05. ĀMĀZINON
ĀMĀZINON (Alto Valiriano)
I. RETORNO
BAELYS TARGARYEN
Baelys achava que Arthor Dayne provavelmente era a pessoa mais paciente que ela conhecia.
No ano que se seguiu após o torneio de Lorde Manderly (que Arthor venceu e a coroou Rainha do Amor e da Beleza), ele a seguiu como uma sombra.
O que ela presumiu que era o trabalho dele como Escudo Juramentado dela.
Ela odiou.
E deuses, ela fez de tudo nos meses que se seguiram ao torneio para se livrar dele, porque ela não queria uma sombra. Nunca quis.
Nem mesmo os cavaleiros honrados do território do Vale, poderiam a aturar. Mas esse dornês parecia muito resolvido a tentar.
Quando ela fugia correndo dele, ele a encontrava sem muito esforço, a dizendo que ela precisava se esconder melhor se planejava fugir dele.
Quando ela colocou queijo e ratos nas roupas dele, o que fez os ratos roerem mais da metade das roupas do cavaleiro, ele apenas riu e disse que já era hora dele comprar roupas novas, e que ela o havia ajudado a se livrar das velhas.
Quando ela o jogou uma pedra, mirando ma cabeça do cavaleiro e errando por pouco, ele apenas disse para ela mover o braço de forma diferente, e melhorar a postura, porque assim a mira dela melhoraria.
Quando ela roubou a besta de um guarda e tentou o acertar, para a flecha acabar pousando próxima dos pés dele, o cavaleiro dornês apenas disse que a ensinaria a usar a besta corretamente se ela pedisse. Como se não ligasse para ela tentando tão desesperadamente se livrar dele.
Quando ela zombou dele, por ser dornês, o chamando de selvagem estúpido, e torcendo para ele finalmente perder a paciência e a deixar, ele apenas revirou os olhos e disse que todos naquele mundo eram selvagens em sua própria maneira.
Com o passar dos meses, Baelys simplesmente parou de tentar se livrar de Arthor Dayne.
Era curioso para ela, todos em sua volta a abandonavam com o menor vislumbre da selvageria dela.
Sua própria mãe parou de tentar ter qualquer tipo de conexão quando os sonhos dela pioraram e todos começaram a chamar ela de louca, mesmo que ela não passasse de uma criança.
O rancor de Rhea pelo pai de Baelys sempre foi maior que qualquer outra coisa.
Baelys ouviria escondido, Rhea reclamando após uma jarra de vinho com sua dama de companhia favorita, dizendo como o sangue de dragão da criança era amaldiçoado, como lentamente a deixaria louca como o pai dela. Como nem mesmo o dragão no ovo em seu berço chocou, não querendo lidar com a loucura da menina.
Mas aquele maldito dornês parecia realmente empenhado a ficar. De uma forma que Baelys não entendia, mesmo que tentasse.
Quando ela acordava, gritando e chorando, muitas vezes sem se lembrar do próprio sonho perturbador, ele estaria a segurando, cantarolando uma melodia dornesa que ela não conhecia, a acalmando.
Fazendo companhia para ela e a contando histórias para que ela não tivesse que tomar o remédio que o Meistre fazia para ela, aquele que a faria voltar a dormir e tinha um gosto que ela odiava.
Mesmo quando as olheiras ficavam evidentes no rosto bronzeado do dornês, ele não dormiria, não passaria a tarefa para outro cavaleiro.
Ele estaria lá.
Ele estava lá quando o filho de um lorde menor a chamou de louca pelas costas.
Seja lá o que o dornês tenha falado, o rapaz nunca mais se quer olhou para Baelys, a evitando como se ela fosse uma praga.
Ele estava lá quando ela caiu descendo as escadas enquanto corria e ralou os joelhos, os deixando em carne viva.
O dornês aplicou a pomada, que o Meistre a deu para dor, ele mesmo.
Era estranho para Baelys. Alguém que escolhia ficar.
Alguém que parecia se importar.
Ela não entendia.
Tudo que ela o deu foi ignorância, desprezo e o pior dos comportamentos.
Ele não pareceu se importar com nada disso.
Então ela lentamente parou de tentar se livrar dele.
Mas ela nunca confiou que ele ficaria.
Era sempre assim, mas cedo ou mais tarde, todos abandonavam Baelys.
Ninguém nunca ficaria.
Porque ela nunca mereceria.
ㅡ O dia do seu oitavo dia do nome está chegando rapidamente ㅡ o cavaleiro dornês disse atraindo a atenção da menina e a tirando dos pensamentos que perturbavam sua cabeça.
Baelys revirou os olhos enquanto comia a maçã que ele colheu para ela da árvore onde eles descansavam na sombra.
ㅡ Não entendo por que isso seria importante ㅡ a garotinha rebateu com um tom ignorante.
Como sempre, Arthor parecia ver além dela, então ele revirou os olhos.
ㅡ Eu também odiava comemorar o dia do meu nome quando eu era criança.
Baelys olhou para ele ao ouvir a afirmação.
ㅡ Nunca gostei de ter que entreter tantas pessoas, e para que? Eles me darem congratulações por eu estar vivo por mais um ano? Por mais um ano próximo da minha maioridade e de como eu deixaria minha casa para buscar por algo meu?
Baelys encarou o dornês com sua armadura cinza, o símbolo Dayne substituído pelo símbolo Royce.
Ele era um homem Royce agora.
Não, não Royce.
Dela.
E ele entendia. Ele sabia como ela se sentia.
ㅡ Por que você deixou sua família?
Baelys nunca foi gentil, mas ela temeu que poderia chatear o cavaleiro ao perguntar sobre isso. Por isso ela esperou por tanto tempo.
Arthor olhou para ela, ele deu um sorriso triste.
ㅡ Porque eu queria conquistar algo meu. Um nome, alguma honra. Coisas que eu não poderia fazer na sombra dos meus dois irmãos mais velhos.
ㅡ E isso te levou a ser meu Escudo Juramentado, ou melhor dizendo, minha babá? ㅡ Baelys zombou. ㅡ Onde está a honra disso?
Arthor olhou para ela profundamente, e Baelys pensou que era isso, esse era o momento em que ele se levantaria e iria embora, como todos antes dele.
Mas o dornês, como de costume, fez o oposto do que Baelys pensou.
Ele sorriu.
Tristemente sim, mas ainda um sorriso.
ㅡ Cada um de nós pensa diferente sobre o que é honra. O que eu faço aqui, ser seu escudo juramentado me trás honra, mesmo que você não pense assim, princesa Baelys.
Os olhos dele deixando visível as palavras que ele não disse em voz alta:
Você precisa de mim.
Mas Baelys ouviu as palavras mesmo que ele não tivesse as dito.
Isso a enfureceu.
Essa vulnerabilidade que lentamente a dominava.
Ela não podia ser vulnerável.
Nada era constante.
Ele também não seria.
ㅡ Eu não preciso de você ㅡ a voz dela era cortante como aço valiriano.
Arthor riu.
ㅡ Claro que não precisa. Você seria capaz de fazer o mais feroz dos homens temerem por suas vidas com esse seu olhar, princesa.
A raiva dela lentamente foi sendo substituída por curiosidade.
ㅡ Então por que você continua aqui?
Ela precisava saber por que o maldito dornês simplesmente não ia embora. Ela precisava entender.
O sorriso do Dayne se tornou doce.
ㅡ Bom, porque diferente de você, que não precisa de mim, eu preciso de você.
Baelys queria matá-lo. Aquele dornês estúpido que dizia coisas que ela não esperava.
Coisas que a fariam baixar a guarda se ela o escutasse.
ㅡ Cale a boca ㅡ ela ordenou enquanto virava as costas para ele, voltando a atenção para o livro que trouxe consigo e passando a ignorar o cavaleiro.
Ela pensou ter o escutado segurar uma risada.
Então, quando o dragão vermelho de longo pescoço, cujo as histórias até mesmo ela ouviu, cruzou o ar voando por Runestone, soltando seus chiados característicos, ela já não estava de bom humor.
Após sete anos o pai dela, que ela nem se lembrava de conhecer, havia retornado.
Ela não sabia o que esperar desse encontro.
Sete anos haviam passado desde que ele partira para a guerra, deixando-a como um fantasma distante em sua memória.
Ele nunca escreveu para ela.
Tudo o que sabia sobre ele eram histórias, algumas gloriosas e estúpidas, outras sombrias.
Mas todas pareciam irrelevantes para a garotinha que aprendera a se defender sozinha em um mundo que a julgava louca.
Porque o pai não estava lá para a proteger. E a mãe não se importava.
Ela continuou olhando para o céu enquanto o dragão circulava acima, seu coração batendo mais rápido a cada segundo que passava.
Um dragão.
Era a primeira vez que Baelys via tal criatura pessoalmente e não em seus sonhos.
Mas o dragão do príncipe, apesar de parecer ameaçador não era tão fascinante para ela, não como a dragão de seus sonhos.
Baelys sentia uma mistura de raiva e desconforto enquanto observava o Príncipe Daemon se aproximar.
Ele havia finalmente retornado após sete anos de ausência, mas a lembrança que ela tinha dele não era de um pai amoroso, e sim de um fantasma distante em sua vida.
Ela não se lembrava dele.
E agora que ela o via, ele era um lembrete do que lhe faltava, um símbolo da negligência que moldou sua infância.
Baelys, a louca.
Baelys, a sem dragão.
Baelys, a desgraça de seu sangue e Casas.
O dragão vermelho pousou com um estrondo, levantando uma nuvem de poeira que envolveu a área em um véu cinza.
O maldito pai dela parecia saber que ela estava ali, naquela planície, descansando sentada embaixo daquela macieira.
E se ele não sabia, os deuses que a odiavam com certeza o avisaram, porque ele pousou com seu dragão vermelho próximo de onde ela estava.
Daemon desceu do dragão com a confiança de um homem que sabia que o mundo estava a seus pés, a confiança de um guerreiro que venceu muitas batalhas, seus olhos violetas brilhando com uma frieza que Baelys reconhecia bem.
Ela sentiu um aperto no peito, uma sensação que não conseguia identificar completamente, misturando um desejo inconsciente de rejeição com uma necessidade frustrada de reconhecimento.
Deuses, ela o odiava. Esse príncipe de cabelos prateados que chegou na fortaleza da mãe dela, dela própria, como se mandasse no lugar, como se fosse o Lorde de Runestone.
Arthor Dayne, sempre ao lado dela a deu um aperto no ombro quando ela se colocou de pé, se afastando um pouco em seguida, respeitando o espaço entre pai e filha, a sua presença ainda constante.
Ele permaneceu em silêncio, observando a interação que estava prestes a acontecer.
Ela não precisou olhar para saber que ele ainda estava lá, a protegendo de qualquer ameaça que pudesse vir do homem que se aproximava.
Mesmo que o príncipe Daemon tivesse um dragão com ele.
Daemon Targaryen.
Seus olhos violetas, tão parecidos com um dos olhos de Baelys, procuraram por ela, encontrando a pequena figura de sua filha parada firmemente próxima da árvore.
O olhar endurecendo quando viu o livro da fé dos sete nas mãos dela, uma exigência da septã (que só a deixou sair da Fortaleza se levasse o livro com ela e acabasse lendo o mesmo).
Baelys sentiu um frio na espinha ao ver o pai de perto.
Ele parecia diferente das lembranças nebulosas que ela guardava (lembranças que ela nem sabia se eram reais), mais duro, mais sombrio.
Ele parecia um guerreiro. Ele parecia cruel.
A guerra o moldara, assim como os anos a moldaram para se sentir mais velha do que realmente era.
Ela se preparou para o que quer que viesse a seguir, não demonstrando fraqueza.
Ela não se submeteria.
Daemon caminhou até ela, os olhos nunca deixando os dela.
Ele parou a poucos passos de distância, o silêncio entre eles pesado e carregado.
Baelys se manteve firme, o orgulho e a raiva abafando qualquer tremor que pudesse sentir, qualquer fraquejar de seu coração.
Ela se preparou para confrontá-lo, para deixar claro que sua presença não era bem-vinda em Runestone.
ㅡ Baelys ㅡ começou ele, a voz grave e imponente.
Ela levantou a cabeça, desafiadora, e não se curvou à ele.
ㅡ Príncipe Daemon.
Daemon hesitou por um momento, olhando para a filha com uma expressão que misturava muitas coisas, coisas demais para ela entender.
ㅡ Ouvi muito sobre você ㅡ contou Daemon, a voz tensa com uma sinceridade crua.
ㅡ Bom, eu não ouvi muito sobre você, príncipe Daemon.
Vá embora, ela queria gritar.
Me deixe novamente e nunca mais volte.
ㅡ Você pode me chamar de Kepa. Não há necessidade de gentilezas ㅡ ele pediu, algo em seus olhos.
Baelys o encarou.
ㅡ O chamar de que?
Ela queria mexer com ele, fingir que não sabia o que a palavra significava. Que não sabia a língua materna deles.
ㅡ Você não sabe alto valiriano? ㅡ havia surpresa na voz dele, decepção.
ㅡ Por que eu saberia? Não havia nenhum valiriano por perto para me ensinar, e nosso Meistre não é muito versado na língua.
Os olhos dele se tornaram perigosos. Cruéis de uma forma que ela apreciou.
Crueldade, desprezo e zombaria eram uma língua que Baelys sabia falar, uma que ela teve que aprender muito cedo quando os sussurros de loucura começaram. Quando ele a abandonou e não a protegeu.
Se Daemon fosse cruel e desprezível, ela saberia como responder.
Ela precisava que ele fosse todas essas coisas.
Ela não podia baixar a guarda.
ㅡ Seu ovo de dragão? ㅡ ele perguntou com a voz cheia de algo que ela não entendia.
ㅡ Se tornou pedra com os anos e eu o joguei cachoeira abaixo ㅡ uma mentira.
Uma que Baelys contou tantas vezes que quase parecia uma verdade para ela.
Mesmo que o dito ovo estivesse escondido no fundo de um dos muito baús dela.
ㅡ Você o que? ㅡ a voz do príncipe estava enraivecida, mesmo que ele parecesse lutar contra isso.
ㅡ Você me perguntou, meu príncipe, e eu o respondi.
Daemon inalou profundos, seus olhos violeta brilhando perigosamente.
Seu dragão vermelho rosnou, fazendo aqueles chiados estranhos, Baelys não se moveu, Arthor colocou a mão delicadamente no cabo da espada.
ㅡ Esse deve ser o selvagem dornês que sua mãe fez como o seu Escudo Juramentado ㅡ Daemon atacou, como se precisasse reunir sua raiva encima de alguém.
Os olhos de cores diferentes de Baelys se tornaram aço, brilhando perigosamente.
Arthor Dayne era dela para atormentar.
Daemon Targaryen não tinha esse direito.
ㅡ O nome dele é Arthor Dayne, ele não é um selvagem. E eu o escolhi como Escudo Juramentado.
Ela o fez não é? A partir do momento que parou de tentar se livrar dele.
ㅡ Você o que?
Daemon Targaryen parecia estar fervendo de raiva.
Baelys imaginou que ele poderia cuspir fogo como sua montaria muito em breve.
ㅡ Agora, príncipe Daemon, eu deveria ir. Minha septã me espera para minhas lições.
Ela estava prestes a virar as costas e partir, para aulas que ela estava fugindo em primeiro lugar.
Daemon Targaryen segurou delicadamente o braço dela.
ㅡ Você não gostaria de conhecer Caraxes? ㅡ o príncipe apontou para o dragão vermelho que parecia se envaidecer com a atenção do montador e a dela, que observou o estranho dragão vermelho.
Era isso?
Daemon Targaryen achava que ela era uma criança estúpida que cairia em suas conversas e fingiria que ele não a abandonou por que ele iria a mostrar seu dragão?
Ele realmente achava que ela era tão estúpida?
Baelys puxou o braço do aperto quente do príncipe, que queimava como a pele dela.
ㅡ Lamento muito, meu príncipe, mas não tenho tempo para conhecer seu lagarto voador.
Com isso, ela se virou e partiu, Arthor Dayne a seguindo.
E Baelys Targaryen não olhou para trás.
Como Daemon Targaryen havia feito quando partiu para a guerra, todos aqueles anos atrás.
I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Eu simplesmente amo a relação do Arthor e da Baelys, amo como ele lentamente vai entendendo quem ela é, e como ele permanece ao lado dela apesar de tudo.
III. Muitos podem considerar a Baelys uma personagem chata, difícil e talvez insuportável. Ela realmente é um pouco dos três. Mas ela tem motivos muito válidos. Ela tem terrores noturnos quase toda noite, a mãe e ela não tem uma conexão forte. Pra ela, o pai a abandonou. O ovo de dragão dela não chocou e ela ouve sussurros de como ela não era digna de um dragão. Todos a chamam de louca pelas costas. Ela é uma criança, apesar de não parecer, porque ela teve que crescer muito rápido para proteger seu coração. Então, paciência com ela.
IV. O próximo capítulo tem esse diálogo final do ponto de vista do Daemon, porque como eu avisei, a Baelys não é uma narradora tão confiável, então eu gosto de mostrar mais de um lado. E o Daemon está com mais medo da filha do que da guerra dos Degraus kkkk.
V. Baelys chamando o Caraxes de lagarto é maravilhoso kkkk. Amo que ela desdenha dele, mas das crianças do Daemon, ela é a preferida do dragão do pai.
VI. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.
19.07.2024
Duda.
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