40- The Silence- Alexandra Burke
Realmente, eu não estava pronta para assumir esse namoro, não porque não gostava dele, mas por tudo o que a minha vida tornou-se.
E se Reddington ataca-se o Burke? Ele disse que eu lhe pertencia, a verdade é que eu sou teimosa e gosto de brincar com o fogo.
— Eu penso que você tem que manter a calma, esse dia ia ter que chegar, e para ser honesto, eu julgo que não é bom ir com vocês… Nem acho isso normal — Fico amuada com Shane por negar um favor.
Francesca passa-me uma chamada internacional, era a mãe da Érica, que vinha para Zurique, Érica foi encontrada num beco toda ferida após ser agredida violentamente, a mãe queria que alguém pudesse ir ver como estava a filha, visto que ela não conhece ninguém aqui, desligo a chamada.
— Era a mãe da Érica.— fico meio pensativa quem iria agredir ela?— Vem para Zurique, mas devido aos temporais só consegue apanhar o voo daqui a dois dias, a Érica foi agredida violentamente e está no hospital. Eu não sou amiga dela, acredito que é que devia ir lá ver… — Shane encara-me, mas não tinha lógica ser eu a ir lá, eu detesto a Érica.
No meu pensamento só poderia ser o Reddington que se cansou dela e deu-lhe essa tareia, o meu coração palpita porque me assustei com essa sensação, e se ele fizer isso comigo?
— Eu posso ir sem problemas, mas acredito que nessa hora podia ser mais solidária com a mãe dela e com ela e ir você, é mulher e tem… — Shane para de falar.
— Tenho o quê?
— Ia dizer sensibilidade, mas lembrei-me que a sua sensibilidade é igual a de uma mula aos coices.— Aquilo deixou-me triste, eu não sou uma pessoa assim, simplesmente a Érica não é uma boa pessoa, nem uma pessoa do meu agrado.
— Obrigado Shane, a questão não é falta de sensibilidade, é que se a Érica levou uma tareia foi porque alguém a deu, você sabe com quem ela namora, não sabe? Ou preciso relembrar que ela anda a comer o pai da minha filha?! — “Desde quando me preocupo quem come quem?”— Preciso relembrar as ameaças que sofri? E tudo que vivo com ele? Ela que não brinque com o fogo! Eu brinquei e agora? Agora estou toda queimada! — Dava para notar que Shane não entendia a gravidade da minha vida e tudo que ela se tornou.
Sentia que ninguém entendia, por parte culpa a minha, não falo muito dos meus medos.
— Mas quem lhe garante que foi ele? — perguntava o Shane, já a tirar-me do sério.
— Quem me garante? A vida aborrecida da Érica, leva a querer que não tenha muitos amigos, ou inimigos interessados em ver ela numa cama do hospital. — Encosto-me a cadeira.— Ela é tão aborrecida que nem os possíveis inimigos querem saber dela!
— Vês? Porque digo ser insensível? Eu vou ver a Érica! — Ele sai da minha sala com raiva, acreditando que, eu sou um monstro.
Eu não sou um monstro, simplesmente, eu tenho que defender-me, não me envolver em brigas alheias, já basta tudo que passo, ou que irei passar por ter uma filha de um homem que não presta.
Essas dúvidas confundem-me porque eu não sinto medo quando ele está presente, isso é a coisa mais estranha que sentia, mas não havia certezas que tenha sido ele, então prefiro concentrar-me no trabalho e deixar Shane resolver as coisas da Érica.
Vou para casa, preciso de conforto, eu tenho pena de não poder expor, se o fizer poderei ter consequências graves, a minha filha só tem a mim mesma.
Olho o telemóvel a espera de alguma notícia do Shane, mas ele não diz nada.
Claro que ele não dizia nada, ele foi ter com a Érica, ele estava realmente preocupado com ela.
Isso deixa-me furiosa por dentro.
Shane entra no quarto onde Érica estava internada, ela aparentava vergonha, tapa a sua cara para que Shane não visse as marcas.
— a sua mãe está preocupada consigo. Eu vim ver-lhe! Sei que deve estar a sentir vergonha, mas eu estou aqui…
Não precisa ter medo de mim, Érica. Eu só quero ajudar.
— Você só veio para fazer bonita figura, ninguém se importa o que sinto.
— Érica, eu vim porque quis, não fui obrigado a nada. O que se passou? Talvez consiga ajudar. — Érica começa a chorar ao iniciar essa confissão.
Ela sempre se viu como uma mulher inteligente e imponderada, mas agora se sente abalada e triste. Shane pergunta:
— Raymond gritou comigo porque disse estar grávida. Eu tentei-lhe contar a “grande novidade”, mas ele não ficou contente. Ele gozou-me e disse que só tem duas filhas e que não quer os genes dele em mim. — Ela começa a soluçar com o choro.—Disse ter nojo de mim, e o homem que estava com ele ainda dava mais gargalhadas, esse mesmo homem mandou ele parar que já estava com pena da loira deslavada.
Shane não tinha essa ideia assim de Raymond, visto que ele a mim, é só uma questão de meter medo e ameaçar, nunca tentou fazer mal nem a mim, nem a nossa filha, também na minha gravidez, ele não apareceu nem tentou o aborto.
Shane estava chocado com a história de Érica. Isso não parecia ser o Raymondo que eu descrevia.
“É possível que Raymond realmente não gostasse de Érica e goste de Cristina?” Pensava o Shane enquanto acaricia o cabelo de Érica tentando deixar ela confortável, e ela continua.
— Ele chamou-me porca. Uma mulher deu-me uns comprimidos e outra mulher mais jovem me deu vários pontapés. Eles atiraram-me para dentro de uma carrinha e deixaram-me num beco imundo. Foi um sem-teto que chamou a polícia e a ambulância numa cabine telefónica enquanto eu via o sangue a correr pelas minhas pernas.—Shane tenta se controlar para evitar chorar, Shane sempre foi muito sensível, ri e chora com a mesma intensidade.
— Tirando os médicos, já falaste com alguém?
— A polícia esteve aqui e ficou com o nome dele, mas eu não sei de nada mais.
— Não precisa saber! Vai ficar tudo bem! A polícia irá resolver. Tem fé!
— Fé? Como posso ter fé? A minha gravidez acabou, e eu não sei se voltarei a estar grávida, eu já não sou nova! Eu já não confio em ninguém mais… Às duas relações que tive, onde me entreguei, de corpo e alma, arruinaram-me por dentro!
— Não Érica, não pode baixar os braços ainda vai aparecer alguém que valha a pena…— Ele dá um beijo na mão de Érica, que retira por se sentir invadida, ela nunca foi uma pessoa afável, mesmo que Shane tenta-se.
Shane dá espaço a Érica para pensar, porque vê que não foi bem-aceite o seu carinho, ele não conhece ela assim tão bem a ponto de saber como reagir, ele descansa quando vê que a polícia foi acionada, mas tinha a certeza que não ia acontecer nada ao agressor.
Ele espera ela dormir para vir para a minha casa, contar as últimas novidades.
Chega à casa e toca a campainha três vezes, como de costume. Sabendo ser ele, eu decido ignorá-lo e ele usa a chave que eu lhe havia dado anteriormente. Eu estava sentada no sofá, enquanto ouvia Marie falar sobre o seu dia. Ela parecia frustrada com o meu desinteresse e entusiasmo, mas eu não estava bem para ouvir uma criança falando. Ela vê Shane entrar e ele cumprimenta.
— Padrinho, tirei 100% na prova de alemão, mas minha mãe não parece estar interessada. Pelo menos pode fazer o que os adultos fazem quando têm uma criança prodígio? — Marie diz irritada comigo. Shane faz uma piada, batendo palmas, o que ela odeia. — Desta vez eu perdoo, porque fui eu que pedi!
— Parabéns, Marie, mais um 100% para a sua coleção. Já se tornou um hábito! Não é surpreendente… Marie revira os olhos e vai para o quarto batendo a porta, deixando-me sozinha com Shane. — O que houve com ela? Eu dei de ombros.
— Ela pensa que eu devo comemorar cada conquista dela, na escola, só porque sou a mãe dela. Já lhe disse que o único dever que tem é ser uma boa aluna.—Eu levantei-me do sofá e fui pegar uma dose de tequila. — Mas não mudemos de assunto. Eu não esqueci que foi ver Erica se esquecendo dos meus problemas.
— Cristina, por favor, pare, —diz Shane com firmeza. — Estou cansado dessas constantes preocupações que você tem. Não importa se Burke era casado, agora é viúvo, se ele quer namorar ou se quer apresentá-la às suas filhas. Essas são situações comuns e precisa aprender a lidar com elas. Eu entendo que tudo isso possa parecer precipitado e que a mãe dele seja difícil, mas essas coisas acontecem. Tenha paciência, será madrasta dessas crianças e precisa pensar nelas também.
— Shane pior são jovens com as hormonas aos saltos, sei que as filhas dele têm 18 anos, e ainda estou mais nervosa com isso.
— Não interessa, são filhas dele… ou termine logo esse namoro! Está chata com isso! Quer saber ou não o que se passou com a Érica?
Eu olho para Shane com curiosidade e apreensão. Sei que o que ele tem a dizer-me pode ser algo que eu não quero ouvir. Se a ligação de Reddington com a situação for confirmada, sei que a minha responsabilidade será enorme. Ele teria se envolvido com Érica para obter informações sobre a minha vida.
— Bem, estava correta — confirma, com uma expressão séria. — Foi Reddington. Ele ordenou a alguém que agredisse Érica, causando o aborto.
Fico sem palavras.
— Érica estava grávida? Do Reddington? — pergunto, sentindo o meu coração acelerar com o choque.
A ideia de Érica sendo mãe, especialmente de uma criança que poderia ser irmão de Marie, é demais para mim. Dou um gole no meu drink, tentando conter as emoções que ameaçam submergir-me.
— Não prestas atenção em mim — Shane resmunga com raiva. — Eu acabei de dizer que Reddington agrediu Érica. E só está preocupada com a gravidez? — Ele questiona, franzindo a testa.
— Claro que estou preocupada! Só fiquei surpresa por Érica ter engravidado… imaginar Marie com um irmãozinho da Érica é demais para mim. — faço uma careta ao lembrar. — Desculpe, é a bebida falando.
— Cristina! — Exclama, visivelmente perturbado com a minha resposta. — Você conhece o significado da palavra compaixão?
— Claro que conheço, mas será que Érica também a conhece? Não quero-me envolver em problemas que não são meus. Eu prefiro não arriscar, não é egoísmo, é sobrevivência. Se quer ajudar Érica, ajude-a, mas eu não vou-me envolver.— respondo, sem hesitação. Deixo escapar um pequeno suspiro, refletindo sobre o que acabei de dizer.
Shane estava frustrado por não conseguir fazer com que eu compreendesse a situação . Ele sabia que ela estava a enfrentar momentos difíceis e acreditava que eu deveria ser mais compreensiva e oferecer-lhe o apoio de que ela precisava, mas a verdade é que eu também passava momentos difíceis, e não é de agora, é desde que cheguei a Suíça!
— Provocar Reddington é como colocar a cabeça na boca de um leão—, eu disse, desabafando os meus pensamentos em voz alta.
— Você também gostaria de ser apoiada, —respondeu Shane com uma expressão de tristeza. — Você nem passou pela metade do que Érica está a passar. Ela foi agredida, obrigada a fazer um aborto...
— Eu também já tive uma arma apontada para mim, e fui raptada. — eu respondi, tentando sorrir.
— E acabou a dormir com ele—, exclamou Shane, frustrado. — Você não apoia Érica, mas eu vou apoiá-la. Se ela quiser, quando sair do hospital, pode ficar na minha casa.
— A casa é minha — respondi com um tom mais elevado. — Eu a comprei.
No entanto, sinto medo do que possa acontecer a Shane se ele ajudar Érica. Não quero perdê-lo e tenho medo das consequências, mas meu coração diz isso para que ele não se sinta obrigado.
— Você quer de volta? Lembro-lhe que coloquei a casa no meu nome! — Eu agarro os meus cabelos, já cansada de discutir com Shane.
— Claro que não quero ela de volta! Sabe o motivo pelo qual a dei. — Shane suspirou. — Só penso que você não se lembra. Preciso de você vivo e não morto, por favor, deixe Érica ir com a sua mãe para terra dela.
— Você quer que eu esteja vivo para não se sentir sozinha. Eu sou um escravo para você! — Shane semicerrou os olhos.
— Não, eu quero você viva porque gosto de você! — Quando me dou conta, já disse e fico envergonhada após dizer isso.
Ele arregalou os olhos ao olhar-me. Nunca havia dito algo assim antes.
— Isso foi profundo, Cristina! — ele abraçou-me e deu um beijo na testa.
— Gosto de você, idiota. Não preciso ficar a repetir isso o tempo todo. Mas espero que saiba disso, de alguma forma. — Respondi, com uma pitada de insegurança na minha voz.
Nesse momento, a porta da sala abriu-se e Marie entrou. Senti o meu rosto corar ao perceber que ela nos pegou num momento de intimidade. Ela parou abruptamente ao ver a cena e fixou os seus olhos em nós. A sua expressão era difícil de decifrar, mas um leve franzir de sobrancelhas sugeria desaprovação.
— O que está a acontecer aqui? — ela perguntou, com a voz estranhamente calma para uma criança de seis anos.
Eu e Shane afastamos-nos, constrangidos. Marie olhou-nos, com um ar de superioridade.
— São patéticos! — ela soltou, antes de se virar e sair da sala, deixando um silêncio pesado no ar.
Marie foi mal-educada connosco e eu sabia precisar resolver essa situação. Mas antes disso, tinha outra preocupação em mente.
— Marie sendo Marie, porque essa criança é assim, Cristina? Juro que a sua filha não parece nada com uma criança. — disse Shane, inconformado.
— Talvez seja parecida com o pai, sei lá! — falei num tom baixo, pois ela podia estar a ouvir a conversa. — Mas logo vou ter uma conversa séria com ela. Por enquanto, a minha preocupação é você e a mãe do Burke.
— A mãe do Burke? Relaxa, Cristina! — disse Shane, se afastando de mim.
— Eu sei que ela não gosta de mim devido ao meu passado com o Burke. Ela é uma pessoa difícil. E as filhas dele, será que vão-me aceitar como namorada do pai? — comentei, preocupada.
— Não se preocupe com isso agora. Vamos curtir o momento e depois enfrenta os problemas de frente. — aconselhou Shane, sorrindo.
Eu sabia que ele estava certo. Mas, no fundo, ainda tinha medo do que estava por vir.
Continua...
"Não é aceitável que uma mulher tenha que temer por sua segurança enquanto caminha sozinha à noite. Não é aceitável que a violência contra as mulheres e meninas seja uma questão normalizada. Vamos trabalhar juntos para acabar com isso." - Barack Obama.
Notas da autora : quem será pior o Reddington ou a mãe do Burke ? Os dois pesados na mesma balança não sei não. Mas acho que a Cristina tem mais medo da mãe do Burke 😂😶
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