Capítulo 2 "O Híbrido"
Chegamos na ACAP e a primeira coisa que meu mestre fez foi conjurar uma barreira de chi envolta de todo o edifício.
Depois, eu e meu mestre trocamos informações. Contei tudo o que ocorreu para ele, e ele também.
— Não encontrei nada demais — disse meu mestre. — Os seguranças estavam determinados a não me deixar entrar. Então, fui obrigado a usar da força. Depois segui à direita e encontrei uma sala de aula cheia de estagiários.
— E aí?
— Ensinei a eles a importância do chi!
— Incrível, mestre — meus olhos brilharam.
— Menos, Daigo, menos — ele recostou na cadeira. — Mas, então, pelo o que me contou, realmente existe um assassino que está concorrendo conosco.
— Basicamente.
— E um cara te levou pro espaço.
— Ele parecia meio mal-humorado.
— E também tinha um cara que gerava vidro, fogo e uma mulher com facão.
— Espada decapitadora.
— E aquela mulher dos seios fartos é casada?
— Isso é necessário pra investigação?
— E o assassino de shinigamis, ele disse algo sobre um híbrido, não é?
— Isso aí.
— Hmm — meu mestre esfregou o queixo com os dedos. — Silêncio Faz Bem nos disse que estavam capturando almas de shinigamis para criar alguma coisa... e tem um híbrido, que foi poupado, e então...
— O antigo assassino foi expulso da Associação.
Meu mestre cruzou os braços.
— Acho que a missão desse assassino era matar esse híbrido, talvez, até... capturar sua alma...
Meu mestre se levantou e foi até a estante cheia de livros e mangás. Ele pegou um livro que estava entre "O Caçador de Górgonas" e "Noel Kyle".
— O Bestiário de Shinigamis — falou ele. — Aqui está a lista dos cem shinigamis do ranking mundial.
— Mas nós já sabemos disso.
— Sim, mas, além do ranking, há informações sobre os níveis de shinigamis e também sobre O Predador de Shinigamis.
— Um predador?
— Reza a lenda, que O Predador de Shinigamis foi o motivo para criarem o ranking que cataloga os shinigamis em poder. Ele, nada mais é, do que a união de uma grande quantidade de almas de shinigamis com a alma de um híbrido. Este ser nasceu quando um híbrido, de nome Leon Acelo, assassinou e absorveu a alma de vários shinigamis, se sobrecarregando e se tornando a personificação da própria morte. Durante os milênios, muitos pesquisadores tentaram recriar o poder desse shinigami supremo, mas faltava o elemento X. Um híbrido. Desde Leon Acelo, nenhum híbrido voltou a nascer.
— Até os tempos modernos.
— É o que parece — meu mestre fechou o livro.
— E você acha que a Associação está tentando recriar isso. Explicaria o motivo deles tentarem matar um híbrido e deles estarem capturando almas de shinigamis.
— Sim — meu mestre guardou o livro. — Nós vamos ter que encontrar o híbrido antes deles. Considerando que o monstro ainda não foi recriado, acho que ele ainda está vivo.
— E como vamos encontrá-lo? Ele pode ser qualquer um.
— Eu conheço um dragão em Niigata, ele é meio que onisciente.
— Um dragão? Que peculiar — comentei.
— Sim, ele deve... — meu mestre estremeceu. — Eu desregulei o ar-condicionado?
Eu olhei pela janela do escritório e minha testa franziu.
— Neve? Tá nevando? — olhei com mais atenção. — Os prédios estão congelados.
— É a sua namorada, Daigo.
— Não diga isso nem de brincadeira, mestre. Ela deve estar nos esperando lá embaixo. Como vamos pegar o carro?
— Vamos ter que encará-la, é inevitável. Era óbvio que ela viria até nós. Ainda bem que criei essa barreira de chi.
— Vamos ter que sair da barreira, mestre.
— Não questione minhas decisões, Daigo.
— Foi mal, mestre.
Ele apanhou a chave do carro que estava em cima da mesa e foi até a porta.
— Só precisamos pegar o carro e dar o fora.
+
Nós saímos do edifício e, como esperávamos, Yuna Nate estava plantada no meio do cruzamento. Em um raio de quinhentos metros, tudo estava banhado em gelo. Podia se ver ao longe, desde carros de polícia congelados até helicópteros travados em pleno ar, sustentados por braços de gelo que cresceram do solo até eles.
Meus olhos se cruzaram com os da assassina.
— Por que vocês estavam na Associação? — perguntou ela.
— Nada demais, já falamos — respondi.
— Então, por que vocês fugiram?
— Depois do que passei naquele treinamento, achei que era a melhor opção.
É, parece que vou ter que dar um jeito nela.
— Vocês dois dariam um belo casal — comentou meu mestre.
— Não me fale uma bobagem dessas — rosnei para ele. — Vá pegar o carro, eu vou ganhar tempo, mestre.
— Certeza?
— Confie em mim.
Meu mestre assentiu e atravessou a rua até a garagem coletiva de três andares. Yuna não fez nada quanto a isso, continuou me encarando, o deixando seguir livremente.
— Beleza — eu invoquei um arco e disparei uma flecha veloz, mas, como já era de se esperar, uma parede de gelo cresceu diante da assassina, bloqueando meu projétil. — Hmph — minha flecha explodiu o obstáculo, gerando um clarão que cegou Yuna por alguns instantes.
Era minha deixa. Avancei contra ela e deslizei em uma rasteira no gelo, batendo nos tornozelos da assassina e a fazendo rodopiar uma vez antes de cair de cara no chão. Levantei rapidamente e me virei. Meu arco se transformou em um lança e Yuna bateu os dedos no solo, o que fez quatro estalagmites de gelo nascerem ao meu redor, crescendo rápido contra meu pescoço.
Desviei com um salto vertical, girei no ar e lancei minha arma de chi nas estalagmites, as destruindo.
Enquanto eu pousava, vi que a assassina já se reerguera. Então, ao tocar meus pés no asfalto resfriado, conjurei uma espada e saltei contra ela, que criou uma redoma com espinhos longos de gelo para se proteger.
Mas ela não contava com minha astúcia. No ar eu cravei minha lâmina no peito e o chi se moldou em meu corpo criando uma armadura. Eis que rodei no ar e acertei uma voadora de dois pés na defesa de Yuna, destroçando sua parte frontal.
Caí de costas no solo e olhei para a assassina, esperando seu próximo movimento.
— Por que vocês invadiram a Associação? — perguntou ela, novamente.
Eu me ergui vagarosamente e olhei bem nos olhos de Yuna.
— Quer realmente saber?
— Diga logo, seu pamonha.
Suspirei e coloquei as mãos no bolso.
— Silêncio Faz Bem nos contou que alguém da Associação estava capturando almas de shinigamis para criar algo. Então, nós fomos saber se era realmente verdade e, se fosse, o que estava sendo produzido. Nós achamos que possa ser um monstro.
Yuna balançou a cabeça negativamente.
— Imbecis — ela bateu a mão em um lado do rosto —, a Associação não cria monstros, nós acabamos com eles — disse ela, como se aquilo bastasse.
Meu mestre saiu do estacionamento com nosso conversível.
— Então, devo acreditar no que diz, e esquecer? — falei.
— É o melhor que você faz — respondeu ela. — Não tente bancar o herói.
O carro estacionou às minhas costas.
— Não se mataram na porrada? — indagou meu mestre.
— Não é questão de heroísmo — argumentei, ignorando meu mestre. — E se a Associação estiver tramando algo e você não saiba? E se você só estiver sendo usada por eles?
— Impossível, pamonha — debochou a assassina.
— Então, vamos fazer uma apostar — propus. — Você vem com a gente, e se provarmos que a Associação está envolvida em alguma coisa do tipo, você nos paga um milhão de ienes.
— Boa, Daigo! — comentou meu mestre.
— Mas se não estiver envolvida, você e seu mestre irão fechar a ACAP e não poderão mais caçar shinigamis e outros para sobreviver.
— O quê? — clamou meu mestre. — Quer dizer que vamos ter de arrumar empregos, tipo aquelas pessoas que trabalham com telefones e falam como robôs?
— Eu aceito — falei.
— Como assim? — bradou meu mestre.
Eu virei as costas para Yuna e saltei para dentro do veículo. Ela entrou logo em seguida.
— Não tentem nenhuma gracinha — advertiu a assassina, e meu mestre acelerou, seguindo com nossa nova jornada.
+++
No caminho, nós paramos em Koriyama para abastecer. Pegamos a rota que passava por essa cidade, porque achamos melhor não passarmos perto de Saitama, no caso a rota mais curta — segundo o GPS, claro.
— Enche o tanque — pediu meu mestre. Ele se voltou para nós. — Vou tirar água do joelho, querem alguma coisa?
— Algo doce — falei.
— Hmph — Yuna desviou o olhar e meu mestre entendeu o recado.
Ele saiu do carro e caminhou até a loja de conveniências.
— Então, Yuna — eu me voltei para ela —, por que você me persegue tanto?
— Já conversamos sobre isso — respondeu ela. — Tirando essa última vez, eu sempre encontro com você por ironia do destino.
— Sei, sei.
— Ai, dá licença.
— E seus poderes? Você é algum tipo de mutante?
— Tem que parar de ler esses quadrinhos.
— Sério, diz aí.
A assassina suspirou.
— Sou uma hanyou — começou ela. — Filha de um youkai com um humano. Minha mãe é Yuki-onna.
— A Mulher da Neve. Caraca, isso explica muita coisa, mas... por que você é a Assassina de Youkais?
— Nem todo youkai é benigno, alguns são rebeldes e gostam de cometer crimes.
— Hmm, entendi — eu me voltei para a estrada. — Meu lance é shinigami mesmo.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela perguntou:
— E por que caça shinigamis?
— Faço isso por diversão... e lucro.
— Entendo. E você nunca pensou em arrumar um emprego decente?
Eu a ignorei e olhei para a loja de conveniências.
Putz, o que ele tá fazendo aqui?
Meu mestre saiu caminhando da loja, enquanto trocava palavras com Mena, o assassino ruivo da Associação. Ele estava segurando uma sacola de compras e meu mestre tinha um pacote de batatas fritas em uma mão e uma barra de chocolate na outra.
Eles começaram a se aproximar do carro e Yuna os avistou.
— Merda — disse ela, baixinho.
— Por quê?
— Era para mim estar na Associação hoje, mas se ele não estiver indo para lá, estou salva. Espero que esteja em missão.
Meu mestre jogou a barra de chocolate em meu colo.
— Olha — Mena chegou dizendo —, você não é o novato e... Yuna! Não era pra estar na Associação?
— Estou em missão com o novo integrante — ela sorriu sem graça e me deu um pescotapa.
— Isso, isso — confirmei.
— É... Bem — começou meu mestre —, parece que já se conhecem. Mena está indo para Niigata também, ofereci carona a ele.
Yuna suspirou, disfarçadamente.
— E eu sou muito grato — disse o assassino, saltando por cima da assassina e sentando ao lado dela.
Meu mestre entrou no veículo.
— Então — comecei —, Mena, o que vai fazer em Niigata?
— Ah, nada demais, vou só visitar um velho amigo.
+++
Mena foi o primeiro a descer. Ele deixou o veículo mais ou menos a um quilometro de nosso destino.
Meu mestre estacionou próximo a Ponte Bandai e nós fomos a pé até a metade dela.
— Mestre — falei —, por que estamos na ponte? Não vai me dizer que tem um dragão embaixo dela?
— O dragão mora sob a ponte, Daigo.
— Quer dizer que vamos ter que pular na água?
— Posso congelá-la se quiser — sugeriu Yuna.
— Não será preciso — disse meu mestre. — Ele virá até nós.
— Mas tem pessoas na ponte — argumentei. — Qual o tamanho desse dragão?
Nós paramos de caminhar e meu mestre se voltou para a água. Ele assoviou pausadamente, como se fosse uma espécie de código.
De repente, o tempo desacelerou ao nosso redor, quase congelou, pra ser sincero.
— Aí está — disse meu mestre, antes de um dragão negro emergir em voo da água, girar em pleno ar e pousar no meio da ponte.
O réptil parecia mais um pássaro de aço escuro, com a cabeça pontuda de lagarto.
— Hideki — pronunciou o dragão.
— Lord, velho amigo — meu mestre acenou.
— Yuna e Daigo — o lagartão soltou vapor pelas narinas.
— E aí, gente boa — eu acenei.
Yuna somente assentiu.
— Está aqui pelo híbrido, amigo — o dragão se voltou a meu mestre. — O filho de um humano com um shinigami.
— Híbrido, filho de um deus da morte? — a assassina estava incrédula.
— Sim, Lord — respondeu meu mestre. — Quem é? E sua localização?
— Entendo — o dragão olhou para o alto e fechou os olhos. Ele inspirou fundo, antes de dizer: — Seu nome é Yamato Zane...
Yuna estremeceu e quase engasgou com a própria saliva.
—... e atualmente, ele se encontra na Associação de Assassinos Anônimos.
Eu estremeci.
— Conhece? — me voltei para Yuna.
— Foi meu último parceiro de treino — disse ela, de cabeça baixa.
Estremeci novamente.
— Como é que é? Tá falando daquele esquisito do vidro?
— Seu dragão — ela me ignorou e deu dois passos em direção ao Lord —, como posso ter certeza que suas palavras são verdadeiras?
— A crença no que digo é escolha sua — respondeu o dragão, sereno.
A assassina se voltou para mim e meu mestre.
— Por que estão atrás de um híbrido?
— Se a Associação está querendo recriar o shinigami supremo — começou meu mestre —, será necessário um híbrido para tal ato.
— De onde tirou essa informação? — disse ela.
— Ele está correto — confirmou Lord.
Yuna olhou para mim.
— Você não me contou esse detalhe.
— A aposta era você saber que a Associação está tramando algo...
— E agora vocês vão atrás de Yamato? E vão matá-lo? Não têm a menor chance. Ele é um dos assassinos mais quietos, nem eu sei qual a função dele no alto escalão.
— Olha, não temos tempo pra meditar — disse meu mestre. — E não vamos matá-lo. Só vamos impedir que o Assassino de Shinigamis colete sua alma e dê vida a uma catástrofe que pode acabar com a vida na Terra.
— Ainda têm tempo — disse Lord. — A Associação não sabe que ele é o híbrido.
— Não? — indaguei. — Então ele entrou na Associação por vontade própria?
— Ele foi indicado — a voz familiar correu até nossos ouvidos. — E indicado por mim.
Mena, o Assassino de Dragões, surgiu no início da ponte, com as mãos nos bolsos e a voracidade no olhar.
— Você? — disse meu mestre.
— O que veio fazer aqui? — perguntou Yuna.
— Vim visitar um amigo — respondeu ele. — Só não sabia que tínhamos amigos em comum.
Que droga, esse cara aqui.
O assassino estendeu a mão contra Lord e meu mestre se postou entre eles, ficando frente a frente com Mena.
— Abra alas, Hideki — disse assassino —, meu assunto não é com você.
— Errado — rebateu meu mestre. — Se pensa em atacar meu amigo, vai ter que passar por cima de mim — ele apontou para si mesmo com o polegar —, o lendário caçador, Hideki Takashi!
— Idiota — falou Yuna —, ele é um assassino de alto nível, incomparável em...
— Fecha a matraca aí, garota — meu mestre bateu no peito. — Deixe isso com os adultos.
— Amigo — o dragão disse, em tom de advertência.
Meu mestre olhou por cima do ombro para Lord.
— Não se preocupe — falou ele, e voltou a encarar Mena.
— Chega de conversa! — vociferou o assassino, disparando uma rajada de fogo de sua mão.
Meu mestre moveu os braços à frente do torso, girando-os no sentido anti-horário, e criando um escudo de chi centímetros ante a ele. A rajada de chamas foi bloqueada pela defesa de energia até o assassino a cessar.
Mena investiu ziguezagueando e meu mestre pincelou o ar com um braço, transformando o escudo de chi em uma parede de facas que logo voaram como mísseis na direção do assassino.
— Droga — grunhiu Mena, quando as lâminas de chi se cravaram em seu corpo.
O assassino caiu de joelhos e então se transformou em poeira.
— Maldição — meu mestre se virou rapidamente e viu Mena, caindo de um possível salto contra o dragão negro, antes de ser engolido a seco pelo réptil alado.
— Boa, Lord! — falei.
— Afaste-se! — clamou Yuna, me pegando pelo braço e me arrastando enquanto tomava distância do dragão.
Meu mestre deu um salto longo para trás, aterrissou e olhou para seu amigo lagarto, que parecia estar com problemas estomacais, quando...
— Lord! — a fera alada explodiu em uma redoma de fogo, gerando uma ventania fervente como o sopro de um vulcão.
— Maldito seja! — meu mestre cerrou os punhos. — Assassino! — vociferou, e um arco de espadas de chi surgiu verticalmente envolta de seu corpo.
O tempo, que parecia congelado, voltou ao normal, e os carros se descontrolaram em meio a ponte, alguns até caíram na água.
As chamas descontroladas se dissiparam e Mena se apresentou novamente.
— Você estava certo — falou ele —, tive de passar por cima de você.
— Desgraçado! — as lâminas de chi dispararam na direção do assassino, mas ele desviou das espadas voadoras, somente movendo o torso.
Mena investiu contra meu mestre, porém, no meio do caminho, as lâminas de chi desenharam um arco no ar e voaram de volta na direção do assassino, desta vez pairando ao redor de Mena, o cercando, com suas pontas de energia mirando os pontos vitais de seu corpo.
— Você não é humano — disse meu mestre. — Então não há problema se eu acabar com sua vida em combate. Principalmente, depois de tirar a vida de um velho amigo.
Boa, mestre, agora ele não terá escapatória, mas...
— Impressionante — disse Mena, e as espadas brilharam fortemente em laranja, antes de explodirem juntas em uma esfera de energia que esburacou a ponte sob o assassino.
— Morreu? — perguntei.
A luz da explosão cessou e meu mestre se virou veloz, conjurando uma shuriken de chi e a lançando em linha reta no vácuo. E para minha surpresa, a arma de energia quicou no nada, perdendo velocidade e espalhando algumas gotas de sangue, antes de se desfazer no solo.
Eis que Mena surgiu, meio passo ao lado de onde a shuriken quicara, com um corte fundo na lateral do braço direito. Seu rosto, mesmo assim, se mostrava tranquilo.
— Parece que leu minha ilusão — disse o assassino. — Confesso que fazia um tempo que não sangrava — ele levou os cotovelos para trás, como se imitasse uma galinha, e seus punhos cerraram, firmes como aço, sendo envolvidos por chamas escarlates.
— Que coisa — murmurou Yuna.
Ela correu e tomou a frente de meu mestre.
— Saia, Yuna — disse Mena.
— Não pretende usar isso aqui — disse a assassina —, vai matar milhares de pessoas!
As palavras de Yuna pareceram entrar por um ouvido e sair pelo outro, mas, segundos depois, o fogo nos punhos do assassino se dissiparam, e Mena voltou a sua postura serena, com as mãos nos bolsos.
— Tem razão — falou ele. — Talvez eu tenha me descontrolado — ele virou as costas para nós e nos olhou por cima do ombro. — Escuta, por que vocês queriam saber sobre Yamato? Vocês têm alguma coisa contra híbridos?
— Só queríamos saber quem era — respondi.
— Sei, entendo — Mena começou a se afastar de nós.
— Onde vai? — clamou meu mestre. — Não terminamos ainda.
— Nunca começamos, Hideki — respondeu o assassino, antes de sumir do nada.
— Ih, saiu de fininho — comentei.
Yuna se voltou para mim e meu mestre.
— Me agradeçam depois — falou ela. — Mena estava prestes a acabar com um pedaço do país.
— Nem vem tentando disfarçar — pronunciei.
— Disfarçar? — a assassina franziu o cenho.
— Isso aí. Você perdeu a aposta. Ouviu do próprio Mena que existe um híbrido na Associação.
— Isso não significa que a Associação esteja tramando algo sobre essa coisa de shinigami supremo.
— Qual é — cruzei os braços —, aceite logo a derrota. Um milhão de ienes é fácil de se conseguir quando se tem poderes de gelo.
— Seu...
— Parem os dois! — cortou meu mestre. — O foco agora é descobrirmos onde esse Yamato mora, já que não é inteligente invadirmos a AAA novamente. Pode fazer isso para nós, Yuna?
— Tô fora — respondeu ela.
— Vai abandonar, é? — falei.
A assassina olhou rapidamente de um lado para o outro e disfarçadamente farejou o ar, desconfiada. Eu e meu mestre não entendemos, mas nos preparamos para mais um embate.
— Se a Associação estiver envolvida em algo desse tipo — disse Yuna —, vou descobrir sozinha. Não preciso da ajuda de vocês. Acho melhor irem para casa e não se envolverem mais.
— Tá falando sério? — questionei, mas ela simplesmente virou as costas e saiu andando. — Ei, volta aqui! E nossa aposta! — ela continuou me ignorando. — Yuna, já pra cá! Sua...
— Deixe ela ir, Daigo — disse meu mestre. — Acho que o melhor mesmo é irmos para...
O celular de meu mestre vibrou e acendeu em seu bolso. Ele o apanhou e o atendeu.
— Alô... Sim... Quanto...? Vinte mil ienes? Feito! — ele desligou. — Daigo! Você tem uma missão, o décimo no ranking shinigami.
— Nacional?
— Não. É do mundial.
— O quê! E quer que eu vá sozinho?
— Eu tenho que nos preparar para o pior, Daigo. Tenho uma ideia... algo, que nos pode ser útil.
Eu suspirei.
— Ok, mestre. E onde está o shinigami?
+++
— Beleza — eu sentei à beira do edifício, desembrulhei um x-bacon e o mordi, olhando o movimento na rua alguns metros abaixo de meus pés.
— Ô moleque! — alguém gritou mais às minhas costas.
Olhei por cima do ombro, ainda mastigando.
— Sai já daí! — era o segurança que me seguira até o terraço.
Engoli.
— Espera aí, tio — falei. — O shinigami já está vindo.
— Como é? Shinigami?
Eu voltei o olhar para a rua sob a noite de Yokohama e depois olhei mais para esquerda. Alguns quarteirões dali, um homem de pele muito branca, com óculos de aviador e uma capa de super-herói, voava distraído, se aproximando de mim.
— Ele chegou — joguei o x-bacon por cima do ombro, acertando o rosto do segurança, e me joguei do prédio. Claro, foi tudo calculado. Eu me agarrei às costas do shinigami, como um coala, e nós começamos a balançar em pleno ar.
— Quem é você? — perguntou ele.
— Daigo Kazuo... merda!
O deus da morte começou a descer de cabeça contra o chão, e quando chegamos a poucos metros do solo, eu me soltei do monstro, o empurrando e girando, antes de pousar tranquilo no asfalto.
O shinigami colidiu com tudo no chão, erguendo uma cortina de poeira e afugentando os pedestres. Até que a criatura dissipou o monte de pó com um simples movimento de braço.
— O que quer? — questionou ele.
— Parece que você tirou a vida de algum chegado de alguém com muito dinheiro — expliquei. — Agora preciso acabar com você.
— Entendi — o deus da morte tirou os óculos de aviador e os colocou sobre os cabelos brancos —, é um daqueles assassinos da Associação...
Estremeci.
— Não, não, eu...
— Vocês da AAA estão matando shinigamis inocentes aos montes! — uma espada de aço surgiu na mão do shinigami. — Mesmo eu, o Mendigo Voador, não sendo um dos bonzinhos, vou vingar minha raça, banhando esta lâmina com seu sangue e...
Que coisa, pra que esse discurso todo.
—... os shinigamis ancestrais irão olhar por mim quando...
— Já entendi! — eu conjurei uma espada. — Vamos logo ao que interessa.
Nós investimos um contra o outro e nossas lâminas colidiram, cujo impacto estourou os vidros dos carros mais próximos.
Eu empurrei a espada do Mendigo Voador para o lado e saltei em um chute parafuso, golpeando seu rosto e o deixando atônito. Toquei meus pés no chão, girei e chutei o plexo solar do deus da morte, que deslizou para trás com a força de meu golpe.
Não tão forte também. Lembre-se: acabe com eles de uma vez.
Com um brado, avancei contra o shinigami e perfurei com minha espada de chi, mas passei por dentro da criatura, golpeando o vácuo.
Intangibilidade. Esse vai ser complicado.
Veloz, me virei e logo saltei para trás, me safando de um golpe na diagonal do Mendigo Voador e tomando uma distância segura.
— Daigo Kazuo — o deus da morte apontou sua lâmina para mim novamente —, se prepare para o seu crepúsculo, assassino.
Ele investiu voraz e golpeou de baixo para cima com a lâmina, mas dei um passo para o lado, me desviando. Porém, o shinigami girou e me acertou com o calcanhar na costela, quando cogitei atacá-lo com minha arma de chi.
Senti o baque e cambaleei.
Vi a lâmina de aço passar a centímetros da minha garganta e logo começou a voltar, mas aparei seu golpe com minha espada e pisei com tudo no joelho do monstro, o deixando genuflexo. Então, desferi um chute reto contra o nariz da criatura, só que ela usou sua intangibilidade novamente, e meu pé golpeou somente o nada.
Continuei golpeando de várias maneiras, mas não adiantava.
O Mendigo Voador se ergueu, ainda intangível, e levou sua mão devagar ao meu pescoço, quando...
— C-Como? — rosnou de dor o deus da morte, olhando seu antebraço cair fora de seu corpo.
O monstro deu alguns passos para trás, ababelado.
— Novato — a voz veio de mais à direita na rua —, está empenhando mesmo em tomar meu lugar.
Eisuke, o Assassino de Shinigamis, baixou a espada de chi, arranhando o asfalto.
— O que faz aqui? — indaguei.
—Como assim? — ele sorriu. — Compartilhamos do mesmo ofício — ele olhou para o shinigami. — Mendigo Voador, agora tem como inimigo, três assassinos, não acha melhor se render?
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