〘①④〙

Nem preciso dizer que senti um enorme constrangimento quando descobri que após sair da árvore ambos estávamos nus. Magicamente voltamos ao tamanho normal e recuperamos nossas roupas, combinamos de nunca citar essa parte e seguir como se nada tivesse acontecido. Contei a Ethan sobre o que precisava saber - tirando os sacrifícios - e retornamos para a margem do pântano.

Antes que perguntem, não, seria cruel demais deixar aquelas fadas congeladas para sempre. Por sorte, descobri que se o portador do arco destruir a flecha, o feitiço se desfaz. Assim eu fiz, logo depois fugi com o Alfa o mais rápido que pude.

Com o uso de cordas, atravessamos o pântano com uma tirolesa improvisada. Bianca e Damian logo trataram de nos fazer mil perguntas, cada um com uma diferente, e mais uma vez contei o necessário. Depois fomos até a carruagem, para descansar o resto daquela tarde. 

- Bianca, disse que queria aprender algumas coisas comigo. - pego um galho de árvore grande do chão.

- Oh sim! Achei que tivesse esquecido. Mas, não está cansada? - a Ômega perguntou.

- Não fiz muita coisa naquela árvore, e eu nunca me esqueço de certas coisas. - jogo o pedaço de madeira para ela, por mais que tentasse, não conseguiu o pegar - É, tenho um longo trabalho pela frente.

Bianca sorriu nervosa e me olhou esperançosa, perguntando logo depois:

- O que vou aprender primeiro?

- Primeiro, esqueça de tudo nesse momento, relaxe os músculos. Segundo, não tire os olhos de seu oponente. E terceiro, se divirta.

- Claro, muito divertido matar seus inimigos. - Ethan riu enquanto nos observava.

- Eu vou matar pessoas!? - a Ômega disse afoita. Levantei o bastão contra seu rosto, e a mesma me olhou surpresa enquanto o via passar diante de seus olhos.

- Só nesse momento, você já ignorou as duas primeiras coisas que eu falei.

- Perdão, eu me distrai...

- Se eu fosse um inimigo, teria a matado em três segundos, não peça desculpas. Tente me atacar.

- Mas vou machucar você...

- Eu não pediria isso se não tivesse certeza do que estou fazendo. Pode vir!

Bianca suspirou e levanta seu bastão vindo até mim, saio do caminho e ela cai para frente.

- Seu oponente não vai esperar que você vá até ele. Seja mais rápida, separe as mãos.

Ataquei e Bianca fez o mesmo, a mesma tentava com todas as forças me fazer recuar, enquanto eu me defendia com facilidade. Até um momento em que tomei seu bastão e ela caiu no chão novamente.

- Não chega nem perto de um nível aceitável, mas já é um começo. - estendo o bastão e Bianca o pega se pondo de pé.

- Ei, Blair. - Ethan vem até mim.

- O que quer?

- Por que não me deixa ensina-la? Acho que sei lidar melhor com ela.

- Você vai trata-la como uma frágil margarida. E por um segundo, achei que estivesse insinuando que é melhor que eu.

- Talvez eu seja. -Ethan sorriu e eu semicerrei os olhos.

- Então prove. - retrocedi alguns passos e joguei a minha capa para o lado.

- Tem certeza? Não vou me conter.

- nossa, estou morrendo de medo. - revirei os olhos prendendo o cabelo - Pode vir com tudo, Alfa.

- Sem armas então. - colocou sua espada cravada no chão - Que seja justo.

- Se é assim - jogo minha adaga, o bastão e minhas lâminas no chão junto com a capa.

Ethan avançou contra mim e desvio de seu soco que acaba acertando uma árvore. Mais uma vez tenta me acertar mas não teve sucesso, ri olhando para sua expressão frustrada e o mesmo passa seu pé por debaixo do meu e caio para trás com ele por cima de mim.

- Tão fácil... - o Alfa sorriu satisfeito.

Chutei o meio de suas pernas, bati minha testa contra a dele e o empurrei para frente com o joelho. Quando o Alfa se levantou, com um braço em sua barriga, avancei em sua direção, desferi um saco em seu queixo e ele socou minha boca. Dei alguns passos para trás e cuspi o sangue entre meus dentes.

- Vocês vão acabar se matando desse jeito! - diz Bianca enquanto olhava para Damian com reprovação, enquanto o mesmo ria.

E mais uma vez, Ethan veio ao meu encontro e me defendi de suas investidas, atacando também como podia e com toda a força. Até que em um momento ele me jogou contra uma árvore ameaçando desferir mais um soco em mim.

- Sei que quer isso. - disse séria olhando para seus olhos vermelhos.

O mesmo continuou me encarando intensamente. Podia sentir a adrenalina fazendo meu corpo estremecer. Ri baixo e abri os braços os levantando com força, em um segundo saí de sua prisão e pulei segurando em um galho acima de nós, me pendurei nele e chutei o abdômen de Ethan, que caiu para trás.

Solto o galho e corri em sua direção, me sentei em seu abdômen com os joelhos em seus braços e coloquei as mãos em seu pescoço, apertando aos poucos.

- Quem é melhor agora? Hum? - em resposta, Ethan levantou o tronco e me jogou para trás.

Levantei as pernas e envolvi seu pescoço em minhas coxas, o Lúpus tentou agarrar minha cintura mas apertei minhas pernas sobre ele.

- ...estou sem ar - murmurou com dificuldade e bateu na minha coxa - Você venceu...

- Está bem. - o soltei e o mesmo respirou fundo sentando no chão.

De alguma forma, me senti melhor  depois disso, não por me achar melhor ou querer prova algo, mas porque me livrei de toda aquela raiva e angústia que sentia.

- Nossa, você está horrível. - Ethan riu apontando para o meu rosto.

- Você está pior, acabou de levar uma surra. - me levanto e estendo a mão - Mas, tenho que admitir, você é forte.

- Obrigado? - pega na minha mão e se levantou também - Eu me diverti.

- Bom, agora sim é a hora de descansar.  - ri andando na frente dele.

- Se sente melhor?

- Sim... - sorri sentindo o coração mais leve

Sem nenhuma palavra, conseguimos nos entender e fazer as pazes. Esse era o nosso jeito de pedir desculpas, meio violento, mas no final tudo ficava bem.

❦ ℬianca ❦

Estava batendo os punhos em uma árvore, pensando no primeiro "treino" que tive. Era tão ruim assim nisso? Suspirei cansada e apoiei as mãos no tronco.

- Coitada da árvore. - rapidamente me viro para frente e dou de cara com Damian.

- Eu só estava...

- Eu sei.

- Aposto que ficou rindo de mim. - cruzo os braços desviando o olhar.

- Você me lembra de quando era criança, e estava aprendendo a lutar. Era tão ruim quanto você.

- Isso era para me animar? - perguntei aborrecida.

- Não, acho que não sou bom nisso. - o Beta andou a minha frente - Pode continuar a bater em árvores inocentes, não vou mais atrapalhar

- Espere... - digo e ele me olha  de canto - Como você aprendeu?

- Tive um bom professor. - deu de ombros - Por que?

- Pode me ensinar? Por favor.

- Não sou um bom professor. - Damian concluiu e continuou andando.

Respiro fundo e vou atrás dele.

- Mas você é tão bom quanto a Blair e o Ethan. E você disse que sou tão ruim quanto você era, quer mesmo me ver fracassar e rir disso?

- Sim, é um alívio cômico - gargalhou de costas para mim.

- Ei! Oras, que coisa... - bufo irritada - O que é preciso fazer para que você me ensine?

Por um segundo ele para, e depois se vira para mim com um largo sorriso no rosto, o qual me fez temer o que viria a seguir.

- Tem uma coisa sim... - pegou em meu braço e me puxa até a frente de uma árvore muito alta - No topo dessa árvore, tem uma comédia cujo o mel é o mais saboroso de todo o reino. Quero que consiga para mim.

- Está brincando comigo, não é!? - encaro o mesmo que continuava com uma expressão serena.

- Não, é sério.

- Eu posso cair e morrer!

- Esse é o preço. Ou quer desistir e continuar sendo a minha diversão?

Olho para o topo da árvore e suspiro derrotada.

- Está bem...

- E não use seu poder. - cruzou os braços sorrindo novamente.

Subo em um galho e me sento nele, tiro meu vestido ficando apenas com uma calça branca de tecido fino e uma camisa da mesma cor e espessura, e as jogo nos braços do Beta junto com meus sapatos. Começo a escalar a árvore evitando olhar para baixo, me segurando nos galhos firmes e seguindo. Subitamente, sinto uma picada em minha mão, a minha frente estava um formigueiro de formigas vermelhas, as quais não estavam nem um pouco felizes com a minha chegada, e atacaram minhas mãos sem piedade. Conforme sentia a ardência em meus dedos, andei para trás e acidentalmente me desequilibrar e cair para trás, os galhos batiam em minhas costas e no rosto enquanto caia rapidamente. Parei ao bater em um galho a poucos metros do chão.

- Está tudo bem? - Damian gritou em baixo.

- Sim! - respondi olhando para meus dedos, a essa altura estavam vermelhos e coçavam - De novo...

E mais uma vez subi segurando nos galhos, dessa vez, desviei o formigueiro e continuei a subida chegando mais alto.

- ههههه -

Várias vezes tentei subir até o topo, mas sempre algo me fazia cair. Olhei para baixo e senti meu estômago embrulhar, era tão alto que poderia morrer se caísse. Mas tentaria mesmo assim, não poderia desistir a aquela altura. Senti algo tocar em meu pé e meu corpo parou imóvel quando vi que se tratava de uma cobra, rastejando por cima lentamente. Qualquer movimento resultaria em uma dolorida mordida, e na pior das hipóteses, sofreria ainda mais com o veneno.

O ser subiu pela canela e eu começava a sentir medo com sua língua tateando minha pele. Em um momento não aguentei e a pequei rapidamente, mas recebi uma mordida no pulso, com a dor acabei me desequilibrando e caindo novamente. Dessa vez, passei direto pelos galhos e parei ao sentir algo macio amortecer a queda, passei a mão para a direita e senti uma pelagem macia entre meus dedos.

- Até que durou mais do que imaginei. - disse uma voz grossa e olhei para o lado.

Um enorme urso de pelos negros me olhava, e eu estava em cima de sua barriga. Me virei para ele e sorri ao reconhecer o natural cheiro de canela do Beta.

- Mas obrigada mesmo assim, por me salvar.

- Espera, consegue me entender? - Damian franziu o cenho e toquei em seu focinho molhado.

- Posso sim, não sou apenas conectada com a floresta, os animais também fazem parte dela.

- Entendi. E eu não a salvei, quem iria pegar o mel para mim se você morresse?

- Está bem... - sinto meu pulso latejar e arfei colocando a mão no local

- Céus, o que foi? - se transformou em humano e me pegou no colo.

- Quando estava lá em cima, uma cobra me picou.

- De que cor?

- Verde. - digo e ele me olha preocupado - É venenosa?

- Você só tem mais cinco minutos de vida. - me colocou em cima de uma pedra e eu sinto meu peito apertar.

- ...e-eu vou morrer? - sinto as lágrimas em meus olhos e abaixo o olhar.

- Claro que não, cobras de cipó não são venenosas! Que inoce... - seu sorriso murchou ao ver o meu semblante - Você acreditou mesmo?

Não respondi, apenas deixei as lágrimas caírem, tentava secar as bochechas mas era em vão. De repente, sinto algo macio tocar meus lábios e arregalei os olhos observando Damian se distanciar com uma expressão calma. Só então percebi, o mesmo tinha me beijado. Sinto minhas bochechas esquentarem e um sentimento estranho em meu estômago.

- ...por que fez isso? - sussurrei após um tempo.

- Para fazer você parar de chorar, funcionou, não é mesmo? - Damian sorriu satisfeito.

- Sim...mas e a dor? - mostro o pulso.

- Vai passar logo. - pegou seu cantil e o abriu jogando a água por cima da minha pele.

Tendo deixado a ferida lavada, pegou uma folha no lado da pedra e um cipó na árvore, fazendo um curativo em volta.

- Pronto, vai sarar logo. - Damian sorriu e acariciando levemente o local com o polegar.

- Você não parece ser um caçador sangue frio, não para mim.

- Eu sou sim, e implacável.

- Você me salvou e cuidou de mim.

- Mas continuo sendo sangue frio. - diz com um sorriso de canto e se senta ao meu lado.

- Está bem.

- Bianca, você não precisava fazer aquilo. Só estava testando você, até onde sua determinação iria, provou que é persistente e corajosa.

- Sério? Mesmo? - sorri

- Porém ingênua - ri e meu sorriso se transforma em uma expressão irritada - Mas nada que um bom treino não resolva.

- Então significa que...

- Sim, me convenceu. Seria cruel não fazer isso por você, sendo que arriscou sua vida.

- obrigada! Muito obrigada! - o abracei sentindo a euforia dentro de mim - Vou contar para o Ethan!

Soltei o mesmo e corri na direção da carruagem, pude ouvir a risada do Beta atrás de mim e parei olhando para o chão. Estava sem o meu vestido. Voltei para onde Damian estava e revirei os olhos o vendo rir sem parar.