79- Simplesmente Aconteceu - Daniel Casares
Marie não estava nada feliz e parecia um pouco autoritária para a idade que tinha. Mas a verdade é que ela ainda é muito nova para entender esses problemas de adultos. Por outro lado, Reddington estava chateado porque só era para voltar no dia seguinte.
— Foram dias complicados para ela. Não vale a pena ficares chateado, Reddington. Supostamente, vamos ter muito tempo juntos, não acha? — Eu me aproximo dele, que estava com a típica expressão de chateado, e dou-lhe um beijo. — Você vai demorar muito para voltar?
Reddington suspira e olha para mim.
— Infelizmente, sim. Eu tenho alguns assuntos para resolver em Nova Iorque antes de poder voltar a ver-te. Mas prometo que vou tentar encurtar minha estadia o máximo possível.
Eu concordo com a cabeça, entendendo a situação. Fico a pensar quanto tempo isso pode demorar. Um mês? Dois meses? Três meses? Não digo nada somente penso.
Enquanto Reddington explicava sua situação, eu olhava para o horizonte, pensando em como seria difícil ficar longe dele por tanto tempo. Nós tínhamos acabado de nos entender e já teríamos que passar por outra separação. Tento ser compreensiva ou, melhor, não ligar muito ao assunto.
— E ao telefone também haverá silêncio? — pergunto.
Reddington sorri, aliviado pela minha compreensão.
— Claro que não. Vou ligar para ti todos os dias, nem que seja só para ouvir a tua voz. E você também pode me ligar sempre que quiser, não hesite em me chamar se precisar de alguma coisa.
Agora tinha ficado chateada. Eu nunca tive o número dele. Ele só me deu o número do Dembe.
— Então tenho que ligar sempre para o Dembele?
Eu nunca sabia o nome do amigo dele.
— O nome dele é Dembe Zuma. Eu vou comprar um telemóvel só para falar contigo. Depois dou-te o número.
Eu assenti com a cabeça, e logo partimos para Zurique. Ele deixa-me à porta da casa de Shane.
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— Finalmente, Cristina, resolveu aparecer.
Sorrio para ele.
— Um dia teria de ser, não é verdade? Onde está a Marie? Ela disse que tem vergonha de mim.
Shane chama Marie para descer.
— Que baixaria, mãe. — ela puxa minha mão para irmos para casa. — Vamos conversar em casa.
Dou de ombros e sigo-a até o carro. O caminho até casa é feito em silêncio. Chegamos em casa e Marie vai direto para o seu quarto, visivelmente irritada comigo. Eu entendo que ela esteja passando por uma fase difícil, mas não posso permitir que ela me trate dessa forma.
— Marie, precisamos conversar. — digo, batendo na porta do quarto dela. — Não podes falar assim comigo. Eu entendo que estejas chateada, mas isso não te dá o direito de me tratares mal.
— Eu não estou a tratar mal mãe, só não entendo por que fizeste isso no próprio dia. Não podia ter sido uns dias antes? — diz Marie.
— Pelo menos ele não foi abandonado no altar, teve tempo para se preparar.
Eu entendo que possa parecer assim, Marie, mas a verdade é que eu precisava pensar bastante antes de tomar essa decisão. E a vida é minha! — fecho a porta atrás de mim.
Entendo que a situação seja difícil para ela, mas não posso permitir que ela me trate dessa forma. Mas ela sai do quarto sem dizer uma palavra, claramente ainda chateada. Sento-me na sala.
— Temos de arranjar uma babysitter. Yuna nunca mais voltará, então agora seremos só nós duas outra vez, e tenho toda uma pesquisa para organizar. — digo.
Marie sorri e pergunta-me:
— Está a correr bem? Já te consegues concentrar nela?
— Sim, felizmente, e hoje mesmo vou trabalhar mais um pouco!
Ela volta a sorrir, ela gostava desse tipo de coisas.
Durante o mês seguinte, consegui concentrar-me na minha pesquisa e cuidar da Marie. Contratei uma ama de confiança para nos ajudar enquanto trabalhava e as coisas começaram a acalmar entre nós.
Ela já não falava mais de Burke, mas numa das minhas saídas tardias, dei de caras com ele, vestido de fato e gravata, com uma rosa na mão. Por um momento, assustei-me e pensei que a rosa fosse para mim. Evitei olhar para Burke e continuei a andar, fingindo que não o vi. Mas ele veio atrás de mim.
— Cristina! — gritou ele.
Parei de andar e respirei fundo antes de me virar para encará-lo.
— O que queres, Burke? — perguntei, tentando manter a calma.
— Achas importante conversarmos, não achas? — perguntou.
Suspirei, sem saber ao certo o que ele queria falar comigo, mas decidi dar-lhe uma oportunidade.
— Tudo bem, podemos conversar. Mas não aqui. Vamos para um lugar mais tranquilo. — sugeri.
Levei-o de volta para o meu escritório e sentámo-nos à minha mesa.
— Então, o que queres conversar? — perguntei, olhando para ele.
Ele respirou fundo antes de falar.
— Acho que me deves uma explicação? — perguntou.
— Porque deveria?
— Eu sei que o que aconteceu foi uma surpresa para todos, mas achei que pelo menos merecia uma explicação do porquê de teres cancelado o casamento. Fiquei arrasado com tudo isto, Cristina. Não consigo entender por que fizeste isso.
— Há uns anos atrás, deste-me alguma explicação? — perguntei.
Burke ficou em silêncio por um momento antes de responder.
— Sei que errei no passado, mas achei que estávamos a superar isso e a seguir em frente. E agora, de repente, cancelaste o casamento sem dar uma explicação. Só quero entender, Cristina. Foi vingança ou algum homem?
Suspirei e olhei para ele. É difícil explicar a alguém que não conhece os nossos sentimentos e pensamentos mais profundos, mas decidi tentar.
— Burke, não cancelei o casamento por vingança ou por causa de outro homem. Simplesmente não estava feliz. Percebi que o casamento não era o que queria para a minha vida e não queria continuar num relacionamento infeliz. Sei que pode ter sido uma surpresa para ti, mas não podia casar contigo só para agradar os outros.
Burke pareceu surpreendido com a minha resposta, mas pareceu entender.
— Entendo. É difícil para mim aceitar, mas entendo. Só queria ter ouvido isso antes, sabes? Antes de cancelares o casamento.
Balancei a cabeça, entendendo o que ele queria dizer. Podia ter sido mais clara com ele antes, mas na altura não tinha certeza dos meus próprios sentimentos, estava tudo tão balançado.
Felizmente ele entendeu, só o que veio a seguir foi inusitado:
— Quando tenho o direito de ver a Marie? Criei e tratei como filha, acho que… — interrompo-o.
— A Marie não é sua filha, não tem direito algum sobre ela, aliás, ninguém tem além de mim! E quando eu morrer, o Shane, que sim tratou como filha desde que nasceu, é o único com direito. Você só apareceu quando ela tinha 5 anos e, não sendo pai legal nem biológico, o seu direito de estar com ela é nulo.
Burke parece surpreso com a minha resposta e fica em silêncio por alguns momentos antes de falar.
— Eu entendo que não tenho nenhum direito legal sobre a Marie, mas ainda me preocupo com ela. Eu a vi crescer e me importo com o bem-estar dela. Eu só queria saber se poderia passar algum tempo com ela de vez em quando.
Eu olho para ele, pensando no pedido. Não queria criar conflitos desnecessários, mas também precisava pensar no que seria melhor para a Marie.
— Apesar dos seus 10 anos, a Marie é quem escolhe quem quer na vida dela. Se for da vontade dela, claro que pode.
Burke pareceu refletir sobre as minhas palavras e, por fim, concordou.
— Entendo. Se um dia ela quiser me ver, estarei disponível. Obrigado pela conversa, Cristina.
Nos despedimos e ele saiu do meu escritório. Eu fiquei ali sentada, pensando no que tinha acabado de acontecer. Apesar da conversa ter sido tranquila, eu sabia que ainda havia muitos sentimentos não resolvidos entre nós. Mas, por enquanto, eu precisava focar na minha pesquisa.O resto, eu teria que lidar com o tempo.
Ainda estava a estranhar a rosa que ele tinha na mão, mas o meu escritório tinha uma vista ampla para a entrada e estacionamento do instituto, acabei por ver Burke a beijar Erica Hahn e a abrir a porta do carro.
Dei um sorriso sincero para aquela cena, algo que não imaginava vindo do Burke, e fiquei feliz por ele ter encontrado alguém. Apesar do passado conturbado entre nós, eu não tinha mais sentimentos românticos por ele e só queria vê-lo feliz.
Meu telemóvel tocou antes que eu conseguisse sair do escritório.
— Estou? — atendi. Era o Reddington.
— Minha querida e doce Cristina, como está? Queria alertar que o meu amigo irá buscá-la amanhã para levá-la a ver um lugar.
Voltei a fechar a porta e coloquei a mala em cima da minha secretária.
— Você está em Zurique? — perguntei, dando uma mordida nos lábios.
— Não, estou em Nova Iorque, mas ele irá buscá-la e mostrar. Depois falamos melhor ao telefone. Estou muito ocupado esses dias.
Fiquei um pouco desiludida.
— Tudo bem, Reddington. E quando é que vem fazer uma viagem pela Europa? — meu tom mudou para safadeza.
Reddington riu do outro lado da linha.
— Não se preocupe, minha querida. Eu irei visitá-la em breve. Agora, preciso desligar. Até mais.
— Espere, está a fugir de mim? — minha voz saiu como um sussurro. — Eu estou aqui tão sozinha e abandonada no escritório.
Reddington riu novamente.
— Você está acompanhada?! Para estar a sussurrar? — perguntou ele envergonhado. — Não estou a ouvir direito.
— Não, não estou acompanhada. Eu acho que é você que está acompanhado e está a ficar envergonhado, Reddington... Tem sorte que tem um oceano a separar-nos se não... Você nem imagina os sussurros que daria.
— Você está naqueles dias, Cristina? — perguntou ele num tom mais baixo, dando para ver que tinha mudado de lugar, realmente devia ter líbido aos berros, acabo por ficar constrangida com a pergunta do Reddington e dei um riso nervoso.
— E se estiver? — perguntei. — Tenho saudades.
Reddington riu novamente.
— Não se preocupe, não demora muito até estar aí, mas não me provoque muito, não ao telefone e a esta hora.
Eu ri com a resposta do Reddington e decidi encerrar a chamada antes que as coisas ficassem ainda mais ousadas.
— Tudo bem, Reddington. Vou deixá-lo. Preciso ir para casa. Beijos no pescoço. — Desliguei a chamada e guardei o telemóvel na minha mala. Suspirei e olhei para o relógio. Já era tarde e eu precisava ir para casa. Peguei a minha mala e saí do escritório, trancando a porta atrás de mim.
Continua…
"Às vezes, é nas coisas mais simples e inesperadas que encontramos a beleza da vida." - Autor desconhecido.
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