*Especial*
No meio daquele cenário caótico, com o coração pesado de dor, não pude deixar de reparar no lençol branco que cobria a minha mãe. A sua visão causou-me arrepios na espinha, como se fosse uma lembrança cruel do vazio que agora ocupava a minha vida. No meio dos gritos desesperados do meu padrinho e dos movimentos frenéticos da polícia, procurei desesperadamente algo, qualquer coisa, a que me pudesse agarrar. Foi então que uma psicóloga dos bombeiros se aproximou de mim, oferecendo-me palavras de consolo e compreensão. Mas o meu olhar permanecia fixo no lençol branco que escondia a minha mãe, o meu único desejo de a ver mais uma vez, de perceber quem a poderia ter arrancado de mim de forma tão brutal. Agarrada com força ao meu padrinho, olhei-o nos olhos, os meus olhos pequeninos encheram-se de lágrimas que diziam muito da dor que eu carregava aos doze anos, sem mãe nem pai. As perguntas martelavam na minha mente, ecoando a minha angústia - quem poderia ter feito isto? Porque é que o fizeram? Porque é que a escolheram? Naquele que deveria ter sido o dia mais feliz da vida dela, dei por mim a gritar de agonia, com o peso da minha dor a cair sobre os meus frágeis ombros.
Quando Reddington desceu no seu jato privado e olhou para o telemóvel, recebeu a notícia da voz de Lizzie de que já estava a caminho.
Uma mensagem de voz
Elizabeth: Raymond, estou arrasada com esta notícia... Acabei de ouvir nas notícias que Cristina Yang faleceu. Levou um tiro. Sei que ela era muito importante para ti e lamento informar-te assim, mas não atendeste o telefone. Sei que não há palavras que possam aliviar a tua dor, mas se precisares de algo, estou aqui para apoiar-te e confortar-te. Apresento os meus sinceros sentimentos de pesar.
Dominado pela dor, o coração de Reddington partiu-se em milhões de pedaços. Quando saiu do jato privado, os seus olhos encheram-se de lágrimas, mas nenhuma conseguiu escapar. O peso da notícia esmagou-o, obrigando-o a procurar consolo no primeiro banco que lhe chamou a atenção no aeródromo vazio. Sentou-se, com o corpo pesado de tristeza, incapaz de compreender a dor que o envolvia.
As horas passaram como uma eternidade, enquanto ele permanecia imóvel, perdido nas profundezas do seu desespero. O ecrã do telefone, outrora preenchido com a voz da mulher que amava, dizendo que o amava e que achava que estava grávida, estava agora assombrosamente vazio. Ele tentou ligar para o telemóvel. Cada toque que ia para a caixa de correio lembrava-o do vazio que tinha sido deixado para trás. O seu coração revoltava-se contra a cruel realidade, incapaz de aceitar que Cristina tinha partido.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, ele reuniu forças para se mexer. Com o coração pesado e o espírito destroçado, dirigiu-se para a morgue. Cada passo era uma recordação dolorosa do que tinha perdido, Dembe encarava-o, um amor que nunca mais seria capaz de abraçar. A viagem para a morgue foi feita em silêncio, pontuada apenas pelos ecos do seu coração despedaçado.
Lizzie convenceu o senhor da morgue a deixá-lo entrar, mostrando o distintivo do FBI. Nos corredores sombrios da morgue, Reddington encontrava-se diante do corpo sem vida de Cristina. Os seus olhos encheram-se de lágrimas mais uma vez, desta vez incapazes de serem contidas. A dor invadiu-o em ondas, ameaçando consumi-lo por completo. Foi nesse momento que ele colocou o seu chapéu preto aos pés e, no meio do abraço frio da morte, Reddington apercebeu-se da profundidade do seu amor por ela, prometendo vingança. A dor de perdê-la era insuportável, e ele sabia que uma parte dele tinha morrido junto com ela.
Limpando os seus olhos, ele sai e junta-se a Lizzie.
Reddington juntou-se a Lizzie, o rosto estoico e composto apesar da avassaladora tristeza que o consumia. Ajustou o chapéu e os óculos, ocultando a turbulência interior.
"Alguma pista?", perguntou, a voz firme mas com um leve tom de cansaço.
Lizzie estudou a postura de Reddington, percebendo o peso das emoções sob a sua calma aparente. Ela sabia que ele estava profundamente afetado pela morte de Cristina, mas também compreendia a importância de manter uma aparência de controlo naquela linha de trabalho.
— estava a falar com o médico legista, aparentemente não foi alguém experiente; a bala é de uma arma de amador, qualquer pessoa pode comprar uma dessas no fora, mas ele lutava para manter a aparência de controlo.
—É desolador pensar que a vida de Cristina possa ter sido tirada tão facilmente—murmurou ele, a tristeza pesando em cada palavra. —Ela era uma pessoa extraordinária, e merecia muito mais.
Os dias se passaram com uma bala atravessada e um nó na garganta, enquanto eu lutava com uma decisão difícil. Tive que escolher entre ficar com a minha avó ou com o meu padrinho, após o falecimento da minha mãe. Meu padrinho me deu a responsabilidade de decidir com quem eu iria morar.
Aquela escolha pesava sobre mim, pois, embora o meu padrinho fosse o meu tutor legal, nem sempre tínhamos nos dado bem. No entanto, eu sabia que era a escolha que minha mãe teria feito. Afinal, ela o havia escolhido como meu padrinho e confiado nele para cuidar de mim.
Meu tio Burke também se ofereceu para ficar comigo, mas eu recusei. Não era porque eu não gostasse dele, ele é muito inteligente, mais inteligente do que o bobo do Shane. Mas eu sabia que minha mãe não iria gostar. Mesmo depois de morta, eu nunca iria contra a sua vontade.
— Irei morar com o meu padrinho, como foi decretado pela minha mãe e como a lei determina! — disse para a minha avó.
Eu queria chorar, mas não podia. Chorar é para fracos, e eu não sou fraca.
Era triste como eu, uma pré-adolescente, tinha que dar força a um homem de quarenta e poucos anos.
— Vamos, levante-se! Você tem um instituto para gerir. Sou eu quem perdeu a mãe e tenho ido à escola todos os dias. A Cristina Yang não ficaria feliz em ver você deitado na cama chorando. Recupere-se, padrinho!
— Ainda não tenho forças...
Aproximei-me dele, olhando-o nos olhos.
— Eu sei que é difícil, padrinho. Perder minha mãe foi devastador. Mas precisamos encontrar forças dentro de nós para seguir em frente. Cristina sempre foi uma mulher forte, e tenho certeza de que ela não gostaria de nos ver desmoronando. Vamos honrar a sua memória e continuar vivendo, enfrentando os desafios que surgirem. Já se passaram meses, e o tio Burke é quem assumiu os hospitais. Minha mãe ficaria com raiva se você desistisse assim.
Saltei em cima da cama, tentando puxá-lo para fora dela.
Ele se levanta e vai até ao WC, arrumando-se de forma aleatória.
— Terno e gravata, você é um homem ou um bicho? Você está em frente aos meus bens, então honre isso. — digo. — Eu vou com você na sua posse.
Hoje, eu faltei à escola. Cumprimentamos Francesca, que nos entregou as chaves do escritório da minha mãe. Proibi a entrada de todos no escritório, que pertencia à minha mãe, até que Shane estivesse pronto...
O rosto dele se enche de lágrimas ao entrar, e eu reviro os olhos.
— Volto a perguntar, padrinho, você é um homem ou um bicho?
Sorrio para ele depois de arrumar tudo no seu novo escritório no escritório principal. Ele veste um jaleco branco e dirige-se à sala de reuniões.
— Bom dia, o meu nome é Dr. Shane Ross e sou o novo diretor-chefe do Instituto Klausman. Como todos sabem, a Dra. Yang tinha políticas muito rígidas que fazia questão de seguir, e eu não vou mudar nem uma linha do que ela criou e do que ela planeava criar. A nossa proximidade era enorme, e uma fatalidade levou-a de mim, mas ela deixou aqui o seu legado, e é isso que vou construir, com os ensinamentos que ela me deu. — Ele olha para mim e eu dou-lhe um sorriso singelo. — Porque se um dia uma fatalidade me levar, poderei entregar a verdadeira herdeira, a verdadeira obra construída!
Os chefes de departamento aplaudem, saímos juntos.
— Estás de parabéns, falaste muito bem. Fiquei admirada... Agora vou para a escola.
— Estou sem tempo para te levar. Almoçamos aqui...
Encaro-o.
— Eu sei apanhar um autocarro ou ir a pé, são apenas 5 minutos daqui até à escola. Confia em mim!
Após eu encará-lo e dizer que iria para a escola sozinha, percebo uma expressão de preocupação e medo no rosto do Shane. Ele tenta disfarçar, mas os seus olhos revelam a apreensão que sente ao imaginar uma criança de apenas doze anos a ir sozinha pelo caminho até à escola.
— Eu sei que és corajosa e independente, mas mesmo assim, preocupo-me com a tua segurança. O mundo lá fora pode ser perigoso, e não quero que te aconteça alguma coisa. Já passaste por tanto, eu sei que precisas de crescer, mas tenho medo.
— Não sejas lamechas, eu sou capaz — respondo, tentando transmitir confiança e determinação.
Ele suspira, ainda visivelmente preocupado, mas parece aceitar a minha decisão.
— Está bem, vou confiar em ti. Mas por favor, tem cuidado e mantém-te atenta ao teu redor. Se precisares de alguma coisa, não hesites em ligar-me, percebeste?
— Combinado. Vou estar atenta e vou cuidar de mim. Não te preocupes.
Corro pelos corredores em alta velocidade, desesperada para chegar à escola a tempo. Minha mente está tão focada no tempo perdido que não percebo o homem que está subindo as escadas. Colidimos com força, quase nos derrubando.
Olho para cima e o choque toma conta de mim. É ele. É Raymond Reddington, o homem misterioso e perigoso com quem minha mãe tinha algum tipo de ligação. Ao vê-lo ali, a incerteza que tinha sobre minha paternidade se dissipa um pouco mais. Sinto um arrepio percorrer minha espinha ao reconhecê-lo. Seus olhos frios e penetrantes me fazem recuar, e meu coração dispara de medo. Ele é uma figura intimidante e imponente.
— Desculpe, eu... eu tenho que ir! — digo, quase num sussurro, tentando escapar do encontro o mais rápido possível.
Sem esperar por uma resposta, apresso-me a descer as escadas e afastar-me. Não sei o motivo pelo qual minha mãe teve alguma relação com ele, mas sempre senti uma certa tensão quando o assunto era Reddington. Agora, com esse encontro repentino, sinto-me ainda mais convencida de que é melhor ficar longe dele. Pelo menos até ser crescida o suficiente para conseguir aquilo que quero.
Meu coração bate forte enquanto procuro recuperar o fôlego e a calma. Sigo em frente, mantendo um olhar atento ao meu redor, com a certeza de que tenho que manter uma distância segura daquele homem enigmático. Mas ele irá pagar pela morte da minha mãe.
Shane Ross olha fixamente para Reddington, os seus olhos carregados de desconfiança e cautela. Ele cruza os braços sobre o peito e responde com uma voz firme.
- O que queres daqui? Não autorizo que entres sem permissão.
Reddington mantém a calma, a sua expressão impassível enquanto enfrenta a hostilidade de Shane.
- Padrinho Ross, compreendo a tua desconfiança e preocupação. No entanto, gostaria de conversar contigo sobre um assunto importante. Acredito que possamos encontrar um terreno comum para discutir os interesses da minha filha.
Shane solta um suspiro frustrado, mas decide ouvir o que Reddington tem a dizer.
- Muito bem, fala. Mas fica sabendo que estou de olho em cada palavra que sair da tua boca. A minha prioridade é proteger e cuidar da minha afilhada, não importa quem seja o pai biológico dela.
Reddington assente com seriedade, demonstrando respeito pela postura de Shane.
- Compreendo perfeitamente, e admiro a tua dedicação como padrinho. Eu também quero o melhor para ela. Lamento muito pela perda da tua amiga, da minha Cristina e mãe da minha filha. É uma tragédia que nos uniu de uma forma que não esperávamos. A minha vida não me permite assumi-la como pai, mas...
Reddington vai direto ao escritório de Shane.
Ele mantém o olhar fixo em Reddington, atento às palavras do homem misterioso.
— Compreendo a tua situação, mas tenho de garantir a segurança e o bem-estar da minha afilhada acima de tudo. Não posso simplesmente confiar em alguém que apareceu repentinamente nas nossas vidas. Ainda há muitas perguntas sem resposta e incertezas a enfrentar. A minha amiga morreu e deixou-me responsável pela filha, e a polícia não tem respostas... Preciso perguntar: tens alguma coisa a ver com a morte da Cristina?
Reddington olha diretamente nos olhos de Shane, transmitindo sinceridade nas suas palavras.
— Não, eu amava a Cristina e faria tudo para trocar de lugar com ela. Não tive envolvimento na sua morte, posso garantir-te isso. Embora a nossa relação fosse complicada, nunca desejei mal a ela. Também estou à procura de respostas sobre o que aconteceu e estou disposto...
— Ela, apesar de ser como era, amava-te de uma maneira estranha, mas amava. - Shane começa a chorar.
Reddington observa as lágrimas de Shane e a sua expressão suaviza-se por um momento, revelando uma mistura de tristeza e empatia.
—Eu sei, Shane. A Cristina era uma pessoa única, e a ligação entre nós era complexa. Apesar das circunstâncias difíceis, ela significava muito para mim. Lamento profundamente a tua perda, assim como lamento pela minha própria dor. Sei que nada pode trazer a Cristina de volta, mas estou disposto a ajudar no que for necessário para encontrar justiça e respostas.
Shane tenta controlar as suas emoções e respira fundo antes de continuar.
— Só quero saber a verdade, Reddington. Quero entender o que aconteceu com ela, quem foi o responsável. Se realmente não tiveste envolvimento na morte dela, precisamos descobrir quem fez isso. A minha prioridade é proteger a Marie, garantir que ela cresça num ambiente seguro, já que não consegui salvar a Cristina desta vez...
Reddington assente, compreendendo a angústia e a determinação de Shane.
—Compreendo a tua busca pela verdade, Shane, e partilho dessa mesma vontade. É crucial descobrirmos quem foi o responsável pela morte da Cristina e levá-lo à justiça. Sei que não posso substituir a presença dela, mas estou disposto a ajudar a garantir a segurança e o futuro da Marie.
À medida que crescia, a raiva florescia dentro de mim como uma árvore selvagem, enraizada profundamente no meu ser. A cada estação, novos ramos de ressentimento surgiam, alimentados pelas memórias da minha mãe perdida. A raiva tornou-se minha constante companheira, obscurecendo o meu percurso até aos meus dezasseis anos.
Era como um vulcão em erupção, com chamas internas a iluminar o meu caminho, mas também a ameaçar consumir tudo à minha volta. As palavras de ternura e consolo eram como sementes a cair em solo estéril, incapazes de germinar sob a sombra do meu coração enfurecido.
Com o passar do tempo, transformei-me num oceano tempestuoso, agitado pelas ondas turbulentas da raiva. As minhas emoções rugiam como uma fúria incontrolável, naufragando qualquer tentativa de paz ou serenidade. Eu era o olho do furacão, uma força imparável que rasgava as margens da minha própria existência.
— há anos que não vimos este lugar, tens a certeza de que ficas bem a viver sozinha? Afinal, tens apenas 16 anos, princesa!
— Tenho. — entro na minha casa. — Por favor, não entres comigo, padrinho. Preciso de ficar sozinha com as minhas raízes...
Olho em volta, envolvida por aquele lugar que outrora foi um refúgio para a minha mãe e para mim. As paredes desgastadas carregam as histórias de um tempo em que a felicidade dançava entre os seus cômodos. No entanto, agora, resta apenas a solidão, a tristeza e a raiva que me consome.
Deito-me no chão e permito-me chorar pela primeira vez...
— Estás sozinha, Marie Yang! — digo em voz alta.
Estou sozinha, é verdade, mas não estou indefesa. Sou uma jovem que carrega o peso de uma herança tumultuada, mas também possuo a capacidade de transformar essa raiva em algo maior. Ergo-me do chão, hoje tenho 18 anos, a maioridade que tanto esperei.
Passo a passo, vou traçando o meu caminho, criando raízes firmes onde antes havia apenas dor. A raiva que me consumiu, agora, torna-se uma chama de determinação, a força que me impulsiona a lutar pelos meus sonhos e a encontrar o meu lugar no mundo.
— Olá, Tom Keen! — ele olha para mim com os seus olhos verdes que sempre me encantaram. — Ou terei que chamar-te de Jacob Phelps, o seu verdadeiro nome?
Obrigada a todos que tiveram nessa jornada comigo, principalmente a quem interpretou a Marie no RpG GrazysXGreys, AlineNunesDosSantos9 que acompanhou a jornada da escrita e a leitora que leu até ao fim e que acabou com raiva da autora 🤣 mas mesmo assim teria que agradecer que foi o motivo de não ter desistido da obra sensataalerquin .
Até uma próxima....
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