
XIV
A carruagem que tinha Max Emilian Verstappen e Carlos Sainz¹ normalmente não era a mais silenciosa, porque o primo do Arquiduque de Eldoria conseguia preencher o espaço com conversas e risos. O problema era que o homem estava muito pensativo desde o café, se perguntando se agradecia ao bom café que os Russell haviam fornecido ou se matava por ter presenciado aquela cena da senhorita Ricciardo comemorando um arranjo de flores — o imbecil que mandou nem ao menos sabia de sua alergia — e um convite para as carreiras na volta do Lago Senna.
Os olhos castanhos do homem, volta e meia, retornavam a encarar o relógio de bolso que mantinha dentro das calças, estava nervoso e confuso. Alguma coisa havia acontecido, ele sabia disso. O problema era saber desvendar o que havia sucedido. E o fato de Max nem ao menos se esforçar para compreender seu nervosismo estava o irritando também. O que de tão importante a janela do seu lado esquerdo tinha que Max se preocupava em ficar de olho a questiona-lo?
— Sei que quer falar, sabe que não irei perguntar. — Max chiou em algum momento depois de mais uma centena de julgamento vindo do primo de Caco, sem nem ao menos encarar o Sainz.
Carlos estreitou os olhos na direção de seu melhor amigo, irritação em sua face, quando enfiou a mão no outro bolso, sem se dar de conta que havia colocado o relógio na direita, estranhando quando sua mão encontrou algo macio. Ele se voltou confuso para as próprias pernas, querendo rir ao ver um dos bolinhos que tinha surrupiado pela manhã da mansão Russell. Max o encarou, ele conseguia ver o mesmo olhar bravo de quando precisou o arrastar para a sala, pois estava tomando o desjejum.
Carlos não entendia como Max estava sobrevivendo a comida terrível que seus empregados estavam fazendo. Carlos estava considerando que Caco os pediu para agirem daquela maneira indisciplinada apenas para os castigar por alguma traquinagem de quando eram jovens e tolos. Ele não duvidava. E o Verstappen deveria sentir a mesma fome que a sua. Entretanto, levando em consideração o histórico de Max e de como Johannes o tratava como menor, quem sabe a comida requentada fosse uma recordação antiga da sua infância.
— Quer? — Carlos ofereceu ao melhor amigo, uma pequena brincadeira, ainda lembrava da face corada de Max a Carmen quando a senhora Russell os encarou com um misto de pena e graça.
— Eu não, coma você — O Verstappen vociferou, fazendo os dois rirem — Você só me faz passar vergonha.
— Para ver o que eu precisava passar na adolescência. — Carlos fingiu limpar o suor da testa — Você me dava trabalho sendo um bastardo magricela e encrenqueiro.
— Sendo magricela ainda conseguia acabar com a maioria dos lordes que me enfrentavam.
— Por conta disso, não temos mais locais para tomar café e almoçar. Encrenqueiro.
Os dois estavam rindo, porque apesar dos pesares, eles ainda agradeciam por Carlos Sainz — o antigo arquiduque e pai de Carlos — ter obrigado ao filho se aproximar do filho do arquiduque Verstappen. Possivelmente, se Carlos não fosse obrigado no início, ele faria a mesma coisa que os outros meninos da época e se manteria longe de Max.
A carruagem parou na frente da residência dos Sainz, fazendo com que a porta fosse aberta, Max sendo o primeiro a sair deixando o amigo por último. Carlos, como sempre, olhou para a casa a frente, vendo a carruagem de Caroline parar no mesmo instante, como um sinal divino, fazendo o mais velho querer ir até ela e descobrir o que estava acontecendo, vendo a Lady Ricciardo sair da carruagem com sua dama de companhia, o deixando mais irritado ao ver que ela nem ao menos cogitou olhar na direção de sua residência, enquanto para si era como um ritual encarar a mansão Ricciardo.
— Vou tentar falar com a Carol, já volto.
Max finalmente se voltou para trás, vendo o melhor amigo atravessar a rua em uma corridinha estranha, negando ao ver como ele deu uma paradinha, passando a mão pelos cabelos. E assim o primo de Caco chegou perto da garota. Ela vestia um lindo vestido azul bebê, sua cor favorita. E Carlos queria jogar na cara da mulher que ainda lembrava, quem sabe assim conseguiria um daqueles sorrisos que sempre pensou que receberia ao retornar. Caroline evitava até mesmo o cumprimentar.
— Hey, Carol! Como você está? — Ele cumprimentou, o braço espichado, pronto para tentar a abraçar, quando Caroline tocou seu peito, o afastando antes de conseguir concluir sua ação.
— Não, você não pode chegar assim em uma dama na rua, Sainz. — A Piastri-Ricciardo o corrigiu, um olhar sério que fez o homem querer se esconder ao ser encarado por aquelas esferas azuladas — Não sei por quais lugares andou por todos esses anos, mas você tem que manter a postura.
— O que aconteceu? — O mais velho questionou, não entendendo o porquê de sua princesa estar o tratando assim, fazendo a Piastri o olhar de cima a baixo — Por que está assim comigo?
Caroline não acreditava na cara de pau que o lord tinha adquirido, sem qualquer vergonha na cara, a fazendo estreitar os olhos, negando de forma muito discreta, sua acompanhante a conhecendo o suficiente para tocar seu braço, sinalizando a rua.
— Não vou discutir isso com você no meio da rua, Sir
A mulher declarou, virando de maneira a fazer os cabelos quase chicotearem a faça do Sainz, andando de maneira apressada para dentro da casa. E Carlos sabia que ela estava irritada, o problema era que ele estava ficando na mesma situação ao fato de não saber o que acontecia, demorando menos de dois segundos para conseguir alcançar a mais nova, prendendo a porta com o pé e o sentindo latejar quando Caroline tentou a fechar na sua face.
— Bom, então vamos discutir dentro da sua casa — Ele decidiu, entrando na residência — Porque eu quero saber o que está acontecendo, e quero saber agora.
Caroline odiava ser pressionada. Não tinha coisa pior do que aguentar alguém te cobrando algo o tempo todo. E ela sabia que Carlos tinha feito apenas uma vez, mas era a sensação. Nem mesmo seus irmãos a cobravam daquela forma. Quem Carlos achava que era para a dizer "quero saber e quero saber agora"? Ele passava anos enfurnado nas terras de Valência e se achava no direito de chegar em sua casa, invadir sua casa, a cobrando?
— Já que insiste — A Ricciardo cruzou seus braços, apontando na direção da sala — Pode vir.
Não era como se ela pudesse evitar, não quando ela conhecia Carlos o suficiente para saber que era um maldito cabeça dura que só fazia o que queria. Há alguns meses, ela teria adorado que o homem queria falar consigo, o problema era que ele tinha especificado qual era a relação deles naquela última carta... Mesmo que tivesse tentado apagar depois. Quem sabe o fazendo pensando que assim conseguiria a manter um pouco mais sob seu controle.
Carlos sabia que a garota não gostava de pressão, ser pressionada a deixava irada em suas cartas, principalmente nas épocas de início de temporada. Toda aquela coisa de ser o mais perfeita possível, o jogo de poder para conquistar o melhor pretendente. Mas ela não o deixava falar, o ignorava, e foi a única forma que o mesmo encontrou para saber o que estava acontecendo com a Piastri-Ricciardo.
— Não precisa de companhia? — Ele questionou, não vendo a acompanhante de Caroline, enquanto a mulher fechava a porta atrás de si, o sorriso presente ali,como sempre está quando escrevia para a garota Ricciardo.
— Creio que solteironas não precisam de acompanhantes — Ela deu de ombros, as palavras saindo como facas afiadas na direção do homem.
— Não é uma solteirona.
Parecia um horror para Carlos que Caroline se visse como uma solteirona. Ela era... Bom, a Caroline era a Caroline. Ela não era uma solteirona.
— Estou na minha terceira temporada sem prospecção de casamento, acha mesmo que não sou uma solteirona? — A mais nova pergunta, as lágrimas cobrindo a vista da mesma, odiava que Carlos não pensasse nela com o mesmo sentimento que o seu. Ela tinha doado tanta atenção, tanto carinho a ele. — Eu não... Não quero mais falar de minha situação. O senhor disse que queria conversar, estamos aqui. Fale o que quer.
— Eu mandei cartas — O Sainz continuou, apesar de querer discutir como ela não era uma solteirona, preferiu seguir ao vê-la tão... vulnerável — Muitas cartas, Caroline... E você não respondeu nenhuma.
Era realmente confuso ao filho de Eldoria pensar que Caroline havia parado de o responder, sendo que sempre era a pessoa mais certa que trocava cartas. Nem seus pais o respondiam com tanta frequência quanto Caroline. E aí existia o fato de Caroline estar olhando para suas unhas, ao invés de estar o dando atenção.
— Estava entediada com meus assuntos? — sua voz saiu baixa — Sei que não era muito interessante saber como Max e eu estávamos lidando com as últimas nevascas e poderia parecer chato por conta de você ser jovem e a temporada do ano passado não ter culminado da maneira que queria e...
— Não zombe de mim, por favor. — Ela pediu, finalmente erguendo a face, os olhos parando em cima do Sainz.
— Zombar? — O homem questionou a expressão confusa tomando conta de sua face — Estou falando sério Carol, mandei mais de duzentas cartas. — ele a viu o encarar com as vistas estreitas — Duzentas e doze, se quiser contar. Aposto que devem estar no seu quarto agora, então as traga e contamos juntos.
Ele estava a mandando? Não apenas a pressionando, mas também a mandando? Aquilo era verdade? Enquanto ela se enraivecia com as atitudes do Sainz. Ele estava indignado. Como ela poderia achar que ele estava zombando da mesma?
— Sei quantas cartas me enviou.
— E não as respondeu porque estava entediada.
— Alguma vez reclamei de estar entediada, Sir? Me conhecendo, não achava mesmo que seria capaz de apenas o dizer que não gostaria de saber tais assuntos?
— É uma menina nova...
— Não sou mais uma menina, Sir.
— Eu sei disso. — ele passou a mão pelo rosto, não sabendo como poderia falar, porque tudo parecia estar sendo levado a ponta de faca por Caroline — Sei que não é uma menina mais. É uma mulher. E vive em Artenas, na Temporada social e eu pensei que poderia estar ocupada demais lidando com tudo isso e...
— Se não fosse o príncipe Charles, nem passeio amanhã eu teria. Esse seria o meu estar ocupada? Estar sentada em casa, aguardando com paciência até um Lord ter a boa vontade de lembrar da minha existência?
— É isso? Ficou irritada por não estar recebendo a mesma procura do seu primeiro ano? Lembro-me da primeira vez que foi apresentada, nós já conversávamos e parecia tão animada com a ideia. No ano passado, recordo de ter até recebido um pedido... Daniel não deixou né?
— O senhor só pode estar brincando.
— Tem algo errado? — O Sainz pergunta fazendo a Piastri-Ricciardo revirar os olhos — Entre nós,no caso — Ele continuou, chegando perto da mulher — Escrevi alguma coisa na carta que a magoou?
A pergunta saiu de uma maneira tão genuinamente que se a mulher não estivesse revivendo a sensação da última carta, juraria que fora ela a errada. Por isso, se mantendo firme, cruzou os braços a frente dos peitos, um olhar sério sendo direcionado a ele.
— Tudo bem, se quiser que eu diga em voz alta — Ele soltou um pequeno risinho — Eu senti sua falta, Carol.
Caroline não podia acreditar no que estava vendo e ouvindo, na cabeça da garota, só se passava o pensamento que o homem ou a tirava para como tola, ou era muito sonso.
— Sentiu minha falta? — Ela praticamente cuspiu a pergunta, enquanto o Sainz concordava com a cabeça a fazendo rir em descrença, porque não era possível — Sente minha falta e mesmo assim me chama de amiga?
O sorriso que o mais velho tinha na face sumiu, trazendo um pequeno ar de desespero.
— Carol eu... Eu... — Ela o interrompeu na mesma hora.
— Eu li, tentou apagar riscando por cima, mas deu para ler. Me considera uma amiga e respeito isso, meu senhor. Apenas não espere que eu continue agindo como uma tola apaixonada depois disso.
Os dois se olharam, tristes demais para fingirem até mesmo um sorriso. Caroline passou a mão a frente do rosto, tirando a mecha castanha de perto das vistas.
— Talvez devesse voltar a se esconder entre a neve de Valência. — Caroline estava próxima ao falar aquilo, a respiração acelerada — Ou não, o senhor que sabe... Boa noite, Lord Sainz!
E assim, a Ricciardo saiu da sala, deixando o Sainz sozinho com seus próprios pensamentos. O homem não fazia ideia de quanto tempo ficou, mas ele se sentia um criminoso ao fugir da mansão, escapando de ser encontrado pelos irmãos da Caroline e entrando em sua própria casa com a mão no peito, sentindo seu coração acelerado ao declarar.
— Lembrou que tem casa? Interessante.
Max estava na sala, muitas velas na sua volta e um prato com uma torta de frango a frente, metade inteira e Carlos franziu a testa, apontando para o alimento.
— Lady Violet venho trazer, aparentemente a irmã mais velha se recusou a vir mandar nos seus funcionários até a tal carreira acontecer, então a Lady Carmen mandou informar que podemos tomar café e almoçar nos Russell até a Lady Charlotte assumir seu posto.
— Falou muitas ladys.
— A Russell louca se recusou a vir nos atender, então a Russell legal obrigou a Russell silenciosa a trazer um recado.
— Ah! — Carlos se atirou ao lado do Verstappen — Certo.
Suspiro um.
Max estava escrevendo e quebrou sua caneta ao ser incomodado.
Suspiro dois.
Carlos espiou sua carta.
Suspiro três.
— Fala de uma vez, peste. Antes que eu te expulse a ponta pés de dentro de sua própria casa para deixar de ser um maricas.
— Ela era apaixonada por mim.
Max ergueu o rosto, nenhuma novidade tinha sido dita por seu melhor amigo, mas a maneira como Carlos parecia ansioso por um movimento seu, o fez começar a rir.
— Por que está rindo?
— Porque isso era óbvio. — Max riu mais um pouco — Conte-me a novi... Oh, não! Você não sabia?
Ele mesmo se interrompeu em seu momento de alegria, começando a ficar preocupado ao ver Carlos concordar.
— Ah, merda, Sainz! A menina respondia suas cartas!
— Várias pessoas respondem cartas...
— Sainz, porra! Uma carta chega a Valência em, pelo menos, seis dias se o mensageiro for muito bem pago e ela o respondia ou mandava carta antes mesmo de sua resposta ter chego. O que achou que era isso?
— Eu...?
— Não pode ser tão burro ou tolo ao pensar que ela o fazia apenas por amizade ou respeito. As intenções dessa menina estavam claras desde o início.
— Eu...
— Você o que? Magicamente se esqueceu como era as demonstrações de uma dama da sociedade? Ela obviamente não deixaria claro seus sentimentos, mas a dedicação que era lançada a você, todos os rascunhos, tudo o que compartilharam... O que achou que era?
— Ela acha...
— Ela acha o que?
— Ela acha que não a quero. — Carlos confessou, vendo o Verstappen franzir a testa — Ocorreu um engano e fui burro de não refazer, mas estava apressado e... Na última carta, parece que a chamei de "amiga" e ela achou que eu estava apenas a fazendo de boba.
— Que merda de engano foi esse?
Max estava sério. Porque até ele que era a pessoa mais leiga a envolvimentos e demonstrações sabia que aqueles dois se gostam. Carlos parecia ter enlouquecido quando em seis meses atrás as cartas começaram a parar de chegar. Melhor, em sete. No primeiro mês, ele pensou que era por conta da neve, muitas mensagens se perdiam naquela época do ano. Mas quando no segundo todas as pontas estavam remendadas e nenhuma avalanche poderia deter um mensageiro, Max o via fazer dia a dia rascunhos e jogar a fogueira, antes de fazer a "perfeita" e soar como um idiota ao sibilar alegre que "Ela, com certeza, vai responder essa" e ficar se decepcionando a cada mensageiro com nova mensagem vinha sem a resposta desejada.
— Na última carta, eu lembro o que aconteceu... Estava escrevendo, a irmã de Checo estava rindo sobre eu ser um maldito covarde e não vir a Artenas fazer uma visita a própria Carol, quando falei algo sobre a perdoar apenas por ser minha amiga. Lembro que acabei escrevendo a palavra e depois ter tentado apagar... Eu... Eu achei que Carol não fosse perceber e...
— Ela percebeu, seu cabeça oca. — Max sempre ficava impressionado como Carlos sempre achava que não fazia besteiras, mas sempre aprontava as suas.
— Eu quero matar Charlotte!
— Você deveria querer se matar por ser idiota, não querer matar a irmã de Checo. — o loiro o rebateu, ganhando um olhar assustado — Você sempre faz isso. Coloca a culpa nos outros para não precisar assumir suas responsabilidades. Você errou, quando viu que colocou uma palavra equivocada, o que o professor Webber sempre falou que deveríamos fazer?
— Reescrever a carta. — Carlos chiou baixo.
— Exatamente. É uma coisa básica, aposto que até aquela cria irmã do Russell sabe disso. O menininho. Todo mundo sabe disso, mas você tentou apagar e ferrou tudo. E agora tenta colocar a culpa em Charlotte. Assuma seus erros. Não jogue para as outras pessoas.
Carlos tinha os olhos assustados no loiro.
— E o que faço agora?
— Solucione o problema, ora pois! Agora já sabe o que aconteceu, sabe que ela o corresponde da mesma forma e tudo pronto.
— Não é tão simples assim.
— O que não é tão simples, Carlos? Vai deixar a garota escapar por seus dedos por que é um bunda mole?
— O que sabe sobre ser um bunda mole? Se escondendo atrás da sombra do seu pai e não tendo coragem nem de saber se sua mãe era uma rameira como ele dizia ou não.
Max e ele se encararam.
— Deveria dormir, Sainz.
O Verstappen o avisou, tampando a latinha de tinta na qual vinha mergulhando sua pena e se levantando. Carlos abriu a boca, se dando de conta do que havia dito.
— Boa noite!
¹CARLOS SAINZ: Eu não ia escrever o nome completo dele, vocês sabem, muito grande...
Carlos só apronta né
Incrível
Primeiro com a Carol, depois com o Max...
As Russell sendo citadas
Carol totalmente desiludida, sendo que o macho arrasta a língua pelo chão se ela mandar
Aí, aí, aí
O que estão achando?
Espero que tenham gostado
cacalelerc parabéns pelo capítulo! Arrasou!
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