8. Inside the house
Ele está aqui.
No andar de baixo. Dentro da minha casa.
Fecho a porta e encosto minha cabeça na madeira fria, conto até dez, porque não posso ter uma ereção agora. Não quando ele está tão próximo de mim.
Abro o guarda-roupa e procuro a peça que vem na minha mente. A camisa vinho, porque faz um bom contraste com minha pele e minhas tatuagens. Eu sei que ele gosta delas, eu o vi observá-las mais de uma vez.
Deixo os três botões abertos para que as tatuagens apareçam enquanto eu me movo. Visto a cueca e uma calça escura. No espelho, penteio meus cabelos com os dedos, deixando-os jogados para trás. Por fim, borrifo um pouco de perfume nos meus pulsos, que uso para passar no meu pescoço.
— Não estrague as coisas, Yoongi. — digo para meu reflexo no espelho e saio do quarto.
Passo pelo corredor e desço as escadas, meu coração martela violentamente no meu peito, mas controlo bem minhas emoções exteriores.
Ele está na sala, de costas para mim, as mãos estão escondidas no bolso. Taehyung observa os bonecos que estão na estante. Tusso para que ele saiba que estou chegando, como resultado, o homem vira e sorri envergonhado. Ele aponta para os bonecos na estante.
— Você tem filhos? — pergunta. Em resposta, olho para os bonecos e coloco minhas mãos no bolso.
— Não, na verdade, eles são meus. — dou um meio sorriso.
— Ah! Você gosta de bonecos? — ele se afasta um pouco da estante, pelo jeito como se inclina parece estar com medo de quebrar algo. — Coleção?
— Sim e sim, — caminho até parar ao lado dele, mantendo uma distância que não o deixe desconfortável, meu coração bate tão forte que temo que ele possa ouvir. Arrumo um boneco tentando parecer casual. — coleciono bonecos desde a minha infância. — sorrio rápido para ele.
— Uau! — ele arregala um pouco os olhos. — Acho que eu faria o mesmo, mas nunca ganhei bonecos quando era pequeno. — ele parece pensativo e noto que o tom de sua voz ficou baixo, quase triste.
— Seus pais não podiam pagar por um? — junto as sobrancelhas em uma feição inocente, porque sei que fará com que ele se sinta à vontade para falar.
— Na verdade, eles só não queiram mesmo. Livros de medicina, — ele olha pra mim e sorri, amargo. — era isso que eu ganhava quando era pequeno.
— Seus pais queriam que você fosse médico? — sinalizo para que me acompanhe enquanto mantenho ele falando.
— É a profissão deles, queriam que eu seguisse também. — ele suspira. — É por isso que eu odeio médicos.
Sorrio enquanto encho dois copos com suco de laranja. Mordo a parte interna da bochecha enquanto penso se revelo minha profissão, porque dizer em voz alta vai deixá-lo sem graça por ter feito essa confissão na minha frente. Por outro lado, ele vai sentir que deve recompensar essa atitude.
— Eu sou médico. — sorrio como quem pede desculpas. O efeito é o esperado, Taehyung arregala os olhos e abre a boca várias vezes na tentativa de consertar seu erro. Rio, para que ele se sinta menos mal.
— Desculpe, eu não estava falando de você... quer dizer... médicos são legais... salvam vidas... ótima profissão! — ele gagueja com as bochechas adoravelmente vermelhas.
— Está tudo bem, — empurro o copo pela mesa na direção dele enquanto o convido a sentar na cadeira. — também odeio médicos, mas só alguns em específico. — pisco um olho e ergo o copo em um brinde.
— Que vergonha. — ele sussurra apertando os olhos e tomando um gole do suco.
— Já que odeia médicos, imagino que você não seja um. — rio baixinho. — Com o que trabalha? — eu o vejo hesitar por alguns segundos.
— Sou pintor. — arquejo baixinho, eu sabia. — Pinto alguns quadros, sabe? — ele fala modestamente, mas há uma pequena ruga de felicidade no canto de seu lábio inferior, ou ele sabe que é bom, ou ele apenas tem orgulho do trabalho. Ou os dois. — Mas estou parado no momento, vou fazer um bico em um supermercado. — a ruga desaparece, ele não quer trabalhar nesse lugar.
— Então você é famoso? — mordo o interior da bochecha, isso pode ser um problema.
— Não, nada disso! — ele ri. — Minhas obras não são tão conhecidas assim, eu não estaria em uma casa verde musgo se fosse! — sorrio pra ele.
— Será que já vi alguma obra sua? — me inclino pra frente e olho pro teto enquanto finjo pensar.
— Como eu disse, não sou famoso, você não deve ter visto. — ele toma um gole de suco, mas seus olhos estão fixos no meu pescoço. Ele quer falar da tatuagem do polvo. Mas não vai, porque não temos intimidade.
— Você fez uma boa escolha. — ele ergue uma sobrancelha e me encara. — Ter escolhido ser pintor ao invés de médico, o importante é fazer o que gostamos e somos bons, não é? - ele sorri lentamente e concorda.
— Que os meus pais não te ouçam! — ele junta as mãos em oração. Rio outra vez. — E os seus pais? Queriam que você fosse pintor, por isso se tornou médico? — gargalho, dessa vez ele me acompanha. Os pêlos do meu braço se arrepiam, ele tem uma risada bonita.
— Como adivinhou? — retruco tapando a boca e fingindo assombro. Estou apenas ganhando tempo, porque preciso de uma história que o comova, que nos dê algo em comum. — Minha mãe ficou feliz quando o filho do meio dela se tornou médico, acho que é o sonho secreto de toda progenitora. — suspiro e bebo o resto do suco. — Mas meu pai não ficou pra saber, acho que não valia a pena pra ele, sabe? — Taehyung abana a cabeça enquanto morde o lábio inferior. — Tento não me frustrar com isso. — não dou mais detalhes, se ele quiser saber, terá que perguntar, terá que manter contato.
— Sei como é lidar com isso. — e pronto, temos algo em comum. — Então você tem irmãos?
— Dois. — sorrio empolgado de verdade. — Min Seokjin e Min Namjoon. — somente quando o nome de Namjoon deixa minha boca é que percebo meu erro. Mas Taehyung não parece notar, porque ele apenas deposita o copo na mesa.
— Onde foi que ouvi esse nome? — prendo a respiração.
— Você é casado? — interrompo. A pergunta choca ele, exatamente como quero, porque não posso permitir que ele pense naquele nome.
— "O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia". — sorrio e ergo uma sobrancelha. — Acho que concordo com Da Vinci, casamentos não são escolhas fáceis, na verdade, são complicadas até demais. Então não, não sou casado, acho que não vou me casar nem tão cedo.
— Acho que também compartilho da ideia de Da Vinci. — sorrio.
Ficamos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. E eu sei que nosso encontro está chegando ao fim, porque quando ele voltar a falar, vai ser para dizer que já está de saída.
Não quero que ele vá, porque gosto da presença dele, mas sei que vamos nos encontrar mais vezes, ao menos eu tentarei fazer com que isso seja possível.
Enquanto isso não acontece, estudarei mais sobre ele, sobre seus gostos, talvez eu consiga achar alguma de suas obras na internet, ou quem sabe algum perfil social.
Pinturas artísticas, tatuagens, Leonardo da Vinci, são tópicos que moldam o homem a minha frente, são áreas que eu devo ter o conhecimento básico, porque se quero entrar no mundo dele, esse é o jeito.
— Preciso ir. — ele fala levantando da cadeira, faço o mesmo em seguida. — Obrigado pelo bolo novamente, estava realmente bom.
— Vou ficar convencido se continuar com os elogios. — coço a nuca. — Imagina só, largar a medicina e entrar pra culinária? Você está me dando umas ideias perigosas, Taehyung.
O homem ri e ergue as mãos em rendição.
— Até que não é má ideia! — sorrio e o acompanho até a porta. — Foi bom falar com você, é difícil pra mim tomar iniciativa em uma conversa, minha mãe diz que "eu tenho medo de gente". - ele faz aspas com os dedos.
— Então fico feliz por ter tomado a iniciativa, essa vizinhança não é tão amigável, na verdade, as pessoas parecem só sair de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, é um loop vicioso.
— Vidas cinzas. — ele murmura pra ele mesmo. — Boa noite. — vejo a mão dele balançar, acho que ele está pensando em estendê-la, mas não sabe se o gesto vai parecer exagerado.
Estendo minha mão primeiro enquanto sorrio.
— Boa noite. — ele aperta minha mão, faíscas eletrizantes percorrem meu braço. Antes que ele saia eu tenho uma ideia brilhante. — Espere um pouco! — entro em casa.
Em poucos segundos retorno com o boneco que ele olhava na estante, é uma edição antiga de alguma empresa que não deve existir mais. Mas está bem cuidado, tirando o fato da jaqueta vermelha do brinquedo estar um pouco descosturada.
— Aqui, — estendo o boneco. — seu primeiro, cuide bem dele.
De primeira ele apenas permanece olhando o brinquedo, vejo sua íris brilhar de felicidade. Taehyung segura o boneco com cuidado, o gesto me faz lembrar da primeira vez que ganhei meus primeiros bonecos. Os soldadinhos. Eles enfeitam o quarto de Jisoo agora.
— Eu... — ele olha pra mim e sorri. — tem certeza? — pergunta em um sussurro. Dou um passo para trás e seguro a maçaneta, por mais que eu queria dar dois passos para frente e segurar a mão dele.
— O nome dele é Suga, caso queira saber. — Taehyung aperta o boneco contra o peito, realmente parece uma criança.
— Vou cuidar bem do Suga. — ele recupera a voz firme e dá um passo para trás, seus olhos passam pela tatuagem no meu peito, depois pelo polvo no meu pescoço, por fim encontram meus olhos. — Obrigado, Yoongi-ssi.
— Me chame só de Yoongi, ok? — ele abre outro sorriso.
— Obrigado, Yoongi. — então eu o observo atravessar a rua.
Antes de fechar a porta, ele acena. Repito o gesto com um meio sorriso.
A porta se fecha, e meu coração finalmente para de bater tão forte.
***
Taehyung vendo vocês nos capítulos passados: "não abre a porta, não entra na casa":
Queria dizer que o feedback dessa fic está sendo muito bom, mó legal lê os comentários de vocês, então continuem assim e me façam feliz. Obrigada, de nada.
Até a próxima terça!💙
Beijinhos💙
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