75- Sei lá- Bárbara Tinoco

Meu corpo tremia enquanto eu estava sentada na cadeira do escritório, e Shane tentava me acalmar.
— Calma, pense com calma. Você tem tempo. Se precisar chorar, chore. Mas não desista, por favor.
— Acho que é só stress, já vai passar. — digo limpando as lágrimas incontroláveis
— Tudo bem, Cristina. Mas não subestime seus sentimentos. Se não quer casar não casa e prontos .
Mais tarde, houve um tumulto em casa por conta dos preparativos, mas eu não me interessei em saber do que se tratava, só via flores e a minha mãe andando com elas.
— Vai sair? — perguntou Burke.
— Vou passear o Sr. Rodrigues, se não for eu a passear o cão, mais ninguém vai passear.
Burke parecia desconfiado, mas não disse nada. Eu peguei a trela do Sr. Rodrigues ele saltava de alegria e saí de casa, sentindo o ar fresco da noite em meu rosto. Enquanto caminhava com o cão, eu tentava me acalmar.
Estava incerta sobre o que fazer, mas, impulsivamente, peguei o telefone. Era a última chance de impedir o casamento, mesmo que o normal fosse falar com Burke e dizer que eu não queria, mas eu não tinha coragem.
Liguei para o Dembe, que por sinal atendeu logo.
— Cristina, tudo bem? — ele perguntou.
— Dembe, preciso de um favor teu. Podes ajudar-me? O Reddington está contigo?!
— Ele deve estar na sala. Queres falar com ele?
— Gostaria sim! — respondi. Dembe pediu-me para esperar, o que durou uns bons cinco minutos. Desconfiei que fosse de propósito.
— Minha doce e querida Cristina, o que posso fazer para ajudar? — Reddington disse ao atender o telefone.
Fiquei em silêncio por uns segundos, pois achava que estava a ser louca. Reddington percebeu a minha hesitação e encorajou-me a falar.
— Fala, Cristina.
— Daqui a três semanas vou casar-me.
— Já me disseste isso, e o que tenho a ver com isso? — perguntou ele com sarcasmo.
— Sequestra-me. — digo sem pensar muito.
— O quê? — Reddington exclamou, surpreso.
— Por favor, sequestra-me. Não quero casar-me, mas não tenho coragem de cancelar tudo. Não posso decepcionar as pessoas chegadas e os convidados. Por favor, ajuda-me a sair desta situação. — disse, com a voz trémula. — Disseste que me amavas, então prova.
Reddington ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder:
— Cristina, não posso simplesmente sequestrá-la. Isso é loucura. — ele engoliu em seco. — Eu não menti quando declarei os meus sentimentos por ti, mas essa não é a forma correta de lidar com este problema.
— Três semanas. — insisti.
O som de um bebé ao fundo interrompeu o silêncio e eu desliguei o telefone sem dizer mais nada. Talvez estivesse louca, mas estava disposta a tentar qualquer coisa para evitar o casamento.
Ele voltou a ligar-me, mas não atendi. Sentia-me envergonhada, não podia acreditar que fiz uma coisa tão maluca. Ou talvez estivesse à espera que alguém me salvasse.
Quando cheguei a casa, já estava conformada com a ideia de casar. Aceitar o meu destino era a única coisa que restava, eu simplesmente não tinha coragem de enfrentar a situação.
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— Porra, isto não está a resultar! — Digo enquanto dou pontapés na secretária do computador, fazendo o monitor cair.
A residente corre para chamar o Shane para que viesse ajudar.
— Cristina, o que se passa? — pergunta ele fechando a porta do laboratório.
— Não estou a conseguir acabar a pesquisa, vou casar-me em uma semana e não vou conseguir voltar a ser eu... Não vou conseguir... — repetia isso consecutivamente.
— Cristina, acalma-te. Respira fundo. — disse Shane, tentando acalmar-me. — O casamento está a afetar-te assim tanto?
— Não é só o casamento. É a ideia de mudar. De ter de me adaptar a uma nova vida. De deixar de ser a Cristina Yang que sempre fui. — respondi, sentindo o nó na garganta.
— Olha, Cristina, eu sei que pode ser assustador, mas o casamento não tem que mudar quem és. E tens um noivo que te ama e te apoia. — Shane tentou confortar-me.
— Mas não quero mudar. Gosto de quem sou. Amo a minha carreira, amo a minha vida. E agora vou ter que abdicar de tudo isso para me tornar a esposa de alguém? — exclamei, sentindo-me cada vez mais ansiosa.
Shane aproximou-se e segurou-me pelos ombros.
— Cristina, não precisas de abdicar de nada. Podes ser uma esposa e continuar a ser uma cirurgiã incrível. Não tens que escolher entre as duas coisas. — disse ele, olhando-me nos olhos.
Suspirei, sentindo uma pequena faísca de esperança.
— E quanto à pesquisa? — perguntou Shane.
— Não estou a conseguir concentrar-me. Tudo em que consigo pensar é no casamento. — respondi, sentindo-me um pouco envergonhada. — Porque não me travaste no dia em que esse namoro começou? Porque?
Shane suspirou e olhou para baixo antes de responder:
— Não sou teu dono, Cristina, sou teu amigo.
— E nunca te pedi para ser meu dono, Shane. Mas és meu amigo, e deverias ter-me travado antes de eu entrar nesse relacionamento. — respondi, sentindo-me um pouco irritada.
— Nem tentei, Cristina. Sabia que nunca me irias ouvir.
Respirei fundo, sentindo-me frustrada com a situação toda.
— Sei que não é fácil, Cristina. Mas, pelo amor de Deus, volta à realidade. Qual o problema da pesquisa? Vamos pensar juntos. — ele sorri.
Respirei fundo e tentei focar-me na pesquisa.
— Estou a tentar criar um novo protocolo de cirurgia cardíaca minimamente invasiva. E enquanto isso, estou a tentar criar um órgão artificial... — Suspiro.
— Parece que estás a trabalhar em dois projetos muito complexos ao mesmo tempo. Talvez seja melhor dividir a tarefa em partes menores para poderes focar-te em cada uma delas separadamente. — sugere Shane.
— Estes últimos meses tenho abusado do trabalho, para ser honesta — admiti.
— É verdade. Acho que estás sobrecarregada. Talvez seja melhor pedir ajuda em um dos projetos. — concordou Shane.— As dúvidas são normais, mas tu não queres casar... E falta apenas uma semana... — ele deu-me um beijo na testa. — Pensa, reflete e concentra-te em apenas uma coisa.
Ele sai da sala mas ainda desabafo alto : — vou pensar nisso amigo !
Eu enxuguei as lágrimas que caíam e percebi que hoje era o dia de experimentar o penteado para o casamento. Minha mãe e a mãe do Burke me acompanharam, mas Marie não quis ir, disse que seria chato.
Optei por um coque preso no alto da cabeça. Quando o cabeleireiro terminou, olhei-me no espelho e senti-me uma fraude, mas era o que tinha e só poderia aceitar o meu destino.
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— Mãe! — Gritou a Marie ao entrar. — Posso ficar aqui contigo? A avó quer levar-me para me arranjar na casa do tio Burke.
— Marie, eu gostava de ficar sozinha, mas podes pedir à avó para te levar ao Shane e depois vires buscar-me aqui, está bem? — respondi à minha filha.
— Ok, mas não vais fugir, pois não? Por favor! — disse ela olhando para mim. — Não me faças passar vergonha!
— Não vou fugir, Marie. Eu prometo. — respondi, tentando sorrir para a acalmar.
Ela suspirou e saiu da sala, provavelmente para telefonar à avó. Fiquei ali sentada, a olhar para os meus apontamentos, até ouvir a porta bater quando elas saíram.
Enquanto esperava pelo cabeleireiro, comecei a arranjar-me, mas senti alguém a entrar na entrada da casa. Desci as escadas para ver o que estava a acontecer:
— Juro que nunca raptei ninguém de forma tão pacífica! — disse Reddington ao entrar na minha casa. — Aliás, os meus raptos nunca acabam bem, minha querida e doce Cristina! — ele sorri com o seu sorriso característico.
Não pude deixar de sorrir para ele e cobrir o rosto com vergonha, sem chegar a descer as escadas.
— Tu vieste? — perguntei com vergonha.
— Fiquei surpreendido com a tua proposta, mas mal sei que precisas de mim, largo tudo o que estou a fazer e venho é o que dá ter um jato próprio. — ele pousa o chapéu no aparador a entrada.— Quem vai pagar o resgate?! — disse ele em tom de brincadeira.
— Tu?! — respondi com um sorriso malicioso, e ele subiu as escadas até chegar perto de mim e acabámos por nos beijar. — Eu disse que tu eras o meu vício e a minha perdição.
— Estava a ser difícil ver-te casar com outro. Vamos fazer isto crescer, não sei como, mas vamos Cristina... — disse ele enquanto me beijava.
— Amo-te. — ele voltou a beijar-me. — Nestes últimos meses ganhei a certeza, vi-me afundar lentamente e sempre a pensar em ti. — disse eu.
Reddington beijou-me novamente e eu corresponder.
— Eu também te amo, Cristina. — disse ele entre beijos. — Não suportaria ver-te casar com o Burke.
Eu suspirei e encostei a minha cabeça no ombro dele.
— Eu sei, Reddington. — disse eu. — Eu também não aguentaria casar com o Burke.
Ele acariciou o meu cabelo e beijou a minha testa.
— Vamos encontrar uma maneira de ficarmos juntos, Cristina. Eu prometo. — disse ele com determinação.
Eu sorri e beijei-o novamente. Nesse momento, não importava como ou quando, eu só queria estar com ele.
— Vamos, temos um jato à nossa espera. — disse Reddington enquanto me beijava.
— Vamos. — disse eu. — A Marie fica com o padrinho, mas só podemos ir por três dias.
— Combinado. — disse Reddington. — Vamos aproveitar ao máximo esses três dias.
Ele pegou na minha mão e saímos juntos da minha casa.
Continua…
"Eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo
Mas no fim o que sobra de mim
E tu dizes coisas belas, histórias de telenovelas
Mas no fim tiras mais um pouco de mim
Então força leva mais um bocado
Que eu não vou a nenhum lado
Leva todo o bom que há em mim
Que eu não fujo, eu prometo, eu perdoo e eu esqueço
Mas no fim o que sobra de mim"
Bárbara Tinoco
Notas da autora: sim na reta final optei por música portuguesa, motivada pelo próximo capítulo.
Minha mãe sempre dizia que a vingança era um prato que serve frio... Será que a Cristina vai ter coragem de abandonar o Burke no altar ?! Continuem a ler...
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