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29. Cold

Se fosse possível, entretanto, gritar para o lado de dentro, era o que eu fazia. E o som era ensurdecedor.
- O rei fugitivo


O som de uma voz feminina é o que me faz acordar.

Ergo a cabeça e pisco os olhos lentamente tentando entender onde estou. O cômodo está parcialmente iluminado, uma luz amarelada vem de algum lugar e reflete em paredes rosadas. Há uma televisão ligada em algum comercial de jóias, é de onde vem a voz feminina. Tento erguer meu corpo e só então noto as algemas nos meus pulsos e tornozelos.

Minha respiração aumenta quando tento sacudir meu corpo para fora da cadeira de rodas. Então lembro das últimas horas que passei acordado. Lembro de estar em frente a ponte em que procuravam o corpo de Jungkook, lembro de voltar para a casa de... Yoongi.

Yoongi! Ele havia me chamado para dar uma volta, estávamos no carro quando paramos em frente a uma casa. Então ele me dopou. Yoongi, o cara que pensei conhecer e em quem acreditei. Yoongi, que não parecia em nada com o Yoongi quando me lançou aquele olhar no carro. Havia um brilho em seus olhos, diferente de qualquer expressão que já vi na minha vida.

Preciso sair daqui, não quero ficar para descobrir o que ele pretende fazer. Tenho tanta coisa pra fazer. Não posso ficar aqui. Não posso. Não quero.

Levanto a cabeça e só então noto uma sombra no sofá mais distante. Por um momento minha respiração falha achando se tratar de Yoongi, mas quando estreito os olhos percebo que não é ele.

— Ei. — sussurro. Sinto minha língua pesar. — Ei, você pode me ajudar?

O homem não responde, nem dá sinal de que ouviu o que eu disse. Estaria ele dormindo? Talvez ele também tenha sido dopado. Estaria machucado? Com medo? Ele não parece estar preso em nada, vejo que suas mãos estão apoiadas nas pernas. A televisão ilumina apenas o formato de seu rosto e não consigo ver muita coisa.

— Ei, cara. — tento de novo. — Por favor, me ajuda! Estou preso, por favor... me ajude com essas algemas!

Ele não se mexe.

Suor se acumula na minha testa. Inspiro fundo tentando me acalmar, mas um cheiro esquisito e azedo sobe pelo meu nariz. Tusso sentindo meus olhos arderem.

— Ah, meu deus. — murmuro tentando inutilmente forçar as algemas. — Ei, você está me ouvindo? — aumento minha voz mesmo temeroso de que Yoongi possa voltar. — Por favor, só me ajude... posso tirar você daqui!

Nenhum movimento por parte do homem do sofá.

Olho em volta procurando alguma coisa que possa me ajudar na sala, mas com as mãos e tornozelos algemados temo não conseguir fazer nada.

Quando empurro o corpo pra frente a cadeira se move um pouco. Olho para as rodas e, com cuidado para não forçar muito, empurro meu corpo novamente pra frente. Talvez se eu me aproximar do homem no sofá ele me ajude. Ou talvez não, talvez ele esteja com Yoongi também. Talvez esteja me vigiando. Um arrepio percorre meu corpo e me sinto tonto.

Mordo o lábio sentindo meus olhos encherem de lágrimas, minha respiração acelera novamente e meu coração bate veloz. Preciso sair daqui antes que Yoongi volte. Por que ele está fazendo isso? Como pude não desconfiar de nada? Mesmo agora quando repasso todos os momentos em que ficamos juntos não consigo achar nenhuma razão. Se ele queria me matar, por que não fez isso quando dormi na casa dele? O que ele estava esperando? Por que eu?

— Ei! — tento de novo me aproximando lentamente do rapaz no sofá. — Yoongi também te trouxe pra cá? — o cheiro azedo aumenta conforme me aproximo do sofá. — Não precisa ter medo de mim. — sussurro com a garganta seca. — Podemos sair daqui, podemos ir até uma delegacia! Vou te ajudar, ok? Meu nome é Taehyung, por favor, vamos nos ajudar.

Então eu paro.

O homem está acordado, mas seus olhos sem brilho estão vidrados na televisão. De olhos arregalados percebo que o cheiro vem dele. Ele não se move e mal respira.

Não.

Ele não está respirando.

— Mas que porra...

Minha voz some completamente.

O medo toma conta de cada espaço no meu corpo.

— Ah, meu deus.

As pálpebras do homem parecem coladas, e seu rosto parece estar descascando, como se ele estivesse derretendo. Seu pescoço e algumas partes de seu rosto carregam um tom acinzentado. Ele está morto. Meu deus, ele está morto.

— Não, não, não... — repito a palavra descontroladamente enquanto me afasto bruscamente do cadáver no sofá. A cadeira bate na parede da sala e eu grito com o susto.

Tento respirar mas não consigo, o ar que entra em meus pulmões não parece suficiente. A sala começa a rodar e minha visão embaça com as lágrimas. Não quero desmaiar. Não posso. Enterro minhas unhas na palma da mão e aperto até a dor me trazer de volta a realidade. Devagar, tento controlar minha respiração. Inspira. Expira. Inspira. Expira.

Engulo em seco enquanto tento organizar meus pensamentos. Preciso dar um jeito de soltar essas algemas, tem de haver alguma coisa que eu possa usar. Olho em volta pela sala, mas meus olhos param no cadáver do sofá, um medo doloroso toma conta do meu corpo, fazendo meus músculos pesarem e meu cérebro implorar para que eu apenas desista. Fecho minhas pálpebras com força e conto até dez.

— Tudo bem... tudo bem. — inspiro uma boa quantidade de ar e solto lentamente pela boca. — Um celular, preciso de um celular.

Dizer essas palavras em voz alta me ajuda de alguma forma a visualizar a ação. Preciso achar um celular ou um telefone e ligar para a polícia.

Tento escutar algum som, mas a casa está em um completo silêncio. Yoongi não deve estar aqui, ou então eu certamente ouviria. Em contrapartida, começo a imaginar Yoongi em silêncio em algum corredor, esperando nas sombras sem emitir nenhum som, adorando me torturar com minhas dúvidas em relação ao seu paradeiro. Um arrepio percorre meu corpo.

Agito a cabeça tentando afastar o pensamento e empurro meu corpo pra frente, a cadeira de rodas se move na direção que impulsionei. O barulho das rodas em contato com o chão faz com quê eu me encolha cada vez que ela se move. Saindo da sala há um corredor estreito, de um lado há uma porta, do outro um cômodo mal iluminado e uma escada antes dele. Empurro a cadeira até a porta, dando um encontrão com ela. Estico a mão para tentar alcançar a maçaneta, mas é inútil, mal posso movê-la com essa algema.

Antes que o desespero tome conta do meu corpo completamente, estico o pescoço e apoio meu queixo na maçaneta. As lágrimas deixam minha pele molhada e ela escorrega várias vezes da maçaneta antes que eu consiga empurrá-la para baixo. Mas como imaginei, a porta está trancada. Meu peito aperta com a possibilidade do fim da minha fuga, mas novamente me obrigo a pensar.

— Preciso tirar essa algema, depois quebro a maçaneta. — sussurro devagar enquanto controlo o pânico que insiste em dominar meu corpo.

Vou empurrando meu corpo na direção contrária até o cômodo do outro lado. Por um momento assustador quase viro a cadeira, mas ainda assim continuo. Dou uma olhada para o segundo andar da casa, mas só consigo ver uma porta fechada lá em cima. Espero que não haja nada importante naquela direção, porque não conseguirei subir se eu não me livrar das algemas.

Antes que eu entre no cômodo, sinto o cheiro azedo, dessa vez ainda mais forte. Minha mente conjura imagens horrorosas que possam explicar aquele odor. Sinto minha coragem diminuir consideravelmente ao me imaginar entrando naquele cômodo. É preciso alguns minutos para que eu empurre meu corpo naquela direção.

A cadeira de rodas desliza pelo chão do cômodo que logo noto ser uma cozinha. Prendo a respiração.

Há alguém em pé do outro lado da mesa.

— Ei.

A palavra sai da minha boca mais baixa do que um sussurro. O homem não se move, assim como aquele que estava no sofá. De onde estou só consigo ver sua camisa azul escura. Ele está em frente a um fogão. Mas não se mexe.

— Você... você pode me ouvir? — sussurro mesmo sabendo que não vou obter uma resposta.

Ele também está morto. Tenho certeza que está.

Empurro meu corpo pra frente outra vez, por mais que eu só queira correr e me esconder em algum lugar.

Um grito escapa da minha garganta quando vejo como o homem se mantém ereto. Seus pés estão mergulhados em uma caixa de cimento. O material cobre metade de suas canelas. Não apenas isso, o corpo meio envergado está apoiado no fogão. Correntes prendem seus braços fazendo com quê pareça que ele está segurando o cabo da panela em uma das mãos. A outra corrente desaparece atrás do fogão, provavelmente lhe dando sustento.

Meu estômago se revira com a cena doentia que se desenrola na minha frente. Que tipo de monstro faria algo desse tipo? Por quê?

Não ouso olhar para o rosto dele, imaginando que estará de modo semelhante ao homem no sofá. Ao invés disso olho para a mão dele que segura uma colher. Empurro meu corpo em direção as gavetas, novamente encontro dificuldade para abrí-las, dessa vez tendo que usar meus dentes.

Mas não há nada dentro delas. De nenhuma.

O odor do ambiente faz meus olhos arderem e uma dor desponta na minha cabeça, dificultando meu raciocínio. Não há nada nesse lugar que eu possa usar. Nada foi deixado, como se Yoongi soubesse que eu procuraria. Olho novamente para a mão do homem, o jeito como a colher parece estar colada em sua palma. Um arrepio percorre meu corpo quando percebo o que tenho que fazer. Eu preciso daquela colher.

Empurro meu corpo até a cadeira estar colada no corpo do homem. O cheiro parece ainda pior a essa distância, me deixando zonzo por um momento. A mão dele está na altura do meu rosto, o cabo da colher a poucos centímetros da minha boca. Prendo a respiração e mordo o cabo da colher, dou um puxão e nada acontece. As correntes tilintam com o movimento repentino. Engulo em seco e tento outra vez, dessa vez com mais força. A colher deixa a mão do homem com um som nauseante, como se um tecido tivesse sido rasgado ao meio. Minha respiração acelera quando vejo pedaços de pele grudados na colher.

Meu maxilar começa a tremer e por um momento quase derrubo a colher. Enterro minhas unhas na palma outra vez e me obrigo a continuar. Abaixo meu rosto até alcançar minha mão e pego a colher, apertando-a entre os dedos.

Empurro a cadeira para longe do corpo e com a colher tento bater na trave ao lado da algema. O gesto me faz lembrar do dia que Jungkook me prendeu na nossa casa da árvore. Na época ele estava obssecado por filmes policiais e havia comprado uma algema pela internet. Lembro de chorar para ele tirar o objeto do meu pulso, mas Jeon também chorava dizendo que tinha perdido a chave. Naquele dia eu pedi que ele chamasse algum adulto pra me ajudar, mas ele estava com medo da bronca que ia levar. Então, em alguns minutos assistindo vídeos Jungkook aprendeu como soltar uma algema. Precisava de um grampo, e não tínhamos nenhum. De alguma forma ele descobriu que só precisava empurrar a trave para abrí-la. Fiquei uma semana sem falar com ele.

A lembrança quase me faz rir enquanto solto a primeira algema. Coloco a colher entre as pernas e com a mão direita livre consigo empurrar a trave da outra algema. Com o coração martelando meu peito, inclino meu corpo para abrir as algemas dos meus pés.

Cambaleio para fora da cadeira e apanho a colher que caiu no chão.

Corro até a porta no corredor e bato com o cabo da colher na tranca da porta, mas a colher quebra rápido e deixa a maçaneta intacta.

— Droga, droga, droga... — jogo o resto da colher no chão e volto pelo corredor.

Estou prestes a subir a escada quando vejo uma porta por trás do corrimão. Meu coração acelera quando corro até ela e a  encontro aberta. As escadas para um porão surgem diante dos meus olhos, mas hesito. Esse é o último lugar que eu gostaria de entrar, por outro lado, posso achar alguma ferramenta útil lá embaixo. Desejando ter alguma coisa para me defender, piso no primeiro degrau. A madeira reclama ao ter que suportar meu peso, os degraus são iluminados com uma luz branca que está acesa em algum lugar lá embaixo. Engulo em seco e dou uma olhada para trás, a adrenalina desaparecendo e me acovardando.

— Vamos, Taehyung! — sussurro.

Desço os degraus com os punhos erguidos, como se eu fosse capaz de parar qualquer coisa que se esconde lá embaixo. Uma luz esbranquiçada ilumina a madeira sob meus pés. Só então noto que não estou vestindo as roupas com que cheguei, ao invés disso estou vestido com uma camisa branca e uma calça da mesma cor. Um tremor percorre meu corpo quando imagino o que Yoongi possa ter feito comigo enquanto eu estava apagado.

Há um pequeno armário empoeirado e vazio assim que acaba as escadas, apoiado em frente a ele vários baldes de tinta se encontram. O ambiente é dividido por uma cortina branca que revela pouca coisa do outro lado. Mas a sombra de uma cama com um corpo deitado e imóvel é inconfundível. Sinto meu corpo tremer quando dou um passo para trás, o medo me sufocando a cada respiração que dou. O ar úmido e com cheiro de mofo parece um veneno que entra em minhas veias acovardando cada célula do meu corpo.

Ainda assim, uma mão invisível de curiosidade me puxa vagarosamente até a cortina. Não quero saber o que tem do outro lado, mas ainda assim ergo meus dedos e seguro a cortina. Com a respiração soando alta naquele cômodo silencioso, puxo o tecido branco.

Sinto o sangue sumir do meu rosto e todas as minhas forças serem sugadas, fazendo com que eu caia de joelhos no chão empoeirado.

Jungkook está estirado na cama.

As últimas notícias a seu respeito inundam meu cérebro como um tsunami de informações. Seu carro encontrado capotado na ponte, seu desaparecimento, seu celular quebrado. Como ele pode estar aqui? Tudo não passou de uma mentira? Yoongi também trouxe Jungkook para cá? Há quanto tempo? Por quê?

Com alguma dificuldade levanto do chão, afasto as lágrimas que escorrem pelos meus olhos e me aproximo da cama. Ao contrário do que pensei, Jungkook não está morto, mas não parece muito longe disso. Seu rosto pálido está notoriamente mais magro, a respiração fraca mal move seu peito. Encosto a mão em sua testa mais quente do que o normal e uma lágrima pinga em sua pele, escorrendo pela sua bochecha como se fosse dele.

— Jungkook? — sussurro e o chacoalho. Um medo doentio de que ele não acorde parece corroer todo meu cérebro. — Jungkook? Consegue me ouvir?

As pálpebras de Jungkook se movem, como se ele estivesse lutando contra o sono. Não, certamente contra algum sedativo. Chamo meu amigo mais algumas vezes até que ele finalmente abre os olhos.

— Taehyung? — sua voz rouca soa. Ele franze a testa lentamente, como se não me reconhecesse. Seus olhos se fecham novamente e temo que ele volte a dormir.

— Jungkook, precisamos sair daqui. — sussurro desesperado.

Sem esperar resposta, me concentro em abrir as algemas que prendem suas mãos. O pulso de Jungkook tem uma aparência avermelhada e sanguinolenta, evidenciando que ele tentou soltar-se daquelas garras metálicas.

— Precisamos sair daqui antes que ele volte. — digo lançando olhares nervosos para a entrada do porão.

— Tae... — Jungkook sussurra fazendo esforço para se manter acordado. — você precisa sair daqui.

— Vamos sair juntos. — abro a primeira algema e corro para o outro lado da cama para soltar a outra.

— Tae, só... saia daqui. — o corpo de Jungkook começa a tremer quando afasto o lençol.

— Não vou sair daqui sem você. — murmuro em um misto de irritação e tristeza.

Retiro a última algema e ajudo Jungkook a sentar na cama, a cabeça dele cai de encontro ao meu ombro. Seus olhos estão avermelhados e secos, olheiras escuras se espalham em sua pele, lhe deixando com uma expressão cadavérica.

— Vamos, Jungkook! Precisa levantar! — sussurro agitado. Acho que ouvi algum ruído vindo lá de cima.

— Não sinto minhas pernas, Tae. — ele ergue os olhos até encontrar os meus. Vejo derrota e desespero em suas orbes, como se ele já tivesse aceitado o que está prestes a acontecer consigo. — Bonecos. — ele solta a palavra de repente. — É o que ele está fazendo... eu vi. Taehyung, precisa sair daqui antes que Yoongi volte.

— Não vou sem você, já disse. — com as mãos trêmulas passo um braço ao redor das costas de Jungkook e o outro por trás dos seus joelhos. Ao erguê-lo, me surpreendo com a facilidade que consigo fazer isso.

— Tem uma porta ali. — ele aponta com a cabeça para o canto do quarto.

— Fique acordado. — sussurro enquanto caminho até o lugar que Jungkook indicou.

Há uma porta de ferro depois de umas escadas de barro, imagino que esse seja um porão ao ar livre. Coloco Jungkook sentado em um dos degraus e tento abrir a porta, mas ela se encontra fechada. Com o ombro tento empurrar a porta, mas ela nem sequer se move.

— Não dá pra sair por aqui. — o desespero na minha voz vem em ondas. — Sabe onde está a chave? — seguro o queixo de Jungkook e o forço a olhar para mim. — Jungkook, sabe onde está a chave?

— Não... Yoongi sempre sai por ali. — Jungkook faz força para se ajeitar no degrau. — Deve estar com ele.

— Tudo bem. — pego Jungkook no colo outra vez. — Deve haver alguma janela no segundo andar, podemos sair por lá.

— Taehyung... escute. — os olhos de Jungkook se reviram nas órbitas antes de focarem em mim. Grandes gotas de suor brotam em sua testa, como se seu corpo estivesse trabalhando ao máximo para diminuir sua febre. — Estou só atrasando você, é melhor que...

— Cala a boca! — grito. — Não vou... não diga isso, ok? — tento acalmar minha respiração enquanto ando até as escadas que me trouxeram a esse lugar. — Vou tirar a gente daqui. — sussurro.

Jungkook não diz mais nada, a cabeça pendendo sobre meu peito. Aperto seu corpo contra o meu quando passo pela porta atrás do corrimão. A casa está em um perfeito silêncio. Quando percebo isso estaco no lugar.

A televisão foi desligada.

O medo em sua forma genuína parece se apossar do meu corpo. Minha respiração fica presa na garganta e não consigo me mover. Pressiono o corpo mole de Jungkook junto aos meus braços que tremem pelo esforço de segurá-lo. Um suor frio desce pela minha testa.

Devagar, coloco Jungkook no chão.

— Ele está aqui. — pressiono minha boca na orelha de Jungkook. — Precisa achar um jeito de sair.

— Não. — o sussurro de Jungkook é tão baixo que seus lábios mal se movem. Seus olhos estão fixos no meu, o horror transformando sua aparência completamente. — Não pode ir até ele.

As mãos de Jungkook se agarram ao colarinho da minha camisa com uma força que não pensei ser possível para alguém no estado dele.

— Deve haver uma janela lá em cima. — murmuro o mais baixo que posso. — Se arraste até lá. — seguro o queixo de Jungkook com força. — Precisa sair daqui e buscar ajuda, entendeu? Não pare. Não olhe pra trás.

— Taehyung...

— Eu amo você. — pressiono os lábios na testa de Jungkook. — Vá logo! — afasto bruscamente as mãos de Jungkook da minha camisa.

Não espero por uma resposta, devagar saio de detrás do corrimão. A porta continua fechada, mas os restos da colher quebrada não estão mais no chão.

— Você é cheio de surpresas, Taehyung. — Yoongi surge da cozinha.

Ele ainda usa o jaleco do hospital, não sei como pude achá-lo atraente, agora tudo que vejo é a imagem grotesca de um fantasma do passado. Um brilho prateado atrai minha atenção para sua mão direita. Ele segura firmemente uma faca. Filetes de sangue escorrem entre seus dedos, pingando na lâmina e formando uma pequena poça no chão.

— Como se soltou das algemas? — pergunta, o cenho se franzindo levemente.

Yoongi parece despreocupado, como se estivesse perguntando o que tem para o jantar.

— Por que? — é tudo que consigo falar.

— Nunca quis ter uma família perfeita? — ele pergunta dando um passo para frente. Dou um para trás. — Preciso de você, Taehyung. Do mesmo jeito que precisei do Seokjin, do Namjoon, do Hoseok, do Jimin, da Jisoo, da Jennie. Vamos ser felizes juntos, eu prometo. — ele abre os braços.

— Fique longe de mim. — dou um passo para trás.

— Jungkook está aqui. — ele sorri. Não é bonito vê-lo fazer isso. É um gesto quase puro, como se ele estivesse realmentente feliz em me contar aquilo, mas não achasse que suas palavras fossem problemáticas. — Mas você já sabe disso, não é? — ele retira uma seringa do bolso. — Venha até aqui e deixe que eu faça isso do modo mais indolor, não quero te machucar, não quero mexer em você.

— Não. — travo o maxilar e fecho as mãos em punhos.

— Não vão sair daqui, Taehyung. — a voz de Yoongi soa quase categórica. — Nem você, nem o Jung...

Corro a toda velocidade na direção de Yoongi, vejo a expressão de surpresa em seu rosto quando trombamos. Ouço o barulho metálico da faca ao bater no chão, escorregando para longe de suas mãos. Lanço meu corpo na direção do objeto, mas Yoongi puxa minha perna. Olho para trás a tempo de vê-lo erguer a seringa, mirando minha coxa. Uso minha outra perna para chutar sua mão, a seringa cai no chão com o gesto.

Pulo em cima de seu corpo e soco seu rosto com o máximo de força que consigo imprimir. Consigo dar mais alguns golpes antes que Yoongi consiga sair de debaixo de mim. Seu joelho encontra minha barriga me fazendo perder o ar. O homem monta em mim e coloca as duas mãos ao redor do meu pescoço, me sufocando com todo seu peso. Pontos negros passam a surgir em minha visão, com as mãos tento inutilmente afastar os dedos de Yoongi da minha garganta.

— Solta ele!

Yoongi ergue a cabeça no momento em que Jungkook enfia a faca em seu braço. O homem solta um grito e cai sobre minhas pernas. O peso de seus dedos somem da minha garganta. Tusso atordoado enquanto pisco meus olhos para fazer os pontos negros sumirem.

Mãos seguram meus ombros me puxando para trás. Jungkook. Jungkook tenta me levantar, seus dedos agarrando minha camisa desesperadamente. Encolho minhas pernas e cambaleio para levantar, segurando firmemente no ombro de Jeon quando o corredor ameaça girar.

Yoongi arranca a faca do braço com um grunhido. Seus olhos se fixam lentamente em mim, depois escorregam para Jungkook. O ódio em sua expressão é palpável. Entro na frente de Jeon enquanto o empurro para trás. Não há saída.

— Você escolheu o jeito mais doloroso, Tae. — Yoongi passa a faca para a mão direita.

— Tae... — Jungkook soluça.

Um alarme parece soar em meu cérebro, alto e doloroso. Meus músculos todos doem. Ainda consigo sentir os dedos de Yoongi pressionando minha garganta. Meus olhos seguem pelo corredor a procura de algo que possa nos ajudar.

Vejo a seringa caída próxima da cozinha.

É nossa última esperança.

Yoongi avança com passos rápidos na minha direção.

Empurro Jungkook para trás, ouço o som de seu corpo se chocar com o chão.

Desvio da primeira investida de Yoongi com a faca. Soco seu rosto, fazendo com que ele dê um passo bambo para trás.

O canto do corredor fica livre.

A seringa parece próxima.

Corro naquela direção.

Meus pés estacam.

Ouço o grito de Jungkook. Alto. Doloroso. Desesperado.

Uma dor cegante explode em meu corpo.

Olho para meu peito e vejo a mão de Yoongi, seus dedos se afastam e enxergo a faca enterrada até só restar a visão de seu cabo.

Não consigo me manter de pé, mas também não caio. Yoongi está me segurando, uma expressão quase triste em seu rosto, como se tivesse se esforçado para decorar as falas de um seminário, mas tivesse esquecido tudo no dia e tirado a nota mínima.

Tento falar alguma coisa, mas nenhuma frase chega a meu cérebro e me sinto muito cansado. A dor faz com quê eu contraia todo o corpo. Preciso sair daqui. Jungkook precisa sair daqui.

— Jungkook... — custa para a palavra sair da minha boca, ela vem junto com um jato de sangue que faz todo meu corpo tremer.

De repente meus olhos estão muito pesados, é difícil mantê-los abertos. O rosto de Jungkook surge na minha visão. Ele parece tão triste com aqueles olhos vermelhos e brilhantes. Suas lágrimas caem no meu rosto, mas não as sinto. Jeon encosta o rosto no meu, seu nariz pressionando minha bochecha. Veias saltam de sua testa e garganta, como se ele estivesse gritando, mas não ouço nenhum som. Não ouço nada. O corredor entra em desfoque, como se meus olhos fossem uma lente de câmera suja.

Novamente tento dizer alguma coisa, mas nada além de sangue deixa meus lábios. Fecho os olhos, porque não consigo mais mantê-los abertos.

Então sinto frio.

***

Epílogo no próximo capítulo!

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