77- Amar pelos dois -Salvador Sobral
Reddington abriu a porta da grande casa e diz:
— Bem-vinda, Cristina.
— UAU, é linda! - exclamei enquanto admirava a vista deslumbrante do mar.
A paisagem era maravilhosa, com vista para o mar em todo o seu esplendor. Red explicou-me que estávamos na ponta da ilha. Fiquei perdida a olhar pela grande janela quando Reddington me segurou pela cintura e beijou o meu pescoço.
— Estás arrependida? - perguntou-me, enquanto me virava para ele.
Eu olhei no fundo dos seus olhos e, após uma pausa, sorri.
— Devia estar, né? - perguntei, dando-lhe um beijinho suave. - Mas não estou arrependida.
Reddington sorriu ao ver o meu sorriso e respondeu:
— Não, não devias estar. E fico feliz que não estejas.
— Mas talvez devesse ligar para casa para falar com alguém, sei lá... - disse, encostando a minha cabeça ao ombro dele. Reddington acariciou o meu cabelo enquanto respondia:
— Concordo. Nunca fugi de nada e não gosto de fugas. Sempre enfrentei tudo de frente. Mas, por favor, tens que ser honesta contigo mesma. Se estiveres arrependida de ter deixado o casamento para trás, diz-me agora... Não sou um homem iludido e não quero tornar-me um agora.
Dei uma pequena gargalhada com o que ele disse. Ele estava muito romântico, não era a imagem que tinha dele. Então, olhei no fundo dos seus olhos, mas as palavras não saíram. Sabia que não estava arrependida.
— Não, não estou arrependida - disse-lhe finalmente, com um sorriso suave. — Podes ficar descansado.
Reddington sorriu aliviado ao ouvir a minha resposta e deu-me um beijo suave na testa.
— Ótimo. Quero que estejas aqui porque queres, não porque sentes que deves. E se precisares falar com alguém em casa, eu entendo. Não quero que te sintas presa ou forçada a nada - disse ele, acariciando a minha bochecha.
— Obrigada, Red. Estou feliz por estar aqui - respondi, sentindo-me grata pela sua compreensão e apoio.
Ele sorriu e beijou-me suavemente nos lábios. Ficamos ali abraçados por um tempo, apreciando a vista da ilha e a tranquilidade do momento. Era estranho estar ali com ele, mas ao mesmo tempo parecia certo.
— Vou tomar um duche para depois fazer o jantar, porque se estiver à espera de ti, xmorro de fome - disse ele, e soltámos uma gargalhada.
Era tarde para ligar para Marie, então preferi ligar amanhã de manhã, mas tinha que falar com o Burke.
Entrei numa sala onde havia um piano de cauda e sentei no banco, olhando para o ecrã do telemóvel.
"Vá, Cristina, nada vai acontecer. Estás num país diferente e o Red é bom de armas. E através do telemóvel, o Burke não pode fazer nada." Burke não atende de imediato, tento duas vezes até ele atender.
— O que queres? Não chega o mal que me fizeste? — pergunta Burke do outro lado da linha.
— Eu sei que devo estar zangado contigo, mas precisamos conversar - respondo, tentando manter a calma.
— Conversar? Depois de tudo o que fizeste? Não tenho nada para te dizer - diz Burke, com raiva na voz. — Estás com quem deixaste por causa de outro homem ou para te vingares de mim?
Reviro os olhos e respondo já a perder a paciência:
— Não há outro homem e também não é vingança, simplesmente não quis casar e fugi para pensar.
Burke solta uma risada irónica e responde:
— Fugir para pensar? Parece-me que fugiste para te divertires com outro homem. Não me venhas com desculpas, Cristina. Magoaste-me profundamente.
Sinto a minha paciência esgotar e respondo, elevando um pouco o tom de voz:
— Não tenho que te dar explicações, Burke. Já te disse que não foi por causa de outra pessoa. E não adianta ficares a remoer o passado. Sou uma pessoa prática e decidi que o casamento não era o que eu queria para a minha vida. Ponto final.
Burke fica em silêncio por alguns segundos antes de responder:
— Sabes que isso não é justo. Eu amava-te e estava disposto a construir uma vida ao teu lado. Simplesmente jogaste tudo fora.
— E seria justo casar-me sem querer? — pergunto.
Burke suspira do outro lado da linha e responde com voz mais suave:
— Entendo que não querias casar sem estar totalmente comprometida, mas não precisavas ter fugido. Eu só queria uma explicação, Cristina. E agora, o que pretendes fazer?
— O que sempre fiz... — não acabo a conversa porque Reddington entra na sala após tomar banho e, ao telefone, ouço uma voz de mulher.
Ao ouvir a voz de uma mulher, a minha atenção é despertada e olho em volta para ver se há alguém na sala. Percebo que a voz vem do telefone de Burke e fico curiosa para saber quem é.
Soluço uma pequena gargalhada quando percebo que é a voz da Érica.
— Não precisas disfarçar, não tem mal nenhum — digo, olhando para Reddington e evitando rir do Burke.
Burke desliga o telefone sem dizer uma palavra. Reddington nota a minha expressão de surpresa e pergunta:
— Aconteceu algo de errado na ligação?
— Não, não é nada importante. Apenas uma ex-namorada do Burke - respondo, tentando não dar muita importância.
Ele beija-me e eu fico confusa porque foi uma reação tão repentina.
— Que foi, Reddington? — pergunto.
Reddington sorriu e respondeu:
— Nada. Pensei que pudesse ficar com ciúmes. Meus capangas descobriram que Burke está na casa da Érica, mas você sorriu de forma sincera.
— Não tenho motivo para ficar com ciúmes. Gosto de você! Se não fosse assim, já teria me casado. — Dei de ombros e olhei nos olhos dele. — Burke merece alguém que tenha os mesmos objetivos que ele.
Reddington sorriu de volta e me puxou para um abraço.
— Eu também gosto de você.
— Parece que alguém estava com medo de que eu fizesse uma cena de mulher traída. — Brinquei.
Reddington ficou sem saber o que responder. Sorri e continuei:
— Relaxa, Red. Eu confio em você. E também não sou ciumenta.
Ele sorriu e me beijou novamente.
— Mas gostaria de saber em que ponto estamos? — Perguntou ele.
— Onde estamos? Nos Açores? — Respondi com dúvida na pergunta.
Reddington riu da minha resposta e disse:
— Não, Cristina. Quero dizer, em que ponto estamos na nossa relação. Somos amigos? Namorados? Ficantes?
Fiquei um pouco sem jeito com a pergunta direta, mas tentei responder com sinceridade:
— Eu diria que somos mais do que amigos, mas ainda não definimos um rótulo para a nossa relação. Mas isso não me incomoda, estou feliz com o que temos agora.
Reddington concordou comigo, assentindo com a cabeça.
— Amigos com benefícios? — Perguntei.
— Amigos com benefícios? — Reddington franziu o rosto e desapontamento apareceu. — Você acha que sou um jovem de 18 anos que quer apenas uma noite de sexo de vez em quando?
Eu estava sendo simpática e não entendia o porquê de ele reagir assim. Ele levantou-se e foi para outro lado quando viu que fiquei olhando para ele sem entender o que estava acontecendo. Depois de alguns instantes em silêncio, saiu da sala de música e fui encontrá-lo na cozinha, onde ele estava colocando algo no forno.
— Desculpa se fui insensível, Red. Eu não quis te ofender. Só estava tentando entender onde estamos na nossa relação.
Reddington respirou fundo e olhou para mim.
— O que é para ti um amigo com benefícios?
Eu entendi que ele queria entender melhor o que eu quis dizer com "amigos com benefícios", então tentei explicar com mais clareza.
— E a quantos mais das esses "benefícios"? — ele voltou a perguntar.
— Quando eu disse "amigos com benefícios", eu quis dizer uma relação onde há uma atração física entre duas pessoas, mas não necessariamente um compromisso romântico. Não é algo casual de uma noite só, mas também não é um namoro sério. Quanto à sua pergunta, eu não dou esses "benefícios" a mais ninguém, Red.
Ele parou de mexer a comida e olhou-me nos olhos, parecendo ponderar minhas palavras. Depois de alguns segundos de silêncio, ele suspirou e respondeu:
— Eu não gosto de ti.
Fiquei surpresa com a resposta dele e meu coração afundou um pouco.
— Oh... Então, por que você tem se aproximado de mim assim? — perguntei, um pouco confusa.
Só não chorei para não parecer mal.
— Gostar é pouco, Cristina. Sabe qual é a diferença entre gostar e amar? — ele encarou-me.
Não sabia onde ele queria chegar, mas não me sentia confortável com isso. Ele primeiro disse que me amava e agora já não gostava de mim.
— Não sei, explica-me a diferença entre uma coisa e outra, e explica rápido porque eu já não estou suportando essa conversa.
Reddington pareceu um pouco irritado com minha resposta e me encarou por alguns segundos antes de falar.
— A diferença entre gostar e amar é enorme, Cristina. Gostar é uma palavra vaga, que pode significar muitas coisas diferentes para pessoas diferentes. Amar é algo mais profundo, que envolve um sentimento forte e duradouro. Eu não gosto de ti como uma amiga com benefícios, eu amo-te como uma pessoa especial em minha vida.
— Red... — arregalei os olhos enquanto ele brandia a colher de pau na mão.
— Nem Red, nem menos Red. Você tem uma filha minha, eu nem fiz nada na gravidez, sabe por quê?
— Não, eu não sei. Por que você não fez nada durante a gravidez? Porque era sua?
Ele pousou a colher de pau na bancada , respira fundo antes de continuar a falar, fixando os seus olhos em mim enquanto o observo com curiosidade e certa tristeza.
— Eu sei que fiz coisas erradas no passado, Cristina. Obrigá-la a operar o Tom e a Érica a fazer o aborto também. Mas nunca fui tão sincero com alguém como estou sendo agora contigo. Quando te conheci em Paris, senti algo que nunca havia sentido antes. Foi como se o mundo inteiro parasse de girar e só conseguisse pensar em ti. Não sabia o que fazer com esses sentimentos, então comecei a me aproximar de ti através da Érica. Mas logo percebi que ela não era a pessoa certa para mim, e tive de tomar uma decisão difícil.
Ele suspira novamente, visivelmente emocionado.
— Quando soube que estavas grávida, tudo mudou. Eu sabia que tinha de fazer algo para vos proteger, a ti e à nossa filha. Mas também sabia que não podia simplesmente aparecer do nada e assumir a responsabilidade. Então, decidi afastar-me, deixando que seguisses a tua vida sem a minha influência. Nunca quis controlar-te, Cristina. Apenas queria proteger-vos, mesmo que isso significasse ficar longe de ti.
As suas palavras atingem-me em cheio e sinto as lágrimas começando a acumular-se nos meus olhos. Reddington aproxima-se de mim, colocando uma mão no meu ombro.
— Eu sei que errei no passado, Cristina. Mas também sei que posso fazer as coisas certas agora. Quero amar-vos e cuidar de vós como merecem.
Olho para ele, ainda sentindo a emoção na sua voz. E, apesar de todas as coisas que fez, não posso negar que também sinto algo por ele. Um sentimento que começou em Paris e nunca realmente desapareceu.
— Eu... Eu não sei, Red. Ainda não sei se posso confiar em ti depois de tudo o que aconteceu.
Ele abaixa a cabeça, mas não solta o meu ombro.
— Eu entendo, Cristina. Sei que não podemos assumir nada formal, não quero perder-te e sei que vocês são alvos fáceis para os meus inimigos.
As suas palavras tocam-me profundamente e sinto que algo está a mudar dentro de mim. Talvez esteja pronta para perdoá-lo, ou melhor, acho que não sinto necessidade de o perdoar porque ele já assumiu a responsabilidade pelas suas ações.
Ele aproxima-se de mim:
— Eu só não grito ao mundo porque só de pensar que algo te possa acontecer, tenho medo que te tirem de mim. Mas não quero uma amizade colorida... — interrompo-o com um beijo.
— Amo-te — digo enquanto beijo.
Reddington corresponde ao beijo, envolvendo os seus braços em volta de mim. Por um momento, tudo o mais desaparece e só estamos nós dois. Quando finalmente nos separamos, ele olha nos meus olhos.
— Eu também te amo, Cristina. E não importa o que aconteça, vou sempre proteger-te a ti e à nossa filha.
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Contínua..
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