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Jeon Jungkook
Jungkook pensou estar louco, talvez sua mente caótica estivesse fazendo-o delirar e escutar coisas, era a voz de seu pai, tinha certeza de ter ouvido sua voz, — mas será que não era apenas sua mente tentando impedi-lo de acabar com seu sofrimento? — Estava tudo tão confuso que ele não sabia o que pensar. Ele se levantou, sentindo suas pernas bambas, olhou em volta sentindo o bolo em sua garganta aumentar ao perceber que talvez ele não estivesse sozinho. Ele procurou pelas câmeras de segurança encontrando uma acima da porta onde Taehyung estava, a câmera apontava para o pátio, onde Jungkook havia destruído tudo.
— Pai?
— Jungkook não consigo te ouvir. Aperte o botão de microfone ao lado da porta para falar — Jungkook suspirou aliviado por não ter sido sua imaginação. — Com a falha do sistema de Lockdown eu não consigo abrir as portas para você vir para cá. Você terá que dar a volta no prédio e entrar pela saída dos fundos.
— Mas eu não... — Jungkook apertava o botão perto da porta. — O outro prédio está cheio de infectados, na rua está ainda pior, eu certamente vou morrer.
— Não vai — seu tom soou firme. — Os infectados não farão mal a você.
— Como assim?
— Só faça o que eu digo, eu guio você pelos altos falantes — Jungkook abaixou a cabeça pensativo e depois encarou a câmera com os olhos assustados. — Confie em mim, pode ir tranquilo. Quando você chegar aqui, precisamos conversar.
— Tudo bem...
— Tem uma saída de incêndio do lado direito do pátio, há uns seis metros de onde você está. Desça até o térreo, tem duas saídas, você pode ir pelo estacionamento, deve ter menos infectados, o elevador de lá está funcionando.
— Ok.
— Quando você sair do elevador aqui no décimo quarto andar eu guio você até a minha sala.
Jungkook assentiu e caminhou até a porta que seu pai falou ainda com a arma nas mãos, hesitou por alguns segundos na frente da saída que seu pai falou, olhando em direção a porta em que Taehyung vagava, abaixou a cabeça e seguiu seu caminho. Seus olhos ardiam devido às lágrimas em excesso, ele limpava seu nariz que escorria na barra da blusa que usava, tentando não pensar muito no que havia acontecido. Mas não conseguia deixar de sentir o vazio em seu peito, não conseguia esquecer as imagens que vira tão de perto sem poder fazer nada.
Ao passar pela porta ele desceu até o térreo, como seu pai havia lhe indicado, procurou nas placas a direção do estacionamento, estava na ala A, precisava ir para a ala B. Caminhou sem nem ligar para onde estava indo ou levantar a arma, estava distraído demais sentindo a dor pulsante em seu peito, ele realmente não se importava. Viu a porta que dava no estacionamento e sem enrolações a abriu. Jungkook paralisou assim que levantou o olhar, haviam vários infectados parados lá, ele levantou a arma na altura de seu corpo por reflexo e os infectados o encararam, mas nem sequer se mexeram.
Jungkook franziu o cenho quando nenhum sequer se mexeu, não estavam atacando-o, na verdade a maioria deles apenas abaixaram a cabeça e o ignoraram completamente, outros apenas o observavam de longe. Caminhou ainda com a arma levantada, com medo de aquilo ser algum tipo de armadilha para se aproximar, mas não aconteceu nada, nem sequer uma movimentação mínima. Ele abaixou a arma e ficou extremamente confuso com a situação, — se eles não o atacavam, por quê foram perseguidos todo esse tempo?
Taehyung.
A resposta ficou tão clara quanto a água, eles não estavam indo atrás de Jungkook e sim de Taehyung o tempo todo, Jungkook apenas não entendia o porquê. Ele tentava obter alguma resposta procurando a fundo em sua memória, mas apenas encontrava eram mais e mais perguntas sem respostas. Perdido em seus pensamentos se assustou ao sentir alguém segurar sua mão quando estava parado, quando olhou para o lado pôde ver uma garotinha, — estava infectada —, abraçando uma boneca. Jungkook arregalou os olhos, ela não deveria ter mais que cinco anos de acordo com seu tamanho.
Ela não olhava para ele, estava focando em algo à sua frente de maneira fixa. Jungkook observou suas mãos juntas sentindo seu peito doer ao ver a marca de dentes em sua perna, suas pequenas mãos e braços estavam cobertos pelas veias negras. Jungkook se abaixou e virou o corpo da pequena para ficar de frente para o seu, para que pudesse vê-la de perto, ela encarou seu rosto sem esboçar nenhum tipo de reação, não se mexeu, apenas ficou com o olhar vidrado e vazio em si. Ela era tão jovem e pequena que sentiu-se mal por ela.
Não sabia o que faria depois, mas ele a levaria consigo, talvez seu pai conseguisse "acabar com seu sofrimento", pois ele certamente não teria coragem de fazer. Ainda com as mãos juntas ele começou a caminhar em direção ao elevador, vendo que os infectados ali nem o encaravam, a menininha apenas caminhava ao seu lado. Ele chamou o elevador e assim que as portas se abriram ele entrou com a garotinha, que permaneceu segurando sua mão e a boneca, Jungkook podia ouvir sua respiração baixinha.
Quando as portas se abriram no décimo quarto andar, Jungkook viu alguns infectados vagando pelos corredores, todos lentos e o ignorando, ele saiu com a garotinha olhando para cima, procurando por alguma câmera de segurança. Seu pai provavelmente estava acompanhando seu trajeto por elas, por isso esperou por algum sinal. Ele olhou em volta e pensou em sua mãe, — se seu pai estava bem ela também estava, não é? — ele torcia para que sim, pois tudo o que ele precisava naquele momento era um abraço dela e de seus avós.
— Jungkook, siga o corredor à sua esquerda e vire a direita em seguida — seu pai disse através do auto falante.
Jungkook assentiu para a câmera, virou-se e seguiu o caminho que ele havia lhe indicado, seguiu assim por todo o caminho. Jungkook olhava para a garotinha de vez em quando, vendo ela caminhar ao seu lado com um olhar mórbido e vazio a sua frente, como se fosse apenas uma marionete sem vontade própria sendo controlada por ele. Eles andaram por alguns minutos até finalmente chegarem na sala do pai de Jungkook, a porta estava trancada e a sala com as persianas igualmente fechadas, ele olhou para a câmera acima da porta e esperou que ela a abrisse.
— Cubra os olhos da garota infectada Jungkook, pois assim que ela me ver irá me atacar — Jungkook franziu o cenho, mas fez o que ele pediu, rasgou um pequeno pedaço do vestido da garotinha e cobriu seus olhos com ela. — Ela não irá atacar algo que não pode enxergar, ficará em estado ocioso até que alguém tire sua venda.
Quando a garotinha estava vendada ele a observou, ela estava parada, segurando sua boneca apenas respirando sem fazer qualquer movimento para tirar a venda de seu rosto. Jungkook se virou para a porta assim que ouviu a trava da porta destrancar, ele olhou para garotinha uma última vez antes de abrir a porta e entrar. Jungkook olhou em volta vendo as luzes apagadas, a iluminação precária era feita pelos inúmeros computadores em um canto da sala e alguns equipamentos. Seu pai estava de pé encarando-o a alguns metros de distância da porta.
Jungkook notou sua aparência debilitada e arregalou os olhos, ele estava magro, com olheiras e seus cabelos desgrenhados como um ninho de passarinho, podia sentir um mal cheiro na sala, seu pai estava parecendo um morador de rua. Ele caminhou até Jungkook com um sorriso enorme no rosto e o abraçou, deixando-o novamente sem palavras, pois em toda sua vida seu pai nunca havia feito aquilo. Jungkook retribuiu, pasmo de mais para recusar o abraço de seu pai, quando se afastaram ele pôde ver o sorriso grande de seu progenitor.
— Graças aos céus que você está bem! Se acontecesse algo a você eu estaria perdido. Nem acreditei quando te vi de joelhos naquele pátio.
— Também fico feliz que esteja vivo — Jungkook sorriu pequeno. — E a minha mãe? Meus avós?
— Sinto muito Jungkook. O laboratório foi invadido há três dias, sua mãe não quis ficar aqui comigo porque precisava proteger as pessoas que buscaram abrigo. Infelizmente todos foram... — Ele não continuou e Jungkook sentiu seus olhos arderem pelas lágrimas, Nomin o abraçou novamente.
— Eu nem consegui vê-la uma última vez — chorou baixinho e se recompôs quando seu pai se afastou.
— Ela fez tudo o que pôde.
— Pai você tem comido alguma coisa? — Mudou rapidamente de assunto ao ver o rosto magro.
— Faz mais ou menos uns dois dias que eu bebo apenas água — disse dando de ombros, como se aquele fato fosse insignificante.
— Minha nossa! Tem comida no carro que eu vim, você quer que eu vá buscar? — Perguntou verdadeiramente preocupado.
— Não temos tempo para isso agora, Jungkook eu preciso te explicar algumas coisas — Nomin lhe puxou até um telescópio. — Eu venho estudando esse vírus há um tempo, veja. — Jungkook o encarou confuso antes de olhar o que estava na lente do telescópio.
— O que é isso? — Perguntou ao ver algo estranho e escuro se mexendo na lente.
— Isso aí é o vírus que contaminou todas essas pessoas — Nomin retirou a lente e com uma seringa injetou um líquido azul na amostra. — O que você vê agora?
— Hm... — Jungkook voltou a olhar o telescópio e viu algumas micro bolinhas transparentes absorvendo as escuras. — Eu não sei explicar.
— Isso aí é a cura da doença — disse sorrindo, vendo Jungkook encará-lo com os olhos arregalados. — Isso na lente é a nossa esperança.
— Você descobriu a cura?!
— Eu não descobri, eu a criei. Há muitos anos atrás eu descobri que algumas células geneticamente modificadas em laboratórios, podem ser imunes a alguns vírus, elas absorvem os parasitas e os eliminam. Assim como você faz.
— Eu tenho imunidade ao vírus? — Jungkook perguntou em completo estado de pavidez, vendo seu pai assentir.
— Mas não é somente isso Jungkook — Nomin apoiou seu quadril na mesa atrás dele e cruzou os braços. — Antes de você nascer eu estava focado em conseguir a cura quando eu descobri esse vírus em um animal. Sua mãe e eu trabalhávamos juntos na época, havíamos acabado de nos casar quando começamos as pesquisas. Mas todas as nossas investidas em uma vacina era inútil, testamos em ratos de laboratórios e todos morreram após algumas horas com a vacina no sangue, pois a cura experimental destruía as células do corpo e não apenas o vírus. Depois de tantos fracassos sua mãe desistiu de tentar.
— Mas você não — Jungkook constatou o óbvio e Nomin assentiu com um sorriso orgulhoso nos lábios.
— Eu tentei de todas as maneiras fazer as imunoglobulinas, que você conhece como anticorpos do sangue, expurgar o vírus. Mas todas elas não tiveram funcionalidade efetiva e mataram as cobaias, era um looping de tentativas falhas e cobaias mortas — Nomin suspirou pesaroso, ainda com os braços cruzados. — Mas aí eu pensei em algo, se as imunoglobulinas não se fundiam a vacina laboratorialmente e se elas já nascessem com essa imunidade?
— Não estou entendo aonde você quer chegar, pai.
— Uma noite, enquanto sua mãe estava dormindo eu secretamente a inseminei com meu esperma modificado em laboratório — Jungkook arregalou os olhos de maneira atônita. — Se minha teoria estivesse correta o feto nasceria com a capacidade de gerar os anticorpos naturalmente, sem interferência no laboratório após o nascimento e conseguiria expurgar o vírus das células atingidas. E eu não poderia estar mais certo, assim que você nasceu eu fiz os testes e o resultado foi impressionante, seu sangue é antiviral naturalmente.
— Eu carrego a cura do vírus no meu sangue? — Jungkook estava completamente aturdido com aquela informação.
— Não somente no sangue, cada célula do seu corpo produz uma quantidade significativa da cura. Seu sangue, saliva, urina, até mesmo as caspas dos seu cabelo. Tudo o que carregue seu DNA pode criar a vacina para tornar uma pessoa imune ao vírus, mas apenas o seu sangue será cem por cento eficaz contra ele, os outros fluidos causam apenas um efeito temporário — Jungkook olhou para o chão, tentando processar todas aquelas informações. — E não acaba por aí Jungkook.
— Tem mais ainda?!
— Quando uma pessoa é infectada, o vírus ataca diretamente seu encéfalo, tomando a pessoa agressiva por controlar completamente seu sistema nervoso central. Porém o encéfalo é um órgão cheio de mecanismos e como qualquer outro vírus ele reage de formas diferentes em cada pessoa, como naquela garotinha que você trouxe — Jungkook o encarou, completamente atento em suas palavras. — O cérebro humano contém várias partes, cada uma delas responsável por algum funcionamento, seja de memórias à movimentações. No caso daquela garotinha a parte menos afetada foi a das memórias, ela se lembra daquela boneca e sabe que é sua, é como um reflexo, ela não sabe o que está fazendo, mas pela força do hábito ela a segura.
— Por isso ela segurou minha mão?
— Provavelmente, seus pais devem ter a ensinado a sempre segurar suas mãos quando estão em algum lugar. É um comando automático do seu cérebro procurar pela mão de alguém mais velho quando está em público. Como para nós é piscar e respirar, um ato inconsciente — Jungkook assentiu olhando para a porta, vendo a garotinha ainda parada lá fora. — Eu estudei muito o comportamento deles esses últimos dias, veja.
Nomin caminhou rapidamente até um computador e Jungkook o seguiu, viu seu pai começar a digitar algo em um dos computadores enquanto ele observava tudo. Havia uma rede de câmeras de segurança, em cima da mesa havia uma pasta escrito “projeto RDC” com algumas folhas saindo da pasta, em uma delas pode ler algo como: “o infectado avançou em um dos médicos, tivemos que-” e a partir dali a pasta cobria o restante conteúdo. Jungkook ficou com aquilo na cabeça até que seu pai chamou sua atenção novamente, mostrou no computador a imagem de uma câmera de segurança da corporação.
— Haviam alguns infectados em uma sala próxima daqui, eu consegui prendê-los dentro das salas para evitar problemas — mostrou uma sala fechada com três infectados ociosos. — Eu fiz algumas experiências, descobri que eles não são inteligentes e que aos poucos alguns deles emagrecem, sinal de que algumas funções de seus corpos ainda funcionam — Jungkook assentiu e seu pai abriu a porta da sala dos infectados. — Eles seguem o som, são atraídos por ele.
Nomin ligou o microfone após abrir a porta da sala e disse algo pelo alto falante, os infectados pareceram acordar e começaram sair da sala, buscando pelo som. Após todos saírem, Nomin novamente digitou algo no computador e a máquina de fax imprimiu algo na sala, o que fez os infectados voltarem para dentro dela. Após Nomin fechar a porta novamente ele se afastou do computador, deixando Jungkook distraído olhando para onde seu pai estava mexendo anteriormente e olhando para a tela de maneira intercalada. Jungkook virou-se encarou seu pai de maneira desconfiada.
— Essa aqui é a cura, é a única amostra que eu consegui fazer — Nomin mostrou um pequeno frasco com um líquido azul. — É feito com seu sangue. Você sentiu pena daquela garotinha não foi? Você pode curá-la Jungkook.
— O que? — Franziu o cenho, atordoado com o que acabara de ouvir.
— A cura consegue eliminar o vírus de maneira eficaz, é como se fosse um veneno muito potente, capaz de extingui-lo completamente. Se você injetar isso aqui nela, daqui algumas horas ela vai estar completamente curada, isso se, ela não tiver nenhuma outra lesão grave em seu corpo.
— Podemos curar os infectados?!
— Sim — Jungkook sorriu grande e quase pulou de alegria, pois ele poderia curar Taehyung. — Mas é como eu disse, se houver alguma outra lesão grave que comprometa sua vida, ela morrerá quando a droga eliminar o vírus. Pois seu corpo voltará a trabalhar da forma que deveria, então se seu coração for atingido ele não voltará a bater. A pessoa continuará morta. — Jungkook sentiu sua alegria diminuir um pouco ao lembrar-se dos infectados se jogando de alturas grandes, se machucando feio para pegá-los, pois aquelas pessoas não teriam salvação.
— Podemos curá-la agora? — Jungkook perguntou olhando para a garotinha na porta.
— Eu só tenho este tubo de cura pronto — hesitou olhando para Jungkook, após alguns segundos ele suspirou e assentiu. — Mas com você eu tenho uma fonte infinita, traga ela aqui.
Jungkook assentiu e foi até a garotinha com pressa. Ele segurou em sua pequenina mão e a puxou com cuidado para dentro da sala, tomando os devidos cuidados para que ela não trombasse em nada, a colocou parada a alguns metros de seu pai, que preparava a seringa. O líquido do frasco foi totalmente para dentro da seringa de metal, Jungkook viu Nomin voltar sua atenção completamente para a garota, ele caminhou até ela e segurou seu braço esquerdo, aplicando todo o conteúdo no braço magro da menininha. Jungkook viu todo o processo de maneira atenta e silenciosa, assim que acabou ele encarou seu pai.
— Pronto, agora precisamos apenas de esperar algumas horas até a vacina fazer efeito. Ela irá cair no chão e convulsionar, temos que ficar de olho — Jungkook o encarava com os olhos sem brilho algum nas íris. — Por que está me olhando assim?
Jungkook estava com uma dúvida crescente em sua cabeça assim que entrou naquela sala, as coisas que vira o deixaram ainda mais confuso com as palavras e atitudes de seu pai. Ele disse que tinha "descoberto" a cura há muitos anos, mas se existia uma cura, já existia um possível vírus e Jungkook duvidava da “descoberta em um animal”, pois aquela pasta em cima da mesa dele deixava tudo ainda mais suspeito. De repente, Jungkook virou-se para a garotinha e retirou a venda de seus olhos, ela levantou o olhar e encarou diretamente seu pai. Nomin recuou e arregalou os olhos com seu ato, mas Jungkook apenas o encarava de maneira séria.
— Por que fez isso?! — Lhe direcionou um olhar assustado.
— Por que ela não está te atacando pai? — Jungkook ergueu uma sobrancelha e Nomin engoliu em seco. — Você não tinha me dito que o conteúdo que injetou nela era o único? Então como você também é imune?
— Jungkook veja bem...
— Você sempre tirava meu sangue desde pequeno, o que fez com ele? — Nomin não respondeu. — Se você tinha a cura esse tempo todo, por que não deu a minha mãe e aos sobreviventes?! — Sua voz se elevou.
— Jungkook isso é algo difícil de fazer, não poderia sair usando de forma irresponsável.
— Proteger a família não é algo irresponsável pai! — Se exaltou. — E mais uma coisa, o quê é o projeto RDC?
— Como sabe disso? — Perguntou com os olhos arregalados, Jungkook soube que ele havia tocado em um tópico delicado.
— Eu li na pasta em cima da sua mesa. Você fez testes em humanos, do que? Você não disse que foi apenas em animais? E que todas haviam morrido? — Disparou várias perguntas, com a expressão banhada em seriedade. — Não acha estranho? Uma cobaia atacou alguém pelo o que diz no conteúdo da pasta, mas se você fazia testes apenas com a cura e todas as cobaias morreram, acho estranho que alguém com a cura atacasse alguém, já que você mesmo disse que o processo tinha sido um sucesso após o meu nascimento. Pode me explicar o porquê todas essas informações não batem?
— Isso não é da sua conta Jungkook — ele o encarou de maneira cautelosa, sua expressão estava apática. Jungkook riu nasalado, aquele era o Nomin que ele conhecia.
— Não é né? — Se afastou da garotinha indo até a pasta de seu pai. Nomin ao perceber o que iria fazer avançou para impedi-lo, mas Jungkook levantou sua arma, apontando diretamente para o peito dele.
— Você não teria coragem — Nomin sorriu descrente.
— Eu já perdi muitas pessoas pai, mais uma não faria diferença.
Nomin arregalou os olhos com sua fala e encarou os olhos de Jungkook, procurando sinais de que estava blefando, mas apenas encontrou um olhar frio, refletindo o seu. Jungkook pegou a pasta próximo ao computador e a colocou em uma mesa que estava entre os dois, ainda com a arma apontada para o peito de Nomin. Jungkook começou a folhear a pasta desde o início, com seus olhos indo e voltando das folhas para seu pai, ficou horrorizado com as coisas que leu e viu, haviam várias fotos de pessoas mortas, abertas, apodrecidas e outras situações grotescas. Mas as anotações embaixo delas o fez paralisar.
— Foi você que criou o vírus? — Jungkook levantou o olhar, encarando-o de maneira perplexa.
— Foi.
— Por que? Pra que porra você criou isso?! — Perguntou em estado de choque.
— Para o nosso bem! — Jungkook riu sem humor com sua fala completamente sem nexo. — Não era para chegar a essas proporções, era apenas para ser uma pequena epidemia. Eu venderia a cura para lhe dar uma vida melhor, você queria fazer faculdade certo? Isso facilitaria as coisas.
— Corta esse papo de papai preocupado com o futuro do filho, você tinha dinheiro suficiente para pagar a minha faculdade, mas preferia gastar tudo investindo na Jeon’s Corporation — cuspiu as palavras rispidamente, seu olhar era nada mais do que enojado. — Você nunca se importou comigo, foi sempre uma proteção obsessiva e sem valor, agora eu entendo o porquê, eu fazia parte desse seu plano psicótico de ganhar em cima de mortes de pessoas inocentes!
— Você é a chave Jungkook. Você é o meu passe para uma vida melhor — Nomin disso colocando suas mãos sobre a mesa.
— Que vida?! Olha em volta, acha mesmo que o dinheiro vale de alguma coisa agora? Não tem mais essa de “viver”, por sua culpa nós agora temos que “sobreviver”!
— Jungkook pensa bem, juntos podemos ser as pessoas mais poderosas do mundo! Os sobreviventes podem nos dar tudo o que quisermos pela cura, podemos criar uma resistência onde nós estaremos no topo da pirâmide.
— Como você é parvo — Jungkook riu pequeno, se sentindo enojado somente de encarar Nomin. — Eu nunca vou fazer parte desse seu plano se é o que pensa. Podia ter deixado eu me matar lá em baixo, me pouparia essa decepção toda.
— Ainda bem que eu te impedi, não ia deixar você por tudo a perder, estragar todos os meus planos de anos por causa do ,Taehyung ele foi infectado. Mas graças a mim você pode salvá-lo, não percebe? Você precisa de mim, do meu conhecimento — disse batendo em seu peito para mostrar a convicção de suas palavras. Mas Jungkook apenas focava sua mente em volta de uma frase que ele havia dito.
— Como sabe que o Taehyung foi infectado? — Perguntou sentindo todo o seu sangue se acumular em sua cabeça.
— O que? — Ele franziu o cenho com sua pergunta, até que pareceu se dar conta do que havia dito.
— Em nenhum momento eu mencionei o nome dele, Nomin — Jungkook sentiu a raiva crescendo em seu âmago, suas mãos estavam começando a tremer por conta de sua intensidade. — Como sabe sobre o que aconteceu com o Taehyung? Você disse que me viu ajoelhado no pátio.
— Eu...
— Espera um pouco — Jungkook levantou sua mão esquerda, a direita ainda apontava a arma em direção a Nomin. Ele olhou para os computadores e em seguida para seu pai, em pé do outro lado da mesa. — Você me disse que não podia abrir as portas pelos altos falantes, mas você as abriu para me mostrar as atividades dos infectados.
— Jungkook... — Nomin pareceu estar verdadeiramente receoso.
— Foi você? — Jungkook sentiu as lágrimas se acumularem ao redor de seus olhos, tanto pelo ódio quanto pela tristeza. — Foi você que fechou a porta e libertou os infectados para atacar o Taehyung não foi?!
— Jungkook deixa de besteira, por que eu-
— CALA A PORRA DA BOCA! — Gritou avançando em sua direção, apertando a pistola em suas mãos. Nomin se calou e levantou os braços. — Admita Nomin! Admita que você matou o Taehyung! — O rosto de Nomin ficou inexpressivo.
— Você quer a verdade Jungkook? Sim foi eu, eu matei o Taehyung.
— Por quê?! — Sua voz embargou.
— Por que ele é inteligente! Ele esteve comigo esse tempo todo, se ele soubesse que você era a cura ele certamente descobriria meus planos e me impediria, eu não podia correr esse risco.
— E por isso você matou ele? Ele tinha família seu doente!
— Estão todos mortos também! Para de agir como se fosse uma coisa horrível, ele era só um guarda costas. Ele era descartável de qualquer maneira, a única função dele era te trazer vivo até mim — Jungkook sentiu uma veia saltar em sua têmpora. — Eu estava apenas aguardando a oportunidade perfeita para me livrar dele. Eu vi vocês quando o sensor de movimento da recepção apitou e acompanhei seus trajetos, esperei que ele falhasse e fosse pego. Mas como isso não aconteceu eu tinha que dar um jeito de impedir que ele viesse junto a você, só precisava esperar o momento perfeito.
— Desgraçado...
— Desgraçado? Graças a mim você pode salvá-lo, eu sou o único que pode fazer a cura tirá-lo daquela inércia que agora ele adotou como realidade até enfiar os dentes em alguém.
— É aí que você se engana pai.
Jungkook disse entredentes e apontou a arma para a perna de Nomin, não hesitou em atirar em sua coxa esquerda. Seu pai gritou e caiu no chão agonizando com a dor, o tiro abriu uma grande cratera em sua perna, o sangue jorrou pelo ferimento enquanto ele gritava. Jungkook caminhou calmamente até a garotinha que observava Nomin gritar e colocou a venda novamente em seus olhos, para impedi-la de ver aquela cena horrível. Quando a virou de costas caminhou até seu pai, que segurava sua perna com uma expressão aguda de dor. Ainda com a arma apontada para ele, Jungkook se abaixou para observá-lo melhor e mais de perto.
— Dói muito pai?
— POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?! — Nomin gritou possesso em meio às lágrimas e a dor.
— Esse é o seu castigo por todas as vidas que você ousou brincar como se fosse deus — Jungkook disse com frieza na voz, olhando em seus olhos de maneira fixa. — Você não é deus Nomin, você sente dor, você sangra e você morre. Como todas as pessoas que você feriu e matou com essa sua obsessão por dinheiro fácil, você só está sentindo na pele toda a dor e o sofrimento que elas sentiram.
— Se eu morrer você nunca mais vai ver seus avós, sua mãe e nem Taehyung! — Jungkook riu e se levantou, Nomin se apoiou nos braços, ficando sentado.
— Você não é o único Biomédico no planeta Nomin, eu vou até o inferno se precisar. Mas eu encontro outro, nem que seja um estudante. Você sim é descartável — Apontou a arma para sua testa, vendo seu pai arregalar os olhos.
— Você não faria isso comigo... Eu sou um importante Biomédico, sem mim o que será das pessoas desse prédio?
— Taehyung também era um policial importante, também trabalhava nesse prédio e mesmo assim você não se importou com ele.
— Eu sou seu pai! Eu que te coloquei no mundo!
— Irônico não acha? Você me deu a vida e eu tirarei a sua — Jungkook falou sentindo algo dentro de si se quebrar com suas palavras frias. — Não se preocupe Nomin, ao contrário de você, que deixou várias pessoas morrerem de forma lenta, a sua vai ser rápida e indolor.
— Jungkook por favor...
— Adeus pai.
Jungkook puxou o gatilho.
(...)
Jungkook caminhava fungando, enquanto segurava a mão da garotinha, que ainda estava vendada, ele sentia agora além do vazio uma culpa gritante dilacerar sua mente. Ele ficou tão frio e impiedoso ao matar Nomin que não se reconheceu, mas ele ainda era seu filho e nunca havia matado ninguém que não estivesse infectado, mas havia feito aquilo a sangue frio com Nomin, o peso da morte pesava em suas costas. Após ter puxado o gatilho ele deixou a arma cair ao lado do corpo sem vida de seu pai, ficando em estado de choque por bons minutos, olhando vidrado para o corpo do homem ensanguentado no chão com a plena consciência de que ele foi o causador daquilo.
Ele tinha o sangue de seu pai nas mãos. Seria mais uma memória difícil de esquecer.
Ele sentia vontade de morrer, havia matado uma pessoa, seu próprio pai, — o quê o fazia diferente de Nomin? — Era apenas um assassino vagando por aí sem rumo e sem ninguém. Ele se mataria se pudesse, terminaria o que não terminou no pátio, mas ele era a cura, não conseguiria se matar sabendo que era a peça fundamental para a sobrevivência da raça humana. A garotinha ao seu lado também precisaria dele quando acordasse, por isso ele caminhava com os olhos úmidos, indo atrás de Taehyung. Após o acontecido na sala de Nomin ele procurou por ele nas câmeras, para saber se ele havia saído de onde estava, quando o achou abriu a porta do corredor onde ele estava.
Ele levaria a garotinha e Taehyung até algum profissional da saúde que pudesse ajudá-los, iria atrás de sobreviventes e alguém que acreditasse em suas palavras, que o ajudasse a achar alguma maneira de se sentir menos culpado. Quando finalmente chegou ao prédio em que Taehyung estava, ele caminhou à procura dele, o encontrando vagando perto da passagem que eles vieram. Jungkook sentiu uma dor profunda em seu peito ao vê-lo daquela forma novamente, não conseguiu conter as lágrimas teimosas que insistiam em cair.
Ele caminhou até Taehyung, segurando em sua mão e o puxou para o pátio novamente, sem saber exatamente o que fazer, precisava levar os dois os dois de volta para o carro e iria atrás de algum laboratório com sobreviventes. Estava encarando o rosto inexpressivo de Taehyung pensando no que faria a seguir quando ouviu uma voz muito conhecida por si o chamar. Ele virou aturdido na direção da voz e viu sua mãe com vários guardas armados atrás dela, antes que ele pudesse esboçar qualquer reação ao vê-la Taehyung passou por si, avançando para cima dela, fazendo todos os guardas levantaram suas armas em direção a ele.
— NÃO ATIREM!
~❤️~
Eita porra.
Gente peço que não julguem o JK pelo o que ele fez, tenho certeza que muitos fariam o mesmo.
Ele está sofrendo com isso, ele não é um assassino frio. Ele ainda sofrerá muito pelo o que fez.
Vejo vocês no último capítulo.❤️
Reescrito no dia 11/04/2021.
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