17. Shining through the city
❝ Se me pedem para que me descreva, sou como uma pintura de Van Gogh, bela e densa, definitiva e tensa.❞
- Jeocaz Lee-Meddi
Algumas horas antes...
— Espero que tenha ligado por um bom motivo, eu estava reunindo coragem para ameaçar meu pai com um rolo de massa, só para o caso dele continuar mentindo/ignorando que pegou a droga do notebook.
Apareço na vídeo-chamada com a roupa que escolhi para sair com Yoongi.
— Vai para um casamento e não me chamou?! — Jungkook encosta o narigão na tela do celular.
— Eu marquei um encontro com o Yoongi, quer dizer, não sei se podemos chamar de encontro, não é como se tivéssemos interesse um no outro, mas... pare de rir, aish! — cruzo os braços enquanto espero o infeliz voltar a prestar atenção em mim. — O que é tão engraçado?
— Não é como se tivéssemos interesse um no outro. — ele imita minha voz. — Ele só falta te comer com os olhos, e você...
— Eu o quê? — interrompo, grosso e um pouco nervoso.
— Quantas punhetas bateu pensando nele? Conta pro seu amigão aqui. — ele arqueia as duas sobrancelhas.
Arregalo os olhos, a questão não é essa, Jungkook gosta de aumentar as coisas como forma de exagero. Quanto ao Yoongi, eu realmente não posso dizer muita coisa, quer dizer, ele não parece se incomodar se está saindo com um homem, ou ele tem interesse, ou a masculinidade não é abalada por uma bobagem como essa.
— Pensando nele? Vê se não goza na minha frente, tenho meus limites. — mostro meu dedo do meio.
— Eu queria um amigo normal e Deus me enviou você, o que eu fiz pra ele mesmo? — Jungkook faz um som de escárnio com a boca.
— Recebeu sua alma gêmea, meu querido. — a voz de uma mulher soa no quarto, logo a mãe de Jungkook aparece na câmera.
— Taehyung, meu bem, olha só para você! — a mulher usa máscara e sua voz soa rouca. Não consigo evitar o sorriso enorme que preenche meu rosto. A Sra. Jeon parece não ter envelhecido um dia, e, os mesmos olhos com pequenas rugas de felicidade sorriem pra mim mais uma vez. Suspiro sentindo uma dor boa no meu coração, eu poderia dizer que estou "derretido" pelo carinho que sinto pela mãe do Jungkook, mas acho essa expressão tola.
— A senhora não mudou nada mesmo! É bom revê-la! — tiro o celular do tripé e sento na cama.
— Ela está tentando competir com a rainha imortal da Inglaterra, quem perder paga um tratamento de beleza para a outra. — se intromete, meu amigo.
— Tratamento de beleza? — debocha a mulher olhando pra Jungkook de cima a baixo. — Não preciso disso, e graças a mim, você não vai precisar também! — rio baixinho.
— É por isso que eu amo essa mulher! — Jungkook dá um abraço de urso na mãe, que finge que não está gostando, mesmo não parecendo convincente.
Então eu lembro dela, da minha mãe, e como eu gostaria de fazer isso também. Sinto meu sorriso diminuir aos poucos e, no lugar onde antes havia uma onda de calor instalada, uma correnteza gelada se aproxima, o sentimento caloroso vira apenas uma lembrança distante. Pisco meus olhos várias vezes, tenho que parar de divagar sobre coisas que não estão no meu controle. Por sorte, eles não perceberam minha mudança de humor.
— Jungkook disse que a senhora está doente, espero que esteja se cuidando. — a mulher finalmente se livra do abraço apertado do filho e pega o celular que provavelmente também estava em um tripé.
— É só mais uma das minhas gripes fortes, infelizmente, com a idade, minha saúde de ferro não é mais a mesma. Mas vou ficar bem, TaeTae, não se preocupe muito. — seus olhos percorrem o cômodo que estou. — Esse é o seu quarto? Pedi que Jeon procurasse uma casa boa pra você, ele fez isso, não fez?
— Tia, ele me fez comprar uma casa verde musgo! Seu filho tem um gosto péssimo! — choramingo, de brincadeira.
— Verde musgo, Jungkook? — a mulher olha para o filho, que revira os olhos de volta. — Eu te disse pra procurar um lugar agradável para o TaeTae, e você me vem com essa?
— Eu tenho cara de designer de casa? — em tom ofendido, ele retruca. — Por que tanta implicação com a cor? Eu acho legal.
— É feio. — digo, só pra irritá-lo.
— Feio é você fingir que não tem interesse no médico tatuado!
— Médico tatuado? Quem é esse? — interrompe, a Sra. Jeon.
Com meu olhar, tento dizer ao Jungkook que ele está ferrado da próxima vez que nos encontrarmos.
— Por que não conta pra nós quem é o médico tatuado... TaeTae? — ele sorri, diabólico.
— Meu... vizinho. — digo, sem graça. Enquanto isso, a mãe de Jungkook me analisa. — Conheci ele no dia que cheguei, mas não adianta falar dele, porque não é nada demais.
— Hm... hm. — a mulher agita a cabeça em negação. — Pessoas "nada demais" não nos deixam nervosas. — ela continua me analisando, e chego a conclusão rápida que talvez ela tenha seguido a profissão errada. — Você está apaixonado por esse...
— Não. — respondo antes que ela termine a frase. Jungkook gargalha se jogando no travesseiro da cama. — Pare com isso, Jeon! Estou falando sério, não estou apaixonado por ninguém. — não consigo evitar minha irritação.
— Você provavelmente não está, mas com certeza quer ser consultado pelo Yoongi-ssi, huh? — ele pisca, fazendo um gesto obsceno com as mãos.
— Jungkook! — a Sra. Jeon arregala os olhos, o repreendendo.
— Ele não negou. — se pronuncia meu amigo, em tom de defesa. E é verdade, eu não neguei.
— Estou fazendo as coisas no meu tempo, não sei se quero isso de verdade, e muito menos se o Yoongi quer também. — retruco, colocando o celular de volta no tripé. — Eu adoraria discutir esse assunto com vocês, mas tenho que sair daqui a pouco, então poderiam dizer se estou bem vestido, por via das dúvidas, quero deixar uma boa impressão.
— Bem, se você está dizendo... — retruca a mãe de Jungkook dando de ombros e deixando o assunto morrer por agora. — Você está muito elegante. — ela comenta, seus olhos cor de chocolate sorriem.
— Ele vai demorar séculos pra tirar essa roupa toda de você. — Jungkook recebe um tapa na cabeça de sua mãe. — Ai, mulher, tenha calma, só estou brincando. — Jeon faz bico. — Aonde vocês estão indo mesmo?
— Hm... não sei bem, algum lugar para tirar umas fotos, imagino.
— Não acha que esse blazer é demais então? — olho para a peça de roupa e dou de ombros. — Confie em mim, é demais. Não é como se tivesse lugares maravilhosos aqui em Daegu...
— É claro que tem! — interrompe, a Sra Jeon. — E eu não acho que seja demais, ele está lindo.
— Mãe, acho melhor deixar isso comigo, o gay da família sou eu, sei do que os homens gostam. — a mulher gargalha.
— E você pensa que eu não sei? Como acha que conquistei seu pai? — Jungkook faz cara de quem chupou limão.
— E por que a senhora acha que estou preocupado? — tusso para disfarçar minha risada, Jungkook recebe outro tapa na cabeça.
— Eu deveria cortar sua língua pra deixar de ser atrevido. — mas as palavras não condizem com o jeito que ela o olha. Acho que Jeon percebe também, porque ele desvia o olhar para as próprias unhas. — Bem, vou deixar os jovens sozinhos. TaeTae, você está lindo, tenha cuidado com esse médico tatuado. Vou te visitar assim que essa gripe passar! — a mulher diz, já saindo do quarto.
— Vou esperar! — sorrio dando tchau. Ela fecha a porta do quarto.
— Abre o guarda-roupa, garanhão, vou deixar você ainda mais irresistível. — diz, Jeon.
***
— Vai acabar engasgando se continuar comendo assim. — diz Yoongi, rindo. Ao contrário de mim, ele mordisca a comida aos poucos. Dou de ombros, porque o cachorro-quente está muito bom. — Vamos sentar ali no banco. — ele caminha no meio das pessoas e por pouco não o perco de vista.
— Aqui é sempre cheio? — pergunto, depois de ter certeza que não há mais nada na minha boca.
— Hm... na verdade, não. — ele dá batidinhas no banco ao seu lado, logo me sento. — A maioria são turistas, fim de ano o parque recebe muitos deles.
— Ah, o natal já está chegando! — sorrio, me encostando no banco. — Sempre gostei da vibe de dezembro, sabe? Quando você anda pelas ruas e as casas estão todas iluminadas, o frio, tudo. Eu costumava organizar os enfeites lá em casa... — faço uma pausa, preso em memórias doces. — na Califórnia. Acho que era o único feriado em que eu sentia... minha família. — limpo meus dedos com o guardanapo e sorrio sem graça para o homem ao meu lado, ele me observa atentamente, e de repente me preocupo em estar deixando ele entediado. — Mas vou te poupar das minhas lamúrias, às vezes eu consigo ser bem entediante.
— Na verdade, eu gostaria de saber. — ele inclina a cabeça e passa o braço pelo encosto do banco, seus dedos quase tocam meu ombro. — E você é muitas coisas, Taehyung, menos entediante.
Rio, desconcertado. Eu gostaria de dizer que ele está muito bonito hoje à tarde, queria que ele soubesse que a camisa azul-marinho deixa a tatuagem em seu pescoço atraente. Mas não tenho coragem de verbalizar meus pensamentos, não agora pelo menos.
— Sendo assim... — pigarreio. — sempre que chegava perto do natal, começávamos a preparar os enfeites. Íamos juntos às lojas e passávamos horas escolhendo uma boa árvore. Meu pai sumia na sessão dos pisca-piscas e só aparecia quando escolhia os mais legais. Minha mãe gostava de comprar os enfeites da árvore, fazíamos aquilo juntos, como uma família normal. — enquanto conto para Yoongi, as imagens de um natal após o outro surgem em minha cabeça. Quase sinto o cheiro das grandes lojas que visitávamos, ou o burburinho de pessoas com pressa enquanto entravam no ambiente, fazendo o sininho em cima da porta tocar diversas vezes. O som do vento enquanto nos abrigávamos em nossos casacos e cachecóis. — Era legal. — termino, suspirando.
— Enfeitávamos nossa casa também. — Yoongi olha pra longe, como se estivesse lembrando do momento. — A árvore de natal era sempre a mesma, minha mãe achava que manter os mesmos enfeites ajudavam a preservar as boas energias do natal passado. Me pergunto de qual natal ela queria resgatar as boas energias. — ele diz as últimas palavras de forma melancólica. — Pelo menos a comida era boa. — ele esconde o sorriso com a mão, e por algum motivo desconhecido, eu acho o gesto adorável.
— Comida, a segunda melhor parte do natal. — rio. — Não tinha briga entre você e seus irmãos pelos presentes?
— Não, não brigamos muito. — o sorriso de Yoongi diminui, e eu me pergunto se a relação dele com os irmãos é boa.
— Isso é bom. — sem graça, pego minha bolsa e retiro a câmera de dentro. — Ganhei em uma competição. — conto, erguendo a máquina. — Foi no último ano do colégio, quem chegasse na linha de chegada primeiro ficava com essa belezinha. — Yoongi pega o objeto com cuidado e ergue na altura dos olhos. — Desde então eu a tenho. Uso as fotos que tiro como inspiração em alguns quadros.
Yoongi vira com a câmera apontada para o meu rosto, ele se inclina para trás e agita a mão, chamando minha atenção.
— Olha o passarinho! — quando sorrio, ouço o clic na máquina. Ele se aproxima de mim e mostra a foto que acabou de tirar, mas, pra ser sincero, estou mais impressionado com o cheiro refrescante dele.
— Nada mal. — digo, finalmente focando na foto.
— Nem tudo está perdido. — ele levanta e estende a mão pra mim. — Vamos, mais tarde eles vão ligar as luzes, a roda-gigante fica linda de noite.
Seguro a mão de Yoongi e levanto, quando seus dedos se soltam dos meus, percebo que estou desapontado. Abaixo para amarrar meu tênis em uma tentativa de disfarçar minha possível cara descarada. Resolvo deixar esse detalhe de lado e me concentrar no motivo de ter vindo. Fotos. Eu quero tirar fotos.
Caminhamos lado a lado enquanto procuramos paisagens que nos impressionem. Paro Yoongi quando vejo uma barraca de algodão-doce de aspecto divertido. Ergo minha câmera e tiro uma foto. Gosto da cor do estabelecimento, o tom rosa chiclete me lembra as flores do jardim da mãe do Jungkook, eu as pintei quando brincávamos na casa da árvore, lembro que Jeon sugeriu que eu colasse o chiclete que ele mastigava para dar "um aspecto especial" na pintura.
Yoongi tirou foto de um cachorro que fazia xixi em uma lata de lixo, e riu até lágrimas escorrerem de seus olhos enquanto me mostrava várias vezes o arco amarelo que formava a urina do animal. Percebi que gostava mais dele quando ria, porque sua risada era contagiante.
Tiramos fotos das crianças que pulavam na cama elástica, dos nossos picolés de chocolate, (Yoongi fez questão de tirar a foto do meu que caiu no chão, quando trombaram em mim).
Quando os raios do sol começaram a se pôr, Yoongi me puxou até as barras onde havia uma ótima visão do grande astro que agora se escondia nas montanhas distantes.
Mas, ao invés de tirarmos fotos do evento, ficamos em silêncio olhando enquanto o sol se movia lentamente pelo céu, deixando raios roxos, laranjas e amarelos, como forma de dizer que ele esteve por aqui.
Olhei para Yoongi que tinha o rosto iluminado com a luz do fim do dia, e ergui a câmera, porque eu queria muito tirar uma foto dele. Quando viu que minha câmera estava em sua direção, ele se aprumou e sorriu pra mim, o que me encorajou a prosseguir com minha ação.
Fui me afastando cada vez mais até achar um ângulo legal.
— Erga as mãos, vai parecer que você está segurando o sol. — falei.
— O quê? — ele gritou de volta, e eu ri.
Gritei pra ele o que deveria fazer, e ele fez um ok com os dedos. Quando o ângulo ficou no ponto, tirei a foto. Yoongi deu uma corridinha engraçada até perto de mim e olhou a foto.
— Uau, você é muito bom! — disse, ainda olhando pra câmera.
Não respondi nada, porque fiquei sem graça. Levanto os olhos e o pescoço de Yoongi está bastante perto de mim, já que ele está inclinado olhando a foto. Em silêncio, observo os traços negros da tatuagem e como o azul, iluminado pelo sol, ganha um tom quase verde.
— Por que um polvo? — não consigo segurar minha língua e acabo perguntando.
— Por que não um polvo? — ele rebate, se afastando, mas tem um meio sorriso nos lábios. — Sabia que o polvo é considerado o invertebrado mais engenhoso do mundo? — nego com a cabeça. — Além disso, polvos são ágeis, quando se sentem ameaçados, eles liberam um pigmento escuro para enganar o inimigo enquanto foge. — enquanto ele explica, passa um dedo pela tatuagem, de modo hipnotizante. — São flexíveis e misteriosos, não acha interessante? — percebo que estou de boca aberta enquanto o observo, me afasto quando ele ri. — Enfim, — ele pigarreia. — foi uma ideia melhor do que o pavão, com certeza.
— Pavão? — ergo as sobrancelhas. — Você tem outras tatuagens? — ele confirma com a cabeça, mas não diz mais nada.
De repente, o parque se ilumina, me pegando desprevenido e me fazendo dar um pulinho de susto.
Não consigo evitar de olhar com atenção para cada luz colorida que se acende.
— Rápido! — Yoongi sorri, e através dos olhos dele eu vejo o brilho a nossa volta. — A fila da roda-gigante vai lotar, precisamos garantir nosso lugar!
Terminando de dizer isso, ele segura minha mão e me puxa em direção ao grande brinquedo. Enquanto corro, me sinto uma criança outra vez, e não posso deixar de gostar da sensação.
***
Cheguei atrasada, mas cheguei.
Apesar do capítulo ter sido complicado de fazer, foi gostosinho de ler o resultado.
Lembrem de votar!💙
Espero conseguir atualizar na próxima terça!💙
Beijinhos!💙
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