XXXII: Iris e o transporte divino
- AHN, GALERA?! - Kaique gritou de cima das rochas, havia me esquecido que ele ficou para trás.
- Droga, Kay! - Dillan gritou para o amigo. - Como você vai descer daí agora?
- Ei! - Se sentiu ofendido. - Você caiu e eu nem disse nada.
- Precisamos arrumar um jeito para ele descer - falei para Airam e Alice. - O que vamos fazer?
- Use seu poder sobre as águas e faça uma torrente subir até lá - Airam disse apontando ao mar.
Impossível. Estava fraco, sentia cansaço nas minhas pernas e minhas pálpebras pesadas.
- Parece que o mais bonito vai ter que esperar a beleza acabar para sair daí de cima! - Trevor gritou curtindo com o garoto.
- Sobe até lá, Luka -Alice disse para o garoto que examinava a altura de Kaique e possivelmente a sua queda no chão.
Luka negou com a cabeça vergonhosamente.
- Não consigo, estou fraco - respondeu com o rosto cansado e o fôlego ainda se recuperando.
- Vocês homens não prestam para nada mesmo - Airam caçoou brava. - Sinceramente, não sei porque vocês têm habilidades legais se não conseguem usar direito.
- Tudo bem - disse esfregando minhas mãos. - Deixem que eu faço isso. Não se mexa, Kay!
Fechei meus olhos e tentei esquecer a tensão de meus braços. Me concentrei no som das águas, o barulho da cachoeira e os pássaros no céu que passavam cantando para o horizonte.
As minhas mãos eram leves como um corpo submerso, a minha mente estava livre mesmo com todos os meus sentimentos negativos. Me sentia vivo como todas as vezes que o poder percorria meu corpo. Meus punhos fechados fizeram o chão tremer, então notei que era a água presente na areia se movendo de molécula em molécula.
Logo, uma pressão se formou no meu estômago como se acabasse de levar um soco ali e perdesse meu ar. Mas eu ouvi o alvoroço das águas entre as pedras. A cachoeira mudou seu curso para a direita, mesmo que eu estivesse de olhos fechados podia sentir sua movimentação.
As águas do mar passaram sob as rochas e tomou a forma de um grande piso aquático. A cachoeira se transformou em uma mão e se elevou até Kaique, agarrando-o pela cintura.
- AHHH! -Pude ouvir seu grito histérico e o coração quase pulando para fora.
Então, quando pisou sobre a superfície de água, fechei meus olhos para me concentrar. Pude ouvir a água diminuindo seu alvoroço. Ele estava no chão.
Abri meus olhos e tentei controlar o pouco fôlego que me restava com todos os nervos e músculos do meu corpo doendo. Inclinei meus joelhos para frente e me abaixei colocando as duas mãos sobre eles. O ar mal passava por minhas narinas e eu tentava respirar pela boca também.
Então um grande estrondo estalou nos céus, como dois jatos supersônicos colidindo entre si. Trovões ribombavam em uníssono no céu sobre nós. As nuvens tapam o sol e estavam carregadas, uma grande tempestade estava chegando.
- Ahn, eu juro que não fiz isso - justifiquei assustado também. Olhei para Luka e ele percebeu meu olhar, afinal era ele quem herdou os perigosos poderes de Zeus.
- Ei! - Ele levantou as mãos ofendido e também confuso. - Também não tenho ideia do que foi isso.
Então a chuva caiu sobre todos nós, violenta e repentina com velocidade o bastante para cair na nossa pele como cacos de vidro afiados. Um relâmpago caiu detrás da grande montanha e um trovão ribombou logo atrás.
Num minuto, estávamos encharcados pela chuva e ainda assustados com a situação.
- DE ONDE SURGIU ESSA CHUVA? - Trevor gritou quando o barulho da chuva atrapalhou nossa comunicação.
- TALVEZ ZEUS POSSA NOS DIZER! - Gritei para ele irritado, pois o rei do Olimpo era o principal suspeito da tempestade.
Um trovão ribombou violentamente.
- Acho que essa não é a hora de irritar os deuses, peixinho! - Alice exclamou para mim receosa.
O mar revolto balançava nosso iate como um simples barquinho de papel, mas mesmo assim não o afundava.
- Precisamos sair dessa ilha! - Disse alto para eles apontando para o bote de plástico que milagrosamente não furou ali na praia. - Vamos logo!
Corremos em direção às margens do mar, quando observei um raio descer na direção do bote. Droga, Zeus. Não fode mais a minha vida.
Trevor também percebeu. Uniu suas mãos rapidamente como um tapa e uma linha de areia se moveu no chão rapidamente antes que tocou o bote e livrou-o da direção.
A chuva se intensificou mais e a areia parecia prender nossos pés. Corri o mais rápido que pude, usando a mesma velocidade de quando fugia dos babacas que queriam me bater na escola.
Todos entraram no bote e comecei a empurrá-lo até que saísse da praia. Senti meus pés cada vez mais fundos na água e foi como uma dose de adrenalina.
Pulei dentro do bote rapidamente enquanto as ondas o levavam para o meio do mar, se aproximando do iate. A chuva parecia estar mais forte na praia, mas eu tinha a sensação de que logo nos alcançaria.
Nove pessoas apertadas dentro de um bote eram muito propensas a levar uma descarga elétrica de um raio e ficarem grudadas. Os monstros iriam se alegrar depois de ver-nos torrados com pó.
Pus minha mão na água e comecei a balançá-la como um remo para que tomássemos velocidade com um jato de água sob nós. Logo, o iate estava a poucos metros e a chuva logo atrás de nós.
Mais um pouco e Trevor foi o primeiro a pular na escada da lateral do iate. Dillan e depois Kaique não evitaram a seguir.
- Vamos lá, galera! - Indaguei receoso olhando para a praia e vendo as nuvens carregadas tomarem formas no céu acima de nós.
Airam e Mira foram logo atrás do garoto. Alice subiu logo depois de Luara. Então, Mattheo Luka olhou para mim de uma forma diferente, sem ciúmes e raiva por Alice e sem o olhar azul-celeste que queria provar ter capacidade para nós.
- Devo a minha vida a você - disse com uma expressão sincera e gentil. - Obrigado, Yushami Thunder.
- Não, Luka. Eu devo a minha vida por você! - Não foi metaforicamente, ela literal. Luka fora capturado por minha causa, quase morto por minha causa. O menos que o destino podia fazer era com que eu pagasse por isso, talvez com minha vida. - Agora suba nesse iate porque precisamos de um banho e de uma boa dose de uísque, o que acha?!
- Nem pergunte de novo - sorriu satisfeito depois de pular na escada. Lá em cima olhou para baixo e me lançou um sorriso sarcástico. - Quer ajuda para subir, Aquaman?
- Ei! - Gritei com o mesmo riso. - Eu consigo muito bem subir.
Então lancei-me na escada e minhas mãos agarraram os degraus de metal pendurados na lateral do iate.
No reflexo da lataria, pude ver uma forte luz azul aumentando sua intensidade. Então ouviu um estouro como de um pneu com forte pressão rebentando-se.
Olhei para trás e vi o resto do bote pegar fogo. Um relâmpago o atingiu logo depois que eu pulei. Senti meus pelos arrepiarem quando pensei que se esperasse mais um pouco, eu teria sido fritado vivo.
Depois de subir e segurar meu coração pela boca, olhei assustado para as chamas nos restos do bote e fiquei ainda mais com raiva por Zeus ter tentando me matar.
- Cara, você tem sete vidas como um gato - Dillan disse segurando no meu ombro aliviado.
- Como isso pode acontecer? - Airam perguntou calculando suas hipóteses, pude ver através da sua cara pensativa. - Por que Zeus quer matar Yushami? Mesmo que ele tenha provocado sua ira isso não seria justificável...
- Ele é um deus impulsivo - Luka foi cuidadoso em não dizer o nome do pai. - Talvez esteja lhe dando medo...
- O medo que eu tenho é de não chegar vivo no Acampamento Meio-Sangue, nada mais - disse histérico e sarcástico.
Evitei ficar do lado de fora. Entrei na cabine e logo fui para a cozinha, graças aos deuses que Atena em sua máxima sabedoria teve a ideia de colocar tudo que uma cozinha precisava, principalmente a geladeira.
A coca gelada desceu com o gosto de satisfação e prazer, quase me esqueci do gosto de um refrigerante depois de ficar quatro dias em uma ilha. O armário superior também continha um pacote de batatinhas, o assaltei sem que meus amigos vissem.
Sentei à mesa de vidro e eles foram ao balcão enquanto Airam e Mira tomaram conta da cozinha.
- Nós preparamos o almoço - Airam voltou-se aos meninos como uma mãe que no olhar diz, não entre na minha cozinha. Os garotos ficaram com medo e então trancaram os traseiros nos bancos.
- Enquanto isso vocês poderiam tratar de tomar um banho - Mira farejou como um animal e logo fez uma careta de nojo. - Tipo, imediatamente!
Enquanto eu ria das garotas bravas, Alice roubou algumas de minhas batatinhas e deu um gole na minha coca .
Piscou para mim ao sentar na minha frente. Relaxou seu corpo na cadeira e esticou suas pernas, suas botas sujas de areia e molhadas, se encostaram nos meus pés sem os tênis que deixei jogados na cabine.
Reparei na sua blusa preta sem mangas, e o grande bordão era o que mais chamava atenção. Cortem-lhe as cabeças com o slogan de uma faca com sangue dourado.
- É bonita, né?! - Perguntou a mim depois de olhar para a sua camisa também. - Fiz um filho de Hécate me dar ela...
- Nem imagino como - respondi.
- Sobrevivemos - ela indagou depois de me ver olhando ao nada com os pensamentos muito longes. - disse que isso iria acontecer. Luka está a salvo, nós estamos salvos. E você... Parabéns, herói.
Eu sorri depois de seus elogios, afinal, tinha de me contentar com eles. Palavras assim eram as únicas que podia se ouvir de uma garota orgulhosa como Alice.
- Não - disse relutante e preocupado. - Ainda não. Eu ainda não posso partir sem as respostas dos deuses sobre o meu passado...
- Ei! - Seus dedos tocaram minha mão e seus olhos me encontraram. - Vamos reverter o que está acontecendo. Você vai viver muito tempo ainda, Yushi!
- Olhem - Kaique se levantou do banco e apontou para fora, no vidro da cozinha que dava para a cabine e para fora.
O céu estava claro de novo, as águas calmas e o sol fervente e irritavelmente brilhante de novo. Um arco-íris descia das nuvens que restaram no céu e pousou no nosso convés.
Kaique correu para fora quando gritei para que esperasse, qualquer ação estranha era suspeita àquela altura de nossa situação.
Todos os outros curiosos foram atrás (eu fui o primeiro). O céu até parecia mais claro que antes e as cores do arco-íris brilharam na nossa proa.
Então algo incrível aconteceu. Dentro das sete cores espalhadas com o formato de um escorregador, uma silhueta feminina se formava magicamente.
- Pelos deuses, é uma fada? - Kaique arregalou os olhos como uma criança.
Então a silhueta tomou forma e corpo. Uma mulher saiu do arco-íris e ele desapareceu, depois de se fundir ao seu corpo. Uma luz cegante atingiu nossos olhos, mas logo notamos a mulher.
Seus cabelos eram loiros e brilhantes como ouro. A pele branca como a luz e seus olhos mudavam de cor a cada piscada. O vestido branco como o céu claro era longo aos pés descalços. Asas douradas como o sol se arrastavam na proa.
- Saudações, semideuses - sua voz era leve e calma, assim como a calmaria do mundo depois de uma tempestade. - Sou Íris, a deusa do arco-íris.
-Uau! -Luara disse maravilhada e boquiaberta. -Ela é tão...
-Colorida?! -Trevor caçoou da deusa. Luara deu um pisão em seu pé. -Ai!
-Não seja rude! -Ela atentou.
A deusa sorriu e olhou para mim. Naquele momento seus olhos eram violetas, como as lentes de Alice. O sorriso era transparente como as gotas de água da chuva.
-Sou a mensageira dos deuses, bem -ela disse um pouco brava-, eu costumava ser antes que Hermes chegasse.
-Você é mais bonita que ele -jurei ver Kaique flertando com a deusa, era uma coisa natural que talvez um filho de Afrodite nem percebesse o que acontecia. -Digo, Vossa Deusa é muito graciosa.
-Obrigado, senhor Miller -ela disse o sobrenome do garoto e ele assustou. -Eu conheço todos vocês. Quem acham que recebem as mensagens de íris que enviam aos destinatários?
Ela disse que nos conhecia, mas olhava explicitamente para mim. Não me incomodava com olhares para o corpo charmoso e meus olhos atraentes, mas qualquer deus me incomodava, mesmo uma deusa menor como Iris.
- Estou aqui para levá-los de volta para casa - explicou gentilmente. Um vento passou por nós e Íris escondeu os fios de seus cabelos loiros atrás das orelhas. - Não pensam em passar por Squila e Caríbdis de novo, não é?
Todos nos entreolhamos, obviamente não. Talvez a deusa estivesse ali para nos ajudar, mas uma coisa que eu soube desde que conheci os olimpianos era que um deus não fazia nada por boa vontade.
- O que vai querer em troca? - Perguntei sem medir minhas palavras, mesmo que a deusa tenha sido tão gentil. - Por que devemos confiar em você, Íris?
- Já ouviram a história em que eu enganei algum herói por aí? - Ela disse para mim quase com raiva por meu tom, deixando suas íris vermelhas. - Sou uma deusa boa, Yushami Thunder. Sou a ponte entre o céu e a terra, entre os deuses e os mortais.
Olhei para Alice e Airam, minhas amigas mais sensatas ali. Elas acenaram com a cabeça em dúvida, para que déssemos uma chance para a deusa.
- Como vai nos levar? - A curiosidade era algo forte em mim.
- Como as imagens de vocês podem viajar pelo arco-íris, posso fazer vocês viajarem também - ela explicou graciosa. Suas asas douradas se abriram e começaram a bater contra o vento.
- Teletransporte? - Kaique disse como um nerd fascinado por ficção. - Maneiro.
- O que temos que fazer?! - Perguntei novamente.
A deusa começou a voar com as asas batendo graciosamente. Cada feixe de luz que chegava sobre ela, se tornava uma cor da luz de um arco-íris. No alto, as madeixas de seu cabelos loiros como ouro tinham sete cores diferentes.
- Entrem na cabine, vou levá-los para casa! - Iris disse assim que esticou as mãos para baixo e as palmas para frente.
Todos entramos na cabine de controle do iate e dali observamos a deusa usar sua mágica.
Suas mãos primeiramente tinham luzes esféricas brancas, mas assim que as levantou brilharam como um globo de discoteca multicolorido. Um arco-íris desceu da nuvem mais escura que restava do céu e logo multiplicou seu tamanho.
Atingiu-nos e mesmo as cores tão fortes e vívidas, eram transparentes. Conseguia ver o mar sob elas e o céu sob o vidro.
A visão exterior começou a se modificar, ainda via o mar, mas o sol estava mais fervente. A ilha não estava mais lá, mas avistamos o Estreito de Long Island e pude sentir de verdade o cheiro dos morangos maduros colhidos repentinamente.
- WOW! - Dillan gritou de euforia. - Chegamos em casa.
O arco-íris se findou e a deusa não desceu do alto. Iris piscou para nós e logo se dissipou nas sete cores do espectro.
Na praia, um grupo de curiosos nos esperavam feito um bando de fãs esperando o show de seu ídolo preferido. Mas todos nós éramos ídolos naquele dia, pois aquela foi a semana mais difícil de nossa vida e provavelmente uma das piores.
- Seja bem-vindo ao Acampamento Meio-Sangue, Mattheo Luka. - Mira Flame disse para o moreno.
- Seja bem-vindo a nossa casa - disse também. - Aqui foi onde nossa vida começou...
E também onde toda a vida pode terminar.
🌊
A melhor coisa da viagem é chegar em casa depois de passar o dia inteiro cansado. Diz aí, tem coisa melhor?
7 capítulos para chegarmos ao fim, galera 😪 O momento de despedida é o mais difícil, mas antes disso têm muitas coisas por vir.
Espero que tenham gostado, my demigods!!!
Xoxo de algas.
Johnnyzito
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