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Kim Taehyung
(...)
Já estavam naquele vôo há algumas horas, não havia nada para fazer naquele lugar a não ser olhar a vista e ler alguma revista que estava disposta ali, os assentos eram deveras confortáveis e lhe davam sono, mas não queria dormir e sim apreciar a imagem das nuvens brancas através da janela. Não havia mais ninguém naquele jatinho fora os três, o que deixava toda a viagem em um grande e absoluto silêncio. Taehyung desistiu de tentar se entreter depois de ler a terceira revista e foi dormir, se ajeitou na poltrona confortável e a inclinou para que pudesse ficar parcialmente deitado e apenas relaxou, sabia que provavelmente acordaria dolorido, mas estava entediado demais para ficar acordado.
Cochilou naquela poltrona até embalar em um sono profundo, sonhou com sua mãe e irmã durante o sono, sonhou que onde elas estavam era seguro e longe de qualquer perigo. Taehyung despertou com Minjae o chamando, não sabia quanto tempo se passou desde que havia adormecido, mas a julgar pela dor em seu pescoço havia durado muitas horas; se levantou e se alongou tentando tirar a rigidez de seus músculos, bocejou e sentiu a preguiça pós sono se abater sobre seu corpo. Viu o piloto sair da cabine e o seguiu para fora do jatinho junto a Minjae, mas quando seus olhos focaram no ambiente à sua volta viu apenas uma pista de pouso e muito mato em volta.
— Onde a gente tá? — Taehyung perguntou olhando em volta, conseguia ver apenas vegetação, plantações e animais ao longe. Um pouco afastado deles estava um casarão de madeira e um galpão.
— Na fazenda dos avós do Jungkook — Minjae disse colocando sua mão sobre os olhos, para impedir os raios de sol de atrapalhar sua visão. — Sangwoo não iremos demorar.
— Estarei esperando — o piloto respondeu entrando novamente na aeronave.
— Por que ele mora aqui, no meio do mato? Sendo que os pais dele moram em condomínios de luxo na capital? — Taehyung perguntou andando ao lado de Minjae, os dois indo em direção ao casarão, que estava um pouco afastado.
— Longa história, mas foi escolha do Jungkook ficar aqui com eles.
— Entendi — ficou em silêncio pensando sobre o que seu amigo havia dito. Enquanto andava olhou para trás vendo que Sangwoo não havia subido a escada do jatinho para fechar a porta. — Ele não vai subir as escadas do jatinho?
— Não podemos demorar — Minjae respondeu e Taehyung assentiu olhando para o céu, vendo o sol quase se pondo no horizonte. Aquele lugar era lindo.
— Não estão cansados de ficarem pilotando?
— Claro que estamos, mas não podemos demorar mesmo, não sabemos como as coisas vão estar quando voltarmos.
— Entendi.
Caminharam lado a lado silenciosamente até o casarão onde Jungkook vivia, admirando a vista, era realmente um lugar muito bonito, tranquilo e ao que parece bem afastado da civilização; o que tornava o ar em volta do local bem agradável. Dois idosos estavam na varanda do casarão junto a um homem de aparência bem jovem, Taehyung identificou como Jungkook e seus avós, eles olhavam para si confusos, talvez não esperando a presença dele, pois franziram o cenho ao ver Minjae caminhando ao seu lado. Taehyung estava uniformizado conforme seu emprego e Nomin pediam, usando roupas parecidas com agentes do FBI e da polícia, um pouco mais formal. E eles pareceram estranhar sua presença.
— Vieram por causa das notícias? — A senhora perguntou quando chegaram próximos à varanda.
— Vocês ficaram sabendo? — Minjae ergueu as sobrancelhas surpreso, subindo os pequenos degraus da varanda com Taehyung em seu encalço.
— Moramos no meio do mato, mas ainda temos internet e televisão — o senhor sorriu e Minjae acabou espelhando seu ato.
— Mas sim, viemos por causa disso, precisamos ir embora daqui o mais rápido possível — Minjae disse com a expressão um pouco mais séria.
— O que está acontecendo? — Jungkook perguntou a Minjae e Taehyung o encarou com curiosidade, sua voz era suave e bastante agradável aos seus ouvidos.
— Uma pandemia de um vírus mortal, ele deixa as pessoas agressivas e após infectá-las ele procura novos hospedeiros — Jungkook e seus avós o encararam com preocupação. — E de acordo com o que seu pai me falou nas mensagens, o vírus já está correndo por várias cidades, quando saímos de Seul ele já estava se espalhando por lá.
— Que horrível.... — Jungkook disse chocado, cruzando os braços com uma expressão aflita. Seu olhar se conectou com o de Taehyung por um instante, antes de rapidamente desviá-lo para Minjae novamente. — Essas pessoas contaminadas estão vindo para cá?
— Eles estão se espalhando por toda Incheon e Seul, Nomin disse que por conta da rápida transmissão, em breve toda a Coreia do Sul estará contaminada, então é provável que eles venham para cá sim. Se não conseguirmos conter ela antes que avance mais, talvez seja uma pandemia global.
— O sol já está se pondo, entrem e durmam. Amanhã cedo vocês saem — a senhora se levantou e caminhou para dentro da casa.
— Senhora Jeon, por favor, não podemos perder muito tempo — Minjae insistiu. — Eles podem vir para cá a qualquer momento.
— Estamos bem afastados da cidade mais próxima. Então entrem, comam, tomem banho, durmam e amanhã vocês saem — ela foi irredutível e ignorou os resmungos de Minjae, caminhando para dentro do casarão.
— Meu trabalho seria tão fácil se eu só jogasse o Jungkook dentro do jatinho — resmungou baixinho saindo da varanda, arrancando uma risada do Jeon mais velho, que acompanhou a esposa.
— Aonde você vai? — Taehyung perguntou vendo Minjae se afastar e voltar pelo mesmo caminho que vieram.
— Chamar o piloto para dormir aqui. A senhora Jeon não vai deixar a gente sair de qualquer forma e eu tenho mais medo dela do que dos infectados.
— Poderia trazer a minha mochila, por favor? — Taehyung riu e o outro fez um sinal de "joinha" sem parar de caminhar.
— Vamos entrar? — Taehyung escutou a voz angelical de Jungkook e quando virou-se para encará-lo, viu ele indicar a entrada da casa atrás dele com a cabeça.
— Sim claro! Com licença — se curvou respeitosamente e retirou seus sapatos antes de entrar na casa. Jungkook sorriu.
— Qual o seu nome? — Perguntou ao entrar na casa também.
— Oh perdão, meu nome é Kim Taehyung, prazer — ofereceu sua mão e o rapaz a sua frente gentilmente a aceitou.
— O prazer é meu Taehyung, acho que você já sabe, mas meu nome é Jungkook, Jeon Jungkook — Sorriu e Taehyung retribuiu o sorriso, sentindo o aperto de mãos durar um pouco mais do que o necessário antes de se separarem.
— Sei sim, aliás, eu estou encarregado da sua segurança — Taehyung disse com um sorriso fácil no rosto.
— Minha segurança? — Perguntou confuso, curvando um pouco a cabeça com seus grandes olhos de corsa o encarando. Taehyung assentiu. — Então você é o meu guarda costas?
— Praticamente — concordou.
— Entendi, então cuide bem de mim Taehyung — disse sorrindo.
— Uhum — ouviram um pigarro um pouco distante e os dois viraram a cabeça na mesma direção para ver. Era a avó de Jeon, os encarando com um sorriso faceiro. — Gostaria de um café ou um chá Taehyung?
— Aceito o chá obrigado — disse com um sorriso charmoso e a mais velha retribuiu seu sorriso.
Ela saiu e deixou os dois sozinhos novamente, sorrindo de canto antes de se afastar e seguir o caminho pelo corredor da entrada, Taehyung não viu maldade naquele sorriso por isso não deu muita importância naquele momento. Esperou Jungkook caminhar a sua frente para segui-lo, os dois foram silenciosamente até um cômodo que Taehyung identificou ser a cozinha e viu a avó de Jungkook, ela estava na bancada da cozinha preparando o chá. Os dois entraram no cômodo, Taehyung sentou-se na cadeira da mesa murmurando um “com licença”.
— Faça um sanduíche para a visita Kookie — a senhora pediu e seu neto assentiu, indo em direção aos armários. — Me fale um pouco sobre você Taehyung, quantos anos tem?
— Fiz trinta em dezembro do ano passado, senhora Jeon — disse vendo a mais velha sorrir para ele.
— Me chame de Heejin, por favor. Mas você é jovem ainda, é casado? — Taehyung notou Jungkook virando a cabeça para trás e encarando sua avó com a boca levemente aberta em choque, suspirou antes de voltar a se concentrar no que fazia.
— Não — riu levemente, se divertindo com a curiosidade de Heejin. — Não sou casado.
— Mas pensa em se casar? — Jungkook parecia atento à conversa e Taehyung notou isso.
— No momento não, mas futuramente sim — Taehyung sorriu terno, gostou de Heejin, era uma senhora agradável.
— Desculpe se pareço um pouco curiosa demais, mas é que não tenho muitas visitas por aqui. Somente Minjae e Doyeon vêm nos visitar.
— Está tudo bem, eu gosto de conversar — Heejin sorriu colocando água para ferver junto as folhas do chá.
— Você trabalha com o que?
— Sou ex-agente do FBI e da Interpol — viu Heejin e Jungkook encará-lo com as sobrancelhas erguidas em surpresa. — Mas agora trabalho apenas para Nomin e Doyeon.
— Bastante conquistas para alguém tão jovem — ela disse enquanto colocava a água fervente junto com as ervas no coador.
— Me esforcei muito para chegar onde eu cheguei, comecei muito cedo — sorriu orgulhoso de si mesmo, Heejin também pareceu orgulhosa de suas conquistas.
— E como é seu trabalho com Nomin e Doyeon? — Taehyung viu ela colocar a água fervente na xícara e o doce cheiro do chá inundando a cozinha.
— É bem tranquilo na verdade, eu apenas fico encarregado de suas seguranças em lugares muito movimentados.
— Parece bem mais chato que seus outros empregos, por que trabalha para eles? — Taehyung riu e agradeceu quando ela colocou o chá à sua frente.
— É uma dívida que eu tenho com eles por terem salvo a vida da minha mãe, por mais que eu ame o que eu fazia eu a amo ainda mais, por isso não reclamo do meu atual emprego. Mas eu não ficarei nele para sempre, pretendo voltar para os Estados Unidos futuramente — soprou o líquido quente e levou o chá até os lábios, saboreando-o com cuidado para não se queimar.
— Entendo, está solteiro? — O barulho da faca cortando o tomate se tornou mais alto de repente e os dois encararam Jungkook, que continuava a cortar as rodelas de tomate fingindo que aquilo não fora proposital. — Você é um rapaz bonito demais para estar sozinho.
— Obrigado pelo elogio — sorriu levemente envergonhado. — Mas estou solteiro.
— Por opção não é? Dúvido que não tenha pretendentes.
— Ninguém que realmente tenha me interessado — deu de ombros enquanto bebia seu chá tranquilamente, estava uma delícia.
— Entendi... — Disse pensativa e Jungkook caminhou até ele, colocando o prato com o sanduíche a sua frente na mesa. — É virgem?
Taehyung engasgou com o chá e Jungkook a encarou de maneira estarrecida.
— Vovó! — Jungkook a encarou com os olhos arregalados.
— O que? — Heejin olhou para o neto com a expressão sóbria, aparentemente não entendendo o motivo de seus olhos quase estarem saltando das órbitas.
— Isso por acaso é coisa de se perguntar a alguém? A uma visita?! — Jungkook perguntou com a voz levemente mais afinada, por conta de sua perplexidade.
— Está tudo bem Jungkook — Taehyung riu se recuperando do susto e colocou a xícara vazia na mesa. — Apenas fui pego de surpresa.
— Vou fazer um suco para ajudar a descer o sanduíche — Jungkook se afastou com os olhos fixos em sua avó.
— Não sei qual é o problema em falar de sexo, vocês jovens e as suas frescuras.
— O problema é que a senhora está avançando na idade e seu filtro está sumindo junto com o avanço dela — Resmungou Jungkook e Taehyung riu novamente.
— Não Heejin — Taehyung disse divertido e ela o encarou. — Não sou virgem.
— Entendo — ela sorriu e Jungkook se virou para encará-la, por sua expressão ele estava temendo o que ela diria a seguir. — Sabe o Jungkook é v-
— VOVÔ! — Jungkook gritou interrompendo a fala de sua avó. Pouco tempo depois o senhor que os recebeu na varanda chegou na cozinha, com Minjae e o piloto em seu encalço. — Você poderia por favor levar a vovó para sei lá… Assistir um filme?
— Por que? — Ele perguntou confuso.
— Ela está constrangendo a visita com perguntas íntimas demais.
— Heejin? — O senhor Jeon levantou as sobrancelhas e a mulher sorriu dando de ombros.
— Não falei nada de mais Joongi, seu neto que é cheio de frescuras.
— Uhum, sei — Joongi riu quando sua esposa sorriu ladina.
— Vão tomar banho e trocar de roupas — Heejin disse às visitas. — Vou preparar o jantar e vocês vão dormir depois de comer.
— Me sinto uma criança — Minjae murmurou baixinho arrancando o riso dos outros.
— Eu ouvi isso — ela olhou para ele rindo e ele levantou os braços em rendição, também sorrindo.
O clima naquela casa era super agradável e Taehyung gostou de passar aquelas horas ali, se esquecendo momentaneamente do caos que estava do lado de fora. Após um papo descontraído cada um dos três visitantes tomaram banho e jantaram junto a família Jeon, quando estavam todos satisfeitos foram ao quarto de hóspedes dormir, apenas Taehyung ficou para trás. Ele foi para a varanda para ligar para sua família, do lado de fora do casarão era o único lugar que havia sinal, por isso saiu para que pudesse falar com sua mãe e irmã; certificou-se de que elas estavam bem e elas disseram que estavam seguras no laboratório junto a doutora Doyeon e mais algumas pessoas.
Mais aliviado, Taehyung caminhou para dentro da casa novamente, passando por Jungkook, que havia acabado de sair do banho e lhe desejou boa noite, que foi retribuído com um sorriso e uma pequena reverência. Caminhou para o segundo andar da casa onde ficavam os quartos, quando entrou encontrou Sangwoo e Minjae arrumando suas camas; Taehyung caminhou até sua mochila e guardou seu celular dentro dela. Havia um beliche e um colchão, o Kim optou pelo colchão, pois de acordo com ele os outros dois precisavam estar confortáveis para não matar eles durante o voo.
A noite foi bem tranquila, dormiram aos sons dos grilos e cigarras que haviam na vegetação, o clima estava fresco e a noite seria bem proveitosa se não fossem os pernilongos tentando secar todo o sangue de Taehyung. Ficou muito tempo agoniado com o som dos mosquitos, mas após algumas horas ouvindo os zumbidos infernais ele adormeceu, seu sono foi o suficiente para acordar bem disposto, mas foi um dos primeiros a se levantar. Como estava acostumado a se levantar cedo, ele foi até o banheiro e escovou os dentes antes de voltar a vestir seu uniforme, pegou a arma travada e a destravou ao colocar no coldre.
Ele saiu do quarto evitando fazer barulhos e caminhou até o primeiro andar da casa, ele caminhou até a cozinha sendo guiado pelo cheiro maravilhoso de café e bolo, mesmo que ele não goste de café tinha que admitir que o cheiro era muito bom. Viu Heejin e seu marido Joongi tomando café e sorriu para eles, seu sorriso foi retribuído e logo pediram para Taehyung se sentar com eles. Tomou café em companhia dos mais velhos, conversaram sobre a vida na fazenda. Aos poucos os outros acordaram e se juntaram a eles no desjejum.
— Precisamos ir agora, sério — Minjae disse ao terminar seu café. — Dessa vez não podemos mais esperar, sabe-se lá quantas pessoas foram infectadas nessas últimas horas e como vai estar Seul quando voltarmos.
— Tem razão, pelo o que eu vi estamos encrencados se pegarmos um grupo de infectados — Taehyung disse pensativo. — Minha irmã disse que estão todos presos dentro dos laboratórios com os seguranças.
— Por que querem levar o Jungkook para o meio da confusão? — Joongi perguntou a Minjae. Taehyung também o encarou, pois estava confuso com a situação.
— Nomin e Doyeon querem ele por perto, para garantir a segurança dele no laboratório — Minjae esclareceu, mas pelo olhar de Heejin ela desconfiava de sua fala.
— Vou arrumar minha mochila então — Jungkook falou se levantando da mesa. Taehyung e Minjae assentiram, prontos para fazerem o mesmo, mas pararam quando viram que os anfitriões não se mexeram. — Vão arrumar as coisas de vocês também.
— Nós não vamos Kookie — seu avô disse tranquilamente, fazendo Jungkook o encarar confuso.
— Como assim não vão? — Jungkook encarou os dois com o cenho franzido.
— Queremos ficar aqui meu amor, passamos nossa vida aqui, queremos morrer aqui também — sua avó disse sorrindo terna.
— O que? Não! Eu não vou deixar vocês aqui, esqueçam! — Os olhos de Jungkook marejaram e Taehyung sentiu seu peito apertar ao se colocar no lugar dele.
— Vai ficar tudo bem, vá com eles e fique seguro — seu avô se levantou e acariciou seus cabelos.
— Venham comigo — Jungkook disse com uma careta chorosa, sua voz estava embargada, fraca e aguda.
— Só vamos atrasar meu amor, já vivemos o suficiente, você ainda tem a vida toda pela frente — Heejin sorriu com os olhos úmidos.
— Vocês também tem! Por favor! — Suplicou, Taehyung pôde ver o nó em sua garganta aumentar.
— Já decidimos Kookie, não vamos sair daqui, você precisa ir — Joongi deixou um beijo em sua testa e Jungkook fungou antes de se virar e partir para seu quarto às pressas, sem olhar para ninguém.
Taehyung entendia o quanto aquilo era difícil, abandonar as pessoas que amava daquela forma, estava empático sobre a situação de Jungkook, pois sabia que ele estava se sentindo péssimo com a decisão de seus avós. Minjae, Sangwoo e ele estavam na varanda conversando com os Jeon’s, tentando convencê-los a irem com eles quando Jungkook apareceu. Ele estava com os olhos inchados e o nariz vermelho devido ao choro excessivo, ele estava com com olhar vago e perdido, parecia bastante desestabilizado, provavelmente não parou de chorar enquanto arrumava sua mochila.
— Meu bem, por favor não chore — sua avó se aproximou e abraçou o corpo de seu neto.
— Eu vou mandar alguém para vir proteger vocês! — Ele disse firme, com os olhos úmidos, mas sua fala era decidida.
— Kookie... — Seu avô fez uma expressão preocupada. — Não precisa meu bem, de verdade, vamos ficar bem.
— Precisa sim! Não adianta tentarem me convencer do contrário, eu vou mandar e pronto — abraçou seus avós e os mesmos sorriram em meio ao ato. — Se cuidem até o auxílio vir tá?
— Digo o mesmo, tome cuidado e não saia de perto do Taehyung tudo bem? — Sua avó olhou em seus olhos. — Prometa para mim que você vai escutar tudo o que ele disser e vai tomar cuidado com aquele vírus.
— Sim, eu prometo.
— Jeon Jungkook é sério! Eu sei o quanto você pode ser teimoso — ela disse séria.
— É de família — ele sorriu com os olhos marejados e ela retribuiu seu sorriso. — Eu prometo.
Eles se abraçaram mais uma vez e após limpar uma lágrima que escorria por sua bochecha Jungkook se despediu e afastou-se para ir embora, dizendo enquanto caminhava que pediria a seus pais para trazerem seguranças para cuidarem deles. Após todos se despedirem eles começaram a caminhar até o jatinho em silêncio, Taehyung ajudou Jungkook a subir pela escadinha do jatinho e entraram na aeronave, sentaram-se os dois nas poltronas e continuaram em silêncio. O tempo passou devagar naquele silêncio incômodo, Jungkook não parecia muito bem e o Taehyung não queria tocar no assunto.
Minjae e Sangwoo estavam na cabine conduzindo eles até o destino final, Seul, que de acordo com as notícias é um dos epicentros do contágio do vírus, uma das cidades mais afetadas pela doença fora Incheon. Taehyung estava pensando em como chegariam no laboratório, teriam que ir de carro assim como Minjae e ele tiveram que fazer quando foram até o aeroporto. Ele viu que Jungkook olhava o lado de fora pela janelinha do jatinho, provavelmente pensando em seus avós, estava distraído olhando para ele quando o viu franzir o cenho e virar o pescoço para encará-lo.
— Nós chegamos? — Perguntou e Taehyung o encarou.
— O que? Não, não estamos no jato há muito tempo — olhou pela janelinha ao seu lado e viu que se aproximavam de uma pista de pouso. — Vou falar com Minjae.
Taehyung levantou-se de sua poltrona e caminhou até a cabine dos pilotos, ouviu os passos Jungkook e soube que ele se levantou para segui-lo, não disse nada, pois tinha muita coisa para fazer ali de qualquer forma. Quando chegaram viram Sangwoo e Minjae tentando entrar em contato com alguém pelo comunicador, mas não obtiveram nenhuma resposta; tentaram mais algumas vezes e não houve nenhum retorno da central do aeroporto mais próximo. Os dois se encararam por alguns segundos e começaram a se preparar para pousar sem autorização mesmo.
— O que está acontecendo? — Taehyung perguntou curioso.
— Precisamos abastecer, o combustível que temos não chega até Seul, deve ter algum problema com o tanque de gasolina, pois eu abasteci antes da gente sair — Sangwoo puxou o manche quando estavam chegando próximo do chão.
— Mas ao que parece não tem ninguém nesse aeroporto, já que não nos responderam — Minjae disse e encarou os dois atrás deles.
— Onde estamos? — Jungkook perguntou.
— Goesan — Minjae respondeu.
— Longe ainda — Taehyung suspirou em desânimo.
— Sim, mas infelizmente não temos muito o que fazer. Precisamos abastecer e ver o que tem de errado no tanque — Sangwoo disse apertando alguns botões.
Taehyung e Jungkook ficaram observando os outros dois pilotando o avião sentindo aquela característica sensação de frio na barriga, quando o jatinho foi perdendo altitude e pousou na pista, eles manobraram o jatinho com maestria pelo aeroporto e após perderem velocidade pararam. Sangwoo e Minjae retiraram seus cintos e se levantaram, seguiram até a porta e a abriram sem demora, tendo Taehyung e Jungkook seguindo seus passos. Todos desceram novamente pela escadinha da aeronave e caminharam para fora, todos observaram o piloto abrir um compartimento próximo a asa.
— Minjae você pega a mangueira do combustível que eu vou olhar o tanque — Sangwoo disse e Minjae assentiu, caminhando até onde ficava a bomba de combustível.
— E nós? — Taehyung perguntou ao piloto. — O que a gente faz?
— Não sei, vão procurar algo para comer lá dentro — indicou o aeroporto. — Só tem bebida no jatinho e temos mais algumas horas de voo.
Jungkook e Taehyung se encararam por um tempo, decidindo se iriam ou não, deram de ombros e passaram a caminhar em direção a entrada mais próxima para o aeroporto, estava um pouco longe da pista de decolagem, por isso caminharam por alguns minutos até chegarem a porta mais próxima. Quando entraram tentaram não fazer muito barulho, não sabiam o que tinha ali ou se todos haviam saído antes dos infectados chegarem até lá, Taehyung pegou sua pistola e checou novamente se estava destravada, passou a caminhar com ela nas mãos, pronto para atirar em qualquer situação de risco. Jungkook estava a poucos centímetros de seu corpo, buscando manter uma proximidade.
— Parece que todos saíram às pressas daqui — Jungkook falou ao entrarem em uma sala ver tudo revirado.
— Só espero que não tenha nenhum infectado aqui.
— Você já viu um? — O encarou enquanto caminhava ao seu lado.
— Já, eu atropelei um e ele se levantou de novo — lembrou-se da cena que viu pelo retrovisor enquanto saia da cidade com Minjae.
— Que horror — olhou em volta. — Onde vamos achar comida aqui?
— Vamos procurar por alguma praça de alimentação ou lojinhas — Jungkook assentiu.
Eles caminharam por alguns longos minutos com a ajuda de placas de localizações, ficaram seguindo até chegar no lugar onde os passageiros ficavam em espera na área de embarque. Se antes Taehyung achou que estava um caos na área interna do aeroporto, ali estava muito pior, pois haviam malas, papéis e sangue espalhados pelo chão, mas não havia nenhum corpo e nem sinal de infectados. Taehyung estava atento em qualquer ruído ou movimentação próxima a eles, pois a bagunça que aquele lugar se encontrava mostrava que ali também já havia sido contaminado e não podia de maneira alguma baixar a guarda.
— Tenta não encostar no sangue no chão ok? — Taehyung disse encarando Jungkook, que olhou para o chão antes de assentir. — Não sei se podemos nos infectar com o sangue, mas é melhor não correr riscos.
— Eles são muito agressivos? — Perguntou ao ver a quantidade de sangue espalhado por aquele lugar, o cheiro estava embrulhando seu estômago.
— Sim, muito — lembrou-se dos infectados se atacando nas ruas e um homem atacando uma mulher. — Espero que a gente não encontre nenhum por aqui.
— Eu também... Taehyung ali! — Chamou sua atenção apontando para uma certa parte do aeroporto. — Uma lanchonete!
— Certo, vamos para lá, mas toma cuidado. Olha para todos os lados e mantenha os ouvidos atentos — Jungkook assentiu e juntos caminharam até a lanchonete. — Eu vou ficar olhando aqui fora enquanto você pega alguma coisa para a gente comer, ok?
— Ok!
Taehyung observou o lado de dentro da lanchonete, vendo se havia algum infectado dentro, mas constatou estar vazio, por isso ficou parado com a pistola em mãos enquanto Jungkook foi procurar por algo nos freezers. Seus olhos iam do corredor a Jungkook, que havia acabado de pegar uma latinha de refrigerante e bebê-la depois de abrir. Taehyung estava encarando-o quando ouviu um barulho — passos — próximo a eles e entrou em alerta, viu o momento que um homem apareceu no final do corredor onde estavam, mesmo estando um pouco distante deles, ele conseguiu ver as veias negras por todo seu rosto e braços.
— Jungkook — o chamou com a voz baixa sem tirar os olhos do homem, que o encarou.
— Sim?
— Vem para cá — levantou a arma e apontou para o homem que caminhava lentamente em direção a eles. — Rápido.
Jungkook rapidamente fez o que ele pediu, ficou atrás de seu corpo com as mãos na camisa de seu uniforme e olhou na direção em que ele apontava a arma, ele suspirou próximo a sua orelha, era a primeira vez que ele via um infectado. O homem tinha sangue escorrendo pelos braços e nas roupas, seu rosto estava repleto de veias escuras e seus olhos estavam com uma coloração também escura, ele mancava como se estivesse com a perna machucada. Taehyung ponderava se seria ou não uma boa ideia atirar naquele homem, pois sua pistola não tinha silenciador. Sentiu o aperto em sua blusa ficar mais forte, o que o acordou de seus pensamentos.
— T-Taehyung... — Ouviu a voz de Jungkook sair fraca, assustada.
— O que? — Disse ainda sem tirar os olhos do homem à sua frente.
— Olha para o lado — disse baixinho próximo ao seu ouvido e Taehyung franziu o cenho antes de olhar.
— Ai merda!
Um pouco afastados havia uma horda de infectados andando em direção a eles calmamente, os observando de longe, esperando por um mínimo movimento antes de avançarem para cima deles. Taehyung passou a forçar seu cérebro a buscar por uma rota de fuga daquela situação perigosa e só conseguiu pensar em uma única coisa, o homem infectado a frente deles estava cada vez mais próximo e Taehyung podia sentir a respiração irregular de Jungkook bater em sua nuca. Ele respirou fundo antes de focar seu olhar somente no homem a sua frente e segurar a arma com mais firmeza entre seus dedos.
— Jungkook se prepara.
— Para que?! — Perguntou baixinho.
— Para correr na direção da saída de embarque assim que eu atirar.
— Certo...
Taehyung sabia que por onde eles iriam, demoraria um pouco mais para chegar no jatinho do que por onde eles vieram, porém não dava para correr o risco de irem para mais adentro do aeroporto e eles se perderem ou ficarem presos em algum lugar. Ouviu Jungkook engolir em seco atrás de si e Taehyung se concentrou no homem à sua frente novamente, mirou a pistola em direção ao peito dele e esperou ele ficar a mais ou menos quatro metros antes de atirar. A bala foi certeira, atravessou seu tórax e o corpo do infectado foi empurrado para trás com a força do tiro; ele caiu no chão junto ao alto som do disparo da bala, mas não esperaram para ver o sangue se acumular.
— Corre! — Taehyung gritou e Jungkook não demorou a acatar sua ordem.
Eles correram em direção a saída de embarque o mais rápido que suas pernas aguentavam e ao olharem para trás viram a horda passar a correr atrás deles também, eles faziam ruídos grotescos com a boca e com a respiração. Taehyung estava agradecido por ter treinado por anos para situações que precisava correr para salvar sua vida, seja de tiros ou quem sabe agora ele coloque em seu currículo que corria de zumbis também, isso claro se ele sobrevivesse a aquela situação. Ele olhou para Jungkook, vendo em seu olhar a adrenalina correr por todo seu corpo, agradeceu por ele trabalhar no campo com seus avós e ter mais resistência física, ou estariam com problemas.
Eles passaram pela porta que levava para o lado de fora e começaram a correr pela pista de decolagem, os dois corriam lado a lado olhando para trás de vez em quando, os infectados eram velozes e ao contrário dos dois, eles não pareciam se cansar. Taehyung olhou para Jungkook, que franzia o cenho, parecia tentar forçar seu cérebro a funcionar, tentando achar algo útil para ajudá-los naquela situação, eles sabiam que não conseguiriam correr naquele ritmo por muito tempo e se diminuíssem a velocidade seriam pegos. Não sabia se Jungkook funcionava sob pressão, mas aquele momento certamente não era hora para entrar em pânico.
— Ali! — Jungkook apontou para o transporte de malas do aeroporto, fazendo Taehyung encarar o veículo com brilho nos olhos.
— Perfeito! — Sorriu e tentaram apressar seus passos para chegarem nele mais rápido, estavam muito ofegantes.
Quando chegaram até ele, Jungkook praguejou quando viu que o pequeno automóvel puxava outros pequenos "vagões" e xingou dizendo que aquilo o deixaria mais lento. Taehyung percebeu a mesma coisa e sacou sua arma novamente, apontando para o cabo que ligava os carrinhos e atirou sem hesitação, vendo ao seu lado Jungkook se assustar com o barulho deveras alto do tiro, os dois viram o cabo se partir e separar o automóvel dos vagões. Nenhum dos dois perderam mais tempo e entraram no carrinho às pressas, quando estavam dentro dele Taehyung percebeu que o volante estava no lado onde Jungkook estava sentado, o encarou com os olhos arregalados quando o viu girar a chave.
— Você sabe dirigir? — Perguntou ao vê-lo ligar o carrinho e o motor roncar.
— Já dirigi uma retroescavadeira na casa da vovó, isso aqui não deve ser difícil.
Taehyung fez uma careta assustada com a afirmação e se segurou quando Jungkook pisou no acelerador e arrancou com o carrinho, os infectados estavam bem próximos, — próximos demais — Taehyung gritou para que Jungkook acelerasse e este que não demorou em aceitar a ordem imediatamente. O carrinho não era muito veloz comparado a um carro, mas se locomovia mais rápido do que eles a pé então não tinham porque reclamar. Jungkook pisava com força no acelerador e conseguia manter uma boa distância dos infectados; que corriam atrás deles de maneira desesperada, soltando ruídos que arrepiaram todos os pelos da nuca de Taehyung.
— Vai dar tempo da gente entrar no jatinho e decolar com eles tão perto assim? — Jungkook perguntou sem tirar os olhos da pista.
— Eu espero que sim — mas sua resposta havia saído mais como uma dúvida do que uma afirmação.
~❤️~
Eu disse que se God of death chegasse a 1k de votos eu traria uma att adiantada.
E bom, eu sempre cumpro as minhas promessas.
(Porém depende)
Capítulo reescrito no dia 05/04/2021.
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