O Registo Assombroso
O silêncio que se seguiu foi pesado. Ninguém queria admitir em voz alta, mas todos estavam pensando a mesma coisa. Se a lenda de Zdondi era real, então estavam em mais perigo do que jamais poderiam ter imaginado.
Lina puxou um velho livro empoeirado da estante, se ter se apercebido que, na verdade, não era só um livro que existia ali, mas muitos, e o abriu com cuidado, assim provocando a dança da poeira pelo ar. Instintivamente todos fecharam as suas narinas evitando o pó.
— Olhem isso — disse ela, chamando a atenção do grupo. — Será que pode explicar alguma coisa sobre a lenda?
— Sério que vai pensar exatamente nisso? — questionou Vladik revirando os olhos.
— Claro. — respondeu Lina secamente.
— Vocês... — quando Vladik estava prestes a insistir, Alex o cortou.
— Calma, Vladik vamos ver o que o livro tem para nós, está bem?
Todos se reuniram ao redor da Lina enquanto ela folheava as páginas. Os textos antigos eram difíceis de ler, mas havia desenhos e símbolos que eram claramente relacionados à lenda de Zdondi. Vladik não queria acreditar, mas aquilo estava o assustando.
— Este símbolo — disse Alex, apontando para uma imagem de uma criatura com oito caudas.
— É exatamente como Simon Jhallen descreveu.
— Na lenda? — colocou a questão Vladik descrente.
— Exato. — respondeu Alex de imediato.
— Isso é muito esquisito — disse Saraup, os seus olhos arregalados. — Não pode ser apenas uma coincidência.
De repente, a cabana foi envolvida por uma escuridão tão profunda que parecia engolir as velas acesas. O riso demoníaco ecoou novamente, desta vez mais perto, quase como se estivesse na cabana com eles.
— Precisamos sair daqui! — gritou Maya, a sua voz cheia de pânico.
— Para onde? Está escuro lá fora também! — exclamou Julius.
O grupo ficou parado, sem saber o que fazer. A sensação de serem observados aumentava a cada segundo, e a pressão de tomar uma decisão rápida era esmagadora.
— Escutem — disse Alex, tentando manter a calma. — Precisamos ficar juntos. Não importa o que aconteça, não podemos nos separar.
Todos concordaram, apesar do medo evidente nos seus olhos. A ideia de enfrentar aquilo sozinhos era insuportável. Como se a sorte tivesse os abraçado, a calmaria veio. A voz do além havia sido abafado e apenas a floresta conversava com eles.
A noite passou devagar, com cada som da floresta parecendo amplificado pela escuridão e pelo medo. Ninguém conseguiu dormir. Eles se revezavam vigiando a cabana, esperando que o fenómeno passasse e que o amanhecer trouxesse alguma normalidade de volta às suas vidas.
— Isso tem que acabar em algum momento — disse Mark, tentando soar otimista.
— Vamos esperar que sim — respondeu Alex, embora ele próprio não estivesse tão seguro disso.
Quando finalmente os primeiros raios de sol começaram a penetrar a escuridão, a sensação de alívio foi palpável. Mas a tensão ainda pairava no ar, e todos sabiam que aquele era apenas o começo de algo muito maior e mais assustador do que jamais poderiam ter imaginado.
Naquela manhã, enquanto o sol iluminava a cabana, os adolescentes começaram a discutir o que fazer a seguir.
— Precisamos descobrir mais sobre essa lenda — disse Lina. — Se há uma maneira de deter Zdondi, tem que estar em algum lugar nesses livros antigos.
— Eu acho que a melhor coisa a se fazer é dar um fora daqui. — disse Maya. — Vamos regressar aos nossos lares.
— Faz muito sentido. Concordo contigo — disse Vladik.
— Está com medinho, Dik? — disse Lina num tom de provocação.
— Claro que não. Nem acredito nessas coisas de lendas do maldito Zdondi. — disse Vladik irritado.
— Então como é que se explica a voz? — questionou Julius.
— Esperem pessoal. Vamos fazer assim, — disse Alex e todos pararam para ouvir o que o líder queria dizer, principalmente a Lina, que gostava da forma como Alex liderava o grupo assim como fazia na escola. — Vamos à votação. Quem quer investigar e acabar com o Zdondi levante a mão.
O primeiro a levantar a mão foi o Vladik e aproveitou para pedir a palavra.
— Vocês sabem que eu acho que tem que haver uma coisa lógica nesta tal lenda, com isso eu vou continuar nesta aventura de criança para vos provar que essa lenda é apenas uma estória para assustar crianças.
Após as palavras do Vladik todos olharam um para o outro sem nenhuma palavra, mas Saraup logo aproveitou o momento e falou:
— Eu também estou com ele. Não acredito nessa lenda. Eu e Vladik vamos provar-vos que isso não é nada real.
— Então quem vai nessa connosco? — disse Vladik.
Todos levantaram os braços exceto Julius que preferia regressar a casa, mas como a maioria venceu ela aceitou continuar na perigosa aventura. Os outros deixaram claro, principalmente o líder do grupo que acreditavam na lenda.
A luz do dia trazia um conforto tênue, mas a sombra dos acontecimentos da noite anterior ainda pairava sobre eles. Alex, começou a traçar um plano.
— Lina, continue procurando informações nesses livros. Vladik e Saraup, vocês dois são os mais racionais aqui. Tentem encontrar uma explicação lógica para o que aconteceu. Maya, Julius, Mark e eu vamos tentar encontrar mais suprimentos e garantir que a cabana esteja segura.
Todos assentiram, dividindo-se nas tarefas. A urgência nos seus movimentos revelava o quanto estavam assustados, mas a companhia uns dos outros dava uma sensação de solidariedade e força.
Lina começou a vasculhar os livros empoeirados que encontrara na cabana. Alguns eram registos antigos da vila, outros eram diários de exploradores e caçadores que passaram por Moamba ao longo dos anos. O nome Simon Jhallen apareceu em mais de uma ocasião, o que dava uma credibilidade desconcertante à história contada por Alex.
Enquanto isso, Vladik e Saraup tentavam pensar racionalmente sobre os eventos.
— Deve haver alguma explicação científica para aquela luz vermelha — disse Vladik, mas até ele soava menos confiante do que de costume.
— Pode ser algo relacionado a atividade solar ou um fenômeno atmosférico raro — sugeriu Saraup, embora ele também estivesse claramente abalado.
Alex, Maya, Julius e Mark saíram da cabana com cautela, os olhos atentos a qualquer sinal de perigo. A floresta parecia diferente à luz do dia – menos ameaçadora, mas ainda misteriosa. Caminharam até um pequeno riacho próximo, onde poderiam encher os seus cantis e procurar algo comestível.
— Precisamos de mantimentos suficientes para ficarmos aqui por alguns dias, caso precise — disse Alex. — Não sabemos quanto tempo esse fenómeno pode durar.
— E se precisar, nós podemos usar a vila para buscar ajuda — sugeriu Maya, embora a ideia de deixar a segurança do grupo não fosse exatamente atraente.
Enquanto estavam fora, Lina fez uma descoberta inquietante. Em um dos livros mais antigos, encontrou um desenho detalhado de Zdondi e uma descrição dos seus poderes. A criatura não apenas trazia medo e destruição, mas também tinha a habilidade de manipular a mente das pessoas, causando alucinações e pânico.
— Gente, vocês precisam ver isso — disse ela quando o grupo retornou com os suprimentos. — Zdondi não é apenas uma criatura física. De acordo com esses textos, ele pode mexer com as nossas mentes, fazer-nos ver coisas que não são reais.
— Então, estamos lidando com algo que pode fazer a gente enlouquecer? — perguntou Julius, com a voz trémula.
— Parece que sim — respondeu Lina. — Precisamos estar preparados para isso.
— Pessoal, não estamos exagerando em continuar com isto?
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