Muitas coisas para fazer!

É cedo, ainda tem tempo para tomar seu café com toda a calma. Seus saltos ecoam pela sala vazia, ela se aproxima de sua mesa, onde coloca seus papéis ao mesmo tempo em que põe seu copo descartável, com o líquido fumegante ali ao lado. Como sempre, nunca se atrasa no trabalho. Ou melhor dizendo, quase nunca, afinal, imprevistos acontecem.

Mas para Rose, isso é muito difícil de acontecer, já que sempre toma todos os cuidados. Ama detalhes e para sua profissão isso é imprescindível. Se cobra muito, com o motivo de que assim as coisas sempre saiam como o esperado.

Porém, o que ela não sabe é que mesmo se programando tanto e fazendo tudo do mesmo jeito, as coisas ainda assim, sairão do seu controle de um modo bem inusitado.

Se aproxima da persiana branca e abre, deixando os raios de sol tomarem conta de seu rosto pequeno e da mesa onde trabalha. Agora ele vai ficar lhe fazendo companhia. Senta-se com calma na poltrona confortável que fica na sala do seu escritório, que faz parte de um enorme prédio localizado no centro da cidade.

Toma um pequeno gole de café, vendo no celular qual será o próximo passo para incluir em seu novo projeto que está a todo vapor. Nos últimos dias o café e os raios de sol que entram pela persiana todas as manhãs, tem sido suas únicas e fiéis companhias.

Como os projetos demoram um certo tempo para serem finalizados, ela passa a maior parte do seu tempo ocupada com eles, e na sua casa, sua função se resume em dormir. Companhia amorosa? Isso já nem faz mais tanta diferença e ela já pode até dizer que resume sua vida sentimental como um "verdadeiro desastre" e ultimamente já passa longe desses problemas chamados "homens"

—Bom dia, Rosemeire — seu Gustavo, o diretor, entra em sua sala a passos lentos. —Então, como andam os projetos?

—Bom dia, Seu Gustavo.
Os projetos... — ela se preocupa. — Na verdade, um pouco atrasados.

Explica sem jeito. Isso nunca aconteceu antes.

— Devíamos ter contratado um funcionário antes, eu sabia que isso aconteceria. Você me deu certeza que daria conta, até que alguém fosse contratado — avisa ele, se virando pra ela.

— O senhor estava certo — seu olhar parece derrotado. — Eu não vou conseguir dar conta enquanto não tiver alguém pra me ajudar. — Ela está realmente perdendo o controle da situação e odeia admitir isso.

— Mas na última entrevista, você não gostou de ninguém! — Ele lhe cobra.

— Eu sei, mas é que... Eu não consegui achar, 'sentir' o que estava procurando neles —Rose faz ênfase com as mãos quando disse sentir.

— Então trate de 'achar e sentir' logo. — Gustavo tenta a imitar com as mãos, mas acabou saindo meio desengonçado ao repetir suas palavras. — Porque não podemos mais esperar para que os projetos sejam finalizados, está bem?

Sua careca brilha mais que seus olhos azuis, de tanta preocupação.

Será que se ele fosse mais novo eu...

Ela aperta os olhos tentando se concentrar.

Oh droga. Mas o que estou pensando? Isso não é hora pra minhas loucuras!

Já fazia tanto tempo que ela não pensava nisso que já estava...

Será que isso só é carência, Rose?

Pergunta para si mesma, se culpando por estar pensado nisso logo com o Sr Gustavo, a essa altura do campeonato.

Tomara que seja só carência mesmo.

Ela tenta afastar tais pensamentos para o mais longe possível.

— Um novo estagiário, o que acha? — Seu Gustavo se vira com olhar sugestivo.

— Ótima ideia! —  Ela se anima, depois esfrega a testa olhando para a mesa ao lado e em cima, uma grande prancheta de desenho, com vários papéis e rascunhos. —A Ana devia ter saído justo agora!?

Ela se levanta e caminha até lá.

— Veja este projeto por exemplo: A Liliane e o Marcos conseguem terminar, mas já outros projetos, somente um estagiário cursando arquitetura mesmo, para poder me ajudar.

— Tudo bem. Peça pra Cíntia entrar em contato com mais candidatos, espero que encontre realmente a pessoa certa que possa sentir confiança, pois vocês vão trabalhar lado a lado na maioria do tempo. Terá que acertar dessa vez.

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Após alguns dias, logo chega a etapa final.

— Bom dia, Rose — Cumprimenta Cíntia, sorrindo ao abrir a porta. — O candidato já está aqui e aguarda.

— Obrigada, Cíntia. Bem, finalmente vou conhecê-lo. — Rose se levanta.

Ao entrar na grande sala, logo vê o rapaz sentado, escrevendo em um dos testes com jeito concentrado.

— Bom dia — ela se aproxima e o cumprimenta com um aperto de mão.

— Bom dia — Ele lhe entrega um sorriso discreto, se levantando um pouco.

— Meu nome é Rosemeire, mas todos me chamam de Rose — ela senta-se perto dele. — Sou arquiteta e designer. E praticamente todos os projetos são iniciados e finalizados por mim, isso com a ajuda de dois Designers é claro. Seus nomes são; Liliane e Marcos. Afinal, não se pode fazer tudo sozinho, não é? Mas o estagiário que eu procuro, precisa estar cursando arquitetura. Depois falarei um pouco sobre a empresa, eu sei que você foi um dos finalistas da primeira etapa então, se apresente!

Rose cruza as pernas se ajeitando na cadeira e olhar atento para àquele rapaz, com jeito diferente.

— Meu nome é Kim Taehyung, mas todos me chamam de Tae. Tenho 23 anos, nasci em Daegu, Coreia do Sul. Eu aprendi o português por causa de meus avós paternos que moraram um tempo aqui a trabalho, eu vinha sempre com eles, até que cresci e quando eles voltaram de vez, eu decidi ficar aqui com a minha mãe.

Eles falam sobre vários assuntos pessoais e profissionais, Taehyung lhe mostra seus projetos e trabalhos da faculdade e afirma que não voltará tão cedo para a Coréia. Pretende seguir carreira aqui mesmo. De certa forma, ele gosta do Brasil.

Rose percebe que seu sotaque é muito evidente e gostou disso, achou até fofo. Ela observa seus traços orientais, seus cabelos crescidos que lhe cobrem a testa de um modo charmoso, ela sentiu confiança nos seus olhos, que ao mesmo tempo que são doces, parecem fascinar de um jeito que ela desconhece, sentindo-se até curiosa. Sua voz grossa, também é boa de ouvir, num tom grave e calmo.
Ela examina cada detalhe de seus trabalhos e acha excelentes, percebe que ele é dedicado e talentoso.

— Bom, Taehyung, eu gostei de você.

Rose sorri, satisfeita.

— Você vai trabalhar ao meu lado, eu vou fazer questão de te ensinar tudo o que sei, claro que terei paciência e empenho. Já que cada um tem o seu tempo, eu reconheço isso. Mas vou avisando que sou firme em tudo o que se faz aqui, eu vou cobrar muito

Ela olha, sério.

— Gosto de tudo bem executado. Já me disseram que não sou boa de lidar, porque levo tudo ao pé da letra, mas não acho que seja isso.

Como sempre, ela não gosta de dar o braço a torcer.

— Digamos que eu sou apenas cuidadosa para que tudo saia sempre como o desejado. Mas sei reconhecer o talento das pessoas e sou sim, muito compreensiva, você vai ver com o tempo. Então, seja bem vindo, Taehyung! — Rose se levanta sorrindo e aperta sua mão.

— Obrigado — seu sorriso dessa vez se abre mais.  — Eu prometo me esforçar e dar o meu máximo, Rose.

— Eu esperarei. Nos vemos na segunda-feira às 8 e meia da manhã.

Então ele se vai, satisfeito.

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Espero que gostem, faço de coração.

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