A escolha da van🎈
"Porque eles vão te perseguir
Até a escuridão
Sim e eles vão perseguir você
Até você cair
E eles vão te perseguir
Até o seu interior
Até que você não possa mais rastejar"
|Para melhor leitura, clique sobre a música na mídia|
***
● Jeon Jungkook ●
A manhã parecia ter começado mais iluminada, o que era praticamente impossível considerando as névoas que cobriam as ruas enquanto eu dirigia até o museu.
A verdade é que eu sabia o motivo da minha alegria, e ela tinha cabelos loiros, era policial e atendia pelo nome de Park Jimin. O fato dele me mandar uma simples mensagem ontem à noite dizendo que passaria na nossa casa quando terminasse sua ronda diária significava duas coisas:
1 - Teríamos a noite só para nós;
2 - Eu teria que usar meu horário de almoço para limpar a casa que estava um caos, isso se eu ainda quisesse namorar Park Jimin, e eu queria.
Parei o carro no estacionamento do museu, a rua estava silenciosa como sempre, esperei uma van preta passar para que eu pudesse atravessar a rua. Tirei o molho de chaves que pesava em meu bolso, procurei pela única dourada e pus na fechadura do portão do museu, ela fez um clic satisfatório e abriu. Tratei de trancá-lo novamente enquanto preparava as coisas lá dentro.
***
— Vou precisar sair mais cedo hoje. — comentei com Mingi, o moreno alto digitava rapidamente no computador enquanto criava um novo panfleto para o museu.
— Sabe que não é pra mim que tem que falar isso. — disse ele ainda sem tirar os olhos da tela.
Bem, é claro que não era. Mingi e eu tínhamos a mesma função, mas o moreno tinha algo que eu não tinha, afinidade com nosso superior. Inspirei baixinho e comecei a bater o dedo na mesa, o ruído era irritante e logo Mingi pôs sua atenção toda em mim.
— Eu sei, mas não pretendo avisar que vou sair, arrumar a casa não é bem um motivo que mereça atenção. Só quero que me cubra caso ele perceba. Você pode fazer isso, certo? — me inclinei ficando cara a cara com o moreno, ele, por sua vez, revirou os olhos e concordou.
— Só tente não abusar da minha boa vontade. — ele avisa voltando a teclar.
— Você é o cara! — sorrio rodando a cadeira.
***
Na hora do almoço saio mais cedo. Bebo um pouco de água para hidratar a garganta, essa é a única parte ruim de trabalhar em um museu, você fala, fala e fala...
Abro a porta do carro e, quando estou prestes prestes a entrar, ouço um psiu. Olho em volta esperando ver Mingi ou meu superior, mas não encontro ninguém. Um novo psiu é feito, dessa vez sigo o som, percebo vir da van preta que ainda está estacionada no mesmo lugar. Uma mulher usando óculos escuros e máscara azul agita a mão.
— Poderia me dizer que horas são? — ela pergunta se apoiando no vidro aberto.
— 10h:50. — informo, olhando para o relógio no meu pulso.
— Obrigada. — ela retruca fechando o vidro. Dou de ombros e entro no carro.
***
Olho para o apartamento e engulo em seco. Quando eu deixei ele chegar a esse ponto? Há várias roupas espalhadas pelo sofá, não faço ideia se já estavam sujas, ou ficaram depois de ter contato com essa radiação que eu mesmo criei.
Há caixas de pizza espalhadas pelo sofá e mesa, várias formigas carregam pelo chão os pedaços da minha pizza de quatro queijos de ontem. As latinhas de refrigerante estão amassadas e jogadas no sofá, a pia está cheia de pratos de comida que deram errado – como minha receita de ontem que ainda não consegui desgrudar do prato.
— Melhor começar isso logo. — murmuro massageando minhas têmporas.
Tiro a camisa, ligo o som deixando em uma música alta, amarro meu cabelo e torço pra não encontrar um leão naquela selva.
***
— Parece que você está chegando de uma guerra. — comenta Mingi ao ver minha exaustão. Ele segura uma flanela vermelha e tira o pó quase inexistente do balcão.
— Foi uma grande guerra, companheiro de museu. — suspiro cansado.
— Você não tem jeito. — ele ri e agita a cabeça. — Mas, e aí, qual a programação pra mais tarde? — ele ergue uma sobrancelha sugestivamente.
— Muito sexo, eu espero. — ele ri mais ainda, caminho até o pessoal no saguão e peço para se dividirem em grupos menores.
***
— Estou indo. — avisa Mingi apagando a luz do escritório. — Confira se a luz da ala dos meteoritos está apagada, tenho a vaga impressão que apaguei, mas por via das dúvidas... — ele deu de ombros e acenou.
— Beleza, até amanhã, tome cuidado! — a porta se fecha com um estrondo oco, o museu parece sugar todo o som e transformá-lo em silêncio.
Assobio melodias de uma música qualquer enquanto varro o chão até o corredor onde fica o almoxarifado. Apoio a vassoura junto com todas as outras e esfrego as mãos na calça espantando a poeira. Caminho despreocupado para a ala dos meteoritos – dois corredores seguindo pela direita.
Os corredores estão escuros, quase fantasmagóricos, se eu tivesse medo da escuridão provavelmente estaria cagado a essa hora. Ligo a lanterna do celular quando o último facho de luz do saguão de entrada some.
Ao chegar a ala, vejo que a luz ainda está acesa, meus passos pelo corredor se tornam apressados, xingo Mingi baixinho pela sua falta de atenção e desligo a luz no interruptor. O escuro novamente preenche o ambiente, a única luz é vinda da lanterna do celular. Então reconheço o som da porta de entrada ser fechada, o barulho tão conhecido por mim reverbera pelo museu inteiro. Paro por um momento no meio do corredor.
Mingi teria esquecido alguma coisa? Recomeço a andar, mas paro na metade do corredor. Algum assaltante? Nunca houve nenhum caso de assalto, ao menos nesse museu, e isso se dá principalmente pelo fato de ser um bairro tranquilo.
Tento ouvir o som de passos ou conversas, mas nada chega até meus ouvidos. Ao invés de seguir direto – por onde se encontra o saguão de entrada–, viro a esquerda e refaço meus passos até o almoxarifado. Pego uma vassoura e volto cautelosamente pelo corredor.
Uma piada, não é como se essa vassoura pudesse ganhar contra uma arma de fogo, mas eu me contentava em pensar que ao menos em um combate corpo a corpo eu não sairia em desvantagem, meus treinos semanais de Taekwondo haviam transformado meu corpo em uma arma mais perigosa. Pelo menos eu esperava que sim.
Sendo assim, seguro o cabo frio de madeira com força e viro no corredor que dá para o saguão de entrada. A porta está de fato fechada, mas agora há uma mulher que está em frente ao grande quadro da entrada. Andando devagar e com cautela, vejo que ela observa de forma atenciosa o universo na pintura. Por um breve momento meu lado guia quase caminhou até a mulher e lhe explicou a origem daquele quadro.
Mas a situação era diferente, ela não devia estar no museu. Talvez seja uma mendiga, não que aparente, suas roupas não denunciam sua posição social. Um conjunto totalmente preto é o que ela veste, desde a touca até os sapatos.
— Não é permitida a entrada de visitantes a essa hora! — digo em alto e bom som.
A mulher permanece olhando o quadro, o gesto me irrita, estaria apenas me ignorando? Ou será que tinha algum problema auditivo?
— Você tem que ir, — dou mais alguns passos. — o museu fechou, mas você pode voltar amanhã. Estaremos abrindo por volta das 09h:00. — tento não soar rude.
— Acredita em universo paralelo, Jungkook? Acha que o que acontece aqui já aconteceu ou ainda irá acontecer? — os pêlos do meu braço se arrepiam. Como ela sabe meu nome? E por quê essa voz soa familiar?
— Andei pensando... — ela finalmente vira na minha direção, porém não consigo ver seu rosto que está oculto por... uma máscara azul! É a mulher que me perguntou as horas hoje cedo! — algumas pessoas são como estrelas, muito distantes da terra. Você trabalha em um museu, sabe como funciona. Vejamos a Eta Carinae, ela está a 7500 anos-luz da Terra, o que significa que seu brilho demora 7500 anos para chegar aqui. Não é louco? Acho que alguns humanos são parecidos, algo forte como um brilho é lançado e essa coisa demora um tempo para vir à tona. Mas, quando vem, modifica tudo, é mais um brilho no céu, é mais um empecilho na sua vida.
Eu não sabia o porquê dela falar aquelas coisas, por mais que eu nunca tivesse pensado em algo assim, tinha que concordar. Decisões tomadas no passado afetam nosso futuro, assim como um brilho de estrela que demora para chegar.
— Entendo o que queira dizer. — ela agitou a cabeça de forma negativa. Seus ombros encolheram, mesmo àquela distância eu sentia o peso de seu fardo, por mais que eu não soubesse qual era.
— Não entende, Jungkook. — ela deu de ombros.
— Como sabe meu nome? — perguntei temeroso.
— Não importa.
— Bem, pra mim, sim! — devo ter soado impaciente. — Mas, se não quer dizer, é melhor que apenas saia do museu. Eu realmente tenho que ir! — ela concordou.
— Está mesmo na hora de irmos. — algo prendeu meu pescoço com força e agilidade, ao mesmo tempo que um pano com cheiro adocicado foi posto no meu nariz. Soltei a vassoura e, sem ar, inspirei uma boa quantidade do produto.
Com as minhas costas, joguei o peso da pessoa para o lado, ouvi o baque surdo de algo cair ao meu lado. Minhas pernas pareciam pesadas, como se eu tivesse caminhado por muito tempo.
A pessoa – que agora eu via se tratar de um homem–, levantou vagarosamente. Eu sentia a necessidade de correr, de gritar, mas o que quer que tinha naquele pano estava fazendo efeito. Primeiro meus joelhos bateram no chão, minha respiração estava desregulada e, por mais que eu inspirasse uma grande quantidade de oxigênio, não parecia suficiente, pontos pretos começaram a surgir na minha visão.
— Hora de passear, Jeon Jungkook. — o homem se ajoelhou na minha frente. Meu coração acelerou ainda mais, não era possível... meu cérebro deveria estar pregando peças em mim. Era ele, o rosto que mais apareceu nas telas de todos os documentários, o rosto que meu namorado procurava.
Kim Taehyung estava mesmo na minha frente.
Senti meu corpo cair lentamente para frente, eu não conseguia me mexer e meus pensamentos pareciam desconexos quando tudo foi ficando escuro.
— Eu não quero ser como as estrelas. — sussurrou uma voz no meu ouvido.
***
Desculpa por não ter atualizado segunda, estou passando por um bloqueio, além disso, próxima semana são provas, então não sei se vou conseguir escrever...
Enfim... lembrem de votar!💙
Liberem seus balões!🎈
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