Seguinte, já vou avisar que vamos ter migalhas agora

Sakhir, Barém | Chegada ao GP de Bahrein

1 de março de 2023

Olivia sentiu uma queimação estranha e opressora sobre sua garganta quando desceu em Bahrein. Era o primeiro GP do ano e, consequentemente, sua memória a fez recordar do ano anterior, da pessoa que a acompanhava. Charles estava falando sem parar suas expectativas quanto ao próximo ano e ela gostaria mesmo de escutar cada palavra que ele dizia, mas era como se não conseguisse, sorrindo amarelo e fazendo pequenos acenos em concordância. Carlos não parecia muito diferente da mulher, mesmo tendo aceitado o convite do monegasco para dividirem o carro - depois de ter feito o Leclerc trocar sua calça dentro do avião -, ainda assim não tinha a mesma animação do colega de equipe.

- Você pode parar aqui? - Olivia questionou o motorista, interrompendo o que era o Charles falando algo sobre a terceira curva ou algo do tipo, já tirando seu cinto e inclinando o corpo no vão entre os bancos da frente.

- Você vai descer? - Charles perguntou, como se já não fosse óbvio.

- Aqui? - o motorista falou junto ao número 16.

- Isso. - a ruiva apontou para a calçada antes de se voltar para os dois pilotos - Encontro vocês no hotel?

- Eu desço com você. - Carlos se ofereceu, já desfivelando o seu próprio cinto e impedindo Charles de fazer o mesmo - Alguém precisa levar as malas e fazer o check-in.

A ruiva tentou negar, dizer que não gostaria da presença do espanhol junto consigo, apenas para perceber pelo seu olhar que não era a sua ideia ficar com ela também. Carlos apenas demonstrava que não queria continuar ali, ambos entendiam que Charles estava animado com o início da temporada, mas precisavam de certo tempo para digerir tudo.

- Mas eu...

- Podemos sair para jantar de noite. - Carlos sugeriu ao piloto 16, passando a mão por seus cabelos - Você paga o carro, de noite nós pagamos.

Olivia não corrigiu a informação dada pelo espanhol, nem comentou sobre o fato de certamente não querer ir a um jantar a noite com os dois, porque jantares em um início de temporada significava muita mídia, muitas fotos, muita exposição. Ela acabaria em seu quarto, pedindo pelo serviço do hotel e vendo alguma de suas séries favoritas. Ela apenas apertou a bolsa em seu colo, abrindo a porta e pairando entre a calçada e o banco, antes de voltar ao carro e deixar um beijo na bochecha de Charles, assim como ele fez ao se aproximar antes do voo dela.

- Qualquer coisa liga, ok?

Ela não fazia ideia do porquê de ter dito aquilo, parte dela estava começando a se sentir meio responsável pelo monegasco e esperava que isso deva ter acontecido, porque agiu como uma mãe ao mexer na mala de mão do moreno e ter escolhido a calça jeans que ele usava no momento.

- Vai jantar conosco de noite. - Charles já a deixou avisado, a vendo parada na calçada com a bolsa no braço e Carlos parando ao seu lado. Leclerc quase se sentiu uma criança sendo deixada para a excursão da escola por seus pais ao ver os dois abanando a mão na sua direção.

Carlos acompanhou o carro tomar certa distância, antes de se voltar para a mulher parada ao seu lado. Olivia parecia estar apenas esperando o mesmo que ele, virando o rosto na sua direção.

- Cada um para um lado? - ela ofertou, piscando os olhos claros e tendo um sorriso pequeno no rosto.

- Sim, se ficarmos juntos vai ser mais fácil de nos reconhecerem.

Maurer concordou, sorrindo uma última vez para ele, antes de dar um passo na direção de onde eles vinham e parar. Carlos não se mexeu ainda, parado com os olhos nela, quando retornou.

- Tira o suéter. - falou séria, apontando para o suéter vermelho da Ferrari que cobria o espanhol - Se não quer ser conhecido, não ande como um garoto propaganda da Ferrari.

- Se eu tirar vou colocar onde, senhora da razão? - falou devagar, já que estava tentando lembrar como se falava as últimas palavras em inglês.

Olivia ergueu sua bolsa, mexendo os ombros de maneira quase cômica de tão convencida. Carlos se viu sorrindo, antes de levar as mãos até a parte de trás, na nuca e puxar o tecido do seu corpo. A ruiva deu um passo a frente, de maneira quase automática, segurando a camiseta que o piloto usava por baixo, não a deixando subir e desviando os olhos para o outro lado.

Sainz piscou para ela ao começar a dobrar o suéter, a deixando se afastar dele. Não se sentindo nem um pouco ofendido por ela ter o feito de maneira apressada, como se ele tivesse com alguma doença. Achando graça do modo como o pescoço e as bochechas estavam coradas.

- Cabe?

- Ela não custou tudo o que custou para não caber um suéter. - Olivia gracejou, pegando de qualquer jeito a roupa e enfiando dentro da sua bolsa - Agora sim. Até de noite.

Novamente o Sainz continuou parado, não seguindo seu caminho, apenas a vendo se afastar, até dobrar a primeira esquina. Ele duvidava que a mulher soubesse para onde estava indo, até porque ele também não sabia. Entretanto, não era como se estivessem incomunicáveis, tinham o celular consigo. Por conta disso, se sentiu livre da ideia de se preocupar com a ruiva e seguiu seu caminho, pescando o celular no bolso quando vibrou.

"Olá, Carlos. Tudo bem? Estou na Itália fazendo uma campanha, mas queria saber se acha que preciso ir para Bahrein?"

A pergunta de Isa o faz piscar algumas vezes, antes de responder:

"Olá, Isa. Estou bem sim e você? Acabei de chegar com a Ferrari aqui, agora sobre você vir, acho que apenas se quiser... A Ferrari contratou Olivia Maurer, aquela apresentadora do podcast com o nome estranho e ela está meio que responsável por divulgar mais sobre os 'bastidores' dos boxes, então, acredito que alguma hora vai vazar o nosso término."

Ele leu sua mensagem cinco vezes antes de clicar para enviar, se perguntando quando eles tinham começado a se tratar de maneira tão formal. Ainda era estranho pensar que não estava mais junto com Isa, depois de tudo o que passaram. Todavia, as vezes parece tão certo. Não que fosse um problema estar com a loira, não. Apenas não estavam mais no mesmo ritmo de vida, e ele não podia negar que isso se devia muito as coisas que aprontou em Mônaco em 2022.

"Devíamos postar uma nota, ou apenas esperar. O que acha?"

"Quer postar uma nota, Isa?"

"Oh, não. Estou bem em apenas os deixar tirar suas próprias conclusões."

"Eu também."

"Certo. Estão me chamando aqui, preciso ir. Bom início de temporada, Carlos!"

"Obrigada, Isa. Bom serviço."

Ele guardou o celular no bolso, não esperando mais nenhuma mensagem, antes de começar a caminhar. Ele não faz ideia do motivo para ter pulado do carro quando Olivia pediu para estacionar, apenas viu isso como uma boa ideia para conseguir pensar, visto que não estava conseguindo com a falação de Charles. Certo que eles se davam bem e ele tinha todo o direito de estar animado para o próximo ano, mas Carlos ainda precisava de um momento sozinho para encarar que tinha voltado. A F1 iria recomeçar e ele tinha mais uma chance de fazer história.

Andar em Sakhir sem o suéter da Ferrari pareceu a coisa certa para o espanhol assim que não foi interceptado por nenhum fã. Se bem, que ele tinha quase certeza de ter sido filmado por um cara com a camisa da Mercedes em uma das ruas. Tinha até mesmo se questionado se deveria abanar ou fazer qualquer coisa que mostrasse seu reconhecimento quanto a ter sido reconhecido, mas isso faria com que outros olhassem em sua direção, então, acabou apenas ignorando. Qualquer coisa deixaria a internet criar outro meme com seu rosto pensativo. Nada que não pudesse ser administrado.

Acabar em um estabelecimento com índole duvidosa - apenas não era os cinco estrelas que estava acostumado -, não fazia parte dos planos do piloto. Todavia, quando seu estômago roncou mais forte do que o normal, acabou apenas entrando no primeiro lugar que oferecesse comida. Sendo esse, algo parecido com uma lanchonete e bar ao mesmo tempo. O que por si só já o deixava meio desconfiado, visto a cidade faturar bastante.

De qualquer forma, isso era a menor dos problemas do número 55, já que seus olhos caíram em cima de um shawarma¹, lanche esse que tinha provado no ano anterior e agora se sentia quase necessitado em comê-lo, mesmo tendo tido dificuldade em fazer o pedido, graças ao homem não entender bem inglês, dirá espanhol.

Uma coisa que demoraria três, no máximo, cinco minutos se tornou meia hora, mas ele conseguiu dois shawarma e um suco de garrafinha. Carlos estava considerando isso uma vitória. Para então a vida o dar mais uma pequena rasteira, que foi o momento que foi pegar sua carteira no bolso muito útil de seu suéter. O problema era que seu suéter não estava com si.

O piloto apoiou o cotovelo na mesa, analisando suas alternativas. Ele tinha um bom físico, poderia muito bem apenas se levantar, fingir que iria pagar e correr. Entretanto, se isso saísse na mídia, tinha certeza que lidar com a Ferrari seria o de menos, se levado em consideração que Caco chegaria pela manhã. E, nem mesmo ele, acreditava no que estava fazendo ao abrir o aplicativo do instagram e começar a procurar o nome da mulher que levava seu suéter.

A terceira era pedir ajuda para Charles e essa nunca deveria ser cogitada. Não depois de ter o dispensado dentro do carro para o hotel.

"Oi, Olivia. Seguinte, minha carteira meio que está na minha roupa, pode trazer para mim?"

Ele sorriu na direção do homem que tinha o servido, ganhando um olhar semicerrado que o deixou levemente medroso, o fazendo apontar para o prato vazio e fazer "dois" com os dedos. O dono do estabelecimento pareceu esquecer qualquer desconfiança, indo pegar seu pedido. Aquilo ele tinha entendido bem.

Foi-se meia hora e a ruiva ainda não tinha o respondido, o que estava causando certa ansiedade no piloto e uma feição séria no dono do lugar.

Quando o celular vibrou, Carlos foi rápido em o pegar.

"Hey, Carlos! Levo no hotel sim, só estou terminando de pagar umas coisas aqui e já levo ao hotel."

"Não. Não no hotel. Eu meio que estou em uma lanchonete."

"Não pegue nada até ter sua carteira, o pessoal daqui não gosta muito que os clientes demorem. Onde você está?"

Ele se questionou o porquê dela não ter o dito isso antes de o deixar naquela calçada, pois assim teria conferido sua carteira antes de se afastarem e nada disso estaria acontecendo.

"📍[localização em tempo real]"

"Estou perto, vinte minutos, ou menos"

Ele queria dizer que não tinha vinte minutos, principalmente quando o homem estava se dirigindo a mesa dele.

- Vamos... fechar... a... conta...? - ele não parecia muito confiante na sua pronúncia do inglês, tal como Carlos escutava as pessoas falarem dele no início de sua carreira.

- O dinheiro já está vindo. - tentou sorrir, não querendo aparentar seu desespero.

Ele nunca mais esqueceria sua carteira.

- Como... assim... não... ter... dinheiro...?

- Eu sou piloto da Ferrari. - declarou, se lembrando de como isso sempre parece resolver as coisas.

- Piloto... Ferrari... is... Charles Leclerc.

Carlos piscou sem paciência, será que até na Arábia Saudita as pessoas esqueciam que a Ferrari tinha dois pilotos? Não bastava apenas a Itália o tratar como se fosse um mecânico qualquer, mas agora até do outro lado do mundo também?

- Sim, sou colega de equipe de Charles.

O homem o encarou de cima a baixo, claramente não confiando em suas palavras.

- Olivia já está chegando.

Avisou por fim, cruzando seus braços, os ombros tensos.

الغشاشة -².

O homem sibilou.

- O que disse? - Carlos sabia que nada de bom deveria ser para ter falado estranho daquela forma.

- Trapaceiro.

O queixo do espanhol caiu. Ele não era caloteiro. Ele sempre pagou suas coisas, tinha apenas acontecido uma pequena infelicidade.

- ¡No soy un tramposo!³

- O que está acontecendo aqui? - a voz feminina fez os dois homens voltarem seus olhos a mulher que tinha acabado de chegar.

Olivia estava com duas sacolas nas mãos, aparentemente essas eram suas compras e ela parecia mais séria que o normal com os cabelos ruivos presos em uma cola. E Carlos agradeceu por ela já ter chegado, não sabia se conseguiria chegar bem para o primeiro dia se arrumasse briga com um habitante da cidade.

- Ela... ser... Olivia?

- Sim, eu disse que ela vinha. - ele respondeu de má vontade, já estendendo a mão para receber seu suéter.

Olivia abriu a bolsa, tirando de qualquer jeito a roupa e entregando para o piloto. Carlos retirou a carteira do bolso, pegando o que considerava uma quantia mais do que boa e entregando para o homem.

- Seu dinheiro.

E o sorriso de antes estava na face do dono, como se ele fosse o melhor cliente de sua vida.

- Vamos, Olivia.

Carlos a chamou, antes que ela espichasse os olhos na direção dos shawarma dispostos na vitrine. Eram bons, mas ele estava se sentindo saturado pela situação e não queria ficar mais um segundo ali.

- Tchau, moço. - ela abanou para ele, deixando Carlos entrelaçar seus dedos para irem embora, apenas seguindo a "correnteza" - E aí? O lanche era bom?

- Muito bom. - o espanhol admitiu, fazendo o mesmo caminho que tinha conseguido para chegar até ali - Mas não volto mais, ele me chamou de "trapaceiro".

- Como sabe que ele te chamou de "trapaceiro"?

- O fiz traduzir a palavra estranha que tinha falado.

- Pelo que vi teve uma tarde agradável. - ela riu, se sentindo bem mais leve do que quando tinha chegado a cidade e dividia o carro com Charles e Carlos, aquele pequeno momento de caminhada tinha a ajudado a voltar ao seu normal.

Carlos parou em uma das esquinas, se sentindo repentinamente confuso por onde estavam, então a deixando assumir o caminho.

- Obrigada por ter vindo rápido.

Falou depois de um momento de silêncio.

- A culpa era minha de qualquer forma. - ela deu de ombros - Se não tivesse dito para tirar o suéter...

- Eu teria sido parado a cada dois passos. - ele a interrompeu - Foi bom ser apenas o Carlos del Pulgar.

- Del Pulgar? - ela sorriu para ele, chegando ao que parecia uma praça pequena.

- O último sobrenome.

- Achei que seu último sobrenome fosse o Sainz.

- Na verdade, ele é o primeiro.

- Sério?

- Sério.

- E como é o seu nome todo?

- Carlos Sainz Vázquez de Castro Cenamor Rincón Rebollo Virto Moreno de Aranda Don Per Urrielagoiria Pérez del Pulgar.

A ruiva piscou.

- Tá brincando né? - Carlos negou - Repete.

Carlos repetiu o nome pelo menos dez vezes, até ela conseguir falar tudo e até mesmo imitar o sotaque.

- E o seu?

- Não vai falar para ninguém?

- Por que eu iria falar para alguém?

- Prometa, Carlos del Pulgar!

- Eu prometo, Olivia.

- Olivia Katharina Maurer.

- Katharina?

- Não deboche do meu nome, Moreno.

Carlos riu, concordando com ela e se sentando no primeiro banco disponível próximo dos dois. Olivia aceitou o convite silencioso, parando do lado do homem, colocando suas compras entre os dois e tirando um pequeno pote de bolachas e oferecendo a ele.

- Desculpa pelo jeito que falei com você depois que disse o que faria com nós. - ele relembrou, olhando para uma pomba que estava ali perto, Olivia o olhou de rabo de olho - Apenas fui pego de surpresa.

- Charles me explicou sua reação.

O espanhol abriu a boca, apenas para a fechar em seguida. Era claro que Charles tinha falado. Ele não consegue manter a boca fechada quando o assunto era contar a vida alheia. Principalmente quando gostava da outra pessoa que ouviria. Coisa que estava acontecendo desde o momento que a Olivia tinha aparecido.

- Sinto muito por seu término.

- Também sinto muito pelo seu.

Era a segunda vez que eles citavam seus ex-namorasdos quando juntos. Carlos se perguntou se isso viraria uma rotina, sempre que estivessem juntos, se lembrariam de alguma coisa e citariam Isa e Mick. Eles ficaram em silêncio, como se tivesse sido um tabu ter citado os dois.

- Já quer ir pro hotel?

- Não sei. - ele foi sincero, se arrumando melhor no banco.

- Então vamos ficando aqui até dar o horário para jantarmos com Charles.

Ela deu de ombros. Se eles ficaram em silêncio o resto do tempo, isso não importava, estavam felizes por terem a companhia um do outro, mesmo que silenciosa. Fora que quase não se conheciam, o que eles poderiam falar?

TRADUÇÕES:

¹SHAWARMA: é um prato originalmente do oriente médio, composto de fatias finas de carne de carneiro ou frango, assada em um espeto vertical e servidas no pão árabe com legumes, homus, labneh e outros acompanhamentos.

²الغشاشة: Trapaceiro! - escrito em árabe, pois é a língua nativa, apesar de ser usado muito o inglês na área.

³¡NO SOY UN TRAMPOSO!: Não sou um trapaceiro!

Postar esse segundo capítulo hoje, porque uma menina disse no tiktok que essa é uma das melhores fanfics que ela leu esse ano

E eu senti vontade de chorar, meio orgulhosa sabe?

Então, quero saber o que vocês estão achando?

Carlos e Olivia tem suas pequenas migalhas
Charles é um bebezinho
Os Schumacher são um pouquinho difíceis, mas eles tem os motivos deles

Enfim, os demais vão ir aparecendo conforme acontece a história

Por fim, espero que estejam gostando

Obrigada pelas palavras de carinho que venho recebendo