vou ver esses manés jogando.

Dois dos garotos saíram da frente para que pudessem encarar a nova figura entre eles, Scout imediatamente reconheceu a voz e se encolheu antes mesmo do corpo dele bloquear a visão dela dos outros valentões. Ela temeu que a merda estivesse para piorar, pois estava. Day Roth parou diante deles e encarou Reggie, o vice capitão do time, que tinha o porte atlético de assustar qualquer alvo fácil, mas Roth olhou para ele de cima. Day era maior, mais forte e mais disposto a entrar numa briga com seis caras com músculos muito resistentes, porque no mínimo mandaria dois deles para o hospital e ganharia um taco da sorte novo.

— Sabe, Reggie... Não gosto que tentem quebrar os meus brinquedos, cara.

Day agarrou o taco com firmeza, os nós dos dedos de Reginald ficaram brancos de imediato, mas Day não parecia fazer quase força alguma. Ele sorriu relaxado para Reggie, deixando claro que aquele taco só não estava acertando suas costelas ainda, porque Day não queria. Os garotos a volta dele automaticamente desviaram sua atenção de Scout para encará-lo. Ela prendeu a respiração. Sempre que Day Roth estava por perto ela tinha certeza que sairia com alguns hematomas sérios. Como um prenúncio disso, Adrien Jung ajeitou a bolsa de equipamentos em seu ombro e soltou Scout por um instante, Dante saiu da bicicleta em algum momento no meio de tudo e jogava sua bola para cima vez ou outra, o sorriso meio frouxo enquanto ele parecia querer se fundir ao garoto ao seu lado. A bicicleta dela estava caída no chão agora, mas bem no meio de todos aqueles caras cheios de atitude agressiva, por isso ela ainda não tinha como correr dali.

— Ei, vocês seus idiotas, parem com essa merda e andem logo! — Todos se viraram para olhar Leonard Dempsey do outro lado da rua.

Louis Mercury, capitão do time, estava ao lado dele de braços cruzados, olhando para todos com raiva, o cabelo loiro era um contraste claro com o rosto vermelho dele. O resto do time, inclusive os reservas, subiam a rua atrás dele encarando os garotos que já deviam estar no campo, ao invés de parados em frente ao mercado prontos para sair no soco com Day.

— Se vocês querem ficar por aí, tudo bem. Tenho pelo menos uns cinco caras que vão adorar jogar no lugar de vocês, seus merdinhas — gritou Louis.

Leonard deu uma risadinha e recebeu um olhar mortal de Louis também, o garoto apenas levantou as mãos em rendição e se virou para ir embora.

— Eu só estava ajudando, cara — ele resmungou.

Antes de continuar, ele assobiou para os garotos à volta de Scout e Day, três deles seguiram sem muita conversa, mas Adrien, Dante e Reggie mal se moveram e permaneceram sob o olhar vigilante de Louis.

— Andem! — gritou ele outra vez.

Reginald ainda encarou Day mais alguns segundos, puxou um catarro bem do fundo da garganta e cuspiu no chão. Logo após, ele começou a andar. Dante chutou a bicicleta de Scout e Adrien deu um tapa na cabeça dela com força, os dois seguiram Reggie.

Scout não esperou ter paz quando eles partiram. Uma coisa era apanhar por não ter feito nada, outra era apanhar porque os outros tinham feito algo com ela. Day gostava de se divertir com as duas opções, foi assim que ele lhe acertou uma joelhada no estômago, soltando uma gargalhada raivosa quando ela caiu de cara no chão e sentiu o gosto da terra.

— Ei, imbecil. Já não tínhamos conversado sobre isso?

Ela não respondeu, apenas apoiou as mãos na terra e tentou se levantar, porém Day chutou a mão dela e ela caiu de novo.

— Você se esqueceu, não é? Talvez eles tenham esmagado um pouco os seus miolos antes de eu chegar.

As botas de couro dele pairaram delicadamente sobre a mão esquerda de Scout. Ele deliberou entre esmagar os dedos dela e acabar com a noite da pobre garota de vez, mas percebeu que não teria graça. E Day Roth era conhecido por fazer apenas o que tinha graça.

Ele bufou, depois chutou um pouco de terra e deu uma cuspida quase no rosto dela.

— "Não deixe aqueles manés te alcançarem." Se lembrou? — Scout apenas acenou com a cabeça, ainda deitada no chão. — Vai fazer desse monte de merda sua nova casa ou vai começar a andar?

Ela olhou para cima temendo responder. Seus olhos alcançaram os joelhos dele antes que tivesse que se apoiar nos cotovelos para levantar, quando estava de pé, encarou a caveira da camisa dele, mas ainda estava longe de seu olhos agora. Foi a primeira vez que agradeceu por Day ter quase dois metros de altura, ela não precisava encará-lo e correr o risco dele interpretar como um afronte.

— Vamos. Pega logo a bicicleta — ele disse. Então começou a andar.

Scout se levantou com cuidado, limpou as mãos na saia listrada que usava. Ela pegou sua bicicleta assim que Day assoviou para ela já bem perto do milharal, ela se apressou para alcançá-lo. Poderia parecer estranho ter um dos principais responsáveis por maltratá-la levando ela até em casa, Scout teria questionado mesmo que recebesse um soco por isso, mas ela entendia que nem tudo sobre Day era explicável, mas essa situação ela entendeu rápido. Era ciúmes. Do pouco que sabia sobre o garoto quando ela não estava sendo perseguida, era que ele era um cara territorialista, protetor com as coisas que eram dele e, como havia dito para Reggie minutos antes, Scout era o saco de pancadas pessoal dele. Quando ele estava por perto ninguém tinha o direito de bater nela porque... Bem! Ele estava lá para bater nela.

Eles caminharam sem dizer nada por quase toda a extensão do Milharal Gervaise e estavam a alguns minutos do campo de milho da própria família dela, quando Scout parou de ouvir os passos de Day. Ela não soube ao certo quando percebeu, um minuto ele estava na frente dela bufando como um animal selvagem. No outro, estava tudo em silêncio. Scout parou com sua bicicleta no meio do campo, ela observou o vento balançar as folhas e espigas a sua volta com leveza, ela tentou escutar Day, qualquer sinal dele, mas não havia nada. Como um estalo, ela entendeu que qualquer fosse a brincadeira dele, ela não gostaria do resultado, então tomou uma atitude meio perigosa naquela altura do trajeto: Scout subiu em sua bicicleta. Ela se pôs a pedalar não temendo os pedaços de espigas podres e mato que se prendiam às rodas. Ela pedalou sem medo de cair, seu coração disparando enquanto ela corria cada vez mais rápido.

Scout já podia ver a ponte do final do milharal de sua família, foi nesse ponto que algo prendeu a roda de trás. Ela deu uma cambalhota no ar, a bicicleta caiu de um lado e ela caiu sob o milho pisoteado de costas. Jogada no chão, ela segurou o gemido de dor que subiu pela garganta, os ouvidos quase surdos captaram o som de passos se aproximando como um trovão.

— Day... Essa merda não tem graça, okay?

Os passos continuaram. Scout respirou fundo e se obrigou a levantar. Suas costelas doíam pela queda, ela juntou toda presença de espírito em seu ser para começar a andar. Ela deixou a bicicleta para trás, correndo desnorteada pelo milharal na esperança de achar a ponte outra vez. No meio de tudo, Scout foi atingida por uma pedra e caiu mais uma vez. Ela teve certeza a essa altura que, quem quer que estivesse escondido no milharal, não queria o bem dela. Ainda mais, tinha certeza que não era Day. Por mais inspirado que estivesse para torturá-la, ele nunca causava danos que a levassem ao hospital, e a queda da bicicleta, combinada a pedra que com certeza não havia caído do céu deixaram uma mensagem bem clara: alguém não queria que Scout saísse daquele milharal consciente.

Um pedaço enorme de tronco atravessou a perna dela como uma espada assim que ela conseguiu dar alguns passos, Scout caiu sob suas mãos sentindo o sangue esquentar suas palmas na terra úmida, por um instante ela não sentiu a dor, desorientada, até que ela tentou se mexer e uma pontada absurda subiu seu corpo deixando-a completamente cega e empurrou sua garganta com a necessidade de gritar. Ela, no entanto, mordeu os lábios com toda força, reprimindo o berro primitivo que tentava escapar, pois sabia, enquanto o som de alguém chutando a terra sob os pés se aproximava, que no meio daquele milharal, seu agressor estava a espreita na escuridão, determinado a vê-la sofrer, antes que ela desse seu último suspiro.

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