No more dream
Os dias passaram rápido depois da volta do grupo para a Coreia. Anja passava os dias entre ensaiar com eles e aprender coreano, com uma agenda tão apertada quanto a dos próprios garotos. Aos poucos começava a descobrir que era tão apaixonada pelo BTS como um todo quanto Alyona dizia que seria, mas ainda não tinha tido coragem de admitir isso. Foi só quando Jimin e, surpreendentemente Jungkook, apareceram com um convite para que ela, Alyona e Alex assistissem ao último show da turnê do ano que se permitiu sentir a excitação correr em seu corpo.
Para Alex o convite foi um pouco diferente, apesar de ser relacionado ao show em si. Havia sido convidado para fazer parte do corpo de bailarinos que acompanhava o BTS na turnê, de modo que Anja quase não viu o irmão depois de ter sido convidado. Passava os dias – e algumas vezes, as noites – dançando e ensaiando hip hop. Tivera bem mais facilidade do que ela com aquele estilo de dança, mas ela continuava insistindo, tendo ensaios semanais com Jimin. Apesar da agenda apertada, tinha conseguido uma hora do tempo dele para aprender o básico.
Ao final do que ela chamou de aula, Anja estava deitada no chão tentando recuperar o fôlego. Hip Hop não devia nada ao balé. Era rápido, agitado, cheio de movimentos complicados e técnicos que fizeram com que a bailarina se sentisse recomeçando no mundo da dança.
– Isso foi... nossa! – falou apontando para o teto e fechando os olhos alguns segundos para tentar pensar com a cabeça e não com o corpo cansado.
– Para quem não sabia hip hop você foi ótima, noona. – falou Jimin rindo e se deitando ao lado dela, o corpo numa posição invertida, mas com a cabeça alinhada a dela.
– Como você conseguiu fazer aquele negócio... – começou ela, girando o dedo no ar representando o garoto. – ...aquele do giro no ar, sabe? Onde você aprendeu aquilo?
– Aprendi quando fazia artes marciais... muuuito tempo atrás. – respondeu. Ainda estava de olhos fechados, sorrindo, perdido nas lembranças do passado. Anja olhou para ele e ficou perdida naquele sorriso, em silêncio. Isso o despertou de seu devaneio e o fez se virar na direção dela.
– Me ensina?
– O que?
– Um pouco de luta.
– Sério? – respondeu arregalando os olhos, esquecendo completamente que ela não falava coreano.
– Sério. – repetiu ela, também em coreano, fazendo com que ele arregalasse mais ainda os olhos, surpreso, fazendo com que ela risse alto.
Ele desviou o olhar, voltando a encarar o teto da sala de dança, pensando se conseguiria incluir mais aquela tarefa na sua imensa lista. Balançou a cabeça concordando com algo que só ele sabia, decidido a fazer o possível por ser Anja Wang.
– Certo. Primeiro preciso ver se consegue fazer uma coisa. – falou se levantando num único pulo, assustando a bailarina. – Levante-se. – continuou, esticando uma mão para a ruiva. Mas ela decidiu não se apoiar nela, tentando imitar o movimento que ele acabara de fazer e falhando completamente, provocando a risada do garoto.
– Não era isso!! – riu alto das tentativas dela.
– Eu sei! Mas eu quero... ahh... – tentou de novo – Deixa quieto. – desistiu.
Quando ela finalmente se levantou – usando a mão dele como apoio, apesar dele tremer enquanto ainda ria dela – sorriu empolgada. Nunca tinha tido a chance de aprender a lutar nada, sua vida havia sido o balé e a família desde muito cedo e depois acabou se prendendo a Andrey por mais tempo do que deveria.
– Não sei se sou a melhor pessoa para te ensinar isso. Acho que o Jungkook ia ser melhor professor do que eu. – falou constrangido, coçando o nariz e olhando para baixo para desviar o olhar do de Anja. Mas ela percebeu um ar de riso no rosto dele e um brilho de expectativa no olhar, mesmo que não a encarasse diretamente.
– Será que ele ia topar? Posso pedir para ele depois, se quiser... sei que tem ensaiado muito para as premiações do final do ano.
– Não! – respondeu ele rápido demais. – Eu ensino... é que...sei lá... – a voz dele foi morrendo conforme ele falava, até que ficou quieto sem realmente responder Anja. Ficou assim, sem saber o que fazer dali em diante, enquanto ela o olhava atentamente, esperando que ele decidisse se ia mesmo ensinar ou não.
– Certo... – começou a bailarina. – Não precisa, se não quiser... – falou.
Aquele silêncio a fez questionar se realmente precisava aprender a lutar ou não. E então lembrou-se de todas as vezes que brigou com Andrey, mas não fez nada por não poder, por ser mulher e não saber como se defender se precisasse. Jimin de alguma forma percebeu o olhar inseguro da moça e se aproximou, decidido.
– Vamos ver se tem o básico primeiro. – falou esticando a mão para o lado do corpo. – Consegue acertar minha mão com o pé?
Anja se posicionou e esticou a perna com facilidade, acertando a mão dele tranquilamente.
– Nessa altura é fácil. – respondeu. Estava em posição de luta involuntariamente, as mãos fechadas em punho ao lado do corpo, os braços flexionados e colados na cintura. Jimin riu da pose e mudou a altura da mão, subindo-a no ar até a altura da própria cintura.
– E agora?
Anja ajustou a própria posição e acertou a mão dele de novo, ainda com facilidade.
– Moleza, querido.
– E agora? – continuou ele, tentando não rir. Levantou a mão até a altura do ombro e de novo a bailarina tocou sua mão com um dos pés.
– Qual é? Achei que isso ia ser um desafio!
Em resposta Jimin levantou a mão acima da cabeça, perpendicular ao chão, de modo que sua altura e o comprimento do braço deixassem sua mão muito mais alta do que Anja. Ela apertou os lábios e estreitou o olhar, dando um passo para trás para poder usar todos os anos de alongamento que havia aprendido com o balé. Jimin riu discretamente ao reparar que ela estava mostrando a língua para extravasar o esforço que faria.
Mas ela não era alta o suficiente e seu pé tocou apenas o cotovelo de Jimin, fazendo com que ela fizesse um espacate vertical, impressionando-o. Ela sorriu sem jeito e o encarou vitoriosa. A intensidade e o orgulho que ele exibia no olhar a fizeram hesitar e ela perdeu o equilíbrio depois de exatos três segundos naquela posição. Jimin rapidamente tentou segurá-la pela cintura, mas foi tudo muito rápido e os dois caíram rindo. Ela da posição ridícula que se encontrava, uma perna totalmente apoiada no ombro dele, e ele de todo o conjunto da coisa.
– Você me desconcentrou!
– Mas eu não fiz nada!! Foi você que acertou meu cotovelo e não minha mão!
– Mas eu achei que isso fosse só para saber o quanto eu conseguia me alongar! – falou desviando o olhar dele e apontando para o próprio joelho no ombro dele. – Já ficou bem claro que eu tenho alcance, não acha?
Foi só então que ele reparou na posição em que estavam. Sentiu o coração bater acelerado de repente, mas não soltou a cintura dela.
– Você está bem? – ela perguntou, percebendo finalmente que havia caído por cima dele e se sentindo repentinamente insegura por conta do peso. Tentou se ajeitar para levantar, mas o máximo que conseguiu foi colocar a perna no lugar, Jimin não deixou que ela se levantasse, então ela apoiou uma das mãos no peito dele e a outra no chão, ao lado de sua cabeça. Ao invés de permitir que ela saisse de cima dele, Jimin a segurou pela cintura com mais firmeza com uma das mãos, puxando-a repentinamente, de modo que o nariz dela tocou o dele.
Anja arregalou os olhos verdes e tentou se mover, mas Jimin a puxou de volta, sério.
– Estou ótimo. – respondeu beijando-a suavemente.
Pela segunda vez ela se viu surpresa com a delicadeza com que ele a beijava. Era como se estivesse beijando um anjo. Os lábios de Jimin eram carnudos e macios e se moviam com precisão sobre a boca dela, forçando-a a abrir e permitir que suas línguas se tocassem. A bailarina continuou de olhos abertos, sentindo o corpo amolecendo e relaxando aos poucos por conta daquele beijo, até que se tocou do que estava fazendo e o interrompeu.
– Espera.
Afastou o rosto e encarou Jimin de perto. Podia ver todas as pintinhas e sardas que ele escondia com a maquiagem perfeita que a empresa fornecia. Perscrutou os olhos castanhos dele, insegura. Aquele era um Jimin que ela não esperava ver. Tinha consumido tanto conteúdo sobre o BTS e, em especial, sobre ele, que havia interpretado errado todos os sinais que ele lhe dava. Achava que Jimin não gostasse de mulheres, mas agora não entendia de onde tinha tirado essa conclusão. Tinha crescido com Alex, um homem bem decidido sobre a própria sexualidade e que mesmo assim não deixava de ser vaidoso e cheio de estilo, assim como Jimin. Mas aquele beijo a fez questionar o quanto o conhecia. Pensou em como ele e Jimin haviam ficado amigos mesmo com a barreira linguística e se apegara a isso como sinal de que se gostavam. Sentiu vergonha de si mesma por pensar tão pequeno e se limitar a preconceitos que ela atribuía a pessoas como Andrey.
Comparar-se a ele fez com que sentisse nojo de si mesma e se afastou do garoto levantando com facilidade.
– Ta tudo bem? – perguntou Jimin se levantando também.
Estava confuso com a mudança do clima de repente. Beijou Anja porque achou que ela estivesse na mesma sintonia que a dele. Não estava entendendo mais nada.
– Eu fiz... – ia perguntar se tinha feito alguma coisa errada, mas mudou de ideia. Era óbvio que não deveria tê-la beijado daquele jeito. Onde estava com a cabeça? - Me desculpe. – falou.
Anja estava mais confusa do que ele. Tinha correspondido ao beijo. Gostado. Mas naquele momento se odiava por ter criado um Jimin completamente diferente daquele em sua mente perturbada. Quem deveria pedir desculpas era ela.
– Não. Eu que peço desculpas... confundi tudo... Sinto muito, Jimi. – e sem mais palavra, saiu da sala de dança.
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