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Jeon Jungkook

Uma porta foi aberta, estava tudo escuro, minha respiração alta não era mais a única no lugar, tentei me mexer sabendo que precisava sair dali, mas eu não conseguia me mover.

Então ouvi a risada dele, baixa de início, mas aumentava conforme ele se aproximava de mim.

— Eu disse que ia voltar. — sussurrou Taehyung, apontando uma lanterna para meu rosto. Fechei os olhos devido a claridade, mas tornei a abrí-los, piscando contra a luz. — Você não achou que tinha se livrado de mim, achou? — o cômodo vai ficando vermelho. A luz doentia preenche a minha visão enquanto Taehyung sorri se afastando.

Vai ser divertido, Jungkook. — murmura Taehyung, jogando algo no chão. A coisa rola batendo nos meus pés. Meu coração parece saltar a mil por hora, estreito os olhos para enxergar o que é aquilo, apesar de saber que eu me arrependerei. — Acho que você precisa de luz! — dessa vez, Taehyung joga a lanterna pelo chão, ela vem rolando lentamente, seu brilho branco iluminando o ambiente vermelho.

Grito quando a lanterna ilumina aquilo que está aos meus pés, mesmo estando totalmente mutilado, eu reconheceria aqueles cabelos loiros em qualquer lugar.

A cabeça de Jimin.

Minha visão escurece quando sinto que estou prestes a desmaiar. Os olhos sem vida de Jimin me encaram fixamente. Seu nariz está totalmente quebrado, a boca – antes de lábios cheios –,está escancarada, balões de todas as cores foram postos lá dentro.

Agora é a sua vez, Jungkook-ssi. — diz Taehyung se aproximando lentamente com um machado em mãos. — Vai ser bem devagar, não temos pressa, certo? — sorrindo, ele ergue o machado acima da cabeça e o desce na minha direção.

— NÃO! — acordo com um sobressalto socando a sombra a minha frente. Me arrependo antes mesmo de ouvir o gemido de Jimin ao cair da cama.

Meu corpo está coberto de suor, com as mãos trêmulas afasto os lençóis.

— Desculpe... — murmuro ajudando Jimin a levantar do chão. Acendo o abajur ao lado da cama. Com a respiração chiada pisco para afastar o pesadelo. — desculpe, eu te machuquei? — olho para os ombros de Jimin sem coragem de olhá-lo direto nos olhos.

— Estou bem... — ele sussurra, sinto seus dedos pequenos segurarem meu queixo, o levantando para encará-lo. — estou bem. — ele garante outra vez, mas já consigo ver sua bochecha ficando avermelhada. — Ele outra vez? — sorrio amargo, concordando.

— Sinto muito. — ele diz com uma expressão triste. Desvio o olhar sentindo as cicatrizes nas minhas costas queimarem. Mesmo depois de um ano e meio elas ainda doem, ou pelo menos as sinto doer. Outrora, Taehyung desceu um chicote com espinhos nela, a lembrança da dor me faz tremer. Tento disfarçar levantando da cama.

— A culpa não é sua, Minie, já falamos sobre isso. — abro a janela do quarto sem me importar com o ar condicionado que está ligado. O vento frio da madrugada atinge meus cabelos, refrescando minha pele e afastando o resto do pesadelo.

— Não vou discutir de novo. — ele diz baixinho. Ouço seus passos arrastados vindo na minha direção. Ele apoia a cabeça no meu ombro beijando levemente minha pele. — Você toma banho nos seus sonhos? Está sempre encharcado. — ele brinca para amenizar o clima. Funciona, acabo rindo baixinho.

— Serviço completo. — murmuro procurando sua mão para entrelaçá-la com a minha. — Faz um ano e meio. — comento, respirando fundo.

— Faz um ano e meio. — ele repete, gravemente.

— Não consigo tirá-la da minha cabeça. — desabafo o mesmo assunto que foi motivo de longas discussões.

— Não consigo tirá-lo da minha cabeça. — ele deposita outro beijo no meu ombro.

— Acho que fiquei com ciúmes agora. — comento esperando que ele ria, mas isso não acontece.

— Está mesmo pensando em fazer o que tinha me dito? — ele pergunta se afastando. Jimin massageia a lateral da bochecha com o olhar perdido em algum ponto no chão.

— Está falando sobre visitar a Alice? — pergunto. Ele acena em concordância, solto um suspiro baixinho. — Estou, acho que quero ir vê-la. E você? Está pensando em fazer o que tinha me dito? — questiono de volta.

— Visitar o Taehyung? — afirmo. Ele dá de ombros, sua pele alva brilha dourada iluminada pelo abajur. — Não sei o que vou encontrar lá, me pergunto se ele continua com o mesmo pensamento de antes.

— Jimin, não pode esperar sua vida toda que Taehyung te perdoe. — as palavras saem mais brutas do que pensei. Jimin desvia o rosto outra vez, evitando o contato com meus olhos.

— Eu não espero isso... — ele sussurra.

— Sim, você espera, só não quer admitir. Mas olhe, Taehyung é um psicopata, a mente dele está danificada. Ele não vai te perdoar porque não sabe o que significa perdão, além do quê, te ver sofrendo deve ser um hobby pra ele.

— Você está certo. — ele passa a mão nos cabelos. Me aproximo e o envolvo em um abraço apertado.

— Vamos dormir, — sussurro em seu ouvido. — está tarde. — ele concorda.

Deitamos lado a lado na cama, apoio a cabeça no ombro de Jimin. Ele mexe em meu cabelo, distraído.

— Vou começar a retribuir os socos. — diz quando estou quase pegando no sono. Tenho que rir de seu tom de voz, meio bobo, meio irritado.

— Eu te amo, porra. — rio outra vez. Ele suspira audível pelo nariz. Não preciso olhá-lo para saber que está sorrindo.

— Eu também te amo, vamos conseguir passar por essas merdas. — sorrio o abraçando pela cintura.

— Espero que sim. — digo e fecho os olhos até pegar no sono.  

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