21. The truth untold
❝Eu estou com medo
Eu sou patético
Tenho tanto medo
No final, você também me abandonará?
Então coloco uma máscara para te encontrar❞
- The truth untold, BTS
Peguei Jungkook me encarando de maneira estranha pela terceira vez naquela tarde. Atrás do caixa, passo os produtos do homem que se encontra na minha frente. Quando lhe devolvo o troco e ele finalmente vai embora deixando o caixa vazio - pelo menos até a próxima pessoa trazer suas compras para serem pagas - chamo Jungkook com a mão.
Meu amigo arrasta os pés na minha direção, as mãos no bolso enquanto seu cenho está franzido em concentração.
— Qual o problema? — pergunto, apoiando meus cotovelos no balcão.
— Quem disse que tô com problemas? — ele se defende, cruzando os braços e olhando para o corredor. Baekhyun segura uma cestinha enquanto caminha até o caixa.
— Eai, galera! — ele ergue a cesta e começa a descarregar os produtos. — Você por aqui? — ele olha pra Jungkook de cima a baixo. — Que bicho te mordeu, garoto?
— Sabe que posso te despedir, não sabe? — Jungkook faz uma careta horrenda e presunçosa.
— Não, não pode, bebê. — Baek lança um beijo para meu amigo, que dá de ombros.
— Então, vai me contar o que está acontecendo ou não? — pergunto enquanto passo os produtos do Baek.
— Tem certeza que o Yoongi é gay? — levanto os olhos rapidamente para encarar os de Jungkook, tenho que segurar a lata de ervilha que quase escorregou da minha mão.
— Por que está perguntando isso? — retruco, encarando meu amigo, confuso.
— É ou não é? Talvez bissexual, não? — ele insiste.
— Não sei, quer dizer, ele disse que era gay. O que isso tem a ver?
— Quem é Yoongi? — Baekhyun se inclina sobre o caixa deixando sua cabeça próxima a nossa. Seria péssimo se o pai de Jungkook aparecesse logo agora.
— Vizinho do Taehyung. — Jungkook faz um resumo rápido e grosseiro sobre eu querer pegar Yoongi. — É só que... você sabe, fazemos entregas para a maioria dos restaurantes de Daegu e... bem, o Marcos disse que minha mãe tinha dito que o meu pai tinha dito pra mim levar o estoque de alimentos do Korbe, sabe aquele restaurante perto da loja de discos? — aceno em concordância, ainda sem entender. — A contragosto, que fique claro, eu fui. Quando eu cheguei lá eu... — Jungkook morde o lábio inferior e se afasta.
— O quê? O que aconteceu? — pergunto, curioso e estressado pelo suspense.
— Ah, Big Boy, eu não deveria estar contando isso. Pode ser qualquer coisa, sabe? Não quero ser responsável por causar desconfiança e estragar as coisas. Melhor esquecer.
Jungkook começa a se afastar, mas seguro o capuz de seu moletom. Com uns passos errantes, ele volta para o lugar que estava.
— Conte logo, você começou, agora termine! — sussurro, irritado.
Jeon olha para Baekhyun implorando com os olhos que ele faça algo, mas seu ex-namorado dá de ombros, deixando na cara que não pretender fazer nada.
— Ah, eu vi... eu vi o Yoongi-ssi almoçando com uma mulher.
Não sei o que eu esperava que ele dissesse, mas senti meus lábios se curvando contra minha vontade. Jungkook tinha uma expressão tímida no rosto, o que era raro e interessante de se ver, mas não hoje, não depois do que ele disse. Eu não queria tomar atitudes precipitadas, até porque...
De repente eu rio, o som soa estranho nos meus ouvidos, e percebo que é uma risada dolorosa, do mesmo jeito que dei quando meu pai falou que eu estava estragando minha vida com besteiras.
— Tae... — Jungkook coloca a mão sobre a minha.
— Eu estou bem. — paro de rir e enxugo as lágrimas que caíram no processo. O engraçado é que não sei se elas estão aqui porque ri demais, ou porque realmente chorei. — Eu estou bem. — repito. Baek massageia meu ombro enquanto me encara de maneira preocupada. — Ela pode ser qualquer pessoa, não precisa ser... ser alguém que ele esteja saindo, sabe? Pode ser uma prima, não é? — Baekhyun balança a cabeça fervorosamente. — Viu? — olho para Jungkook, meu amigo me encara com... pena. — Além do mais, — ajeito a coluna e volto a passar os produtos do Baek. — não temos nada, certo? Não é como se estivéssimos juntos ou algo do tipo.
— Tae...
— Não temos nada, ele pode se encontrar com quem ele quiser. — interrompo, Jungkook.
— Desculpe por isso. — diz, Jeon. Dou de ombros, sem olhar para ele.
— Tenho que terminar aqui, tem gente esperando na fila. — comento, pegando o dinheiro que Baekhyun estende e abrindo a caixa registradora.
— Vou deixar você trabalhar, a gente se fala mais tarde? — aceno em concordância, ainda sem encará-lo.
Porque tenho medo que eu, um livro grifado com marca-texto fluorescente, entregue nas minhas expressões sentimentos que nem quero admitir para mim mesmo.
***
— Já disse que estou bem, dá pra parar de me encarar assim? — mordo um pedaço do picolé de côco.
Jungkook suspira e volta a morder seu picolé de chocolate. Apoio meu braço no carro enquanto observamos a rua iluminada pelos postes. Meus dedos doem de tanto teclar e tenho que admitir que minha vista está cansada depois de tentar ler os números da barra de código dos produtos que não passavam quando a maquineta falhava.
— Picolé no inverno, a gente nunca aprende. — Jungkook morde o palito do picolé agora que acabou, não consigo evitar minha careta de desgosto.
— Pronto pra ficar gripado em alguns dias? — pergunto, abrindo a porta do carro e entrando em seguida.
— Claro, já estou com saudades daquelas tosses catarrentas que você sempre dava.
— Na verdade as tosses catarrentas é a sua marca, o nariz que não para de escorrer é a minha. — coloco o cinto de segurança e encosto minha cabeça no banco, fechando os olhos em seguida.
— Está cansado? — quando não respondo, Jeon continua. — O mercado estava cheio hoje, é por causa das festas de fim de ano que estão chegando, não é sempre assim.
— Não, foi bom. — respondo, sincero. — Me mantive ocupado.
— E não pensou... nele?
— Eu ia dizer que não me senti um vagabundo. — respondo, olhando as casas passarem em um borrão pela janela.
— Você não é um vagabundo, Tae. — a voz de Jungkook soa compreensiva, gostaria que ele voltasse ao tom sarcástico de sempre, a última coisa que preciso é meu melhor amigo sentindo pena de mim. — Quando vai expor os novos quadros?
— Preciso fazer mais alguns, mandei as fotos para a Rosé, ela disse que há compradores interessados, mas reclamou que estou demorando demais para dar resultados, na verdade, ela enfatizou que não gosta de perder tempo já que isso significa perder patrocinadores, compradores e óbvio, dinheiro. — suspiro, cansado. — Ela só esqueceu que inspiração não brota em árvores e eu não sou o homem mais inspirado no momento.
— Tenho certeza que vai conseguir encontrar algo que o inspire. — Jungkook segura minha mão brevemente. — Por que não sai outra vez?
— Meu compromisso agora é com o mercado...
— Eu posso cobrir você, sabe disso.
— Só trabalhei lá por um dia, Jungkook, não exagere. — murmuro, sentindo meus olhos pesarem.
— Certo, se tiver algo que eu possa fazer, me avise.
— Tem uma coisa. — Jungkook pede que eu fale. — Por que você não arruma alguém e larga do meu pé? — sorrio ainda de olhos fechados, ouço Jeon bufar.
— Pessoas interessantes não brotam de árvore, e eu... não tô no clima.
A voz de Jungkook vai ficando distante enquanto minha consciência se afasta aos poucos.
***
— Tae, acorda, chegamos!
Abro os olhos e observo ao meu redor enquanto tento lembrar do que aconteceu antes que eu pegasse no sono. Ainda estou no carro, estava saindo do mercado.
— Obrigado por me trazer. — bocejo enquanto tiro o cinto de segurança. Jungkook diminui o volume da música que toca e vira no acento para me encarar. — Quer entrar?
— Não, vou dormir em casa hoje, minhas tentativas falhas de causar um ataque no meu pai estão saindo pela culatra e acertando minha mãe. — Jeon passa a mão pelo pescoço fechando os olhos. — Vou tentar conversar com ele hoje, sei lá, só estou cansado disso tudo. Em breve vou estar morando na minha própria casa e a primeira coisa que vou fazer é produzir minha música.
— Soa bem pra mim. — apoio minha mão no joelho dele e aperto levemente. — Boa conversa.
— Pra você também. — quando ergo uma sobrancelha, Jungkook aponta para o retrovisor. Demoro um pouco para ver Yoongi andando distraidamente pela rua. Mordo o lábio inferior enquanto seguro o puxador com força. — Boa noite, Big Boy.
— Boa noite, Drama King. — sussurro de volta.
Saio do carro e cruzo os braços quando o vento gelado da noite bate no meu rosto. Me afasto do veículo e observo Jungkook dar uma piscadela e deixar o local. O som de pedrinhas sendo pisoteadas me avisa que Yoongi está ainda mais próximo. Sentimentos conflitantes começam a encher meu peito, uma mistura de apreensão e ansiedade se instalam no meu peito sem que eu autorize. Não demora muito para meu coração acelerar.
— Aproveitando a brisa noturna? — a voz baixa e rouca dele faz meu estômago dar uma cambalhota.
— Acho que estou desafiando minha imunidade. — retruco me virando para encará-lo. Yoongi veste um enorme casaco azul que o faz parecer mais baixo e delicado. Há um estetoscópio ao redor do seu pescoço, (sim, depois que sai do hospital pesquisei o nome do aparelho). Ele lança um enorme sorriso gengival para mim, sinto meu coração doer com o gesto.
— É bom ver você, estava pensando que nossos horários não iriam bater. — ele para a uma distância de um braço. — Como foi seu primeiro dia no mercado?
— Foi corrido, Jungkook disse que é por conta das festas de fim de ano que estão chegando. — Yoongi permanece olhando para mim, seus olhos parecem querer decorar meu rosto. Pisco, desconcertado com a intensidade de seu olhar. — E você? — pergunto, limpando a garganta.
— Duas cirurgias, alguns check-ups, algumas prescrições de remédios... — ele encolhe os ombros. — o mesmo de sempre. Ah, na verdade, acabei de voltar da casa do Kang So Joon, nosso vizinho, já teve a oportunidade de conhecê-lo?
— Não, só conheço você. — respondo, sem graça. A menção do nome do tal vizinho me deixa desconfortável, então Yoongi faz visitas noturnas a outros vizinhos...
— Vai conhecê-lo, ele anda ocupado cuidando da mulher dele, mas ela vai ficar bem logo. — Yoongi interrompe meus pensamentos vergonhosos e egoístas. Sinto minha bochecha esquentar, como se eu fosse pego fazendo algo errado. — Eles são um casal legal.
Não consigo pensar em algo para dizer, então apenas aceno com a cabeça. Em segredo, minhas mãos se contorcem nos meus braços cruzados.
— Você está bem? — a pergunta faz minha garganta coçar, uma resposta se fórmula na minha mente, mas ela também é uma pergunta, algo que não ouso verbalizar porque não é da minha conta, a mulher com quem ele almoçou não é da minha conta. Tenho que repetir isso alguns segundos para lembrar que apesar do que aconteceu nos últimos dias, no final da noite, quando cada um entra na sua casa, não somos nada um para o outro. Talvez amigos, aqueles que um dia cruzaram limites que uma amizade não deve cruzar. Talvez apenas vizinhos, fadados a dar um "bom dia" pela manhã, e um "boa noite" quando a lua aparece no céu e ilumina as ruas com seu brilho prateado.
— Estou bem. — minto, porque na verdade eu realmente preciso estar, porque não conheço outra resposta para essa pergunta, porque minha resposta é sempre automática para ela, mesmo quando não condiz com a realidade. — Só estou com sono.
— Ah, claro. — Yoongi passa a mão pelo pescoço. — Estou te prendendo aqui, seu dia foi longo. Você deveria entrar e... parar de desafiar sua imunidade, conselho de médico. — ele pisca pra mim, mas há uma máscara em seu rosto agora.
— Acho que é melhor mesmo. — tento sorrir, mas não chego a convencer, não que importe, ele está encarando os sapatos agora.
Com alguma dificuldade, dou a volta e subo os degraus da minha casa verde-musgo.
— Eu estraguei as coisas com você, não foi? — seu tom me faz virar para encará-lo. Parado em frente a minha casa, com seu enorme casaco azul que mais parece preto devido a péssima iluminação da noite, Min Yoongi me encara. Suas sobrancelhas estão curvadas e seus olhos estreitos, mas sua expressão triste e o jeito que sua voz soou com um leve toque de desespero é inconfundível.
— Não sei. — engulo em seco, ainda parado no mesmo lugar. — O que tínhamos para ser estragado? — pergunto porque realmente quero saber se éramos alguma coisa, ou se meu espírito pintor desenhou algo que eu nunca vi e que nunca mais poderei tocar.
— Não... não sei o que éramos, mas éramos algo, não? — então ele também não sabe. — Quer dizer, você não faz o que fizemos no meu carro com todos os seus vizinhos, faz? — trinco meu maxilar e viro tentando encaixar a chave na fechadura. — Não, espera, não foi isso que eu quis dizer, não nesse sentido, eu... Taehyung!
— Você deveria entrar, Yoongi, conselho de alguém que recebeu um conselho de um médico. — digo, amargo. Finalmente consigo encaixar a chave e abrir a porta.
— Taehyung, espera, eu só quis dizer que... o que eu sinto por você, o que senti enquanto estávamos no meu carro... eu nunca senti isso por alguém. Pensei que tivesse sido o mesmo com você. — paro a um passo de entrar em casa, minha mão segura a maçaneta com força. — Eu gostei dos últimos dias, de sair com você, de conhecer você, de ouvir sua risada, do jeito que seus olhos brilham quando fotografa alguma coisa que chama sua atenção. Caramba, Taehyung, eu gosto do jeito que você olha pra mim! Está com tanto medo de me decepcionar que não percebe que também tenho esse medo, e olha só, estou te decepcionando... mais uma vez.
Reunindo toda minha coragem, o encaro. Ele está agora no segundo degrau, quando troco o peso de um pé para o outro, vejo que seus olhos lacrimejam.
— Já perdi muita coisa Taehyung, não quero perder você também.
Meus olhos se arregalam, não consigo me mover enquanto ele se aproxima cada vez mais, quando o contorno de seu rosto fica próximo do meu e finalmente consigo enxergar todos os detalhes de sua face. Uma lágrima solitária escorre pelo olho esquerdo dele, percorrendo seu caminho até cair no casaco azul.
Quero dizer alguma coisa, talvez como meu coração acelera quando o vejo, talvez falar que gosto de vê-lo sorrir ou talvez dizer o quão atraente a tatuagem de polvo em seu pescoço o deixa.
Mas não consigo dizer nada, apenas olhar para seus olhos esperançosos que se dividem em encarar meus olhos e minha boca.
Estou com medo.
— Eu posso ir embora, se você quiser. — ele sussurra. Seu nariz quase toca o meu.
— Eu não quero. — sussurro de volta.
Encaixo minha mão no pescoço dele e o puxo para perto. Seus lábios quentes se perdem nos meus em um beijo doce, a princípio, mas que se torna desesperado conforme a necessidade de estar mais próximo dele cresce. As mãos de Yoongi se fecham na minha cintura e ele me puxa mais para perto. Meu corpo, antes frio pela noite, encontra conforto em seu calor. As batidas do meu coração soam tão rápidas e turbulentas que acho que ele pode sentí-las também. Me afasto brevemente para respirar, Yoongi deposita um beijo no meu nariz enquanto suas mãos me seguram firmes, deixando claro que não pretende me soltar tão cedo. E eu não quero que solte.
Seus lábios deixam uma trilha molhada de beijos pelo meu pescoço, inclino minha cabeça para trás enquanto tremo cada vez que sua boca entra em contato com minha pele. Yoongi segura meu queixo e toma meus lábios para si. Minha mão percorre seus braços que se escondem dentro do enorme casaco. De repente, sinto a necessidade de mais contato. Não consigo evitar o gemido que escapa da minha garganta quando ele morde meu pescoço levemente.
Devagar eu o puxo na direção da porta, com uma mão livre, seguro a maçaneta, o metal frio me faz tremer outra vez, em resposta, Yoongi aperta seu corpo ainda mais contra o seu. Afasto nossos lábios novamente, ofegante, eu pergunto:
— Você quer entrar?
Yoongi se afasta o suficiente para que eu possa ver suas pupilas dilatadas. Um sorriso quente preenche seu rosto e sinto meu corpo todo aumentar a temperatura.
— Eu adoraria.
***
Oi oi, vocês ainda estão aí?
Espero que tenham gostado desse capítulo. Eu resolvi sair do "hiatus" que nem foi bem um hiatus para um "atualizações lentas" porque é o que mais faz sentido agora.
Lembram lá no capítulo 7 quando o Taehyung desenha aquele "garoto polvo"? Então, uma das leitoras (clinomaniapt2) disse que se sentiu inspirada e desenhou como imaginou a pintura que o Tae tinha feito. Eu simplesmente AMEI, então com autorização dela trouxe aqui para vocês verem e se apaixonarem também. Um arraso gente, sério. Emocionadah😭💙
Lembrem de votar!
Beijinhos!💙
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