Balões são inflamáveis🎈
"Você é igual a mim, você perdeu a cabeça
Eu sei que é estranho, nós dois somos loucos
Você está me dizendo que sou insana?
Garoto, não finja que você não ama a dor"
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***
— Ah, você acordou. Por que demorou tanto? — Taehyung tinha um olhar repressor para mim. Era evidente que ele não estava satisfeito com o que quer que teve que fazer.
— Eu quero ir pra casa. Por que está fazendo isso comigo? O que eu te fiz? Por quê eu? — as perguntas saíram sussurradas, eu não tinha mais nenhuma vontade de falar. Meus braços ardiam e estavam cobertos por gases que ganhavam tons amarelados ou avermelhados conforme o sangue escorria.
— São perguntas demais. — ele chacoalhou a cabeça aturdido. — Você fez xixi na van. — observei ele tapar a boca com a mão contendo um riso infantil. Ao respirar fundo, senti o cheiro de urina que se espalhava pela van úmida. Minha calça estava molhada e aquilo passou a me agoniar ainda mais.
— Está tudo bem, não condenamos as crianças por fazerem xixi no show.
— Isso não é um maldito show, seu filho da puta maluco! — cuspi em seu rosto que estava próximo ao meu.
Taehyung passou a mão lentamente no rosto, seus olhos pequenos estavam arregalados, porém distantes. Àquela altura eu sabia que ele estava revivendo alguma coisa. Desejei ter algo que não fosse balões para me defender.
— Você cuspiu em mim. — ele disse baixo. Minha pele toda se arrepiou, aquele tom acompanhado da voz grave do garoto deixava tudo pior. Era uma voz fria e morta.
Em um movimento rápido ele segurou meu pescoço, obrigando-me a deitar no fundo da van. Minha cabeça bateu em alguma coisa e mais uma vez vi estrelas.
— Sabe quem fez isso, Alice? — perguntou desferindo um tapa no meu rosto. Eu engasgava tentando puxar algum ar para meus pulmões. — Aquele homem loiro, aquele Park maldito, aquele homem que entrou na lona do meu pai sem autorização!
Ele soltou meu pescoço, tossi até conseguir que o ar circulasse direito pelos meus pulmões. Minha visão escurecia, mas eu não queria desmaiar de novo. Eu não queria ficar mais tempo naquele lugar.
Há quanto tempo eu estava lá dentro? Um dia? Dois? Uma semana? Que horas seriam? Era dia? Noite? Eu não fazia ideia.
Ouvi sons ocasionais de alguns carros passando. Não nos encontrávamos mais no mesmo lugar que estávamos, disso eu tinha absoluta certeza, porque antes eu não conseguia ouvir nada. Talvez estivéssemos em uma estrada deserta, parecia propício para uma situação como aquela, mas agora havia sons.
— Eu entrei naquela lona, Alice. — o encarei a tempo de ver seus olhos brilharem com lágrimas contidas. Mas aquilo não importava, porque eu não tinha pena dele.
Flashback on - Taehyung
— Vejo que suas apresentações estão indo bem, Kim. — disse o homem loiro que momentos antes havia se apresentado como Park Jihyon.
— Estamos sim, senhor Park. — era notável que meu pai estava nervoso diante da visita do empresário.
— Imagino que esteja lucrando muito com os shows. Mas enquanto a sua dívida? Não se esqueceu dela, esqueceu, Kim?
Observei meu pai engolir em seco. É claro que não havíamos esquecido da dívida, mas nossos shows não andavam tão bem quanto aquele homem achava.
— Não esqueci, e irei pagar! Um Kim nunca descumpre uma promessa.
— Besteira! — Park bateu com força na mesa, assustando todos, inclusive seu filho que tentava se fundir com o vermelho da lona. — Por que não me paga agora, huh? Se parassem de bancar os bonzinhos ao destinar dinheiro para aqueles bandos de azarados sem lares, talvez tivesse dinheiro para quitar a dívida que fizeram comigo! — gritou o homem batendo na mesa outra vez.
— Pai... — começou o loiro com uma voz baixa.
— Cale-se, Jimin! Não se meta no que não deve, agora saia daqui! Não mandei sair do carro!
— Mas, pai... — Park lançou um olhar fulminante para seu filho, que abaixou a cabeça e caminhou para o fundo da lona.
O garoto se aproximou de mim com os lábios cheios comprimidos em um bico triste. Seus olhos pareciam me pedir desculpa, mas eu não sabia o porquê.
— E então, Kim? — voltei minha atenção para o Park. — Vai me pagar ou não?
— É claro que vou! — afirmou meu pai. — Só preciso de um pouco mais de tempo.
— Tempo. — Park cuspiu a palavra com desgosto. — Seu tempo chegou ao fim. Vai ver que sim! — o homem bateu a bengala no chão e, ao me ver observando tudo, cuspiu no meu rosto enquanto passava, dando um empurrão em meu ombro.
Naquele momento ouvimos Todd avisar que o espetáculo tinha que começar. Papai se recompôs da melhor forma possível, pôs o grande nariz vermelho que as crianças adoravam apertar e, ao passar por mim, limpou meu rosto com a manga de bolinhas coloridas. Depois pegou um balão vermelho próximo a um jarro.
— Vai dar tudo certo. — ele sorriu. — Gosta desse balão, Tae?
— É lindo, pai. — sorri, por mais que aquela situação fosse triste, meu pai nunca se deixaria desmoronar. Então fiz o mesmo.
— Vamos dar para alguma criança nesse show, huh? — disse voltando a caminhar. Logo o segui.
O início do espetáculo transcorreu normalmente, mas antes do meu número, pude sentir um cheiro esquisito vindo de algum lugar.
Corri para fora da lona a tempo de vê-la pegando fogo, o carro dos Park's virava a esquina, deixando uma fumaça cinza pelo ar.
Os sons dos balões estourando passou a acompanhar os gritos daqueles que tentavam correr do fogo, mas quando a lona desmoronou por completo eu tive certeza que não tinha visto meus pais saírem dela.
A cor do fogo ocupava toda minha vista, o calor emanava em ondas por todo meu corpo enquanto eu observava dois balões vermelhos voarem cada vez mais alto. Lágrimas silenciosas escorriam pelos meus olhos, eu não sabia o que deveria fazer, eu não conseguia me mover mesmo vendo o fogo se alastrando em minha direção.
O cheiro de carne queimada ocupou as minhas narinas, bile subiu pela minha garganta e, enquanto eu vomitava, alguém me puxou para longe.
Flashback off
— Papai não saiu da lona, nem a mamãe, mas os balões vermelhos saíram. — Taehyung sorriu em meio as lágrimas. — Acho que eles viraram balões, você não acha?
— Acho que eles viraram malditos churrascos. — meu rosto foi jogado para o lado com a violência do soco transferido em minha bochecha. Senti uma dor horrível se espalhar pelo meu maxilar, meus olhos se encheram de lágrimas. o
Obriguei-me a não derramá-las.
— BALÕES! ELES VIRARAM BALÕES! — o corpo do garoto começou a tremer novamente enquanto abraçava os próprios joelhos. Parecia frágil.
Parecia frágil... eu precisava fazer alguma coisa, por isso, quando levantei de supetão e me joguei em cima do garoto, eu não estava pensando em nada.
Nem na dor horrível que corria pelos meus braços, nem no meu ombro que queimava e tinha um cheiro esquisito, quase podre, nem que ele seria mais forte que eu.
Minha mão machucada acertou um soco no maxilar do sequestrador. Quase pude sentir meus ossos tremerem, mas duvidava que tivesse doído tanto assim. Com minhas pernas, o prendi no fundo da van, eu o arranhava ao mesmo tempo que gritava pedindo ajuda. Taehyung tinha os braços levantandos na altura do rosto enquanto se defendia dos meus golpes. Minhas forças estavam se esgotando, mas ele se remexia cada vez mais. Eu não queria saber o que aconteceria se ele se desprendesse de mim.
Minhas mãos estavam manchadas de sangue e eu podia sentir a pele do garoto dentro das minhas unhas. Aquilo me incomodou absurdamente. A dor nos meus braços aumentaram ainda mais, até que foram perdendo a agilidade inicial. Eu me segurava para não desmaiar, mesmo que a escuridão tentasse me tragar cada vez mais rápido.
Taehyung afastou uma mão do rosto enquanto tentava alcançar a faca que estava a poucos centímetros de seus dedos. Ao perceber, fiz o possível para chutá-la para longe, pondo minha total concentração naquilo.
Então algo duro atingiu minha cabeça. Com um barulho metálico fui jogada para o fundo da van. Minha cabeça parecia estar se desintegrando. Pisquei com força a tempo de ver Taehyung levantar com a bombinha de encher balões, esta carregava uma mancha vermelha na base.
Tentei levantar. Inútil. Minha cabeça girava e minha visão estava carregada de um vermelho embaçado.
Respirar doía, na verdade, todo meu corpo doía.
Taehyung se aproximou meio bambo, sem tirar os olhos escuros de mim e pegou a faca que eu havia chutado. Pisava em cima dos balões enquanto caminhava em minha direção. Eu estava tremendo, não sabia se pelo esforço inútil ou pelo medo.
— Alice. — sua voz grossa parecia impossivelmente mais grave. Seus braços sangravam onde o arranhei e a bochecha estava vermelha. Ao menos era o que eu achava, minha visão não me ajudava em nada.
Não restando outra opção, gritei.
Gritei como nunca havia gritado na minha vida. Não importava se eu ficaria sem voz, não importava se minha garganta rasgasse. Eu apenas gritei.
Foi a melhor coisa que fiz...
Foi a pior coisa que fiz...
Taehyung se assustou. Vi seu corpo encolher, o garoto levou as mãos aos ouvidos, aturdido. Continuei gritando.
Apesar do barulho, ouvi quando bateram na lateral da van. Grossas pancadas ressoavam dentro do veículo.
Taehyung tremeu outra vez antes de se aproximar de mim.
A faca na altura da minha boca...
Uma facada para um lado...
Uma facada para o outro...
Deixei de sentir minha boca. Eu ainda estava gritando. Não, eu estava me engasgando. Era muito sangue, era muita dor. Taehyung tinha os olhos implacáveis e furiosos. A faca caiu de sua mão com um baque seco no fundo da van.
Eu estava perdendo a consciência. Eu estava morrendo. Eu ouvia as batidas na porta. Eu ouvia vozes mandando abrí-la. Eu ouvia balões estourando...
***
Penúltimo capítulo, lembrem de votar💙
Cuidado com os balões!🎈
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