70- Love Stinks- The J. Geils Band
Reddington abre o seu casaco e tira o chapéu, colocando-os ao lado dele quando se senta ao lado da menina, que voltou a fazer os cálculos que tinha que fazer.
— Mas isso não deveria ser feito em casa? — pergunta ele, tentando conversar com ela. — Por isso se chama trabalho de casa!
— Que disparate! Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Este trabalho é para segunda-feira! E eu não tenho mais nada para fazer aqui, já que estou de castigo. Por isso, estou a aproveitar para fazer os trabalhos agora. — Ela arregala os olhos com surpresa. — Estou de castigo em todo o lado!
— Como assim? — pergunta Reddington, fingindo não entender.
— Ah, minha mãe me colocou de castigo em casa. Não posso nem ir à aula de pintura. Vou morrer de tédio. Tudo isso porque eu disse a verdade, mas minha mãe e padrasto não acreditaram em mim. Fazer o quê! — Ela suspira.
— O seu padrasto não tem autoridade sobre você. Ele é apenas o seu padrasto. Eles já se casaram? — pergunta Reddington, fingindo não saber.
— Na verdade, ele tem sim autoridade sobre mim. Minha mãe vai casar com ele e ele quer se tornar meu pai. — diz a pequena. — Mas eu não quero. Uma vez li em um livro que ter pai só traz aborrecimentos. Meu padrinho tem um livro na estante dele chamado "Pequenas Grandes Mentiras", de Liane Moriarty. Desde então, estou muito bem sem pai.
— por acaso nunca li esse livro ! — diz ele.
— Realmente, dramas pessoais podem ser bastante aborrecidos. — diz ela referindo-se ao livro. — Eu também não gosto de lidar com os problemas dos outros. Nesta escola, tudo parece ser muito dramático. Enfim, tenho que terminar isto, senão vou ficar de castigo até aos 20 anos! — responde Marie, voltando a sua atenção aos cálculos.
— E quanto à paternidade? A sua mãe concordou com isso? — pergunta Reddington, ignorando o resto da conversa.
— se a minha mãe concordou? — retruca Marie, com um tom desconfiado. — O que é que o senhor tem a ver com isso?
Reddington fica embaraçado com a rapidez dela a falar.
— Desculpe-me, Marie. Não quero intrometer-me na sua vida pessoal.
— Ela vai aceitar. A minha mãe é totalmente apaixonada por ele, acho eu. Eu nunca me apaixonei, eu só tenho 9 anos, mas é o que ela diz.
Reddington coça a cabeça, sem saber como prosseguir a conversa.
— Entendo. Espero que tudo dê certo para a tua família. E se precisares de ajuda com os estudos, pode contar comigo. — diz Reddington, tentando mudar de assunto.
Marie olha para ele com um olhar desconfiado, mas depois volta a sua atenção para os cálculos.
— Eu não preciso de ajuda, mas obrigada mesmo assim. — responde ela, com um sorriso tímido. — Eu só queria que a Roth desaparecesse da escola, mas acho que ninguém pode me ajudar...
Reddington sorri e balança a cabeça, concordando. Marie insiste na conversa do bullying.
— Porque ela está a criar mau ambiente em minha casa. Odeio quando a minha mãe fica zangada comigo, ainda por cima... — Marie começa a fazer o mesmo exercício do choro que aprendeu anteriormente.
Reddington fica atrapalhado ao ver Marie a chorar.
— Só faltava mesmo isto, depois de ter sido raptada, mudam-me de escola e agora sou maltratada. Não sei como não vou precisar de psicólogo…
"Parece que esta miúda quer testar-me", pensava Reddington. Ele já estava habituado a lidar com situações difíceis, mas não queria desiludir a criança.
— Pronto, pronto. — Ele tirou um pacote de lenços do bolso. — Não precisa chorar, eu resolvo essa situação!
— Vai dar um tiro nela? — perguntou Marie. — Como fez com o palhaço?
Reddington ficou chocado com a pergunta de Marie e interrompeu-a imediatamente.
— Não, não, não! Claro que não vou fazer nada violento. Vou apenas resolver a situação!
— E como é que pensa resolver a situação sem a fazer desaparecer? — perguntou Marie.
— Existem outras formas de resolver problemas que não envolvem violência ou fazer alguém desaparecer. Podemos falar com a direção da escola, com os pais dela...
— Ah, isso não resolve! A minha mãe já falou com a direção e agora ela está do lado do diretor. — ela começou a soluçar de tanto chorar.
— Pare de chorar, que eu não gosto de ver crianças a chorar. — disse Reddington, aflito, mesmo sabendo que as lágrimas eram de crocodilo. — Além disso, chorar não resolve nada...
Ela limpou as lágrimas, já cansada de chorar.
— Bem, falta falar com o meu padrinho. Talvez ele resolva a situação com a Roth já que o senhor não consegue. — Ela começou a arrumar o material na mochila. — A minha mãe não quer que eu fale com você porque ela acha que você é um doente psiquiátrico. Bem, vou… — ele agarra o braço da Marie mal que ela se pôs de pé.
— Espere, pequenina... Eu ainda não terminei e não gosto que me virem as costas, que falta de educação!
Marie olhou para trás, surpreendida com o tom de voz de Reddington.
— Desculpe, eu não quis ser mal-educada. — disse ela, encolhendo os ombros.
— Eu resolvo isso mas sem tiros, ouviu? — Diz ele apontando o dedo para ela.
— Sim, eu entendi. — responde Marie, com uma expressão confusa. — Perfeito! Vê ali ao fundo aquela ruiva sardenta? — aponta Marie.
Reddington segue o olhar de Marie e vê a rapariga ruiva que ela está a apontar.
— Sim, estou a ver. O que tem ela? — pergunta ele.
— Aquela é a Roth, é feia, não é? — Diz Marie.
— Só está um pouco acima do peso, quando crescer ficará melhor. — Diz Reddington. — Ok, vou tratar disso. Que raio de educação está a tua mãe a dar-te?
— O que interessa? Ela é feia mesmo. Eu quase nasci ruiva... A minha mãe foi casada com um ruivo, sabia? — ela olha para Reddington com ar provocatório. — Consegue mesmo resolver a situação?
"Olha só esta criança a querer mexer com a minha estabilidade." — pensa Reddington e ignora a primeira parte do que ela diz.
— Eu consigo resolver tudo, meu bem!
— Confio em ti, senhor, não me decepcione ! — Ela pega na mochila e vai para dentro do edifício.
Reddington observa Marie se afastando e entra no carro, onde Dembe o espera. Enquanto o carro se afasta, Reddington tira o chapéu e suspira.
— Dembe, precisamos descobrir tudo o que pudermos sobre a família Roth. Quero saber tudo o que está acontecendo com eles, quem são seus aliados e inimigos, se tiverem! Na volta não tem nada! Enfim!
— Entendido, Red. Começarei imediatamente a coletar informações e a montar um perfil completo da família Roth — Respondeu Dembe — Mas quem são eles?
— Não faço ideia, mas a criança agrediu Marie, não posso permitir que isso volte a acontecer. — Diz Reddington dando um sorriso tímido.
— Não entendo, mas vou começar imediatamente a investigação e vou informá-lo assim que tivermos alguma informação útil. — Respondeu Dembe. — Mas isso é coisa de crianças.
— E antes de irmos para Boston, preciso falar com Hussain. — Reddington fica pensativo. — Preciso que ele resolva outro problema.
Dembe acena com a cabeça, compreendendo a preocupação de Reddington. Ele sabe que quando o chefe está determinado a resolver um problema, nada o impedirá.
— Que problema? — pergunta Dembe.
— Burke, o namorado da Cristina quer assumir a paternidade da minha filha... — Logo ele é interrompido.
— Red, qual é o problema? A menina precisa de um pai, já que você não assumiu.
Reddington olha para Dembe com um olhar sombrio.
— Não é tão simples assim, eu tenho sido um pai melhor à distância e eu não aceito que ele seja o pai. Se fosse o Shane, nem faria nada, mas esse aí, eu não quero!
— Entendo a sua preocupação, Red. Vou falar com Hussain e ver o que podemos fazer.
— É para nos livrarmos do Burke, e não quero um "vamos ver", é para fazer! — Diz ele exaltado enquanto Dembe conduz até a casa do Hussain.
Ao chegarem à casa de Hussain, eles são recebidos com um sorriso e um aperto de mão.
— Salam aleikum, Reddington. — cumprimenta Hussain.
— Aleikum salam, Hussain. Como está?
— Estou bem, graças a Deus. E você? O que o traz aqui? — pergunta Hussain.
— Tenho um problema que precisa ser resolvido. Burke, o namorado da Cristina, quer assumir a paternidade da minha filha. Preciso que você dê um xeque-mate nele, Hussain.
Hussain fica pensativo por um momento antes de responder.
— Reddington, você me garantiu que eu teria uma vida digna aqui e a Marie não está em perigo. Não posso me envolver em coisas ilegais.
— Eu sei, mas isso é algo muito simples. Preciso que você resolva isso para mim.
Dembe interrompe e chama Reddington à razão, percebendo que ele estava emocionalmente instável.
— Eu me encarrego disso, Hussain. Burke será assustado e saberá que não pode mexer com vocês.
— Não, não, não. Quero que desapareça com ele. É assim que se resolve assuntos. — insiste Reddington.
Hussain balança a cabeça em sinal de desaprovação.
— Eu não posso fazer isso, Reddington. Não posso arriscar minha vida e minha família por causa de um problema pessoal seu. Desculpe.
— Não peça desculpa, Abedul ficará feliz em saber onde você está, mas sabe que ele não é tão tolerante como eu. Aliás, Hussain, lembra-se de como o resgatei?
Hussain balança a cabeça em reconhecimento, sabendo que Reddington tem um histórico de ser implacável com aqueles que o traem.
— Red, eu disse que faria isso por você e por Hussain! — diz Dembe, tentando cortar o clima de tensão entre os dois.
Reddington respira fundo.
— Preciso que venha comigo para Boston, Dembe!
— Tenho o pai da menina Roth para investigar. Não farei nada de bom se for para Boston agora — responde Dembe.
Reddington concorda.
— Tudo bem, Dembe. Vamos manter o foco na investigação e descobrir tudo o que pudermos sobre a família Roth. E desapareça com aquela doninha fedorenta — diz Reddington.
Hussain levanta as sobrancelhas, surpreso com o apelido pejorativo de Reddington, e começa a rir.
— Red, isso parece um caso passional! — diz Hussain, enquanto Dembe faz gestos para ele se calar.
Reddington dá uma risada forçada e desvia o olhar.
— O que quer dizer com isso, Hussain? — pergunta em tom rude.
Dembe e Hussain se olham, percebendo a mudança de humor de Reddington, e tentam acalmar a situação.
— Não quis ofender, Red.
— Entendo que está com uma vida estável, mas por estar de olho na Marie, quando achar necessário, saia daqui e venha trabalhar para mim, entendeu? Dessa vez passa, mas não haverá próxima. Não volte a negar nada para mim, senão...
— Reddington, eu aprecio a oportunidade que me deu, mas não vou deixar minha vida aqui para trabalhar para você novamente — interrompe Hussain.
Reddington coloca o chapéu antes de sair.
— Só não sei se Abedul não irá gostar de saber onde você está. Por respeito à sua mãe, vou deixar para trás, mas também não irei protegê-lo mais. — Reddington sai da casa e Dembe vai atrás a casa .
Antes de entrar no carro que o levaria ao jato que iria viajar até Boston, Dembe agarra nele:
— Companheiro, acalme-se! Muito menos.
Dembe percebe o olhar de Reddington e dá um leve sorriso.
— Desculpa, amigo. Eu sei que às vezes posso ser um pouco intrometido.
Reddington suspira e acena com a cabeça.
— Não te preocupes, Dembe. Eu valorizo a tua opinião e ajuda.
Os dois homens entram no carro e partem em direção ao aeroporto. Reddington fica pensativo durante todo o trajeto, tentando colocar os seus pensamentos em ordem.
— Dembe, achas que estou a ser irracional em relação ao Burke?
— Não necessariamente, Red. Mas como tu próprio dizes, o amor pode ser uma fraqueza, e é preciso ter cuidado para não deixar que atrapalhe os teus objetivos.
Reddington suspira novamente.
— Eu sei. Tenho que lembrar que o meu objetivo principal é sempre a lista negra. Mas às vezes é difícil manter o foco.
Dembe assente.
— Tu amas e não aceitas... — diz Dembe.
— Não é uma questão de aceitar... — Reddington engole em seco. — Não quero falar sobre isso, companheiro. Podes resolver isso por mim?
— Sim... Já te disse que sim. — responde Dembe, entendendo o desconforto do amigo. — A Elizabeth deve ter ficado preocupada, porque perdeste o foco nela e na segurança dela...
— Concordo plenamente, Dembe. Preciso manter o meu foco na segurança dela e na minha, deixando as emoções de lado. Mas mesmo assim, tenho que resolver isso...
— Sim — responde Dembe, cansado. — Vou tratar primeiro da Roth e depois resolver a situação do amor da tua amada.
Reddington dá um sorriso irónico.
— Estás a brincar comigo, companheiro? — pergunta ele.
Dembe sorri de volta.
— Sempre a brincar, Red. Mas eu prometo que vou resolver essa situação com Burke.
— Faz isso. Qualquer novidade, avisa-me.
— Com certeza, Red.
Continua...
"O amor é um estado de falta, e quem tem amor está sempre buscando alguma coisa que lhe falta. Por isso, o amor nunca é completo. É sempre um amor incompleto, um amor em busca constante." - Fernando Pessoa
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