09. KASTA
KASTA
(Alto Valiriano)
I. AZUL;
II. Verde.
BAELYS TARGARYEN
Sangue tingia suas mãos, uma mancha vermelha que não se desfazia, por mais que ela tentasse limpá-las tão desesperadamente.
Uma mulher chorava ao longe, o som de sua dor ecoando como um lamento terrível preso entre os muros de uma prisão invisível.
O sangue, denso como veludo escarlate, se agarrava à sua pele, uma marca de algo que não podia ser apagado, um de tantos horríveis pecados cometidos.
Pesadas correntes envolviam seu ser, gélidas e implacáveis, arrastando-a para baixo, tão baixo, enquanto uma multidão gritava, suas vozes entrelaçadas em um coro de desespero e fúria.
As sombras cresciam, consumindo tudo ao redor, enquanto o mundo desmoronava, pedra por pedra, até que nada restava além do sangue, um oceano carmesim que parecia se estender por toda a eternidade.
Uma tapeçaria vermelha, com uma donzela com fitas azuis no cabelo.
Ela correu, mas não havia saída, não havia perdão. Não para ela. Não para os pecados que ela cometeu.
Túneis serpenteavam diante dela, um labirinto sem fim, cada curva levando a outra bifurcação.
Então.... uma luz.
Esquerda, direita, em frente, direita novamente, para baixo, sempre para baixo, e então para a esquerda.
No final, quando a escuridão parecia completa, um brilho suave despontava.
Luz do sol em escamas azuis.
Baelys Targaryen não acordou gritando daquela vez. Não.
Não haveria gritos de terror naquela noite.
A escuridão ainda dominava o céu além da janela, mas a criança sabia que o amanhecer não tardaria.
Baelys sabia.
Ela sabia.
As visões do sonho ainda queimavam em sua mente como brasas incandescentes.
A criança não entendia muito coisa, e alguns dos fragmentos já se perdiam, mas havia algo que ela entendia.
Que ela simplesmente sabia.
Ela sentia o peso, mas mais do que isso, sentia a urgência.
Baelys se levantou da cama e vestiu um manto pesado sobre o vestido de dormir.
Talvez, pela primeira vez em sua curta existência, ela sabia o que tinha que fazer.
Era a hora.
E ela não podia desperdiçar aquele momento.
Baelys abriu a porta pesada dos aposentos, suas mãos pequenas e determinadas puxaram o cavaleiro dornês para dentro antes que ele pudesse expressar sua surpresa ao encontra-la acordada naquela hora.
Ela fechou a porta atrás deles com um barulho quase alto demais, selando-a.
ㅡ Princesa? ㅡ a voz de Arthor estava cheia de confusão e preocupação.
Baelys o encarou com uma intensidade incomum para alguém tão jovem.
Tanto era incomum nela.
Baelys Targaryen nunca foi apenas uma criança.
Ela nunca pôde ser apenas isso.
A determinação em seus olhos era clara enquanto ela olhava para o homem em sua frente.
Seus olhos de cores diferentes brilhavam na penumbra do quarto.
ㅡ Preciso sair do castelo ㅡ ela afirmou com uma firmeza que fez o cavaleiro em sua frente vacilar.
ㅡ Sair? Agora? Isso é... ㅡ ele começou a falar, mas a expressão dela, o fogo em seus olhos destoantes o calou antes que pudesse completar a frase. ㅡ Para onde? Por quê?
Baelys o encarou.
Louca, eles a chamavam.
Estranha e amaldiçoada.
ㅡ Não há tempo para explicações longas ㅡ ela respondeu, os olhos faiscando.
Com medo demais para o contar a verdade.
Com medo do que ele pensaria dela.
Aquele dornês, que ela entendia com o passar dos meses, que era tudo que ela tinha de verdade.
Se Arthor Dayne a deixasse, Baelys ficaria verdadeiramente sozinha.
Sozinha, sem ninguém para puxá-la para fora dos pesadelos.
ㅡ Princesa, jurei a proteger e obedecer até meu último suspiro, mas não posso ajudar, se não souber o que está acontecendo ㅡ a voz dele era gentil enquanto ele se abaixava levemente para procurar pelos olhos dela, como ele sempre fazia.
Olhando diretamente neles, jamais desviando o olhar, como se o fogo neles, as cores diferentes, não o incomodassem.
Nada nela parecia incomodar Arthor.
Baelys o encarou de volta, os olhos claros dele pareciam escuros em tão pouca luz.
Mas ela não desviou o olhar.
Ela olhou para ele.
ㅡ Eu tive um sonho.
Um mero sussurro.
Mas Arthor ouviu.
Ele sempre ouvia. Mesmo as coisas que ela nunca disse.
Baelys esperou pela descrença, esperou pela zombaria. Esperou que ele a dissesse como era besteira sair da fortaleza protegida para se aventurar fora dela por causa de algo tão estúpido como um sonho.
Nada.
Ele apenas olhou para ela por um longo segundo.
ㅡ E o que era tão urgente em seu sonho, princesa, que a fez querer sair da fortaleza? ㅡ ele perguntou suavemente, ainda olhando nos olhos dela.
Não havia zombaria. Apenas curiosidade.
Preocupação.
Baelys não o entendia, não importa como tentasse.
Não entendia por que ele era daquela maneira.
Tão propenso a ser bom com ela.
Ele usaria isso contra ela no futuro? Venderia os segredos dela para quem pagasse mais? Por qual outra razão ele seria assim, se não interesse?
ㅡ Preciso encontrar algo. Preciso ir ao Fosso dos Dragões.
O nome do lugar fez Arthor engolir em seco, e seus olhos suavizaram ainda mais, como se ele começasse a entender o que estava a motivando.
ㅡ Princesa, se seu objetivo é encontrar outro ovo de dragão, ou mesmo um filhote, tenho certeza que seu senhor pai a deixaria fazer isso, então não haveria motivo para se esgueirar antes do nascer do sol.
Baelys suspirou.
A ideia de depender de Daemon para qualquer coisa, era no mínimo desconfortável. Baelys preferia a morte à dever alguma coisa ao pai. Principalmente um dragão.
Além disso, Daemon não era rei.
Tão pouco tinha os ouvidos do irmão.
A dona deles era a rainha consorte.
Que já nutria rancor, antipatia e ódio por Baelys.
E, bem, Baelys não estava indo atrás de um filhote, muito menos de um ovo de dragão.
Baelys procurava pelo fogo de seus sonhos.
ㅡ O rei permitiu que um ovo fosse colocado em meu berço, ele não chocou. Duvido muito que a esposa dele permita que eu tente novamente.
Arthor suspirou, sabendo que a garotinha inteligente em sua frente estava certa.
ㅡ Então, você pretende roubar um ovo de dragão, princesa? ㅡ o cavaleiro nem parecia surpreso, como se esperasse que Baelys fizesse algo assim.
Baelys o encarou.
A verdade trêmulou em sua língua. Como só acontecia quando ela falava com ele.
Mas ela não a disse.
Porque Arthor a apoiaria em qualquer coisa, desde que não houvesse riscos gigantescos de que ela seria ferida.
ㅡ Sim.
Arthor focou sua atenção nos olhos dela novamente, quase como se soubesse que ela estava mentindo para ele. Como se pudesse ver isso.
ㅡ Princesa, por mais que eu queira a ajudar, é impossível sair do castelo sem que os guardas percebam, e tenho certeza que seu pai tem espiões na fortaleza. Não sairemos sem que o príncipe Daemon ou o Rei saibam.
Baelys suspirou e se afastou do cavaleiro.
Ela olhou para o quarto que foi colocada.
Era bonito, as colchas na cama e as cortinas em tons de azul bem claro. As tapeçarias eram azuis também.
Exceto por uma.
Uma tapeçaria vermelha com uma jovem bonita no centro.
Uma linda jovem vestindo vermelho e preto, com fitas azuis no cabelo.
Bordado em letras com fios de ouro, um nome estava escrito.
Princesa Rhaena Targaryen.
A tapeçaria com um fundo vermelho pareceu reluzir para Baelys. A jovem nela com olhos que pareciam encarar sua alma.
A menina puxou a tapeçaria de lado, dando de cara com a parede.
ㅡ Princesa?
Baelys não respondeu.
Ela empurrou a parede.
Ela fez um barulho estranho e se moveu.
Uma passagem secreta.
Um túnel.
Como no sonho dela.
ㅡ O que? Como? ㅡ Arthor Dayne olhou para a princesa com olhos levemente arregalados.
Baelys olhou para o homem.
ㅡ Meu sonho.
Baelys esperou pelo espanto.
Esperou pelo medo.
Esperou por todos os sentimentos ruins que ela já presenciou.
Ela esperou que ele a chamasse de louca.
Esperou que ele fosse embora e contasse para todos.
Mas Arthor Dayne apenas olhou para ela, como se a visse sob uma nova luz.
Não havia nada muito diferente em seus olhos azuis.
Exceto que ele quase parecia maravilhado.
Como se finalmente entendesse mais sobre ela.
ㅡ Preciso ir para o Fosso dos Dragões.
Ela falou quando ele se manteve quieto por tanto tempo.
Ir para lá, ainda mais no meio da madrugada, parecia uma loucura.
Era loucura.
Mas quando Baelys o encarou, ela sabia que Arthor via nos olhos dela que ela não estava pedindo sua permissão, ela estava exigindo sua ajuda.
Não.
Não exigindo. Não dele.
Ela estava pedindo sua ajuda.
Ela poderia ter ido sozinha.
Mas ela não foi.
Ela recorreu à ele.
ㅡ Você tem noção do que está me pedindo, princesa? ㅡ Arthor tentou, embora soubesse que era inútil, ele a seguiria até o fim. Não importa os riscos.
ㅡ Tenho ㅡ ela replicou com firmeza.
Arthor poderia ser acusado de traição, ela junto à ele.
Ela poderia morrer em sua empreitada e Arthor seria culpado e morto.
Havia uma infinidade de coisas que poderiam dar errado. E com certeza haveria consequências.
Era egoísta da parte dela, envolver Arthor.
Mas Baelys era egoísta.
E não podia perder essa chance.
Baelys estava cansada.
Cansada de como a chamavam.
Cansada de como riam dela pelas costas.
Como diziam que ela não merecia um dragão, porque ela não era Targaryen o suficiente.
Que dragão algum escolheria uma louca amaldiçoada como ela.
Baelys precisava sair.
Precisava encontrar o dragão que atormentava seus sonhos e a vigiava em seus pesadelos.
Havia urgência em seus olhos destoantes. E Arthor conseguia enxergar isso.
Ele viu algo nela, o suficiente para o fazer arriscar tudo, arriscar sua vida.
ㅡ Eu sei o caminho. Dos túneis. Esquerda, direita, em frente, direita, para baixo, para baixo e esquerda.
Ela ditou enquanto fechava os olhos, como se lembrasse.
As palavras dela, tão vívidas e precisas, fizeram um calafrio percorrer a espinha do cavaleiro.
Com um suspiro profundo, Arthor pegou a tocha colocada perto das portas do aposento da princesa.
Ele cerrou os dentes, avaliando os riscos, mas, no fundo, ele sempre soube qual seria sua decisão.
Ele suspirou, resignado.
ㅡ Então, guie o caminho, princesa.
Baelys não respondeu, mas o olhar sutil que quase parecia gratidão, dizia tudo.
Ela se moveu primeiro, deixando o aposento em silêncio absoluto, com Arthor logo atrás, fechando a passagem atrás dele.
Eles desceram pelos túneis vazios, escuros e úmidos, seus passos ecoando levemente na pedra fria.
Baelys, segurando a mão livre do cavaleiro enquanto eles caminhavam juntos, seguia o caminho exato que se lembrava de sonhar, cada curva e descida como se fosse uma coreografia já ensaiada por ela.
Os túneis eram um labirinto, mas Baelys caminhava com a precisão de quem havia decorado cada esquina, os olhos fechados, confiando que o cavaleiro não a deixaria cair.
O caminho serpenteava na escuridão por minutos que mais se pareciam horas.
Direita, em frente, direita, descendo, descendo...
Então, finalmente, uma curva para a esquerda.
Lá, no final do túnel, uma claridade tênue se fazia visível.
RHEA ROYCE
Naquela madrugada fria, Rhea Royce partiu para caçar antes que o sol sequer despontasse no horizonte, o som de seu falcão cortando os céus acima de sua cabeça a mantinha alerta.
Montada em seu cavalo favorito, ela cavalgava com uma urgência que não podia explicar, como se buscasse algo que não estava nos campos ao seu redor.
A frustração a consumia.
Seu primo estúpido insistia em enviar cartas, exigindo, quase como um direito, que Baelys fosse prometida ao seu filho, um homem feito, já com vinte dias de nome.
Rhea, como tantas outras vezes desde o nascimento de Baelys, recusou.
A ideia de sua filha presa a um casamento arranjado com um homem mais velho que ela mal conhecia, lhe era insuportável.
Então, Rhea cavalgava, como se a velocidade pudesse acalmar a tempestade que rugia em sua mente.
Ainda assim, havia esperança em outras palavras.
O corvo de Lady Jeyne Arryn trazia um certo alívio.
Ela escreveria ao rei, apelando para que Baelys fosse levada como protegida no Ninho da Águia, para ser uma das damas de companhia da Lady do Vale.
Longe de Daemon e sob a proteção de Jeyne.
Um refúgio no Vale, perto de casa, onde a menina poderia ser livre das garras daquele que Rhea tanto desprezava.
Jeyne, a quem Rhea considerava uma amiga, compreendia os desafios de ser uma lady em um mundo feito para homens. Ela sabia que deveriam se manter unidas.
Mas até a amizade tinha seu preço, e Rhea sabia que Jeyne esperava algo em troca.
Nada era dado sem um custo. Não naquele mundo.
A primeira criança de Baelys seria destinada ao herdeiro ou herdeira de Jeyne, selando o destino de mais uma geração.
Seu plano há muito tempo pensado.
Arryn e Royce buscavam uma aliança com o Norte, onde Baelys seria prometida ao herdeiro dos Stark's.
Um futuro quase perdido depois da briga infantil entre Baelys e Cregan Stark no Torneio de Lorde Manderly.
Rhea suspirou profundamente, o ar frio cortando-lhe o rosto enquanto seu cavalo galopava pela vastidão de suas terras.
Pensamentos sobre política, alianças e o futuro de Baelys giravam em sua mente.
E Rhea sentia o peso do mundo em seus ombros, a responsabilidade de proteger a filha de um destino cruel.
A filha que ela percebeu que amava incondicionalmente tarde demais. Quando ela foi tirada dela.
Então, em um piscar de olhos, tudo mudou.
O cavalo se assustou com algo que ela não viu, e antes que Rhea pudesse reagir, ela foi arremessada ao chão.
O impacto foi brutal, e a dor alucinante rasgou sua cabeça e coluna como uma lâmina afiada.
O mundo ao seu redor escureceu, e a última coisa que ela viu foi o céu cinzento, o sol despontando ao longe.
Nos seus últimos momentos, entre a dor e o vazio da morte, um único nome escapou de seus lábios:
ㅡ Baelys.
Um suspiro final, tantas promessas quebradas.
E uma filha que ela jamais veria novamente.
BAELYS TARGARYEN
As ruas estavam envoltas em uma calma quase opressiva, com poucas almas vagando sob o céu ainda encoberto.
Baelys, envolta em seu manto, escondia-se nas sombras, agarrada firmemente ao braço de Sor Arthor.
O capuz que cobria seus cabelos prateados a escondia de olhares curiosos, mas nada podia silenciar o pulsar inquieto de seu pequeno coração.
Arthor a guiava com firmeza pelas vielas, ambos silenciosos, como se falar fosse um esforço desnecessário.
Ninguém se aproximou deles, ou os olhou duas vezes, nem mesmo os Mantos Dourados sob o comando de seu pai.
Baelys passava invisível por entre eles, sem ser notada.
Logo, a imponente estrutura do Fosso dos Dragões surgiu à sua frente, sombria e grandiosa.
Uma gaiola gigante.
As portas estavam pesadamente guardadas, com sentinelas atentos, olhos de águia que não deixariam ninguém entrar sem serem notados.
Arthor hesitou, mas Baelys, sentindo o pulsar de algo mais profundo chamá-la, olhou para ele, sua voz fria como o vento do inverno no Norte:
ㅡ Distraia os guardas para que eu consiga entrar.
O cavaleiro endureceu.
Ele era leal à Baelys, ele mataria e morreria por ela, mas aquilo era diferente.
Ele não poderia permitir que ela se lançasse ao desconhecido, não sem a proteção adequada.
Sozinha.
Mas a resposta que veio dos lábios da princesa não foi uma súplica. Foi uma ordem inegociável:
ㅡ Eu não estava pedindo.
Os olhos de cores diferentes de Baelys faiscaram com uma intensidade que ele raramente via.
Havia algo neles, um brilho quase selvagem, um misto de urgência e destino, que fez Arthor prender a respiração.
Ele quase podia sentir isso.
Ela estava tão perto.
Ele podia sentir isso na maneira como sua pequena mão tremia, não de medo, mas de antecipação.
Ela estava destinada a atravessar aquelas portas, e nada no mundo poderia detê-la.
Sor Arthor sabia que, se ele não cumprisse sua vontade, ela encontraria outra maneira.
Baelys sempre encontrava uma maneira.
O chamado dentro dela era muito mais forte que qualquer obstáculo.
Ele a observou por um momento, contemplando o que aquela menina tão jovem poderia se tornar um dia.
Com um suspiro resignado, Arthor assentiu.
ㅡ Tudo bem, princesa.
Ele se afastou, seu coração pesado, mas sua lealdade para com ela e seus desejos, inquebrável.
Baelys não o acompanhou com os olhos. Eles já estavam fixos nas portas do Fosso, onde ela sentia que algo aguardava por ela.
O som de passos se afastando ficou para trás, enquanto ela se preparava para responder ao chamado que sussurrava seu nome desde os confins de sua alma.
Ela mal percebeu a distração de Arthor, o que ele fez para atrair os guardas.
Quando os guardas saíram de seu posto só por um momento, ela se esgueirou, no instante antes de um deles voltar para seu posto nas portas.
Ela ainda ouvia a voz de Arthor, mas isso logo foi substituído pelos sons dos dragões.
Baelys caminhou pelo Fosso lentamente, pisando o mais leve que conseguiu, ela não queria atrair a atenção dos guardiões dos dragões.
O lugar era imenso, e ela se perguntou como poderia ter sido construído.
Enquanto caminhava, Baelys observou as bifurcações, ouviu os rugidos baixos e altos dos dragões.
Caminhando, ela passou por um dragão belíssimo, de escamas amarelas e um colar de coração, presa por poucas correntes, como se ela não precisasse muito delas.
Baelys encarou a criatura por um momento, tão brilhante e linda que a lembrou do sorriso de Rhaenyra.
A criança continuou a andar, mais a fundo no Fosso.
Logo, ela ouviu o familiar assobio e viu o dragão do pai.
Caraxes estava preso por muitas correntes e seus assobios aumentaram quando ele a viu. Quase uma reprimenda, de que ela não deveria estar naquele lugar.
Baelys finalmente tirou um momento para observar com cuidado o dragão do pai, ela não o havia o feito antes, ela não ousou. Não sob o olhar de Daemon, ela jamais daria essa satisfação ao homem.
Mas agora ela finalmente observou o dragão vermelho. Ele era bonito.
Mesmo que ele fosse tão diferente, com seu longo pescoço e figura esguia.
E seus assobios, que a irritavam quando Daemon estava por perto, nem eram tão ruins.
Eles eram como uma música estranha. Uma que a dragão amarela parecia apreciar.
Então, como se pudesse sacudir e levar aquele lugar abaixo, um novo rugido soou.
Baelys Targaryen arregalou os olhos e seus pés se moveram antes que ela raciocinasse, seguindo o som.
Ela nem mesmo percebeu que havia sido vista.
Vozes gritando em valiriano soaram.
Os guardiões dos dragões haviam a notado.
Baelys correu, o coração trovejando no peito, os pés pequenos rápidos sobre a pedra fria. Em uma curva, ela escorregou, caindo pesadamente dentro de um covil.
Por um instante, tudo ficou escuro.
Quando voltou à consciência, o cheiro metálico de sangue a trouxe de volta ao presente.
Havia sangue, Baelys notou quando finalmente voltou a si e se sentou.
Sangue que pingava dela.
De cortes no braço, causados pelas pedras quando ela caiu, usando os braços para proteger a cabeça.
O sangue pingava fracamente, de cortes que não pareciam tão fundos.
Baelys se colocou de pé.
Algo sibilou nas sombras e o ar ficou pesado.
Baelys olhou para os lados, procurando.
Uma língua de fogo explodiu à sua esquerda, iluminando o espaço e revelando o que estava escondido.
E Baelys finalmente a viu.
A dragão de seus sonhos.
Ela era imensa, muito maior que Caraxes, com escamas de um azul claro cintilante, seus chifres curvados em torno de uma cabeça colossal.
Ela era ao mesmo tempo majestosa, deslumbrante e aterrorizante. Linda, com seus dentes afiados e garras que poderiam partir pedra.
Mas o que capturou fortemente a atenção de Baelys foram os olhos dela, aqueles olhos antigos, brilhando com fogo, fixos nela.
O sangue escorreu.
A dragão rugiu, o som tão forte que as paredes da caverna estremeceram.
Os guardiões dos dragões estavam do lado de fora do covil, observando, mas incapazes de interferir. Não ousariam entrar agora que os olhos da fera estavam sobre sua presa, tão perto uma da outra.
Baelys ergueu o olhar e encontrou os da dragão.
A dragão de seus sonhos.
Dreamfyre.
Baelys a reconheceu de um conto antigo, um livro velho sobre a Casa Targaryen, que a menina encontrou perdido e empoeirado na biblioteca de Runestone.
O dragão lendário de Rhaena Targaryen.
Dreamfyre.
A dragão com fogo dos sonhos.
O fogo, dos sonhos de Baelys Targaryen.
A dragão que nunca deveria se ligar à ela.
Uma dragão que estava destinada à outra vida.
Mas aquela vida se foi no momento que Baelys sonhou pela primeira vez.
Dreamfyre rugiu novamente, mas dessa vez, não havia ódio.
Havia reconhecimento.
Baelys arrancou o manto, e os guardiões deram passos à frente, quando perceberam que a intrusa, era na verdade, uma Targaryen.
Dreamfyre mostrou os dentes para eles e rugiu de novo, um aviso, para ficarem longe.
Seu rugido alto o suficiente para que pedaços do teto caíssem.
Com os braços estendidos, Baelys se aproximou lentamente.
Dreamfyre abaixou a cabeça colossal, seus olhos enormes não deixando os da menina por um instante sequer.
A proximidade entre as duas fazia o calor da dragão vibrar na pele de Baelys, como uma chama viva.
Seus olhos enormes nunca deixando os olhos destoantes da Targaryen.
Dreamfyre mostrou os dentes.
Baelys prendeu a respiração.
Deve sempre haver sangue.
Deveria haver sangue.
Havia algo na memória de Baelys - uma lembrança distante de uma figura prateada que visitava seus sonhos, sussurrando sobre sangue. Ela se lembrava do dragão de escamas escuras lambendo o sangue da figura misteriosa, um pacto selado com magia antiga.
Magia de sangue.
Baelys passou as mãos nos braços, manchando elas de vermelho carmesim.
Seu sangue.
Haveria sangue.
Dreamfyre se aproximou ainda mais, como se sentisse o cheiro metálico do sangue.
Como se sentisse a magia antiga nele.
Baelys entendeu as mãos manchadas com seu sangue.
Quando Dreamfyre roçou a cabeça nas mãos de Baelys, o sangue carmesim marcou levemente as escamas azuis. A dragão se afastou ligeiramente, passando a língua no local onde o sangue havia tocado.
Então, ela rugiu.
E as correntes que a prendiam começaram a ceder, uma a uma, até que se partiram por completo.
Em outra vida, elas se partiriam por outro motivo.
O rugido final de Dreamfyre sacudiu o Fosso dos Dragões, e poderia ter sacudido o mundo inteiro.
E naquele instante, Baelys juraria ter ouvido uma voz distante, quebrada, perdida ao vento, chamando seu nome.
I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Descanse em paz Rhea Royce, você foi uma mãe incompetente, mas estava disposta a melhorar. Infelizmente, isso não foi possível.
III. Baelys simplesmente indo atrás de um dragão sem a permissão de ninguém e arrastando o pobre do Arthor com ela.
IV. De agora em diante as coisas vão começar a andar aqui na fanfic, e vocês irão ver o que a Baelys vai aprontar agora que ela tem o segundo maior dragão com montador no momento.
V. E não, a Baelys ouvir uma voz e tudo que ocorreu, além da necessidade do sangue, não é uma coincidência e etc. Tem um motivo, que vocês não irão saber por agora kkkk.
VI. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.
03.10.2024
Duda.
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