8 anos depois....

O chocolate da panela borbulha lentamente, observo o vapor sair enquanto o mexo sem parar, esperando que o doce desgrude do fundo do alumínio, sinalizando que o mesmo já está pronto.

O cheiro já é enjoativo, e eu certamente não estaria fazendo isso se não fosse por ele. Aquele que não sei o nome. Ainda.

Ele é novo aqui na vizinhança, eu observei o caminhão de mudanças descarregar cada um de seus móveis, a casa dele fica em frente a minha, do outro lado da rua, tão perto, tão destinadamente perto.

E ele... ah, não consigo parar de pensar nele. Acho que não vi alguém com tamanha beleza. Os cabelos negros cacheados, a pele lisa com tons de caramelo, aquele corpo esbelto esculpido por alguma divindade fascinada pela beleza dos mortais. Eu preciso vê-lo de perto, preciso tocá-lo, nem que seja apenas ao esbarrar e pedir desculpas, como se aquela não fosse minha intenção desde o início. Eu quero sentir o cheiro dele, porque algo naquele homem me diz que ele é o escolhido.

Oh, eu preciso saber o nome dele.

Preciso dele na minha coleção.

Porque ele é perfeito... como um boneco.

Desligo o fogão e, com um pano de prato, retiro a panela cuidadosamente, levando-a em seguida até a mesa, onde o bolo de cenoura descansa, esperando apenas sua cobertura.

O que será que ele faz?

Eu vi as mãos dele enquanto carregava caixas e mais caixas para dentro de sua nova moradia. São longas e delicadas, não devem conhecer o trabalho pesado.

Ele é pintor. Acho que é.

Ou fotógrafo? Talvez seja um hobby, ele tinha uma câmera pendurada no pescoço. Quando ele se juntar a minha coleção, tirarei fotos com aquela câmera, registrarei a beleza dele naquele dispositivo tecnológico, quero guardar o momento para sempre. Ele ficará comigo para sempre. Porque ele é perfeito, e a perfeição deve ser enaltecida eternamente.

Espalho o chocolate no bolo que adquiriu o tom de laranja, devido a natureza da cenoura. Pincelo o chocolate cuidadosamente, como se eu estivesse usando as mãos dele, como se eu já o tivesse.

Um sorriso bobo se espalha pelo meu rosto, sinto minhas bochechas esquentarem. Como ele pode me afetar assim tão cedo? Com Seokjin não foi assim, eu o vi, e claro, em um instante eu estava pensando em como ele era belo e perfeito, pensei que nunca acharia ninguém igual. Mas aquele homem do outro lado da rua apareceu hoje de manhã, e foi tempo suficiente para saber que me enganei.

Ainda assim, há algo a mais, meu estômago não ficou revirado quando eu vi Seokjin. Será que ele... é diferente? Será que ele é o último da minha coleção? Aquele que vai preencher o vazio que sinto sempre que visito minha casa de bonecos?

Eu olho para minha calça e vejo com espanto a ereção que se formou no jeans escuro. Minhas bochechas queimam outra vez, isso não devia acontecer, não tão cedo.

É ele! Agora eu tenho certeza, isso não pode ser coincidência.

Meu último boneco, eu preciso dele, preciso como nunca precisei de algo na minha vida, porque ele tem que ser meu, não posso parar minha coleção, não sem ele, aquele que eu venho procurando, esbelto o bastante para roubar minha atenção. Porque bonecos são perfeitos, não possuem defeito, e ele é assim. Eu o quero.

— E eu vou ter. — sussurro, porque se eu dizer essas palavras em voz alta, elas se tornarão reais.

Eu termino de espalhar o chocolate no bolo, me afasto um pouco para analisá-lo. Se o gosto for tão bom quanto a aparência, vou ficar muito aliviado. Fecho o boleiro e levo a panela para a pia, coloco as luvas de borracha com facilidade, buscando a esponja após espirrar uma boa quantidade de detergente de coco. Enquanto as bolhas ficam cada vez maiores, penso nele.

De onde ele veio?

Algum lugar quente, eu chutaria. Ele estava usando uma bermuda jeans, ninguém usa essa peça por aqui, ao menos não tão perto do inverno. E aquela camisa de surfe... ele parecia o verão, como se fosse o controlador das estações do ano. O verão pareceu bom pela primeira vez.

Eu fecho a torneira e coloco a panela no escorredor. Mergulho a faca suja de chocolate na água e observo o doce desaparecer rapidamente.

— Espero que você goste de bolo, porque precisamos nos conhecer. — falo, mesmo que não tenha absolutamente ninguém na minha casa.

Eu tive que me livrar da minha mãe há oito anos, eu não queria fazer aquilo com ela, mas não tive escolha. Ela perguntou pelo Seokjin, mesmo depois de dois anos ela não o esqueceu. Qual o sentido de fazer de tudo para que eu não fosse investigado pela polícia, se anos depois ela faria a própria investigação?

Eu não a compreendia, ainda não compreendo. Humanos são complicados, mesmo que eu seja um. Por isso prefiro os bonecos, eles não te machucam, não te julgam. Eles me ouvem, e há muito tempo eu quero ser ouvido.

Minha mãe fazia o melhor dela para ficar ao meu lado quando meu pai foi embora, mas, às vezes, eu pegava ela fingindo, mentindo pra mim ao dizer que ele me amava, quando, mesmo naquela época, eu já sabia que não era bem assim. Eu queria uma família perfeita, mas a que eu tinha estava longe disso. E quer saber? Tudo bem. Eu estou fazendo minha família, e quando eu levar o homem do outro lado da rua para minha casa de bonecos, ele completará aquilo que eu preciso. Esse é o papel dele.

Perfeição.

Coloco a faca no escorredor e retiro as luvas molhadas. Dou uma última olhada no bolo antes de sair da cozinha. Subo as escadas até meu quarto, o segundo do corredor, e puxo a cortina para o lado, deixando uma pequena brecha para que eu possa visualizar a casa em frente a minha.

A casa estilo vitoriana tem a cor verde musgo e as janelas de um tom de vermelho escuro, quase vinho, o que, na minha opinião, estraga toda a arquitetura. Ela deveria ter sido pintada de marrom claro, ou até mesmo marrom bordô. Não que eu seja algum tipo de designer de interiores, ou arquiteto... mas aquela cor é simplesmente uma tragédia.

Os pêlos do meu braço se arrepiam quando o vejo passar rapidamente pela janela do segundo andar. Ele deve estar organizando as caixas, imagino que seja um trabalho cansativo. Eu gostaria de ajudá-lo, não quero que ele se machuque, porque não quero ter que consertá-lo antes de levar para minha coleção.

Consertá-los é cansativo, principalmente pelo meu medo de fazer algo errado, pôr muito plástico aqui, pôr menos alí... é um alívio quando eles não têm imperfeições. Infelizmente, Seokjin e Jisoo foram os únicos. Tive que mexer um pouco em Namjoon, Hoseok e Jimin.

Minha ereção começa a incomodar, dou uma última olhada pela janela, mas não há movimento na casa do meu novo vizinho. Sendo assim, resolvo tomar uma ducha e me livrar desse problema, pois quando eu terminar, darei as boas-vindas para aquele homem, como um bom vizinho deve fazer.

O meu novo e último boneco.

***

Oie, chegando aqui com mais um capítulo, espero muito que gostem dessa história.

Ainda não sei se vai ser Longfic ou Shortfic, vai depender da minha criatividade enquanto escrevo, mas é provável que seja Shortfic.

Aqui está o link para a playlist, ele também vai estar na minha bio no meu perfil, então é só você ir lá embaixo onde dá pra colocar link e clicar lá. Eu super recomendo baixar e ouvir enquanto lê os capítulos, principalmente a música do capitulo 5 (vocês saberão qual é em breve) acho que super ajuda na vibe do capitulo, mas a decisão é de vocês!

Link para a playlist no YouTube: https://www.youtube.com/playlist?list=PL2ECqUpQkn6GFcGI8XVv-O4vcYGUs9aPo

Lembrem de deixar o votinho de vocês, comentem sempre que acharem interessante, isso me motiva MUITO a escrever.

Beijinhos!💙