07. ĀNOGAR
ĀNOGAR (Alto
Valiriano)
I. SANGUE.
BAELYS TARGARYEN
Ela estava no topo de uma torre antiga, feita de pedra escura, onde o vento uivava de forma implacável, quase arrancando seu pequeno corpo infantil do parapeito.
Seus olhos estavam fixos à frente, onde quatorze montanhas se erguiam, com fumaça saindo delas.
Quatorze vulcões.
Quatorze chamas que ardiam como faróis na escuridão, iluminado a noite, tão próximas que ela quase podia sentir o calor escaldante emanando delas.
De repente, um som grave ressoou atrás dela, fazendo a criança se virar rapidamente.
Ali estava a mesma figura que ela já havia visto em seus sonhos: uma garota de cabelos prateados, com um filhote de dragão cujas escamas eram tão negras quanto a noite.
ㅡ Presa nos sonhos novamente, pequena ladra? ㅡ a voz da figura prateada soou, como o eco de uma tempestade distante.
A criança arregalou os olhos em surpresa.
Nunca antes a figura tinha lhe dirigido a palavra, e agora, aquela voz... era ao mesmo tempo familiar e estranha.
Soava como o sussurro das ondas, como as árvores ao vento, como um sonho que se esvaía ao amanhecer.
Ladra.
Ela fora chamada de ladra.
Mas por que?
Nunca antes ela havia roubado nada, então por que aquela figura prateada a chamaria assim?
ㅡ O começo do inevitável fim de nossa família, se iniciou bem aqui ㅡ disse a figura prateada, sua voz soando como um sussurro das profundezas do tempo.
Mesmo de costas, a presença dela era avassaladora, com seus olhos penetrantes fixos no horizonte, como se ela enxergassem além do véu da realidade.
ㅡ Temos todos sangue amaldiçoado. E um dia, não restará nada de nós, nem mesmo um fraco eco na existência.
A criança olhou para a figura, e deu um passo a frente.
ㅡ Quem é você? ㅡ a criança perguntou com sua voz frágil, que se perdeu por um instante no vento que soprava entre as montanhas ardentes.
ㅡ Por que isso importaria, pequena ladra?
ㅡ Eu não sou uma ladra ㅡ retrucou a criança, sua voz agora carregada de raiva infantil, os olhos de cores diferentes brilhando com intensidade.
A figura prateada finalmente se virou para ela. Olhos do mais puro violeta, as feições etéreas como apenas um valiriano do sangue mais puro teria.
Ela era linda.
Mas seus olhos pareciam longe. Perturbadores.
Aprisionados.
Aprisionados em um mundo de sonhos, pesadelos e profecias.
Assim como a criança de olhos de cores diferentes.
ㅡ Mas você é ㅡ a figura disse com confiança. ㅡ E você já viu acontecer. Você já roubou dela, e o fará novamente.
As palavras atravessaram a criança como uma lâmina de aço valiriano, fazendo-a estremecer. E então, como um clarão de compreensão, ela soube de quem a figura prateada falava.
A garota vestida de verde.
Cujo dragão era feito de fogo dos sonhos.
O dragão que assombrava os sonhos de Baelys. Que chamava por ela, não mais por aquela garota que vestia verde e tinha olhos tristes.
ㅡ Tanto você roubará dela. E nada será o suficiente. Você não pode mudar o destino, tal qual ela não pôde.
A criança encarou a figura prateada, a donzela dos sonhos, enquanto seu coração martelava no peito.
A figura, em resposta, voltou a olhar para o horizonte, as costas rígidas como uma muralha.
Ela não olhou para a criança outra vez.
ㅡ O preço de tamanho ato é pago com sangue. Você está disposta a pagar o preço de sangue, Baelys?
Os olhos da criança se arregalaram. E só então ela percebeu que a palma da mão direita da figura estava ensanguentada, o filhote de dragão lambeu o sangue com a língua.
Parecia mágico, o elo deles.
Sangue.
Tudo voltava para o sangue.
Para a linhagem e a magia proibida que seus ancestrais dominavam.
ㅡ Se a dragão chama por mim, por que eu seria uma ladra ao atender o chamado? ㅡ a criança perguntou.
A figura prateada permaneceu em silêncio por um momento, olhando para o horizonte, antes de sussurrar com uma voz distante, tão distante quanto seus olhos:
ㅡ Sua própria existência está errada. Você, Baelys Targaryen, não deveria existir.
As palavras ecoaram na mente da criança, como um trovão distante que se aproximava cada vez mais, ameaçando a engolir.
O vento aumentou de intensidade, fazendo os quatorze vulcões brilharem com uma intensidade feroz, como se o próprio sonho respondesse àquela fala sombria.
Havia sangue para todos os lados.
Tanto sangue.
E ela estava se afogando nele, sendo puxada para o vazio.
E então, antes que a criança pudesse encontrar qualquer força para gritar por socorro ou pedir uma resposta, a cena ao redor começou a se dissolver.
As chamas dos vulcões consumiram tudo, o sangue escorreu pela visão dela, a afogando em um mar de vermelho.
A torre desapareceu como névoa ao amanhecer, e a figura prateada, com seus olhos distantes e suas palavras sombrias, se desfez no vento.
DAEMON TARGARYEN
Daemon Targaryen despertou em um sobressalto, o eco de gritos estridentes cortando o silêncio da noite.
Eram gritos de criança, penetrantes e desesperados.
Gritos de uma menina.
Baelys.
Sua filha.
Num instante, ele estava de pé, a mão instintivamente firmando-se no cabo da Irmã Sombria.
O cabo frio da espada lendária o oferecia um foco em meio ao caos que explodia em seu cérebro.
Com o coração disparado, Daemon correu como nunca antes pelos corredores escuros e frios de Runestone, os pés descalços chocando-se com a pedra gélida a cada passo apressado.
Os gritos não cessavam, ao contrário, pareciam se intensificar, reverberando pelas paredes antigas da fortaleza.
Cada grito era um golpe em Daemon. O que a estava atormentando tanto? O que assombrava sua filha? Um assassino? Um monstro? O que?
Ele precisava chegar até ela.
Precisava salvá-la de qualquer que fosse o perigo que a assombrava naquela noite.
Daemon finalmente atravessou o corredor final, o som dos gritos da criança cada vez mais perto.
O coração dele batia descompassado, tanto pelo esforço de tamanha correria, quanto pelo medo de que algo estava acontecendo com ela.
Com um impulso final em sua correria, Daemon chegou à porta do quarto dela, a madeira envelhecida parecia pulsar com o eco dos gritos, como se a própria fortaleza compartilhasse do desespero da criança.
A porta estava aberta.
E o que ele viu ao entrar o fez parar abruptamente, sua espada, a Irmã Sombria, caindo ao lado do corpo, quase escorregando de sua mão.
Baelys estava sentada na cama, os olhos arregalados de puro terror, as lágrimas escorrendo descontroladas por seu rosto.
Suas pequenas mãos, ensanguentadas por cortes em formato de meia lua, que ela mesma infligira com as unhas, provavelmente ao fechar as mãos tão firmemente em forma de punho.
Essas mãos ensanguentadas agarravam-se desesperadamente à alguém.
Alguém que não era Daemon.
O maldito dornês estava ali, sem armadura, com a espada deixada encostada na parede, longe dele.
Ele não parecia um guerreiro naquele momento, mas sim um protetor.
Um pai.
Daemon fechou a mão livre em punho, até que seus dedos estivessem pálidos pela força.
Baelys segurava o maldito selvagem dornês como se ele fosse a única âncora em um mar de pesadelos.
Seu corpo frágil e pequeno tremia convulsivamente, os gritos cortando a escuridão do quarto, as velas tremulando, tão perto de se apagar.
ㅡ Princesa, estou aqui. Estou aqui. Você está segura. Eu estou aqui ㅡ o dornês murmurava, sua voz em um tom gentil, tentando superar os gritos estridentes da menina. ㅡ Os pesadelos se foram, você está acordada. Você está acordada, princesa. Eu estou aqui. Estou aqui.
Daemon observou, impotente, enquanto os gritos de Baelys lentamente cessavam.
Ele viu como os olhos dela, antes tão cheios de terror, buscaram o rosto do dornês com uma confiança que ela nunca tinha mostrado para ele, seu próprio pai, nas semanas desde que ele havia retornado, não importava como ele tentasse se aproximar dela.
Daemon observou enquanto a boca dela se abria para sussurrar:
ㅡ Ānogar. Sīr olvie ānogar. Sīr olvie morghon. Nyke kostagon daor arlinnon.
(Sangue. Tanto sangue. Tanta morte. Não posso mudar.)
As palavras fluíram de seus lábios em valiriano, a língua ancestral que Daemon tanto prezava, com a perfeição de uma fluente. Ela mentiu quando disse que não sabia falar o idioma.
Ela sabia.
E aparentemente, muito bem.
ㅡ Tudo está bem agora, princesa. Estou aqui com você. Você não está sonhando ㅡ o dornês a confortou mesmo que não entendesse o que Baelys dizia.
Daemon sentiu uma onda ainda maior de ódio ferver dentro dele.
Ele odiava como sua filha olhava para o dornês, como se ele fosse seu salvador.
Odiava ver a loucura dissipar-se dos olhos de Baelys, não por sua presença, mas pela presença do outro, do selvagem estúpido.
ㅡ Você vê agora ㅡ uma voz murmurou ao lado dele. Rhea Royce. ㅡ A criança é amaldiçoada.
Daemon encarou a esposa com raiva. Como ela podia dizer isso da própria filha?
Mas uma parte dele reconheceu o que Rhea Royce dizia.
Seria ele tão diferente da mulher, pensando o mesmo, temendo o mesmo? Que Baelys carregava uma maldição?
Ou o pior, que sofria de um tipo de loucura?
Ele observou o dornês pegar Baelys no colo, como se ela fosse feita do mais frágil dos vidros.
Daemon observou, impotente, enquanto ele a embalava e entoava uma melodia suave e estúpida, provavelmente uma canção dornesa.
Ele ficou lá parado, na soleira da porta, quando Baelys finalmente cedeu ao sono, os soluços diminuindo até o silêncio completo.
Nem por um momento ela olhou para Daemon ou Rhea.
Para os pais que ela parecia tão fortemente desprezar.
Não.
Seus olhos estavam voltados apenas para seus pesadelos e sonhos. E é claro, para o homem que a puxara para fora deles.
BAELYS TARGARYEN
Baelys observava, impotente e cheia de rancor, enquanto seu pai colocava as últimas coisas na sela de Caraxes.
O dragão observava tudo com olhos que pareciam julgar o mundo, sua presença imponente e aterrorizante.
Cada gesto de Daemon, meticuloso e seguro, apenas alimentava o ódio que gritava no peito da criança.
Baelys estava amarrada à macieira, o mesmo lugar onde havia tido o primeiro encontro com aquele homem que agora tentava impor sua vontade sobre ela.
O príncipe, após semanas frustrantes de tentativas falhas de conquistar o lugar dele como pai de Baelys, decidiu que bastava.
Decidiu que, se não podia persuadi-la a ir com ele para o casamento da princesa Rhaenyra, a levaria à força.
Os soldados Royce, covardes diante do poder de Daemon e do dragão, apenas observavam, paralisados, sem coragem de intervir.
Ao lado de Baelys, Rhea Royce, permanecia de pé, aparentemente impassível.
Como Daemon havia conseguido convencer Rhea a permitir que a herdeira dela fosse levada para Porto Real sem qualquer promessa de retorno era um enigma.
E o único que poderia salvá-la dessa humilhação, Sor Arthor Dayne, estava a dias de distância, enviado por Rhea para se certificar de que Baelys estaria protegida por ele ao chegar em Porto Real com Daemon.
A expressão de Baelys não vacilou, mesmo que estar amarrada fosse humilhante e doesse seus pulsos.
Daemon havia decidido a amarrar depois que ela fugiu pela terceira vez.
Depois que mesmo a figura de Caraxes não a encheu de medo como ele esperava a coagir a obedecer o que ele dizia.
Baelys respirou fundo.
Ela não cederia à fraqueza na frente de nenhum deles.
O ódio que sentia por ambos, por razões distintas, era a chama que a mantinha em pé.
Uma filha que odiava tanto o pai quanto a mãe, seus olhos que não derramariam lágrimas, seus lábios que nunca pronunciariam súplicas.
Baelys prometeu que se manteria forte, fria e inabalável.
Daemon, ao terminar de preparar tudo, aproximou-se.
Baelys ergueu o queixo, desafiadora, recusando-se a olhar para ele com qualquer coisa além de desdém, rancor ou ódio.
Ela sabia que, no fundo, ele percebia seu ódio, mas Daemon, como ela aprendeu nessas semanas, era teimoso demais para desistir quando colocava algo em sua cabeça.
O príncipe se abaixou na frente dela, desfazendo as amarras que a prendiam à macieira.
Baelys sentiu os pulsos livres, mas o gesto não diminuiu a ira que a consumia.
Com um puxão firme, Daemon a trouxe para mais perto, segurando-a pelos ombros como se ela fosse um mero objeto a ser controlado, e não uma criança cheia de vida e vontade própria.
Baelys, tomada por uma raiva indomável, fechou a mão em punho, pronta para desferir um golpe no rosto dele, mas a diferença de altura entre os dois a impedia de alcançar seu objetivo.
Em um ato de desafio, ela canalizou toda sua força em um chute direcionado ao joelho do pai, determinada a feri-lo de alguma forma.
Daemon, que já havia suportado uma enxurrada de chutes e socos daquela pequena garota só naquela manhã, previu o ataque e segurou a perna dela antes que pudesse atingi-lo.
Em resposta, Baelys liberou uma torrente de palavras que teriam feito sua septã se contorcer de horror, todos os xingamentos que ela conhecia dirigidos ao homem de cabelos prateados à sua frente.
ㅡ Já acabou? ㅡ perguntou Daemon, com um tom debochado, o fogo em seus olhos rivalizando com o dela.
Daemon a ignorou quando pensou que ela não era nada do que ele apreciava, quando ele pensou que ela era uma criança devota da Fé dos Sete e uma dama completa. Quando ele descobriu tudo que ela já havia feito com a septã e como ela desprezava os Sete, além de ser tudo, menos uma dama, ele se interessou em a conhecer.
Em tentar ser pai dela.
Ele falhou miseravelmente nisso, é claro, já que Baelys nunca o quis em primeiro lugar, mas isso, agora ele entendia o fogo que ardia dentro dela.
E Baelys odiava isso.
ㅡ Eu odeio você! ㅡela gritou, a voz carregada de fúria.
Daemon riu, uma risada que cortava como aço.
ㅡ Você já disse isso. Incontáveis vezes. Talvez seja hora de mudar o discurso.
O sarcasmo dele atiçou ainda mais o ódio que fervia dentro dela.
Ela o amaldiçoou com mais vigor, mas quando percebeu que nada do que dizia surtia efeito, virou-se para encarar a mãe, que se mantinha calada, observando.
ㅡ Você está deixando ele me levar embora? Simples assim?
Rhea Royce fixou o olhar na filha, mas seus olhos estavam carregados de tantos sentimentos, que Baelys, cegada pelo ódio, não conseguiu decifrar.
ㅡ Não é para sempre. Você voltará, Baelys. Além disso, você passou todos esses anos comigo, agora é hora de conhecer seu pai e a família dele.
ㅡ Eu não quero conhecer ele! ㅡ a menina elevou a voz, tentando se desvencilhar do aperto de Daemon.
ㅡ Baelys, filha, tente entender-
ㅡ Não! Você está me vendendo para ele, como se... ㅡ Baelys interrompeu a si mesma, tomando fôlego.
Como se eu fosse um brinquedo velho que você não quer mais, um brinquedo velho que te cansou, a criança apenas pensou, recusando-se a falar e mostrar qualquer fraqueza.
Quanto tempo até Daemon também se cansar dela e a descartar da mesma maneira?
Quanto tempo até Arthor pensar o mesmo e fazer o mesmo?
Quanto tempo até ela ficar sozinha com seus sonhos e pesadelos?
ㅡ Filha, por favor ㅡ Rhea Royce pediu em um tom que Baelys nunca havia ouvido antes.
A criança não ligou.
Rhea Royce nunca pediu por favor.
Nunca.
Não para Baelys.
Mas Baelys nem percebeu naquele instante.
Tudo que ela sentia era rancor.
Rhea Royce nunca se importou, Baelys acreditou. Disse isso para si mesma.
Ela deixou que os sussurros de loucura se espalhassem. Ela se juntou a eles, pensando o mesmo, dizendo o mesmo.
Ela tinha vergonha de Baelys.
Ela não a amava.
Baelys olhou para a mãe com olhos frios.
Baelys não viu o amor nos olhos de Rhea, a dor, o arrependimento, o desejo de fazer as coisas certo, de proteger a filha.
Baelys não viu nada além de seu ódio e sua raiva.
Do medo e a tristeza que ela tentava tão fortemente esconder atrás das muralhas que protegiam seu frágil coração.
Com um olhar firme e cruel, a menina finalmente olhou para a mãe e falou:
ㅡ Eu te odeio. E espero nunca mais te ver de novo.
Então a criança se virou para Caraxes, andando sozinha, não mais com a intenção de fugir.
Ela não se virou.
Mas se tivesse feito, se Baelys tivesse se virado, teria visto as lágrimas que desciam pelo rosto de Rhea, a mão da mãe estendida, como se quisesse puxá-la de volta, como se tivesse mudado de ideia no último instante.
As palavras de Baelys para a mãe ecoaram ao vento.
E aquelas seriam as últimas palavras que ela dirigiria à mãe.
I. Oiee pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Eu particularmente acho esse capítulo um pouco triste, quer dizer, a Baelys é tão novinha. Ela ainda tem sete anos, e ela não tem paz alguma.
III. Amo a relação da Baelys com o Arthor, e como ela mesma, no ponto de vista dela como narradora, não deixa isso claro, mas os outros narradores podem ver isso claramente.
IV. Daemon cansou de tentar ser decente e está meio enlouquecido (principalmente por ciúme da relação da Baelys com o Arthor) tentando ser pai, o coitado não acerta uma. Pelo menos, no final, a Baelys ficou com mais ódio da mãe e decidiu ir com o Daemon de vez.
V. Rhea Royce é uma personagem super complicada e é uma pena o que vai acontecer com ela, gostei bastante de escrever um pouquinho dela aqui, quer dizer, ela não é perfeita, mas ela também não é um monstro.
VI. Próximo capítulo teremos casamento da Rhaenyra (sem seguir a série), teremos Alicent, Dreamfyre e muito mais. Juro, o próximo é um dos meus capítulos favoritos já escritos pra essa história.
VII. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.
10.08.2024
Duda.
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