Capítulo 9
SEGREDOS REVELADOS
Amarílis dormiu muito mal naquela noite, pois ficou muito tempo acordada pensando nos últimos acontecimentos. Quando finalmente pegou no sono, o sol já começava a adentrar em seu quarto, e, devido à claridade, não conseguiu dormir. Ela finalmente se levantou.
Ela se encaminhou até a cozinha, muito pensativa, para tomar seu café da manhã. Sua mãe não estava lá, nem seu pai, apenas seu irmão.
— Bom dia.
— Bom dia, Lis. Tudo bem? Você está parecendo cansada...
— Não dormi muito bem esta noite.
Ela disse, se sentando e ficando com o olhar distante, pensando na noite anterior.
"Quem era aquela fada ontem?"
Era o que ela não parava de se perguntar, e também parte do que ouviu e compreendeu na noite anterior.
(— "Zaieva está impaciente..."
— "Não diga esse nome aqui, eu sei. Falei com ela mais cedo...")
"Como assim? Ele falou com ela mais cedo? E por que ela estava impaciente?"
Outra coisa que ele disse a perturbava:
— "Mas vai lá em casa?"
— "Estou querendo, mas..."
— "Mas o quê?"
— "Tem que ser muito rápido. Ninguém aqui pode desconfiar dessas minhas idas e vindas a Mediocris..."
"Como assim idas e vindas?" Amarílis precisava saber o que estava acontecendo. Na primeira oportunidade, ela iria confrontar Helianthos e descobrir do que se tratava.
— Ei, Lis! Terra chamando! Oii!
Petúnia estava abanando a mão na frente do rosto de Amarílis, que se desvencilhou de seus pensamentos e olhou ao redor. Petúnia estava parada na frente dela, e Antúrio já não estava mais na cozinha.
— Oi, Tuni, bom dia.
— Bom dia. O que aconteceu? Até parece que você está de ressaca... bebeu muito licor ontem à noite?
Petúnia se sentou ao lado de Amarílis e se servindo de um pouco de néctar.
— Dormi mal na noite anterior.
— Brigou com sua mãe de novo?
— Não, desta vez não é isso.
Petúnia tomou um gole do néctar e viu que Amarílis não tinha comido nada ainda.
— Seja lá o que aconteceu, aposto que é muito grave.
— Vamos dar uma volta e te contarei tudo o que aconteceu tim-tim por tim-tim. Mas não pode ser aqui. Este palácio tem ouvidos.
Petúnia sorriu. Fazia tempo que as duas não iam ao templo do sol abandonado, um lugar secreto onde elas costumavam ir quando eram crianças e adolescentes, sempre que queriam aprontar ou planejar algo escondido. Era um lugar para trocar confidências.
— Vou terminar meu néctar.
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Um brilho intenso foi o que Íris distinguiu de imediato, mas ela rapidamente fechou os olhos e tornou a abri-los. Olhou para um teto de madeira. Estava em um quarto simples. Ela bufou, pois sabia onde estava. A janela com o vidro estilhaçado, o carpete gasto com uma mancha de bebida, tudo indicava o lugar. Ela elevou a voz:
— CALADIUM!
Não demorou para ela ouvir passos apressados e a porta do quarto ser aberta por Caladium, que entrou sem camisa.
— Bom dia, Íris. Você está bem?
O insulto que Íris tinha pensado morreu em sua garganta, então ela respondeu:
— Não sei, acho que sim. Parece que uma manada de unicórnios me pisoteou. O que faço aqui?
Caladium sentou-se ao lado dela e começou a explicar:
— Ontem à noite, saí da taberna, como todas as noites, depois de assistir às fadas dançando. Paguei uma gorjeta para acompanhar uma delas a um quarto, você entende...
— Vai logo ao ponto. Qual delas foi desta vez?
— Coral, acho. Estava prestando atenção em outra coisa, não no nome dela. Mas não é isso que importa. Quando saí da taberna, te encontrei caída no chão. Dispensei Coral e te trouxe para casa. Depois tranquei aqui e fui buscar seu irmão.
— Ele está aqui?
— Não, por mais que ele quisesse ficar...
— O que aconteceu?
— Ele veio, ficou um tempo com você, mas precisou voltar. Você sabe.
— Sei. Caladium, outra coisa...
— Fala.
— Aonde estão minhas roupas, seu tarado nojento? O que faço sem elas?
— Em primeiro lugar, sou tarado sim, mas não sou nojento. Você estava imunda, precisei te dar banho. Não toquei em você, não do jeito que está pensando. Você é como uma irmã para mim. Seu irmão veio aqui, acha mesmo que eu estaria vivo se tivesse feito algo? No armário tem roupas limpas, não são as suas, as suas estão lavando. Mas quem deixou lá deve ter o seu tamanho.
Íris se levantou e foi até o armário. Caladium dizia a verdade. Ela pegou as primeiras roupas que viu e bufou de raiva.
— Rosa brilhante, sério?
— Ela estava linda quando chegou aqui usando esse vestido.
Íris pegou o vestido, a lingerie e os sapatos combinando, e então perguntou assustada:
— Se ela chegou aqui usando isso, foi embora usando o quê?
Caladium sorriu e respondeu:
— Um lindo sorriso.
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Petúnia se encontrava junto a Amarílis no templo do sol. Há muitos anos, o templo era um palácio onde os antigos iam venerar o sol e absorver sua magia. Porém, quando Zaieva matou seu irmão Agapanthus, sua esposa Herbácea e um dos seus filhos, Impatiens, e quase matou a jovem Agave, o templo foi destruído.
Após longos 12 anos de dominação de Zaieva, ela e seus seguidores destruíram vários lugares importantes de Νεrάιδα, incluindo o templo do Sol, que hoje era só ruínas. Entretanto, Amarílis e Petúnia sempre voltavam ao lugar para conversar e trocar confidências.
— Tudo isso é muito estranho, Lis.
Petúnia se levantou.
— A história não acaba aí, Petúnia.
Petúnia encarou Amarílis, que ficou em silêncio. Impaciente, ela exclamou:
— Fala logo, Amarílis! Quer me matar de curiosidade? Você sabe que não deve contar as coisas pela metade para mim. Se começou, termina!
Amarílis olhou ao redor, certificando-se de que estavam sozinhas, e cochichou ao ouvido de Petúnia. O sussurro era tão baixo que qualquer um duvidaria que ela teria escutado, mas Petúnia ouviu e, ao se afastar, começou a gritar histérica.
— AI, LIS! ISSO MUDA TUDO! EU NÃO ACREDITO! VOCÊ E O HELIANTHOS! AAAAA! SANTA ASAS FLORAIS!
— Tuni! Fala baixo.
Amarílis tapou a boca da amiga, que fechou os olhos, respirou fundo e pediu desculpas.
— Tudo bem, me empolguei. Mas isso me surpreendeu! — disse Petúnia, se sentando ao lado de Amarílis. — Me fala, ele beija bem?
— Tuni!
— Ué, o que tem demais na minha pergunta? Eu sempre te conto sobre os meus casos!
— Ah, isso é verdade. E não são poucos...
— Então, agora responde à minha pergunta!
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— Estou ridícula! — disse Íris ao terminar de vestir o rosa brilhante.
— Nada disso, você está uma gracinha — disse Caladium, soltando o cabelo de Íris.
— Ei!
— Calma, deixa eu arrumar seu cabelo. Ele está muito bagunçado. E você fica muito bonita assim.
Íris bufou.
— Mas não vou usar esses sapatos de jeito nenhum.
— Ué, por quê?
— Muito rosa. Não quero parecer uma dama da noite ou uma mimada de Νεrάιδα.
Caladium puxou um espelho de corpo inteiro. Íris se viu e percebeu que estava deslumbrante. O vestido rosa contrastava perfeitamente com suas longas asas azuis-escuras e sua pele clara. O cabelo negro completava o visual.
— Não sou seu pai nem nada do tipo não iria prender você aqui você pode ir e vir quando você quiser, só tem uma condição, eu não quero que você vá para a casa da sua mãe. Venha para minha casa, não quero que ela te faça mal.
— Pode deixar, Caladium.
— Outra coisa: Helianthos não está aqui, mas eu estou. Se alguém fizer algo, pode ter certeza que vou fazer ele pagar por isso. Você e seu irmão são como irmãos para mim. E eu mato qualquer um que te faça mal.
— Sabe, Íris, eu preciso dormir. Não dormi nada esta noite. A chave reserva está na segunda gaveta da cozinha. Se você sair, tranque a porta e não me incomode nas próximas horas.
— Tudo bem — Íris respondeu com um fio de voz.
Depois de dizer isso, Caladium saiu do quarto.
Ela sabia que Caladium a protegeria, assim como Helianthos. Ela sentiu-se grata por tê-los ao seu lado. Então, ao se olhar no espelho, surgiu uma ideia louca em sua mente.
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