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4- more than words- Extreme

Duas semanas após a viagem a Paris, tive uma reunião com alguns cardiologistas no instituto. Alguns deles não eram cirurgiões, mas o nosso instituto conta com uma vasta equipe de médicos.

— Bom dia - levantei-me da cadeira que me fazia sentir como uma rainha - Como sabem, iniciamos um novo estudo clínico e espero a colaboração de todos - falei, abrindo a porta da sala. O Dr. Shane Ross, residente, e a Dra. Samantha Stuart, interna, foram os escolhidos para trabalhar e apresentar o estudo! Liguei o projetor e passei a caneta para Samantha.

Quando ia sentar-me, lembrei-me de dizer:

— Ah! Apresento a Dra. investigadora Lara Müller, que irá trabalhar connosco! Precisamos de sangue novo. Sei que o Dr. Burke é fiel aos seus funcionários, mas eu sou fiel à ciência, que precisa de inovação constante! - Sentei-me, sabendo que seria criticada, mas mantive meu jeito seguro de ser! Shane iniciou a apresentação falando da importância do estudo da terapia regenerativa para pacientes com doença arterial coronária. Eu achava monótono e torcia para um bocejo não escapar, ele deveria ir direto ao assunto, mas enrolou-se junto com Samantha.

— Espero que entendam! - pensei um pouco alto. Uma mão cheia de perguntas dos médicos presentes apareceu, mas eles conseguiram responder a tudo. A reunião prolongou-se por mais uma hora.

— Bem, doutores, podem ir trabalhar que por hoje está terminado! - falei, arrumando os papéis para ir para a minha sala. Fiz sinal para o Shane me acompanhar e ajudar-me a carregar os dossiês.

— Correu bem, mas julgo que não foram muito diretos! - falei, entrando na sala com ele atrás de mim, e Francesca entrou a seguir com duas caixas pequenas na mão.

Uma caixa era quadrada, em tecido de veludo, tal qual uma caixa de joias, e outra mais pequenina e mais singela.

Pedi a Francesca para se retirar e continuei por horas a falar com o Shane, não abrindo aquilo de imediato. Acredito que há coisas que prefiro fazer sozinha.

Quando Shane saiu, olhei as caixas ao meu lado, franzindo a testa, observando com curiosidade e tocando nelas com certo cuidado. Logo abri a pequena fecho e lá estava um colar, fazendo-me lembrar a coleira que o Burke me deu em certa altura da minha vida, apesar de o colar não ser nada igual, remetia-me a essa lembrança.

— Que droga é isso? - perguntei a mim mesma, esperando alguma resposta divina.

Na outra caixa estava o meu colar todo quebrado. Não me lembro de tê-lo tirado à força; até pareceu-me ser proposital, mas a minha inocência não me levou por esse caminho. Um bilhete vinha escrito com uma letra que parecia desenhada.

"Cara Cristina, achei que o seu colar simplório não fazia jus à sua classe, tomei a liberdade de oferecer um novo. Não poderei colocá-lo em si, é algo que lamento profundamente! Atenciosamente, Raymond Reddington."

Fechei a caixa com violência e saí da minha sala à procura da Francesca.

— Francesca! - saí gritando sem confirmar se ela estava sentada no sítio do costume - Ah, está aqui. Quem trouxe essas caixas? - sabia quem tinha dado, mas não sabia como devolver.

—Dra. Yang, foi um estafeta, calculo!

—Mas não tem remetente?

— Não, foi assim que me entregaram. - Não lhe respondi, dei meia volta e entrei na minha sala outra vez, fechando a porta com força.

Quando cheguei a casa, arrumei aquilo num sítio não visível aos meus olhos, ficando guardado para quando tivesse a oportunidade de devolver. Não tinha a mínima intenção de usar aquilo, e nem sou pessoa que usa bugigangas.

Alguns meses passaram-se após aquele dia, o estudo estava avançar, os meus dias tavam a ser corridos, eu andava tão ocupada que nem tempo tinha para concentrar na minha saúde.

Eu tive uma falta de menstruação no mês anterior, mas fiz o teste de urina, mas deu negativo. Eu já estive grávida duas vezes, como não tinha sintomas nenhuns, calculei ser stress. Até que tive um pequeno sangramento, o que me descansou muito naquela hora. Eu não tinha uma vida sexual ativa, então parei o anticoncecional a uns meses atrás; a minha menstruação desregulou por completo.

Marquei uma revisão com o ginecologista. Eu ainda não fui ao médico na Suíça, não tinha tempo e não via necessidade como médica... Ah, todos sabem que um médico é o pior doente!

A hora marcada lá estava eu. Aquelas consultas incomodativas, ainda para mais tinha calhado um senhor de idade que me lembrava o meu padrasto.

Na hora da observação, após um grande interrogatório sobre a minha saúde e vida sexual, ele manda deitar-me na marquesa. Eu fiquei a olhar o teto, tentando descontrair enquanto ele põe o espéculo vaginal.

— Nunca mais inventam algo menos invasivo?! - falei para quebrar o silêncio que se fazia sentir, ele não era lá muito simpático. Eu própria não sou uma médica muito simpática, mas incomodava ele estar a observar-me tão profundamente a minha parte íntima.

— Aparentemente, está tudo bem, mas quero ainda fazer uma ultrassonografia transvaginal, para termos a certeza, pode ser?

— Sim, claro! - respondi contente por ele falar.

Após a introdução da sonda, volta o interrogatório sobre o teste negativo, se fiz mais que um teste. Eu respondi tudo que não. Já saturada, respondo.

Já saturada, respondo.

— Já disse-lhe, dr, eu fiz um teste deu negativo, perfeito! Passados três dias tive um sangramento e descansei, visto que já não tenho parceiro sexual e a minha menstruação, sem usar o anticoncecional, ficou desregulada então... - sou interrompida talvez pelo meu tom de voz mais rude. Ele vira o monitor para mim, mas mesmo assim eu não entendia onde ele queria chegar, parecia ter-me dado um ataque de burrice, eu já não era médica ali.

— Dra. Yang, não consegue ver no monitor? - eu faço sinal com a cabeça que não e ele continua - A Dra. está grávida. Fico parada a olhar para ele sem reação.

Ele disse que estava de 13 semanas e 3 dias, eu levanto em choque vestindo a roupa rapidamente, nem sei se me limpei ou não, e fico a ouvir aquele médico a falar, entrei em choque profundo sem conseguir falar, ele me dá uns livros e panfletos e sento-me na receção até conseguir arranjar coragem para ir para casa.


Continua...

"O que dói nesta vida não é o peso das escolhas que fizemos, é o das escolhas que não fizemos. É ter que conviver com a nostalgia do que não vivemos, do que não sentimos, do que poderia ter sido se a escolha tivesse sido outra."

Edna Frigato

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