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ᬊ Um Refúgio 💙🧸


〘②①〙

𖤍 ℐames 𖤍

Senti alguns toques na minha barriga, mas não me importei e virei de costas no sofá-cama. Até que sinto uma mordida no braço e em seguida uma queimação no local, rapidamente me levanto e coloco as mãos na região afetada. Só então percebi que tinha dormido em meio aos livros e anotações; Abbey, a dragão, estava no braço do sofá me olhando como se achasse a situação engraçada.

- Muito engraçado, Abbey. - revirei os olhos. Pude notar que a mesma trazia um papel preso em sua calda - Você...os achou! Não acredito!

O peguei e senti algumas lágrimas rolarem por minhas bochechas. Sentia tanta saudade, que as mãos tremiam a cada palavra escrita.

"Saudações, James! Quem fala é a Blair, não há um dia em que não sentimos saudade de você, e o quão eu desejava que tivesse vindo conosco. Desde já, agradecemos por sua ajuda, agora estamos indo rumo a ilha Glacies, espero que possamos conseguir o objetivo, até agora, conseguimos o tão famoso "arco da criação", e por hora eu sou a sua portadora, incrível não? Ah, Bianca deseja lembranças a você e a todos no palácio, sim, ela está conosco agora, e um caçador de recompensas chamado Damian White Crown. Encontramos Bianca quando saímos de uma pequena vila, cujo o nome é Hearow, ajudamos os habitantes em uma batalha contra homens que queriam tomar o lugar, nossa amiga quase foi vendida a aqueles Alfas nojentos, mas eu a salvei e a mesma veio atrás de nós. Damian tentou me matar e nos levar de volta, mas parece que o destino nos favoreceu. Deve estar pensando "um assassino agora é  seu aliado!?", ele vem se mostrando um companheiro fiel e bom, o qual até mesmo Ethan - que não o recebeu bem - confia nele, e parece que está cada vez mais próximo de Bianca...sabe o que significa não é? Ha ha, espero que fique bem, ainda há esperança mesmo nas situações mais difíceis. Quando tudo isso passar, estaremos juntos novamente."

- "De Blair, Ethan, Bianca e Damian"... - termino de ler e passo a mão pelo rosto, secando as lágrimas.

- Foi difícil achá-los, mereço uma recompensa, certo? - disse Abbey, pulando na minha perna.

Abbey era um dragão fêmea da espécie anã, a qual iria permanecer no tamanho da palma de uma mão adulta. E o que a diferenciava dos demais, não era apenas sua altura única, mas também tinha o poder de se comunicar por pensamentos.

- Está bem. Obrigado, Abbey. - fui até a mesa em que estava a cesta com comida, peguei um salame e o joguei para ela, que o abocanhou no ar, sendo puxada para baixo pelo peso do alimento.

Estiquei os braços para cima e olhei para a pequena dragão, devorando aos poucos o salame. Me sentia alegre e aliviado por finalmente ter notícias de meus amigos, e agora Bianca estava sã e salva das garras da "Rainha Má", - um apelido que eu e Ethan criamos quando éramos crianças, para nos referir a Lydia - e enquanto a esse tal de Damian, fico feliz que esteja sendo de grande ajuda para eles.

Passei as mãos pelas folhas em cima de mesa, e encontrei um calendário que trouxe junto com as minhas coisas, contando os dias até chegar no atual, percebi que era o meu aniversário, completava 23 anos.

- É o meu aniversário... - murmurei suspirando - Parabéns para mim.

- Oh, parabéns James! - Abbey voou e pousou em cima da minha cabeça - É um dia importante.

- Acho que sim. Quero dizer, se não fosse um foragido e "traidor" do reino.

- Oras, ânimo. Venha, vamos fazer algo, afinal, é seu aniversário!

- Ir aonde? - disse sem ânimo  - Ninguém está aqui, e muito menos virão. É meu primeiro aniversário sem meu melhor amigo, desde que... - Senti a dor em meu peito, como se meu coração estivesse sendo esmagado.

- O que houve? - Abbey me olhou preocupada.

Mal conseguia falar, as lágrimas me sufocavam junto com a angústia que sentia dentro de mim há muito tempo. Não conseguia mais aguentar, aquilo doía constantemente, e quanto mais o tempo passava, maior era a dor.

- ...desde que meus pais saíram para propor um acordo de paz, e desde então nunca mais foram vistos. Eu tinha 15 anos. - respirei fundo tentando impedir que mais lágrimas caíssem, mas era em vão.

- James! Seus olhos... - jogou a cabeça para o lado. Ri baixo achando a cena adorável. 

- Acontece, devem estar em um tom claro. São os meus sentimentos. - disse e passei as mãos no rosto.

- Não só os seus olhos, você está brilhante!

Olhei para minhas mãos e vi uma aura azul escuro sobre mim.

- Isso é... - tropecei em meus pés, surpreso com o que se sucedia.

Meu potencial mágico tinha se aflorado. Quando era mais novo, esperava ansiosamente por esse acontecimento, mas nunca ocorreu e de acordo com os livros, após 10 anos e nada acontecia, a magia se esfriaria, nunca mais podendo ser reativada.

Por mais que aquilo tenha me entristecido, segui em frente como um garoto "normal". Curioso, como poderia o meu potencial mágico surgir com 23 anos?

- Parabéns! Você é um mágico. - Abbey voou acima da minha cabeça.

- Como? Eu passei da idade... - aos poucos a aura foi sumindo.

- Conheci uma pessoa que assim como você, sua magia aflorou quando tinha a idade avançada para os limites. - a dragão pousou em cima da mesa.

- Theodor? - perguntei surpreso.

- Não, a irmã dele, Cristina. Ela tinha 34 anos quando finalmente aconteceu.

- Entendi. Bom, esse foi um belo presente de aniversário. - sorri fechando os olhos e juntei as mãos.

- Er...James? Quem ativou a gravidade zero?

Abri os olhos e vi tudo ao meu redor flutuar, envoltos pela mesma aura azul. Quando olhei, as coisas caíram no chão de uma só vez.

- Eu fiz isso!? - disse me abaixando para pegar as coisas.

- É óbvio, mas sim, foi você. Então esse é o seu poder: telecinese.

- É incrível! Posso mover objetos como bem quiser! - estendo a mão para um livro a uma certa distância de mim, mas o objeto vem voando e acerta a minha testa.

- Sim, mas precisa de prática, muita prática.

Bufei colocando a mão na testa. Olhei para cima, e linhas sinuosas estavam acima da minha cabeça.

- Essa é nova... - ri e as linhas se agitaram.

- A sua telecinese permite que seja um construtos! - Abbey sorriu.

- Um construtos?

- Sim, lhe dá a capacidade de dar formas à qualquer coisa possível na sua imaginação. As limitações são sua criatividade e concentração, não é algo qualquer e muito menos banal...

Olhei fixamente para Abbey enquanto a mesma tagarelava sobre o quão responsável eu teria que ser, mas estava eufórico demais para prestar a atenção. De repente, uma projeção azul apareceu ao lado dela, completamente idêntica a mesma, copiando até mesmo suas ações e feições.

- Eu...consegui. - disse chamando a atenção da dragão a minha frente.

- Francamente, James. Escutou pelo menos uma palavra do que eu disse? - bufou irritada, sem perceber a sua cópia.

- O bastante para fazer isso. - apontei para a projeção. Abbey pulou assustada e acabou caindo da mesa.

- Perdão... - sussurrei recebendo um grunhido como resposta.

- James? - ouvi a voz de Oliver e me assustei, levantando rapidamente.

- Oliver! - disse e vi o mesmo parado em frente a passagem secreta.

Sem esperar o mesmo responder, corri até ele e o abracei forte, sentindo meu coração se acalmar com seu doce cheiro de maçã.

- Feliz aniversário. - pegou em meu rosto e acariciou a minha bochecha.

- Você...se lembrou!

- Claro que sim, nunca iria me esquecer. Morcego... - disse a última parte e sorriu.

- Até quando isso? - aperto os braços em volta de seu pescoço.

- Porque sim, você é um. Batboy.

- Engraçado, muito engraçado. - desviei o olhar rindo baixo.

- James, o que é isso? - aponta para o topo da minha cabeça.

Vários corações estavam em cima da minha cabeça, mas assim que os olhei, sumiram.

- Hum...tenho algumas coisas para contar. - ri nervoso sentindo o rubor em minhas bochechas.

- Entendi. Enquanto isso, que tal comermos o bolo que eu fiz para você? - apontou para uma pequena caixa em cima da mesa.

- Sério? Mesmo? - disse animado e sorri correndo até a mesa.

➳ℬlair

Assim que chegamos no tal lugar, Verônica parou em frente a porta de uma casa, parecia nervosa e inquieta.

- Faz um ano que não venho até aqui... - a mesma disse e suspirou nos olhando - Mas, que seja.

Verônica bateu na porta, após alguns segundos, uma Ômega de cabelo rosa veio ao nosso encontro. Ao se deparar com a mulher a sua frente, sua expressão mudou, ficando surpresa.

- Olá, Dalia. - Verônica sorriu e abriu os braços, esperando a outra para um abraço.

- Verônica... - disse e a mesma sorriu mais ainda.

Mas a tal Dalia levantou o punho e acertou o rosto de Verônica em cheio, a fazendo cair para trás.

- Que recepção calorosa, não é mesmo? - disse Damian e riu.

- Desaparece por um ano, e tudo o que tem a dizer é "olá, Dalia"!? Eu deveria socar a sua cara até virar do avesso! - Dalia gritou enfurecida, colocando ambas as mãos em cada lado da cintura.

- Sua mão continua pesada. - Verônica se sentou no chão, com a mão no nariz.

- Por que voltou? - a rosada perguntou seriamente e olhou para nós quatro.

- Meus companheiros precisam de ajuda, e em toda essa cidade de loucos, só poderia vir aqui.

- E por que ajudaria? Depois de tudo... - murmurou a última parte e desviou o olhar.

- Por favor, Dalia. Eles estão feridos.

Dalia nos olhou, e só então viu a nossa condição. Seu semblante mudou, como se estivesse preocupada, mas ainda relutante com a sua decisão.

- Sejam rápidos. Acho bom me contar tudo, Verônica.. - suspirou e abriu a porta, nos dando passagem

Quando entramos, vimos que a casa era grande e aconchegante, com crianças subindo e descendo as escadas, brincando umas com as outras. Os mais velhos conversavam e riam enquanto olhavam os pequenos se divertirem. Ao notar a nossa presença, todos os olhares se  voltaram para nós.

- A Verônica voltou! - uma Alfa gritou e todos vieram em nossa direção.

- Se aquietem! Deixem-na respirar! - uma Ômega de tamanho médio gritou.

- Primeiramente, vocês dois. - Dalia apontou para mim e Ethan - Podem seguir direto e entrar no primeiro quarto a direita. E sem gracinhas, tem crianças por aí.

- Tudo bem. - disse ignorando os olhares curiosos e seguindo o caminho indicado, com Ethan ao meu lado.

Chegamos no quarto e me sentei em um banquinho com a ajuda do Lúpus.

- Agora - Ethan começou e tirou com cuidado o tecido em cima da minha ferida, me causando uma dolorosa ardência -, pode me contar o que aconteceu?

- Achei que tivesse encontrado minha família, mas fui ingênua o suficiente para deixar aquela velha me enganar. - serrei os punhos encarando o chão.

- E o que te fez pensar que ela era sua avó? - o Alfa olhou para a madeira presa em minha carne, e depois para mim.

- Vai doer horrores; mas sem dor, sem ganho. Pode tirar. - respirei fundo e segurei nas laterais do banco - Ela sabia do meu amuleto...e acertou quando disse que o ganhei quando era bebê.

- Entendi, mas as aparências podem enganar. - disse e assim como eu, respirou fundo.

Com o pano em mãos, o usou para tirar rapidamente o pedaço preso, mas assim que o tocou, não consegui me conter e um grito arrastado saiu de meus lábios. A ferida começou a sangrar, mais que antes, se não a fechasse poderia inflamar e acabaria perdendo muito sangue.

- Terei que cauterizar... - Ethan me olhou preocupado e assenti em silêncio, sentindo pequenas lágrimas se formarem no canto dos meus olhos.

O Alfa pegou a adaga em meu cinto e foi para perto da cômoda, a qual tinha uma lamparina acesa. Colocou a ponta da lâmina dentro e o fogo a aqueceu após um tempo. Quando se voltou para mim, puxou um lenço do bolso e estendeu para mim.

Sua expressão era de puro nervosismo e preocupação, por seu cheiro intenso, vi que aquela situação também estava o afetando de algum modo. Me ver sofrer, deveria ser o pior infortúnio, e ter que assistir a isso, piorava as coisas.

Peguei o lenço e o coloquei na boca, o mordendo com força, apertei os dedos no banco e soltei um grito abafado ao sentir a lâmina da adaga adentrar em minha carne, me queimando por dentro. Após um curativo em cima da ferida cauterizada, o sofrimento tinha acabado, e pude tirar o pano da boca, suspirando aliviada.

- Tudo pronto. - Ethan tirou o lenço da minha boca e colocou as mãos no meu rosto.

- Poderia ter sido pior. - involuntariamente, encostei a minha testa com a do Alfa - Obrigada por ter me salvado.

- E poderia ter feito mil vezes se fosse necessário. - beijou a ponta do meu nariz - Porque a amo, mais do que possa imaginar.

- Me amaria mesmo sabendo que... - parei por um segundo e olhei nos olhos do Alfa - Sou uma "simples plebeia"?

- " Simples plebeia"!? Estou apaixonado pela Ômega que chutaria a minha bunda, se a irritasse. - disse e eu ri baixo - Mas sempre que preciso, está ao meu lado, guerreando comigo. Você é muito mais que isso.

- Que bom que acha isso, príncipe. - disse de um jeito divertido e ele sorri.

- Como consegue ser tão grossa e linda ao mesmo tempo? - sem que eu o respondesse, avançou em meus lábios com um beijo calmo.

Eu o correspondia envolvendo seu pescoço com meus braços. Sensações vieram a tona, como se borboletas dançassem em meu estômago, me causando um arrepio. As mãos do Lúpus desceram até a minha cintura, com cuidado para não tocar no curativo, enquanto meus dedos adentraram em seu cabelo, o puxando para mais perto.

Não queria que aquele momento terminasse, sentia sua língua adentrar a minha boca e um sentimento surgiu em meu peito, o sentia quente e me trazia paz, fazendo-me esquecer de tudo a minha volta.

Infelizmente, o barulho da porta se abrindo nos fizeram retomar a consciência e me separei dele encarando as duas figuras na porta: Dalia e Verônica. Que nos olhavam surpresas e com malícia.

- Eu sabia que os dois tinham algo! - Verônica sorriu e recebeu uma cotovelada na costela, da rosada.

- Eu disse: sem gracinhas! - Dalia disse irritada, mas exibia um sorriso.

- Não...nós não... - soltei a cabeça de Ethan e olhei para as mãos do mesmo na minha cintura.

- Céus... - Ethan jogou a cabeça para trás, sorrindo em êxtase e ignorando as duas na porta.

- Enfim, vamos nos reunir na sala. Então, podem se divertir mais se quiserem. - Verônica sorriu maliciosa e levou um soco no ombro.

- Essa é uma casa de família! Não um cabaré! - a rosada gritou.

- O que é um cabaré? - uma pequena Beta, com o cabelo dividido em duas tranças, chegou na porta.

- Uma casa de cavalos. - Verônica respondeu com simplicidade e pegou a pequena no colo. - Vamos para a sala.

- É melhor, antes que vocês assassinem a inocência das pobres crianças. - Dalia nos olhou séria e saiu do quarto, deixando a porta aberta.

- Que situação... - sussurrei suspirando - Vem, Ethan.

- Temos mesmo? - acariciou minha cintura, deixando minha pele sensível e ansiar por mais toques.

- A Dalia vai nos matar, se não irmos logo. E não quero mais nenhum encontro inesperado. - tirei suas mãos da minha cintura e me levantei - Obrigada pelo curativo..

- Não mereço outro beijo como recompensa? - se inclinou na minha frente e coloquei a mão em seu rosto.

- Vamos logo. - empurrei seu rosto para trás e saí do quarto.

❦ ℬianca

Abro os olhos lentamente ao sentir algo acariciar minha testa, e me deparei com dois pares de olhos amarelos, vi que Damian me olhava com um sorriso no rosto.

- Achei que tivesse entrado hibernação. - riu e me ajudou a sentar na cama. Sentia meu corpo meio enfraquecido.

- O que houve? - bocejei esfregando as pálpebras.

- Você fez várias vinhas e galhos brotarem do chão, e então matou aquele lobo, mas com a tamanha força, acho que acabou lhe desgastando e no final, você desmaiou.

- Oh céus! - coloquei as mãos na cabeça - eu me lembro! Mas...como fiz aquilo?

- Você mesma disse, está conectada com a floresta e tal. Acho que não move só a terra, e sim as plantas também. Tudo que tem vida, na natureza.

- Então...meus poderes vão mais além do que imaginei. - sorri mínimo, mas dei lugar a uma expressão preocupada - E a Blair?

- Está com o Ethan, tratando do ferimento. Já deve estar bem a essa hora.

- E onde estamos?

- Em um tipo de abrigo para crianças. Bom, é o que parece. - riu pegando um ursinho de pelúcia do chão, e o colocou em cima da cama - De uma conhecida da Verônica.

O Beta não conseguia esconder o quão insatisfeito ficava com a presença de Verônica, tanto que só em pronunciar o nome da mesma, mostrava uma certa frustração. E em algum dia, iria descobrir o porquê de tanta irritação.

- Entendi. - sorri esticando os braços para cima. Mas ao me mover, o ursinho acaba caindo para trás.

- Eu pego! - ambos dissemos e nos inclinamos para o pegar.

Damian acabou por cima de mim, com o braço estendido acima do meu ombro. Nossos corpos tiveram tanta aproximação, que sentia seu coração bater rapidamente. Seu olhar desceu dos meus olhos para os lábios, o Beta respirava ofegante assim como eu, sentia uma sensação estranha em meu peito, a ansiedade do que aconteceria em seguida, junto com algo que me fez estremecer por dentro.

- Gente, vamos nos... - ouvimos uma voz e nos viramos para a porta.

Uma Ômega de cabelo rosado nos olhava incrédula e desviou o olhar com uma careta.

- Eita que está tudo bagunçado. Isso aqui não é um cabaré! Enfim, vamos nos reunir na sala, não se peguem. - disse e saiu rapidamente.

Ouvi a risada do maior e senti meu rosto esquentar.

- Gostei dela, é engraçada - riu e saiu de cima de mim.

Senti como se tivessem interrompido algo e um bico se formou em meus lábios. Estranhamente, queria que Damian fizesse algo, o que me deixava com um arrepio na barriga.

- Vamos, então. - sussurrei me colocando de pé.

- Desculpe por antes, não vai acontecer de novo. - Damian sorriu sincero.

- Entendi. - cruzei os braços e encostei a cabeça em seu braço. Não conseguia chegar a altura de seu ombro.

- ههههه -

- Tudo começou quando eu tinha doze anos  - Verônica começou a contar - Quando perdi a minha mãe, ela me criou como podia, pois nunca conheci meu pai e vivíamos lutando para sobreviver. Com a sua morte, não podia ficar sozinha e queriam me levar para uma instituição, mas eu fugi. Passei um mês nas ruas, tentando viver como conseguia, até que conheci a Dalia, junto com algumas pessoas queridas e passamos a nos ajudar, a cuidar uns dos outros, como uma família unida. Eles me deram um lar, nessa casa, e após alguns anos, a reformamos e agora é o lar de várias crianças sem onde ficar, ou que estejam passando por necessidades.

Todos estavam na sala, ouvindo atentos o que Verônica contava, enquanto comíamos em silêncio.

- Até que essa carcereira de gaiola nos abandonou por um ano. Em busca de sei lá o que. - Dalia bufou, abocanhando um pedaço de pão.

- Eu estava a procura de algo que nos ajudasse a não passar fome! - Verônica rebateu, olhando séria para a rosada.

- E encontrou? - Dalia suspirou pesadamente.

Verônica pegou a bolsa e a virou para baixo, várias moedas caíram no chão diante dos olhos curiosos de todos ali presentes. As crianças e jovens gritaram animados e a mesma sorriu.

- Sim, eu encontrei. - juntou o dinheiro e voltou a se sentar.

- Isso merece uma história! - um garotinho gritou, colocando ambos os braços para cima.

As demais crianças concordaram em uni-som e olharam para Dalia. A mesma estava com o olhar distante, apenas seguiu escada a cima sem olhar para trás, Verônica suspirou e foi atrás dela. Um silêncio triste pareou no ar, e o semblante das crianças já estava entristecido.

- Eu sei de uma história! - disse Damian, atraindo os olhares para si - Chama-se: "Chapeuzinho Vermelho - olhei para ele e o mesmo piscou um olho. - Era uma vez, um garotinha que vivia com seu tio em um vilarejo distante. A chamavam de Chapeuzinho Vermelho pois sempre usava uma capa vermelha com um capuz. Um dia, ela teve que sair pelo mundo, para encontrar a sua avó, mas no caminho, um terrível...

- Urso! - o interrompi e os olhares pararam em mim - Um urso enorme e feroz, e disse "onde vai tão apressadamente, Chapeuzinho Vermelho?", a garotinha respondeu "encontrar a minha avó, por acaso a viu?"

Sorri percebendo que Blair estava sorrindo também. Tentava contornar o assunto, pode ser que isso abalou a mesma bastante, e de fato, acho que sim, por mais que tente esconder e não tocar no assunto. Damian olhou para mim e acenou com a cabeça, parecendo entender a situação, e então continuou:

- Sim, e o urso acompanhou a menina até chegar a um lago. Ele não poderia prosseguir a partir dali, então Chapeuzinho Vermelho teve que seguir sozinha, atravessando a ponte e finalmente chegou a casa da avó. Ao entrar, viu a mesma deitada em sua cama e a abraçou. Porém, sentiu um cheiro peculiar vindo da mais velha, se separou por alguns segundos e perguntou: "vovó  por que tem o nariz tão grande?" e a mesma respondeu "para cheirar seu doce perfume, minha querida", Chapeuzinho Vermelho mais uma vez perguntou "e esses olhos? Tão redondos e escuros?", a avó respondeu "para lhe ver melhor, minha neta". Por fim, a menina se sentou na beirada da cama e disse " e seus braços tão grandes e fortes?", então a mais velha viu que não poderia mais esconder, e revelou ser o urso nesse tempo todo. Ela sempre a acompanhou, não importando o quão longe a viagem pudesse ir. E fim.

- Uma bela história. - Dalia apareceu no pé da escada e sorriu - Bom, hora de dormir crianças.

Os mais novos negaram em uni-som, protestantes contra a fala da rosada.

- Só mais cinco minutinhos. - um menino respondeu, sendo apoiado pelos amigos.

- Ah claro, o bicho-papão gosta das criancinhas que não vão para a cama quando mandadas. - Dalia sorriu de canto.

As crianças se entreolharam e uma a uma correram para seus devidos quartos, ficando apenas os jovens.

- Nunca falha. - disse Verônica, ao lado de Dalia.

- E então? - um Beta perguntou.

- O último a chegar é a mulher do padre! - uma Alfa sussurrou, mas foi o suficiente para ser ouvida por todos.

Todos - excerto nós quatro - subiram as escadas que levava ao último andar da casa: o terraço. No final, os seguimos e ficamos juntos com os outros, contando histórias e nos divertindo.

- Vocês podem ficar o tempo que precisarem, desde que não transformem a casa em um cabaré. - Dalia riu junto com os outros.

Blair e eu nos entreolhamos nervosas, enquanto Ethan e Damian riam baixo, mas o Alfa parou por um segundo e encarou o moreno.

- Obrigada, por nos deixar ficar esta noite. Partiremos amanhã. - Blair sorriu

- Tem certeza que está bem para viajar? - Ethan perguntou.

- Não é isso que vai me parar, e não quero que vocês fiquem parados por minha causa.

- Então, apenas Ethan e Bianca vão. - Damian propôs.

- Parece o melhor a fazer. - Admiti apoiando o rosto na mão.

- Também acho. - Ethan me olhou e sorriu.

- Se todos estão de acordo, podem ir - Blair suspirou - Só tentem não morrer no caminho. Defuntos não contam histórias.

Nós três rimos. Estava decido, eu e Ethan partiríamos no dia seguinte, seria um dia de viagem, depois iríamos retornar. Olhando assim, não parecia que seria tão perigoso.

/ Desculpa aí gente ;---;...acho que exagerei um pouco kkkk

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