ᬊ A Aldeia ⛰️
〘①①〙
➳ ℬlair ➳
Encarava atenta Damian afiando sua adaga, tão afiada quanto navalha. O mesmo me olhava de vez em quando com um olhar entediado. Após um tempo, colocou a pedra de lado e se acomodou no banco.
- O que tanto olha? Sou tão bonito assim? - sorriu e eu revirei os olhos.
- Alguém tem que ficar de olho em você. - cruzei as pernas.
- Ah entendi, está chateada porque eu tentei te matar. Perdão, não é nada pessoal, mas você é a oponente mais forte, por isso não poderia deixar que me atrapalhe.
- Você até que é esperto, mas não muda as coisas.
- Eu sou um homem de palavra, disse que não os mataria, e vou cumprir isso.
- Q que faz você acreditar que vamos instantâneamente confiar em você?
- Tem razão. Não espero que confiem em mim, só quero que saibam que não irei matar ninguém.
- Sei que o que vou dizer não faz diferença, mas no começo eu me senti assim. Isso levou a uma decisão precipitada, que comprometeu meu destino.
- Dessas coisas eu entendo bem...
Ficamos em um silêncio melancólico até eu lhe perguntar:
- Como conseguiu escapar da morte, naquela hora?
- Bom, não acho que isso fará diferença, então vou contar. É uma maldição, a tenho desde meus onze anos. Uma aprendiz de bruxa lançou um feitiço em mim por não corresponder o seu amor, não posso morrer até encontrar o amor verdadeiro.
- E eu achei que minha vida era difícil. - ri baixo - Só por você ter negado ela?
- Sim, e não se dando por satisfeita, continuou dizendo "a jornada para encontrar o amor não será fácil, por sua peculiaridade muitos se aproveitaram e tentaram obter vantagem. Porém essa maldição durará até que encontre alguém que o ame, um dos dois deverá provar seu amor, mesmo que seja fatal"
- Como você vive desde então?
- Não posso dizer que foi normalmente, mas eu sobrevivi da melhor forma possível.
- Entendo. - olho para a janela
- Agora é sua vez. Como se tornou uma criminosa procurada?
- Meu ti... - parei por um segundo e suspiro - Um conhecido me treinou desde que eu era apenas uma garotinha. Roubava dos endividados em sua taverna.
- Bom, temos algo em comum. Tivemos uma infância "ruim".
- Esqueça o passado, já não importa mais.
Depois de um tempo na estrada, o dia terminou dando início a noite estrelada. Estávamos em volta de uma fogueira, em silêncio enquanto fazíamos a última refeição. Até que um barulho na mata chamou a minha atenção, levei a mão até a pistola mas parei quando Damian disse:
- Espere, não atire agora - disse calmamente e olhou para as árvores.
Só então sentimos um cheiro forte de café se espalhando no ar. Peguei a balista ao meu lado e segui meus extintos enquanto apontava a flecha na suposta direção de onde aquele cheiro vinha. Em segundos senti um solavanco nas minhas costas e ouvi o som de carne sendo cortada, olhei para trás e o Beta tinha uma lâmina presa a uma corrente em seu peito.
- Fez cócegas. - riu fazendo seu braço mudar de forma, se tornando uma enorme pata de pelagem preta, puxou a corrente com força e um Alfa caiu diante de seus pés.
Vi de relance Bianca correr para o lado da carruagem e suspirei aliviada. Girei o corpo para o lado e atirei uma flecha contra outro Alfa se aproximando dela.
- Vá até ela! - me virei para Ethan e ele assentiu correndo para perto da mesma.
- Agora mostrarei do que sou capaz. - Damian sorriu para mim e eu revirei os olhos impaciente.
Preparei outra flecha e continuei os disparos contra mais dois Alfas surgindo em meio a mata. Em um momento fiquei de costas com o Beta, ambos lutando contra os inimigos. Quando busquei por mais flechas, vi que as que estavam comigo tinham chegado ao fim, só restava uma, as demais estavam na carruagem e não poderia recuar.
Estávamos cercados por cinco Betas, e o mais velho se aproximou dizendo:
- Entreguem a nós a carruagem e suas armas, talvez poupemos suas vidas se fizerem isso.
- O que foi? Perderam a capacidade de andar? - debochei rosnando baixo.
- Além de linda é engraçada - o Beta ri vindo em minha direção - Me pergunto se esse humor será o mesmo depois que eu calar a sua boca.
- Se não gostou... - em um movimento rápido enfio a flecha em sua garganta - Morra!
Damian pegou a corrente com a lâmina e a lançou contra os outros quatro, a girando no ar e cortando suas cabeças em um único movimento.
- Foi divertido. - conclui limpando o sangue em sua bochecha com o polegar.
- Nada como uma ação de vez em quando para agitar um pouco. - sorri limpando o rosto, sujo com o sangue do Beta - Você os matou com um único golpe, tenho que admitir, foi impressionante.
- Gosto do seu humor - estendeu a mão e eu a apertei.
- Blair? - Ethan me chama e vem até mim - Está tudo bem?
- Sim. - olho para Damian - Ganhei um parceiro de luta.
O lúpus o encara sério, parecia incomodado com a situação, mas o Beta não deu importância e sorriu dando tapinhas em seu ombro.
- Você é um Alfa de sorte. - pude ouvir um rosnado baixo do outro, mas se manteu parado sem dizer uma única palavra
- Onde está a Bianca? - chamo a atenção de Ethan e apontou para a carruagem.
Vou até lá e entro encontrando a Ômega encolhida no banco, abraçando suas pernas com uma expressão triste.
- Ei, está tudo bem? - sento ao seu lado e ela esconde o rosto nas mãos.
- Eu fui uma covarde! Quando tinha que ajudá-los, corri para longe...
- Tudo bem sentir medo, mas não pode deixa-lo que o domine.
- Sou uma inútil, em meio a vocês, que são tão habilidosos.
- A prática leva a perfeição, não ficamos bons do dia para a noite. Amanhã, se tudo der certo, eu lhe ensinarei algumas coisas - ela levanta a cabeça e me olha animada.
- Mesmo!?
- Sim, com certeza. - digo e Bianca abre um enorme sorriso
No dia seguinte, dessa vez, estava eu e Bianca dentro da carruagem, enquanto Ethan estava com Damian no acento do cocheiro. Antes de irmos nos deitar, o Alfa encontrou um cartaz de procurado no bolso de outro Alfa. Damian dizia a verdade, o Rei havia mesmo oferecido uma grande recompensa a aquele que trouxesse o príncipe de volta ao palácio, mas o que me deixou intrigada é o fato de terem colocado o motivo do desaparecimento a seguinte frase: "sequestrado por uma Ômega criminosa de capa vermelha, seu nome é Blair, extremamente perigosa".
Se algum dia reencontrar aquele monarca, o estrangularia, não só pela mentira, mas por não dar a mínima importância a vida de seu sobrinho, ao ponto de acrescentar "vivo ou morto" no enunciado.
A exatamente meio dia chegamos a uma enorme montanha rochosa.
- É aqui - Damian sorriu olhando a montanha.
- Vamos escalar? - disse Bianca e saltou de dentro da carruagem.
- Não, os ludzie-ziemi, como o próprio nome diz, são "o povo da terra". - concluí passando as mãos pelas paredes.
- Você nos trouxe para o meio do nada! - Ethan cruzou os braços inquieto.
- Acho que existem mais coisas que os olhos podem ver. - comentei e o mesmo me olha irritado.
- Ah sim! - o Beta exclamou empurrando duas pedras para dentro da parede.
As rochas se moveram para os lados e uma passagem se abriu para dentro da montanha.
- Uau! - a Ômega sorriu surpresa e fica ao lado dele.
- Quem diria... - digo e sinto uma mão segurar a manga da minha camisa.
- Esteja preparada para tudo. - o Alfa sussurrou e caminhou para perto dos outros dois.
Entramos na montanha e seguimos caminho reto até vermos uma grande aldeia a nossa frente. Diferente da visão padrão de um povo indígena, os ludzie-ziemi estavam além disso. As casas eram de forma circular construídas nas encostas, tinham várias plantas e ervas diferenciadas plantadas no centro. Quando um Beta nos avistou, soprou uma corneta chamando a atenção de todos, que se apresaram em abrigar os mais jovens e idosos, enquanto os guerreiros se preparavam com lanças e escudos. Um Gama de idade avançada se colocou a frente deles com um cajado na mão e nos encarou prontamente antes de se pronunciar:
- Você, corvo branco, o que faz em nossa aldeia novamente?
- Chefe, eu venho de longe com meus companheiros afim de consultarmos o oráculo. - Damian respondeu calmo e andou até o Gama - Se permitir.
- É sempre bem vindo aqui, nosso povo está em débito com você. Tem a minha permissão para verem as previsões. - sorriu e balançou o cajado se virando para os demais, e gritou em uma língua diferente.
Os outros soltaram gritos eufóricos saindo de suas casas. Uma Ômega veio até nós e presenteou cada um com uma coroa de flores.
- Damian, pode nos explicar... - sussurrei sem parar de sorrir para as pessoas a minha frente.
- A alguns anos atrás, eu ajudei o povo na luta contra um exército de assassinos tentando tomar a montanha, eles me chamam de corvo branco. pois pela minha forma animal salvei o chefe. - explicou enquanto nos guiou pela aldeia para uma tenda - Não se importam em ficar para a festa, não é?
- Claro que não. - disse e Ethan me olhou - Seria meio rude só entrar e sair dessa forma.
- Está bem, mas depois retornaremos para a estrada - o Alfa por fim suspirou.
Ao entrar na tenda, o Beta nos instruiu a tirar os sapatos e nos sentamos em um tapete felpudo de cor laranja. Três Betas apareceram e pintaram nossos rostos cada um com uma cor diferente - a de Bianca era verde, a de Ethan azul, a de Damian branco e a minha era vermelho - com desenhos e símbolos. Era necessário fazer isso, um ritual para sermos parte do povo durante o tempo em que ficarmos na aldeia.
Fomos levados por uma escada de madeira até uma casa afastada das outras, com uma cortina de conchas e pedras na entrada. Uma Alfa vem até nós e Damian diz a ela, em outra língua, algo que a faz anuir e olhar para nós, sussurrou algo e o Beta se vira para mim.
- Apenas um por vez. Blair, você irá primeiro.
Assenti e a Alfa me guia até a parte de fora, estávamos fora da montanha, com o céu azul e várias flores ao redor. Minha atenção se voltou para uma garotinha de cabelos longos da cor cinza, sentada em uma pedra de costas para mim. Após sussurrar algo na língua deles, suspirou dizendo:
- Olá, minha cara.
- Você é...uma menina, onde está o oráculo? - imdaguei surpresa.
- Não julgue as coisas apenas com o olhar. Como você mesma disse "existem mais coisas do que os olhos podem ver".
A olhei perplexa e a mesma se virou para mim com uma expressão serena.
- Me desculpe, não queria ofende-la.
- Está tudo bem. Geralmente é incomum existir um oráculo preso no corpo de uma menina tão jovem. Sente-se. - apontou para outra pedra a frente dela, e me sentei sem desviar o olhar - O que deseja saber?
- Você pode mesmo ter todas as respostas?
- Cuidado com as perguntas, Blair. Se já lhe explicaram, apenas posso responder uma pergunta por pessoa, nada mais.
Umedeci os lábios sentindo o rubor em minhas bochechas.
- Está bem. Quem eu sou?
- Hum, veio descobrir sua origem - fechou os olhos por alguns segundos e quando os voltou a abrir estavam cinza - Você esconde um passado terrível, o qual ainda não teve conhecimento. Seu coração guarda uma joia que pertenceu a seus falecidos pais, descubra o enigma e mergulhe nas lembranças.
- O que isso quer dizer? - perguntei não fazendo ideia do que aquilo significava, mas a mesma negou com os olhos voltando ao normal.
- É apenas isso. É a sua resposta.
- Obrigada então, eu acho... - me levantei com uma expressão desgostosa. Antes de me virar de costas, ela vem até mim e pega em minhas mãos
- Minha cara, cuidado! O perigo se aproxima rapidamente, tenho que adverti-la para não se deixar levar pelas aparências, siga seu coração e irá corrigir um grave erro.
Engoli em seco sentindo meus ossos gelarem com aquelas palavras. Um sentimento ruim invadiu o meu peito, tendo uma profecia para guardar e um enigma para decifrar, minha mente estava uma confusão. O que aquilo poderia significar?
Quando sai de lá, Bianca veio ao meu encontro, me encarou brevemente e sua expressão mudou.
- E então? Como foi?
- Tenho um enigma para decifrar... - suspiro e continuo a andar para fora da casa.
♛ ℰthan ♛
Após a Ômega, era a minha vez de consultar o oráculo. Antes de entrar, observei por alguns segundos a mesma indo embora com uma expressão triste, mais tarde a perguntaria sobre o assunto. Avistei uma garotinha de cabelos acinzentados, com uma expressão calma sorriu para mim.
- Saudações, príncipe.
- Olá. Você é o oráculo, certo?
- Não finja que não está incrédulo, sei que assim como sua parceria também sente isso.
- Perdão. Não quis ser rude.
- Vou responder a pergunta que queima em seu coração a tanto tempo. Basta me perguntar.
- Como posso encontrar os Quatro Heróis?
- Tem certeza de que essa será sua pergunta? Poderá saber se o seu sentimento será recíproco, ou se o seu destino será se tornar o próximo governante de Estrenuus.
- ...eu fiz uma promessa, não posso voltar atrás. - respirei fundo tentando acalmar a ansiedade.
- Está bem. - seus olhos mudam para um tom acinzentado - Deverão viajar para longe, buscando as lendárias armas que os antepassados tão prestigiaram. Cada um de vocês deverá olhar em sua alma, construindo uma forte união, para isso confiem um nos outros e vivam em comunhão.
- Mas você não me respondeu.
- Eu sou como uma bússola. Posso apontar o caminho, mas não posso leva-lo e o assegurar de que chegue lá. Tudo dependerá de você e como vai agir.
- Pois bem, obrigado. - sorri mínimo e me virei para sair.
Esperei alguns segundos por algo, mas percebendo que não aconteceria mais nada, me retirei da casa. Acho que entendo os sentimentos de Blair em relação ao oráculo, tantas perguntas vieram a mente com essa resposta, mas teria que descobrir sozinho, isso me intrigava.
Pelo menos sabia qual seria o próximo ponto de partida: a procura das armas lendárias. Não seria uma jornada fácil, por mais que soubesse muito bem das lendas de cada uma delas, não seria o bastante. Todas foram escondidas em segredo pela Ordem dos Magos, muitos se aventuraram em busca dos prodígios, mas nenhum obteve sucesso.
Nesses momentos, sentia uma enorme saudade de James, com seu vasto conhecimento e os livros contendo possíveis respostas. A quase um mês não recebo notícias de meu amigo, as vezes me preocupo com o que poderia ter acontecido com o mesmo.
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