Dimple
O impacto de ver Anja sendo beijada por aquele baixinho pegou Andrey de surpresa. Não esperava que o garoto realmente tivesse algum interesse na moça, achava que, assim como a maioria dos bailarinos do meio, o garoto fosse gay. Mas pelo jeito havia interpretado errado o visual, as jóias, a maquiagem. Isso ou Anja estava mesmo fingindo aquele encontro apenas para irritá-lo. Queria mesmo acreditar nessa segunda opção, mas não podia controlar a raiva que sentiu vendo aquela cena se desenrolando de longe.
Empurrou as pessoas enquanto abria caminho até os dois. Tinha a intenção de ensinar aquele garoto como um homem era de verdade. Mas foi interceptado por Alex no meio do caminho. O rapaz, ao contrário da irmã, era alto e forte como qualquer bailarino, mais até do que Andrey, e não tinha intenção de deixar aquele cretino estragar mais ainda a festa de despedida de Anja.
– Onde pensa que vai? – perguntou assim que Andrey esbarrou em seu peito, quase caindo no processo.
– Não se meta, Alex! – bufou, tentando empurrá-lo para o lado como havia feito com os outros convidados no caminho até ali. O rapaz não se moveu um centímetro.
– Eu odeio ter que bancar o macho alfa aqui, Andrey, mas sua cota chegou ao limite. – falou descruzando os braços e empurrando o loiro para longe.
Andrey caiu longe, fazendo com que a festa toda ficasse em silêncio repentinamente apenas para assistir ao espetáculo de vê-lo apanhando. Melhor, apanhando de Alex, de quem ele fazia questão de zombar sempre que podia por causa dos gostos pessoais do rapaz e do fato dele ser irmão de Anja.
– Já chega. – interrompeu Anja, se aproximando de Alex e se segurando em seu braço. – Andrey, acabou. Não é bem-vindo entre meus amigos. Por favor, vá embora. – falou olhando para ele. A sensação de vê-lo no chão fez com que um leve sorriso fosse esboçado no rosto bonito da bailarina. Isso não passou despercebido pelo homem. Olhou ao redor, pela primeira vez sendo o foco da atenção de uma forma negativa e se levantou batendo algumas vezes no terno branco que usava.
– Não terminamos ainda. – sibilou perigosamente, apontado o dedo para Alex e depois para Anja.
– Terminou sim. Some daqui, cretino. – falou Alyona, finalmente dando as caras na festa. Estava acompanhada de um segurança russo e o segurança particular de Jimin. Andrey fingiu que não viu nenhum dos três e saiu da festa.
– ACABOU A FESTA, GALERA! – gritou ela assim que viu a porta se fechando atrás de Andrey. Ouviu alguns lamentos, alguns "eu sabia" e várias despedidas, mas ficou contente que ninguém teimou em ficar.
***
O dia seguinte chegou a muito custo na opinião de Anja. Não tinha conseguido dormir direito, seu sono havia alternado entre pesadelos onde Andrey a prendia numa gaiola apertada e em sonhos nada permitidos para crianças em que ela e Jimin dançavam nus e terminavam se pegando. Nenhum dos dois era uma opção viável então amanheceu com olheiras escuras e profundas no dia seguinte.
– Credo, nem parece que vai para Paris! – exclamou Alyona assim que chegou para irem juntas em direção ao aeroporto. Ao contrário da amiga, ela estava deslumbrante. Usava seu melhor conjunto "mulher de negócios", combinado com brincos que de longe pareciam fios de luz devido aos cristais enfileirados numa correntinha.
– Como você faz para continuar linda logo cedo?
– Eu sempre fui linda, amiga. Nasci assim. – respondeu lançando uma piscadela de olho e um beijinho discreto.
Do lado de fora do prédio Alex as esperava numa conversa animada com o motorista contratado pela Big Hit para levá-los. Anja tratou de esconder os olhos atrás de um par de óculos bem escuros e entrou sem mais conversas. Tinha decidido evitar o irmão – pelo menos no começo da viagem – com medo do que ele diria sobre o beijo. Não tinha certeza se ele havia visto e agora se sentia culpada por tê-lo feito mesmo depois dele ter deixado bem claro seu interesse no coreano. Se dependesse dela, ia usar essa viagem para se redimir e aproximar os dois.
Deu uma última olhada ao prédio onde vivera muitos anos com Andrey. Gostava de morar ali, tinha criado muitas boas memórias naquele lugar, fora que o conforto e o luxo eram dignos de uma rainha, mesmo sendo proporcionado por um lixo humano. Mas as memórias ruins superavam as boas então tudo o que fez ao ver o edifício se afastando foi levantar o dedo do meio.
– Dasvidanyia*, filho da puta. – murmurou se virando para frente e tentando não dormir no pequeno trajeto até o aeroporto.
Sentiu o corpo sendo sacudido pelo irmão vinte minutos depois. Sorriu sem graça, tinha acabado de sonhar que Jimin e ela se apresentavam juntos pelo mundo todo, com direito a Andrey morrendo de ódio na platéia. Precisava parar de associar o menino a situações de salvamento, ou esquecer o beijo, isso já ajudaria muito.
Esqueceu todas as suas preocupações no instante que chegaram à área de embarque e encontraram Jimin, seus empresários e seu segurança. Assim como ela, o rapaz usava grandes óculos de sol. Dessa vez ele não parecia um anjo, mas sim um ícone de moda, usando calças escuras e despojadas combinando com um suéter listrado e um gorro cinza que fazia seu rosto ficar ainda mais destacado, permitindo que ela reparasse pela primeira vez na discreta covinha que se formava quando ele sorria. Estava absolutamente lindo e pelo suspiro que ela ouviu, não era a única impressionada. A empolgação de Alex a lembrou de seu lugar e apenas respondeu aos cumprimentos com um aceno de cabeça. Não fazia ideia de como agir depois de tudo o que havia acontecido na noite anterior e estar em meio a tanta gente serviu perfeitamente como desculpa para se isolar.
– Pronta para conhecer Paris? – perguntou Alyona empolgada, se sentando ao lado de Anja e colocando o cinto de seguranças. Tinha um pouco de medo de aviões, era verdade, mas estava tão empolgada dessa vez que não conseguia sentir nada além da excitação pelo novo, por trabalhar com os artistas que admirava, mesmo que indiretamente.
– Finalmente caiu a sua ficha, hein? – provocou Anja, ao invés de responder.
– Como assim?
– De que vai trabalhar com "seus meninos". Já contou ao Jimi que sabe de cor as letras das músicas dele?
– É Jimin. – corrigiu automaticamente – Quê? Não! Ficou louca? Ele ia acabar desistindo de nos deixar viajar com ele. Fique quietinha e beije meus pés porque vamos a Paris e ao Havaí com tudo pago pela empresa dele. Se não fosse minha "mania de fã", como você diz, ainda estaria presa a Andrey, mesmo que seu relacionamento com ele tenha acabado. – respondeu irritada.
– Nossa! Desculpe, eu estava só brincando. Não precisava cutucar a ferida assim, tão cedo.
– Tudo bem... Vamos a Paris afinal de contas! Está animada? – perguntou de novo, recobrando a empolgação.
– Não sei ainda... minha ficha não caiu. Talvez só depois que virmos a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo... Mesmo assim tenho medo de acabar dando de cara com aquele cretino. Acho que só vou relaxar quando não estivermos mais na Europa. – murmurou a bailarina se aconchegando. – Mas uma coisa é certa, alguém aqui está mais empolgado que nós duas. – apontou Alex com a cabeça, sentado ao lado de Jimin com um dicionário russo-coreano nas mãos, tentando se comunicar.
Pacientemente Jimin aproveitou a oportunidade – e o dicionário na mão do rapaz – para tentar conhecer melhor o rapaz. Em vão. Apesar da boa vontade e do esforço, Alex não tinha passado do "olá" e agora folheava o livrinho que segurava enquanto soltava palavras aleatórias na direção de Jimin.
Gentilmente ele abaixou a mão de Alex e começou a apontar as coisas e nomeá-las na própria língua. Esperou o loiro repetir junto com ele e sorriu quando ele conseguiu dizer sem maiores problemas tudo o que estava ao redor para depois dizê-las em russo. Jimin aproveitou para aprender um pouco da língua também e em pouco tempo estavam rindo e conversando por gestos como se fossem velhos amigos. Alyona olhou para Anja, impressionada.
– Acho que ele ta indo melhor que você com a língua.
– Melhor assim, dai não preciso bancar o cupido japonês e você a intérprete salvadora.
– Cupido? Não sei sobre isso... – respondeu pensativa, encarando Jimin. Sabia dos boatos sobre a sexualidade dele, tinha, inclusive, até uma pasta secreta em seu celular com fotos dele com Jungkook com interações que o fandom considera suspeitas, mas daí a considerar isso verdade era outra coisa. Ficou mais um tempo observando ele com Alex para ver se captava alguma coisa, mas a única coisa que percebeu foi que Jimin era realmente uma pessoa especial e gentil, porque só assim para aguentar as próximas três horas vendo-o apontar coisas e dizer seus nomes em coreano e russo.
– Eu andei fazendo umas pesquisas... – Anja interrompeu os pensamentos da moça, chamando sua atenção para si - ... o que é "bias"?
– Basicamente é o membro favorito num grupo. – respondeu.
– Quem é o seu bias? No grupo do Jimi.
– O líder do grupo. RM.
– O nome dele é RM?
– Não, o nome dele é Namjoon, mas o nome artístico é RM. Mas por que tantas perguntas?
– Porque eu quero ver de perto sua reação quando finalmente encontrar com eles. Ainda não me convenci que me arrumou esse emprego por pura bondade no seu coração.
– Olha, sem condições você hoje, viu. Tirou o dia para me atacar, foi? Quer que eu comece a falar do beijo de ontem?
Anja finalmente desfez o sorriso maldoso que tinha nos lábios. Achava que pouca gente havia visto aquela cena. Desviou os olhos e encarou Jimin. Foi surpreendida por um sorriso quando os olhares se encontraram.
– Acho que vou dormir um pouco. Não consegui dormir nada ontem. Boa noite.
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VOCABULÁRIO:
*Dasvidanyia: significa adeus em russo.
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