56- Home- Michael Bublé
— Bom dia, senhores! - disse eu, ao entrar na reunião semanal no instituto. - Peço desculpas pelo atraso.
— Não tem problema, Dra. Yang - disse um dos chefes de departamento enquanto eu procurava os papéis.
"Poxa, onde eu coloquei os papéis da reunião?" pensei, enquanto Francesca entra com eles na mão.
Agradeço a Francesca por mais uma vez salvar o dia.
— Senhores, esta semana tenho apenas uma mensagem para transmitir. Faleceu uma jovem de 37 anos devido a um choque anafilático provocado por uma alergia à aspirina, medicamento que lhe foi prescrito. O marido que a acompanhava na consulta afirmou que o médico não perguntou sobre alergias, o que é muito grave!
— Quem foi o responsável? - perguntou o Dr. Hanh, cruzando os braços. - Acho que ele deveria sofrer uma penalização.
— É óbvio que não vou revelar o nome. O assunto já foi tratado pelo nosso advogado. Chamei essa reunião apenas para que todos reforcem em suas equipes a importância de prestar atenção às alergias dos pacientes antes de prescrever qualquer medicação.
— Entendido, Dra. Yang. Vamos reforçar a importância de perguntar sobre alergias antes de prescrever medicamentos - disse outro chefe de departamento.
— Eu acho isso uma irresponsabilidade com a medicina continuar com um médico assim - argumentou Hanh.
Lá estava ela começando com esse tipo de conversa.
— Errar é humano! - eu disse.
— Mas isso não é um erro, é burrice - retrucou ela.
Vou para o meu andar e falo com a Francesca, que me interrompe com uma pergunta.
— Hoje vou sair à tarde, encaminhe todos os problemas para o Shane.
— Certo, Dra Yang. Algum motivo especial para sair mais cedo? - pergunta a Francesca, com um tom curioso.
Sinto um pouco de desconforto com a intromissão dela e respondo de forma um pouco mais firme.
— Sim, tenho um compromisso pessoal. — digo-lhe e arqueio uma sobrancelha. — Desde quando tenho que lhe dar satisfações da minha vida? Encaminhe os problemas para o Shane e não me incomode com perguntas pessoais.
Gosto da Francesca, mas às vezes ela consegue ser muito cusca. Hoje é o dia em que a Viviane vai fazer um aborto e pediu-me para ir com ela, já que o Burke está em Zurique e não pode estar presente nem saber de nada.
Odeio mentiras, ainda mais quando não são minhas. Visto o meu casaco e pego na minha mala.
— Entendeu tudo, Francesca? — pergunto, tentando manter a compostura.
— Sim, Dra Yang. Claro. — responde ela, um pouco sem jeito.
Vou até à garagem e recebo outra mensagem no telemóvel: "TIC TAC TIC TAC, o tempo está a passar. Já tomou uma decisão?" A raiva toma conta de mim e, sem pensar duas vezes, entro no meu carro e desfiro dois murros no volante, como se quisesse quebrá-lo em pedaços.
Conduzo até à clínica, combinámos encontrar-nos lá para que Burke não desconfie. Viviane pediu para esperar na sala de espera, ela não queria que eu estivesse presente. Ela parecia nervosa e os olhos mostravam que tinha chorado dias a fio.
— Viviane, não é mau ser mãe solteira. Se você tem dúvidas, não faça. — digo-lhe.
— O melhor para mim, nessa altura, é não ter filhos. Eu sou muito nova! E serei a vergonha da minha família se tiver um filho agora.
— Eu entendo a sua preocupação, Viviane. Mas lembre-se de que a decisão de ter ou não ter um filho é sua e não da sua família. E não há nada de vergonhoso em ser mãe solteira. Você é forte e corajosa o suficiente para enfrentar qualquer desafio que possa surgir, mas a decisão é sua! — dava para ver que ela não tinha muitas certezas.
— Eu já tomei a minha decisão. — Diz ela entrando para dentro da sala do procedimento.
Enquanto aguardava na sala de espera, o tempo parecia arrastar-se. Viviane estava lá dentro há algum tempo e eu comecei a ficar preocupada. O nervosismo tomou conta de mim e eu comecei a imaginar tudo o que poderia estar acontecendo. De repente, ouvi um barulho vindo da sala onde Viviane estava e percebi que algo não estava certo. O médico e as enfermeiras andavam a correr de um lado para o outro. Corri em direção à porta e a encontrei entreaberta. Quando olhei para dentro, vi Viviane deitada na maca, pálida e com uma expressão de dor no rosto.
Entre na sala visivelmente preocupada.
— Por favor, aguarde lá fora! — disse o médico responsável pelo procedimento de interrupção voluntária da gravidez.
— Sou médica, a Dra. Cristina Yang, e estou aqui para acompanhar a Viviane. O que está a acontecer?
— Ela está a ter uma hemorragia. Teremos de transferi-la para um hospital com bloco cirúrgico, aqui não consigo fazer nada. — respondeu o médico, claramente nervoso.
— Como aconteceu?
— Durante o procedimento, podem ocorrer complicações. Infelizmente, é uma possibilidade que sempre existe. Precisamos de a transferir o mais rapidamente possível.
— Isso é muita incompetência! A interrupção voluntária da gravidez é algo simples... Até eu, cardiologista, já fiz uma sem nada acontecer.
— Dra. Yang, a interrupção voluntária da gravidez pode ser um procedimento simples, mas como qualquer outro procedimento médico, existem riscos e complicações que podem ocorrer. Não podemos prever ou controlar todas as situações.
O médico responsável pelo aborto explicou que durante o procedimento de interrupção voluntária da gravidez, pode ocorrer uma lesão no colo do útero, o que pode levar a uma hemorragia. Infelizmente, parece que foi isso que aconteceu com Viviane. A hemorragia era grave e o médico não conseguia controlá-la. Percebendo a gravidade da situação, ele sugeriu que Viviane fosse transferida para um hospital com bloco cirúrgico, mas infelizmente, mesmo com a transferência, ela acabou por ter uma paragem cardíaca devido à perda de sangue e à falta de oxigenação adequada.
Nesse momento, a adrenalina tomou conta de mim e rapidamente comecei a fazer manobras de ressuscitação cardiopulmonar. O médico parecia não estar habituado a situações dessas. Pedi ajuda à enfermeira e mandei o médico sair e chamar uma ambulância para que Viviane chegasse rapidamente ao hospital de emergência.
— Como vou dizer ao Burke? — pensei em voz alta.
Após alguns minutos de ressuscitação, Viviane começou finalmente a recuperar a consciência. A ambulância chegou e ela foi levada às pressas para o hospital. Acompanhei-a durante todo o percurso, preocupada e tentando acalmá-la.
Mal chegamos ao hospital Viviane foi levada para a sala de reanimação, sala onde os casos graves são postos quando vem do exterior.
— Eu sou médica ! — Dizia a ele, quando ele me expulsava da sala.
— Você é acompanhante, aqui é acompanhante ! — dizia o médico oriental de cerca de 40 anos com óculos, olhou-me de forma arrogante e encarou-me com uma expressão fria. Parecia um nerd.
— Vocês são cirurgiões ? — perguntava mas ele só fechou a porta. — que idiota, vou esperar um pouco antes de ligar para o Burke. É melhor !
Fiquei inquieta do lado de fora, tentando controlar a minha ansiedade. Após alguns minutos, ele saiu da sala com uma expressão grave no rosto.
— Infelizmente, o estado da paciente é crítico. Ela foi avaliada pela equipa de cirurgia e precisa de ir agora mesmo para o bloco operatório — disse o médico, com um sorriso a tentar acalmar-me. — Quero deixar claro que não sou cirurgião, sou médico especialista em cuidados intensivos.
— Posso falar com o cirurgião responsável? — perguntei.
— Lamento, mas o cirurgião está ocupado com a paciente neste momento. Assim que possível, ele irá falar consigo. Por enquanto, peço que aguarde aqui na sala de espera — respondeu o médico enquanto se preparava para entrar na sala. De repente, voltou-se para mim e perguntou: — Quer um café ou uma água?
Fiquei um pouco confusa com a oferta, mas agradeci e recusei. O médico então entrou na sala, deixando-me sozinha na sala de espera.
Eu sabia tudo o que poderia ocorrer no bloco, mas ainda não sabia como contar ao Burke. Bati na porta da reanimação, mas como ninguém respondeu, decidi entrar.
— O que faz aqui? — perguntou o médico chato com um tom bipolar.
Ignorei a sua pergunta e olhei para o médico mais velho.
— O meu nome é Dra. Cristina Yang e sou cirurgiã cardiotorácica. Por isso, preciso de informações precisas sobre o estado de saúde da Viviane para informar o pai dela.
— Ela sofreu uma lesão no útero e está com uma hemorragia extensa. Vamos abrir para ver se consigo reparar os danos sem precisar remover o útero, mas há risco de isso ser necessário. — ele explicou, visivelmente preocupado.
— Entendi. Obrigada pelas informações, doutor. — agradeci, tentando manter a calma.
O médico assentiu e voltou a se concentrar em seus afazeres, e eu saí da sala de reanimação para esperar por notícias.
O médico intensivista me seguiu e começou a reclamar.
— Dra. Yang, não tem o direito de invadir a minha urgência.
— Não invadi. Entrei porque não obtive resposta ao bater na porta. E como cirurgiã e madrasta, tenho todo o direito de saber o estado de saúde da paciente. Agora, por favor, não tenho tempo para discutir com médicos de ego inflado. Com licença. — disse, enquanto pegava o telefone para ligar para o Burke.
— Eu não tenho ego inflado. Sou chefe da urgência e você é uma acompanhante igual às outras. — disse ele. — Já agora, sou o Dr. Anurak Chaiyapruk. Caso não goste da minha forma de trabalhar, faça queixa.
— Não é uma questão de gostar ou não, Dr. Chaiyapruk. É uma questão de respeito e comunicação clara entre a equipe médica e os familiares dos pacientes.
Ele ficou olhando para mim enquanto eu tentava falar com o Burke.
— Raios, ele não atende. — dei um suspiro.
»»——⍟——««»»——⍟——««»»—
Já havia passado meia hora desde que Viviane entrou no bloco cirúrgico, e eu havia ligado para o Burke diversas vezes, pedindo que ele viesse ao hospital para que pudesse falar com ele pessoalmente. Ele veio em passos apressados até a sala de espera, e pedi que me acompanhasse até o jardim do hospital, que já começava a escurecer.
— O que aconteceu, Cristina? — perguntou Burke, visivelmente preocupado.
— É a Viviane. Ela fez um aborto e tudo correu mal. Feriu o colo do útero e acabou tendo uma extensa hemorragia.
— Meu Deus, como ela está agora? — perguntou Burke.
— Ela está no bloco cirúrgico agora. Os médicos estão tentando reparar os danos sem remover o útero, mas há risco de isso ser necessário. A situação é muito delicada, Burke. Precisamos ter paciência e aguardar por notícias.
— Mas por que ela não me disse que estava grávida? — perguntou Burke, claramente aborrecido.
— Isso é algo que terá que perguntar a sua filha mais tarde. Agora, a prioridade é a saúde dela.
Eu não estava gostando nada da forma como Burke me olhava, dava para perceber que ele estava me acusando em seu íntimo.
— Eu te conheço, Cristina. Foi você que convenceu a Viviane a fazer isso. Ela foi criada com a ideia de que filho é uma benção, mesmo tendo 19 anos.
— Burke, eu jamais convenceria a Viviane a fazer algo que ela não quisesse. — disse, sem acreditar na situação em que estávamos.
Ele elevou o tom de voz:
— Isso é típico de você. Convenceu a minha filha a fazer isso! — disse, visivelmente irritado.
— Calma, já disse que não fiz nada disso. Você precisa acreditar em mim! — tentei argumentar.
Mas nunca tinha visto Burke assim, ele estava com tanta raiva que levantou a mão e me deu uma forte bofetada no rosto. O som ecoou pelo jardim do hospital, e eu fiquei chocada com sua reação.
— Como é possível bater numa mulher assim, seu canalha? — ouvi a voz do médico Anurak Chaiyapruk atrás de mim.
Continua...
"O amor pode transformar-se em fúria, alegria em tristeza, mas a violência nunca é a resposta." -
Walter Anderson
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro