84- Capítulo Final
- Marie, rápido! - exclamo ao sair da casa de banho com o Shane.
Marie já estava na sala à nossa espera, de braços cruzados.
- Temos que chegar rápido ao aeroporto para apanhar o avião para Estocolmo. - digo nervosa, sentindo todos os olhares sobre mim.
- Relaxa, Yang, vamos conseguir! - diz Shane.
- Vocês é que demoraram muito lá em cima... - resmunga Marie, pegando na sua mala!
Chegamos ao aeroporto e a ansiedade pairava no ar. As malas estavam prontas e tínhamos nossos passaportes e bilhetes de avião em mãos. Caminhamos apressadamente em direção ao balcão de check-in, onde uma fila se formava.
Enquanto esperávamos nossa vez, trocamos olhares nervosos. Marie parecia impaciente, balançando a perna de um lado para o outro. Shane tentava acalmar os ânimos, lembrando-nos de que ainda tínhamos tempo suficiente.
Finalmente, chegou a nossa vez de fazer o check-in. Entregamos nossos documentos à atendente, que os examinou rapidamente e nos desejou um bom voo. Com os cartões de embarque em mãos, nos dirigimos para a área de segurança.
Um homem segurou o braço de Marie, e eu não havia percebido. Ela olhou surpresa para ele, enquanto eu e Shane nos viramos imediatamente para ver o que estava acontecendo.
- Marie? Dra. Cristina Yang? - perguntou ele.
- Sim, sou eu, e ela é minha mãe. E quem é você? - Marie respondeu, confusa.
O homem sorriu e estendeu a mão.
- Meu nome é Tommy Shelby, e queria que vocês mandassem cumprimentos ao Reddington. Sou um velho amigo dele. Acho que vamos fazer o mesmo voo.
Surpresa com a revelação do homem chamado Tommy Shelby e a menção ao Reddington, aperto a mão de Marie com firmeza.
- Prazer em conhecê-lo, mas não sei do que você está falando. Marie também parece confusa, mas curiosa com a menção ao Reddington.
- Reddington? Por que ele mandou cumprimentos a ele? - pergunta Marie, olhando para mim em busca de respostas, enquanto caminhamos rapidamente até Shane e entramos no avião.
- Ele é um doido, não ligue!
Chegamos ao hotel e peço a Marie para ir tomar um banho e se preparar, enquanto me afasto um pouco para fazer alguns telefonemas.
Com um semblante preocupado, pego o meu telemóvel e disquei o número de Reddington. Enquanto aguardo, minha ansiedade aumenta, e fico impaciente com cada toque.
Finalmente, ele atende.
- Reddington, sou eu, Cristina. Preciso falar contigo sobre algo urgente. Estamos a caminho de Estocolmo, mas aconteceu algo estranho no aeroporto. Um homem chamado Tommy Shelby mencionou o teu nome e mandou cumprimentos. Sabes de algo? Estou bastante preocupada. Hoje é um dia importante para mim.
Do outro lado do telefone, houve um silêncio momentâneo.
- Cristina, minha cara, é uma surpresa ouvir esse nome depois de tanto tempo. Tommy Shelby é um velho conhecido, mas não precisas te preocupar com ele. Ele é apenas uma figura peculiar. Concentra-te no que tens pela frente e, se algo mais acontecer, avisa-me.
Ele faz um aviso aos capangas para que preparem o jato para ir ter comigo a Estocolmo para não me preocupar.
- Outra coisa, Reddington, eu não sei como dizer isto... Eu acho que estou grávida. Quero acreditar que seja menopausa, mas... Bem, vou desligar. Tenho um prémio para ganhar, por favor, não vejas nada. Fico nervosa quando alguém importante me assiste, já basta a Marie.
- Espera, tens certeza de que estás grávida? - ele pergunta.
- Eu não sei, apenas acho. E mais uma coisa, estou super nervosa, mas quero dizer-te que te amo muito.
Mais silêncio envolto na ligação.
- Eu também te amo..
Uma onda de despedida invisível invadiu-me, envolvendo a minha mente com pensamentos de medo que se infiltraram em todas as fendas do meu ser. Era uma sensação familiar, que eu já tinha experimentado antes, quando a minha filha me foi cruelmente arrancada. Mas, neste momento, não havia espaço para me debruçar sobre essas memórias sombrias. Concentrei-me no presente, enquanto aplicava delicadamente um tom vibrante de batom nos meus lábios trémulos e vestia um vestido de gala resplandecente. Marie, a minha confidente de confiança, estava ao meu lado, irradiando beleza e graça.
Foi sempre ela que me apoiou e encorajou, e vê-la ao meu lado nesta ocasião importante, enquanto me preparava para receber o Nobel, encheu o meu coração com um profundo sentimento de gratidão.
Enquanto sorria calorosamente para Marie, a porta ecoou de repente com uma batida firme. O meu coração acelerou quando virei o olhar para a entrada e lá estava Shane, impecavelmente vestido com um fato que acentuava o seu charme rude.
-É hoje, Cristina!- exclamou ele com um misto de entusiasmo e segurança. Não pude deixar de me sentir mais uma vez sobrecarregada, com as lágrimas a brotarem nos meus olhos. Estava a acontecer tanta coisa ao mesmo tempo e as minhas emoções estavam ao rubro.
No entanto, sabia no meu coração que o Shane era mais do que um amigo para mim. Ele era a minha rocha, o meu pilar de força, a minha outra metade. Naquele momento, enquanto o abraçava com força, com as minhas lágrimas a misturarem-se com a estranheza dele, não pude deixar de lhe dizer o que sentia.
-Não és apenas meu amigo, Shane.-disse eu entre soluços-és a minha pessoa, a minha família, o meu marido, o meu irmão, o meu companheiro inabalável. Amo-te mais do que as palavras podem expressar, Shane Ross!
E com essas palavras, agarrei-me a ele com mais força, encontrando consolo no facto de não estar sozinha nesta viagem.
- Eu não estou a entender a conversa da minha mãe, faz ela parar de chorar padrinho! - Dizia Marie tentando dar-me lenços.
Chegamos ao local da cerimónia dos Prémios Nobel de Medicina, o prestigioso Konserthuset em Estocolmo. Ao sair do carro, sou recebida por uma equipa de segurança que verifica a minha identificação e me dá as boas-vindas.
O Konserthuset está maravilhosamente decorado para a ocasião, com deslumbrantes arranjos de flores a criar uma atmosfera de elegância e expectativa. Caminho pela entrada principal, onde um tapete vermelho me guia até à entrada do evento, enquanto flashes de câmaras capturam esse momento especial.
Sinto uma mistura de emoções ao entrar no Konserthuset. Estar aqui, como nomeada para o Prémio Nobel de Medicina, é uma honra indescritível e, ao mesmo tempo, sinto um nervosismo excitante. Todos os anos, a Academia Real das Ciências da Suécia reconhece e celebra as contribuições significativas na área da medicina, e estar entre esses laureados é um marco na minha carreira.
Um membro da equipa do Nobel conduz-nos a um local reservado, onde me preparo para a cerimónia enquanto Marie e Shane me acompanham com orgulho. Sentamo-nos nos nossos lugares designados, ansiosos pelo início da cerimónia.
À medida que as luzes se apagam e a cerimónia começa, o ambiente enche-se de expectativa. Os discursos inspiradores dos apresentadores destacam as realizações notáveis dos cientistas e pesquisadores no campo da medicina. Cada nomeado é anunciado com entusiasmo e aplausos da plateia.
A plateia enche-se de cientistas, médicos e jornalistas ansiosos, aguardando pelo anúncio do vencedor do Prémio Nobel da Medicina. No palco, encontra-se uma mesa com um púlpito e um envelope lacrado. Os membros do comité Nobel da medicina estão sentados numa mesa ao lado. A tensão é palpável no ar.
Inicia-se uma música suave.
- Senhoras e senhores, é com grande prazer que vos damos as boas-vindas ao Salão Nobre do Instituto Karolinska, aqui em Estocolmo, para o tão aguardado anúncio do vencedor do Prémio Nobel da Medicina de 2023. - A plateia aplaude entusiasmada. - O Prémio Nobel da Medicina é concedido anualmente àqueles que fizeram contribuições notáveis para o avanço da medicina e da saúde. Hoje, estamos aqui para honrar os indivíduos cujo trabalho revolucionário moldou o futuro da medicina.
A plateia fica em silêncio, aguardando ansiosamente.
- Agora, convido ao palco a secretária do comité Nobel da medicina, Dra. Karin Andersson, para anunciar o vencedor deste ano.
Dra. Karin Andersson dirige-se ao púlpito e abre o envelope lacrado.
- Boa tarde a todos. É uma honra estar aqui neste momento tão especial. Após um longo e cuidadoso processo de avaliação, o comité Nobel da medicina tem o prazer de anunciar que o Prémio Nobel da Medicina de 2023 é concedido à Dra. Cristina Yang! - Diz a Dra. Karin Andersson.
A plateia explode em aplausos e gritos.
- A Dra. Cristina Yang foi escolhida pela sua contribuição excecional para o campo da medicina. O seu trabalho pioneiro na implementação do primeiro coração artificial num indivíduo revolucionou a forma como tratamos as doenças cardíacas. A sua coragem, habilidade e dedicação salvarão inúmeras vidas e abrirão portas para novas possibilidades no campo da cardiologia. - Os aplausos continuam. - Parabenizamos calorosamente a Dra. Cristina Yang pela sua dedicação incansável e pela sua inestimável contribuição para o avanço da medicina.
Antes de subir ao palco, dirijo-me à minha filha, sentada na primeira fila. Ela olha para mim com um misto de orgulho e emoção. Trocamos um olhar cúmplice que expressa todo o amor e apoio que partilhamos.
Com um sorriso, abraço a Marie com ternura, permitindo que o momento de conexão e gratidão nos envolva. O abraço transmite uma mistura de sentimentos, desde o amor materno incondicional até a confiança e o orgulho que temos uma pela outra.
Sinto um calafrio percorrer a minha espinha, sabendo que a presença da Marie naquele momento especial torna tudo ainda mais significativo, afinal a Marie era a minha extensão, o meu coração fora do corpo, mesmo que eu não a quisesse. Já não via a vida sem ela.
Eu e a Dra. Karin Andersson encontramo-nos no palco, onde ela me entrega o prémio e me cumprimenta,
- Em nome do comité Nobel da medicina, gostaríamos de agradecer a todos os nomeados e aos investigadores que trabalham arduamente para melhorar a saúde e o bem-estar da humanidade. Os vossos esforços são uma inspiração para todos nós.
Aplausos ensurdecedores enchem o salão.
- Obrigada a todos por se juntarem a nós nesta celebração do conhecimento e do progresso médico. Que este Prémio Nobel inspire as novas gerações a continuarem a buscar soluções inovadoras para os desafios da medicina. Parabéns, Dra. Cristina Yang!
Enquanto me preparo para discursar, as emoções transbordam dentro de mim. As lágrimas começam a escorrer silenciosamente pelo meu rosto, testemunhas do turbilhão de sentimentos que me consomem. Sinto uma mistura intensa de gratidão, orgulho e uma inegável vulnerabilidade.
Enquanto abro a boca para começar a falar, um súbito impacto atravessa o meu peito. Uma dor aguda espalha-se por todo o meu corpo, e o meu discurso é interrompido por um gemido abafado. Os meus olhos arregalam-se de surpresa, enquanto sinto o meu coração a bater cada vez mais fraco.
Coração que me fez viver até aqui, coração esse que era o meu amor mais verdadeiro. Coração esse que pulsou com cada conquista, cada desafio superado e cada vida que pude salvar. É nele que residia a minha paixão pela medicina, pela ciência e pela possibilidade de fazer a diferença. Em cada batida, lembrava-me da responsabilidade que carregava, do propósito que me impulsionava.
Enquanto o meu corpo fraqueja e a consciência se esvai, penso nas vidas que toquei, nos pacientes que confiaram em mim, nos rostos de esperança que vi ao devolver a saúde e a alegria. Cada coração que bateu mais forte graças ao meu trabalho tornou-se parte da minha própria existência.
O meu corpo cai ao chão, envolto numa fraqueza crescente. Enquanto a vida se esvai, o meu olhar fixa-se no teto, que agora parece distante e indiferente à minha partida iminente. A dor física mistura-se à tristeza profunda, à sensação de deixar para trás tudo o que conheço e amo.
Os sons ao meu redor tornam-se abafados, como se uma cortina fosse lentamente fechada sobre o palco da minha existência. A minha respiração torna-se ofegante e irregular, ecoando o fim iminente. Enquanto os meus sentidos se entorpecem, vislumbro flashes da minha jornada, das pessoas que cruzaram o meu caminho, dos momentos de triunfo e desafio.
Vejo-me a entrar no Seattle Grace Hospital, a minha paixão emocionada a olhar para todo o bloco operatório com ajuda do Dr. Richard Webber até ao momento do meu triunfo, o meu tão sonhado Nobel.
— Mãeeeeee. — grita Marie, correndo pelos convidados aflitos.
Enquanto minha consciência se desvanece, consigo sentir a pressão das mãos de Marie sobre o ferimento, tentando desesperadamente impedir o sangramento. Seu rosto está embaçado, como se estivesse do outro lado de um véu, mas a sensação de seu toque é real.
Os gritos e a confusão ao meu redor se tornam distantes, abafados. É como se eu estivesse flutuando em um limbo entre a vida e a morte. Um calafrio percorre meu corpo, e meu coração, uma vez tão vital, agora está silencioso, e o meu fim foi marcado com um tiro certeiro no meu próprio coração.
Notas da autora: perdão a quem esperava um final feliz, mas nem todas as histórias tem um final feliz. Apesar de eu achar que a Yang morreria contente com um Nobel, haverá mais um capítulo como especial, e uma continuação de vida paralela, agora deixo a pergunta no ar: quem matou a Cristina?
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