Capítulo 10
ESCADA DE LUZ
À medida que as horas avançavam, o sol iluminava de forma diferente o lugar que já fora o Templo do Sol. Pela manhã, ele parecia um lugar esplêndido e glorioso, mesmo com o seu ar melancólico, mas agora, ao se aproximar a hora do crepúsculo, a atmosfera se tornava mais sombria e tenebrosa. Isso era intensificado pelo fato de que o Templo do Sol agora não passava de ruínas.
Em certo momento, Amarílis, lembrando-se da atitude de seu irmão na noite anterior, exclamou para Petúnia:
— Antúlio foi ridículo! Foi muito hipócrita da parte dele não me deixar ir atrás...
Petúnia, refletindo, encarou a amiga e logo a interrompeu:
— Você está se escutando? Por que você iria querer ir atrás deles? Pare e pense um pouco, Lis.
— Como assim, Petúnia?
— Isso mesmo que você ouviu. O que você pensava que iria fazer? Olha, seu irmão tem razão. É loucura ir atrás deles no meio da noite. Esse outro que estava com ele, você não sabe quem é. Pelo que você ouviu, ele com certeza é de Mediocris. E se ele fosse um assassino? E se ele soubesse que você estava ouvindo e isso fosse só uma armadilha para te matar?
— Agora você também está parecendo ridícula! Eu não falei que...
— Que teve seu momento de amor com ele sob as estrelas? Deixemos isso de lado, foi tão romântico, Amarílis.
— Eu sei, foi tudo tão mágico... Mas o momento de magia acabou quando eu o vi conversando com aquela fada ontem à noite.
— Pelo jeito você não vai tirar isso da sua cabeça tão fácil...
Amarílis respirou fundo e, ao soltar o ar, suas asas baixaram. Então, ela olhou bem para Petúnia.
— Tuni, eu só queria saber o que está acontecendo, só isso...
— Isso é simples: pergunte a ele.
Amarílis começou a rir, mas não era uma risada divertida ou engraçada, era uma risada nervosa de quem estava confusa. Ora, ela não podia simplesmente chegar em Heliantos, dizer que ouviu a conversa que ele teve com seu visitante noturno, perguntar o que significava e expor suas dúvidas para ele e para o visitante... ou será que poderia? Bem, ela não sabia.
— Qual a graça? — Petúnia perguntou, franzindo a testa e se levantando. Ela não compreendeu a reação da amiga.
— Ora, Petúnia, eu não sou você. Não tenho a sua cara de pau.
— Não estou te entendendo. É só você...
— Tuni, não é tão simples.
— Como assim não é tão simples?
Amarílis disse algo tão baixo que não passou de um resmungo, que Petúnia ignorou.
— Se você está aflita, sem entender o que está acontecendo, pergunte a ele... mas tenha cuidado.
— Por que cuidado?
— Estou dizendo para ter cuidado porque, como eu disse, pode ser uma armadilha para te matar. Antes que você comece a brigar comigo ou a retrucar, pense um pouco. Por mais que você tenha tido um momento de amor com ele, você ainda não o conhece, nem conhece a fada que estava com ele ontem à noite. Tenha cuidado, mas volto a repetir: se você está aflita, sem saber o que fazer ou pensar, deveria conversar com ele, perguntar o que está acontecendo. Pelo menos, acredito que você estaria mais calma sabendo a resposta, ou pelo menos tentando descobrir a resposta.
Amarílis, que estava olhando para um pedestal parcialmente destruído no centro do templo, voltou a olhar para Petúnia.
— Bem, talvez eu pergunte — disse Amarílis, em um sussurro.
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LEMBRANÇAS ANTIGAS
Íris deixou a casa de Caladiun ao entardecer, com o coração cheio de inquietação e determinação. Ela sobrevoou a trilha familiar que levava à floresta distante, onde sabia que poderia encontrar respostas antigas escondidas entre as árvores milenares.
A luz do sol ainda tingia o céu de laranja quando Íris adentrou a floresta. Ela estava em busca de um lugar especial, uma clareira escondida onde, diziam as lendas, as estrelas dançavam no céu noturno de forma hipnotizante.
Íris se sentou em um tronco caído, próximo da clareira, observando o céu pontilhado de estrelas. A brisa fresca da noite balançava suavemente seus cabelos negros e suas asas. Ela fechou os olhos por um momento, deixando-se levar pelas lembranças de sua infância.
Ela se viu novamente, uma jovem intrépida de cabelos soltos, voando entre as árvores antigas em direção a uma caverna escondida. A entrada era coberta por trepadeiras e musgo, um lugar que poucos ousavam explorar. Movida por uma curiosidade irresistível, Íris adentrou a escuridão, suas asas emanando uma luz fraca que iluminava o caminho.
A caverna se abriu em uma câmara ampla e úmida, onde o eco de seus passos reverberava pelas paredes de pedra. No centro da câmara, uma mesa de pedra estava coberta de poeira e teias de aranha, mas algo brilhava em um canto escuro.
Íris se aproximou voando lentamente, seu coração batendo forte. Ali, sobre um pedestal de pedra, estava um medalhão de prata, adornado com símbolos intrincados que pareciam dançar à luz fraca de suas asas. Ela estendeu a mão trêmula e tocou o medalhão, sentindo uma corrente elétrica percorrer seu corpo.
Uma visão surgiu em sua mente: uma estrela cadente cortando o céu noturno, deixando um rastro brilhante. Era como se o medalhão estivesse contando uma história, uma história antiga e poderosa que apenas Íris podia entender.
Ao lado do pedestal, um pergaminho enrolado descansava em uma caixa ornamentada. Íris abriu cuidadosamente a caixa e desenrolou o pergaminho. Nele, constelações desconhecidas pareciam dançar, formando um mapa estelar intricado que mudava sutilmente conforme ela o estudava.
Aquela descoberta mudou tudo para Íris. Ela passou anos estudando os artefatos, buscando entender seu propósito e poder. Agora, à beira da clareira, sob o céu estrelado, Íris sabia que era hora de seguir adiante. Era hora de descobrir o que o destino reservava para ela e como esses artefatos iriam moldar o futuro.
Após relembrar essas memórias já muito esquecidas, ela se levantou, pois tinha um trabalho a fazer.
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Após uma caminhada tranquila, Íris encontrou a clareira. O ambiente era sereno, com a grama macia sob seus pés e as árvores altas formando um círculo ao redor. Ela se sentou em uma grande pedra redonda no centro da clareira, respirando fundo enquanto observava o sol se pôr no horizonte distante.
À medida que o crepúsculo cedia lugar à noite, Íris começou a sentir uma energia sutil no ar, como se o próprio lugar estivesse esperando por ela. Ela fechou os olhos por um momento, concentrando-se em suas próprias emoções e nas histórias que ouvira sobre aquele lugar especial.
Quando as primeiras estrelas começaram a pontilhar o céu, Íris sentiu uma presença suave ao seu redor. Ela abriu os olhos e viu pequenas luzes dançantes, como faíscas de magia que flutuavam entre as árvores. Era como se o lugar estivesse lhe dando as boas-vindas, revelando-se a ela de uma maneira que só acontecia à noite.
Íris sabia que aquele era o momento. Ela tirou de sua bolsa um pequeno objeto que havia encontrado na caverna muito tempo atrás: uma chave antiga com inscrições misteriosas. Com um gesto cuidadoso, ela a segurou em direção ao céu estrelado, sentindo uma conexão inexplicável entre o lugar, a chave e os artefatos que havia descoberto.
A chave brilhou suavemente, respondendo à energia ao seu redor. Íris sentiu uma onda de emoção e determinação crescer dentro dela. Ela estava pronta para seguir em frente, para descobrir o que mais o mundo guardava para ela e para desvendar os mistérios que a aguardavam.
Então, uma brisa começou a passar de forma suave, mas logo se intensificou diante de Íris. Descendo do céu, degrau por degrau, surgiu diante de seus olhos uma escada feita de luz. Íris se levantou e começou a subir. A cada degrau que ela subia, os que ficavam para trás desapareciam na noite.
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