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007

A Morte foi a primeira garota a nascer em todos os universos, reza a lenda. Ela nasceu um pouco depois de seu irmão, que era o próprio Nascimento, antes mesmo do Caos tomar forma e se espalhar formando milhares de universos. Os irmãos nunca se deram bem. O Nascimento, que sempre era inovador, constantemente alegrava o seu pai. Já a Morte, não tinha puxado a criatividade paterna e foi consumida pela inveja. Com o tempo, os irmãos acabaram tendo uma briga feia, onde a Morte jurou dar fim a tudo que seu irmão criasse, e assim, ela se afastou da família. Para suprir o espaço e distância entre seus dois filhos, o Lord Acima de Todos, acabou tento uma nova filha, chamada Vida.

Essa história me foi contada pelo meu mestre, uma vez. E, independente de qual religião você siga; independente de qual seja a sua fé. Independentemente de qualquer coisa, essa lenda é bem provável que seja real. Eu creio que seja, pelo menos. Como estudante de artes místicas e caçador de shinigamis, não posso discordar que essa lenda seja bem verdade.

De qualquer forma, independentemente do que você acredita, uma história continua sendo só uma história. Assim como uma verdade que você não crê, continua sendo uma verdade. Assim como uma mentira que você crê, continua sendo uma mentira. Porém, independentemente de qualquer coisa, existe uma certeza absoluta nessa lenda: a Morte existe para todos.

Independente da sua força, inteligência, beleza, capital ou fé, a Morte vai até você se você não ir até ela. Dito isso, eu poderia alegar que a Morte vencerá a todos, sem exceção. Como se fosse um grande Ragnarok. A única diferença será que, aqueles que a enfrentarem, viverão por mais tempo e, nas circunstâncias daquela noite, reencarnariam para tentar novamente e inutilmente, vencê-la.

Talvez fosse como o jogo Snake, aquele da cobra que come maçãs. Quando você chega no fim e come todas as maçãs, a cobra acaba se mordendo e morrendo. Alguns jogadores morrem com poucas maçãs, outros com muitas. Mas o final é o mesmo para cada jogador.

Seguindo essa linha de raciocínio, com quantas maçãs 3k1 morreu?

Talvez o Neutro pudesse me responder. Pena que não tive a oportunidade de conversar com ele.

Quando chegámos ao Estádio de Yokohama, Ulim e eu fomos para a arquibancada lateral e nos acomodamos na fileira mais próxima da pista de atletismo e do gramado. Ao centro do campo, como se esperasse o soar do apito, a entidade se mantinha ereta, olhando para o gol à esquerda.

— Ele notou nossa presença, mas está concentrado em quem irá enfrentá-lo — comentou o canino ao meu lado.

Momentos depois dessas palavras, vindos direto do vestiário e entrando com o pé direito no gramado morto, Yuna Nate e Jason Drake caminharam até a entrada da grande área do gol onde o Neutro mantinha o olhar.

A entidade sorriu.

— Eu sabia que seria minha primeira fiel, garota — a entidade abriu os braços. — Estou muito feliz. Se soubesse que já estavam à caminho, não teria tirado a vida de seu companheiro.

— Tsc.

— E trouxe um aliado novo — o Neutro baixou os braços. — Alguém que já passou pelas minhas mãos, não é, Caçador de Górgonas? E onde está aquela deusa "Lolita"?

— Ela não liga muito para quem vive ou morre em Nova Iorque... ou em qualquer outro lugar... enfim — respondeu Jason. — Só para constar, eu não gosto que me chamem desse jeito que me chamou. Parece nome de franquia e isso me incomoda.

— Ah... entendo.

A entidade não entendia. Ninguém entendia aquele cara.

— Então — Yuna deu um passo à frente —, vamos direto ao ponto...

— Espere — interrompeu a entidade. — Quero presentear vocês.

— Presentear?

— Isso mesmo. Como são os primeiros a virem me enfrentar, vou dar uma vantagem a vocês.

— E qual seria?

— Eu não usarei meus poderes como Morte em nossa batalha. Tudo o que usarei será o que me foi fornecido pela raça de vocês: as habilidades desse corpo, a energia dessa joia e isso — o Neutro puxou o vácuo sobre o ombro e de uma pequena fenda de vidro, a lâmina Totsuka saiu do nada para a mão dele. — Assim, poderei me divertir por mais tempo com a resistência ao inevitável de vocês.

— Hmph, seu pamonha, você acabou de se sabotar.

Com isso, Yuna se moveu, dando início a Partida da Morte. Ela foi mais veloz que uma flecha bem disparada. Percorreu mais de trinta metros em um instante, e apareceu com os joelhos levemente dobrados, diante da entidade que, no corpo de Yamato, não teve tempo de reagir ao ataque súbito da assassina. Ela já estava com o punho esquerdo cerrado, pronto para atravessar o abdômen do Neutro na base da ignorância. Porém, uma redoma de energia esverdeada cresceu da entidade, protegendo seu receptáculo do violento golpe e lançando Yuna longe no campo com um empurrão.

A Assassina de Youkais deslizou na grama para retomar o equilíbrio.

— Vai ficar parado aí? — Disse Yuna ao Jason, ainda tranquilo na entrada da grande área.

— Não se apressa a arte, picolé. Estou estudando ele, continue o atacando.

— Ah, seu... tsc, tanto faz.

O campo de força verde em volta do Neutro se desfez e ele tomou a posição de combate com a espada Totsuka, mantendo os olhos fixos em Yuna, a chamando para o combate. E a assassina não era de recusar um desafio. Uma katana de gelo se fez em sua mão e ela...

— Vá com Agni. — Jason Drake puxou sua espada de prata das costas e a lançou para Yuna que a apanhou com a mão livre. — Só vê se não a transforma em sorvete.

— Hmph — ela sorriu. Um sorriso discreto enquanto baixava a lâmina prateada. A katana de gelo se desfez na outra mão. — É meio mal balanceada, mas até que eu gostei.

— Vão ficar de papinho furado? — A entidade virou sua lâmina na horizontal.

Em resposta, Yuna segurou com as duas mãos o punho da espada de prata, Agni, e tomou sua posição de combate. A assassina e o Neutro mantinham o olhar um no outro, concentrados, como dois cowboys no faroeste, atentos para ver quem iria sacar seu revolver e puxar o gatilho mais rápido.

— Ei, Ulim — chamei. — Você está sentindo?

— Como não sentiria — respondeu o cão. — Ela está exalando animação.

Então, a entidade avançou. Yuna também. O primeiro choque entre as lâminas gerou uma ventania poderosa, como um chicoteio descontrolado de ar do próprio deus do vento, que chegou a arrancar tufos de grama morta do campo. Em seguida, a assassina e o Neutro começaram uma sequência de golpes de espada, com movimentos que ultrapassavam a velocidade do som e que eram impossíveis de se ver para um olho comum. Os únicos detalhes que conseguiriam ser capitados pela visão humana, seriam as faíscas que, de vez em quando, surgiam em volta das sucessivas colisões dos metais.

Para dar conta de toda aquela agilidade de movimentos, eu ativei o Olho Que Tudo Vê no meu olho cego, e foquei na confusão de vultos cinzas.

— É... incrível — comentei.

Yuna não só estava bloqueando os golpes da lâmina Totsuka com maestria, como também se esquivava milimetricamente das rápidas tentativas de perfurá-la que a entidade realizava. Dentre seus movimentos sombriamente velozes que formavam sua defesa, a Assassina de Youkais encaixava um golpe com Agni, que geralmente era um contragolpe, tão ágil quanto se protegia da lâmina da espada lendária. O Neutro, por sua vez, mais atacava do que se defendia. Além de ser tão veloz quanto Yuna, a entidade convertia toda tentativa de ataque da assassina, em um feroz contra-ataque. Ele aparava a lâmina prateada com sua lâmina lendária e logo retomava sua ofensiva desenfreada, forçando Yuna a reerguer sua defesa cirúrgica.

— Ela não esboça nenhuma reação de cansaço ou nervosismo, mesmo estando em um combate curto de espada em altíssima velocidade — falei.

— Yuna não depende só dos poderes de gelo — observou Ulim.

— Eu sei, mas... mesmo não sendo humana... ela age como uma deusa da guerra. Realmente, há quatro meses, quando nos enfrentamos... ela estava se segurando.

— Você tem o meu respeito por isso. Enfrentou Yuna e saiu vivo para contar a história, mesmo que não tenha sido por habilidade. Bem, pelo menos conseguiu achar o ponto fraco dela. Yuna foi treinada para derrotar Yuki-onna, que é imune aos poderes de gelo dela. É normal que ela esteja nesse nível, ainda mais pelo treinamento da Elite da AAA.

E o confronto de espadas parecia ter aumentado ainda mais sua velocidade. Mesmo a rapidez do pensamento parecia estar sendo deixada para trás naquele momento. Com meu feitiço ocular, pude ver os olhos do Neutro brilhando em verde por um instante, como uma lâmpada neon. Após isso, seus movimentos receberam um aumento de agilidade, colocando Yuna em uma situação onde ela só poderia se proteger, e tentar um contra-ataque seria um suicídio. Não demorou muito para os primeiros cortes aparecem no corpo da assassina. E então... ela foi desarmada.

Agni saltou girando das mãos de Yuna para trás, com um golpe forte que a entidade desferiu. A assassina cambaleou, deixando a guarda baixa por meio segundo. Esse meio tempo foi o suficiente para que o Neutro atravessasse o abdômen de Yuna com lâmina Totsuka.

— Y-Yuna...

O icor carmesim pingava da ponta da espada. O mesmo líquido começou a escorrer pelo canto de seus lábios. A assassina tossiu sangue, deixando a região de sua boca como a de um vampiro após uma boa refeição.

A entidade retirou a lâmina do corpo dela e com um chute a lançou novamente longe no gramado. Mas, dessa vez, ela se estatelou no solo, praticamente sem forças.

— N-Não pode ser...

— Droga — rosnou Ulim —, qualquer corte da lâmina Totsuka é extremamente perigoso por conta da quantidade de magia em seu metal... ela está morrendo...

— Morrendo...? — Meus olhos não escapavam da imagem de Yuna deitada e derrotada no gramado. Em minha mente, um filme começou a passar. Uma sequência de lembranças minhas com a Assassina de Youkais, antes e depois dela perder um olho e a memória. Não fosse minha decisão naquele dia, talvez Yuna nunca estivesse naquela situação. Até porque, eu não a quis ver morta. Não queria matá-la. Mas eu também não queria morrer. Então, o que eu deveria ter feito? E, o que eu fiz, não foi a melhor decisão? Não foi o melhor final possível para nós dois?

Afinal, o que mais me intrigou enquanto pensava todas aquelas coisas, vendo Yuna estatelada no chão, foram meus olhos liberando lagrimas quentes, junto de um sentimento de ansiedade e batidas aceleradas de um coração de alguém com a consciência culpada.

— Não pode ser!

— Garoto, espere...

Ulim não pôde me deter. Eu saltei da arquibancada para o campo. Meus pés tocaram a pista de atletismo, e por ela mesma comecei a correr, contornando metade do gramado até chegar às costas do gol. Invadi a grande área e continuei com os passos firmes e rápidos, até deslizar de joelho na grama, parando ao lado do corpo da assassina.

— Ei, Yuna! Levanta!

Ela respirava com dificuldade, como se estivesse em uma crise de bronquite. Mesmo assim, seu olho não perdera o brilho de animação que ganhava ao entrar em uma batalha. Era um sinal de que aquele ferimento misticamente aprimorado, não seria o suficiente para a levar direto para as mãos da Morte.

— Seu pamonha...

— Tsc, merda.

Eu cessei o Olho Que Tudo Vê e, no meu pulso bom, evoquei uma Aureola de Midas. Com a mão encantada por chi, toquei de leve o ferimento de Yuna, para extrair a magia que estava infectando seu corpo.

— Saia... é perigoso...

— Fica na sua, ok? Eu... eu...

— Hmm...? Por que está... chorando?

— Fica... na sua! — Eu intensifiquei a quantidade de chi na Aureola de Midas, mas o processo estava muito lento. A quantidade de magia naquele corte era absurda.

— Hmph... aproveitando esse momento... para tocar minha pele... seu taradinho...

— Tanto faz...! Eu nunca quis... não quero que você morra!

Yuna cerrou os dentes. Ela estava contendo a dor ácida da magia se desfazendo dentro de seu corpo. O chi estava fazendo efeito. Contudo, meu corpo estava ficando cansado. Eu ainda precisava manter energia para invocar o Demagogias, caso fosse necessário.

Mais para o meio de campo, a batalha ainda continuava entre Jason e o Neutro. Na verdade, ainda não havia começado, se dependesse do Caçador de Górgonas. Sua espada de prata estava entre ele e a entidade, cravada no gramado morto. E ele ainda se mantinha imóvel no mesmo local.

— E aí, o que é que vai ser? — Perguntou o Neutro ao caçador.

— Me diz você — rebateu ele. — Não preciso me esforçar, eu acabei de estudar seu estilo de luta. Esse corpo que está usando, tem algumas habilidades, ok. Mas, no quesito técnica de combate com espada, acho que ainda precisa se aprimorar.

A entidade sorriu.

— Nesse caso — ela estendeu a mão na direção de Jason —, vou tirar sua vida com os poderes do meu receptáculo. — Lâminas de vidro surgiram ao redor do Neutro, apontando para o caçador, que, ao finalmente perceber que a luta já havia começado, disparou em velocidade na direção de sua espada.

A entidade disparou suas lâminas de óxido metálico, que voaram na direção de Jason como mísseis detectores de calor. O caçador, por sua vez, alcançou sua espada antes dos projéteis de vidro chegarem até seu corpo. E ele não perdeu tempo, como estava fazendo até então. Retirou Agni do solo e, com movimentos cirurgicamente velozes, Jason desviou todas as lâminas de vidro com sua espada de prata.

— Tá na hora de descoisar as coisas que estão coisadas — disse ele, com o tom de frase de efeito.

O Neutro se preparou. O caçador, em um movimento súbito, surgiu diante da entidade. Agni e Totsuka voltaram a se encontrar, iniciando outra confusão de metal em alta velocidade. Entretanto, esse confronto de espada era diferente do último. Depois dos primeiros dois segundos, onde as lâminas já haviam colidido várias vezes, Jason deu um pequeno passo para trás abrindo sua guarda. Uma jogada que só seria feita por um completo idiota... ou por um gênio.

Àquela atitude, a entidade fez o movimento mais correto com o caçador de peito desprotegido. Ela desferiu um golpe reto com sua katana, que atravessaria o coração de Jason Drake. Mas, ela não contava com sua astúcia. Com a mesma perna que o caçador deu aquele pequeno passo, ele apoiou o corpo e o virou no momento certo, fazendo o movimento parecido com o de uma porta sendo aberta. Logo quando a segunda perna travou para apoiar o corpo, o braço que empunhava firmemente Agni, subiu a todo vapor, batendo a lâmina de prata com força na lâmina Totsuka.

O Neutro... foi lindamente desarmado.

— Se chama "Poder da Experiência" — disse o caçador, enquanto a lendária espada rodopiava no ar.

A entidade saltou para trás, desviando da lâmina prateada, que Jason fez descer em um golpe acorrentado ao seu anterior. O Neutro moveu os olhos na direção da katana, cravada no gramado, e quando pensou em correr até ela... metade de suas pernas foram congeladas no solo.

— Como? — A entidade olhou para Yuna. — O quê?

Eu olhei para Yuna. Seu corpo, que minha mão ainda mantinha o ferimento pressionado, ficou extremamente gelado em um instante. Quando seu rosto cansado se tornou o centro do meu campo de visão, ela sorriu. Um sorriso travesso.

No momento seguinte, o corpo dela se esfarelou em neve.

— Era...

— Sua, vadia!

Olhei de volta para o Neutro que vociferou aquelas duas palavras, desmontando sua postura de divindade que mantinha até aquele ponto da Partida da Morte. Ele olhava por cima do ombro, para baixo, para algo que segurava seus tornozelos além do gelo. Tecnicamente um tapete de pele deitado no gramado, revestido com uma regata branca de basquete.

— Se chama "Poder da Estratégia" — disse Yuna Nate, erguendo o olhar para a entidade.

— Tsc... maldita. — O Neutro parecia tentar quebrar o gelo que prendia suas pernas na base da ignorância.

Mas por que aquela dificuldade? E como Yuna foi parar ali? Como assim, como assim?

— O que foi, seu pamonha? Não consegue se libertar?

— Parece que não — disse Jason, se aproximando. — Alguém dentro do corpo de alguém, não sabe economizar energia, não é?

— Agora que mencionou, acho que é verdade, seu pamonha. — Eles estavam sendo sarcásticos? Juntos?

— Hmph — mais uma vez, a entidade sorriu. E o sorriso cresceu, iniciando com alguns soluços, uma gargalhava extasiada. Uma risada prazerosa.

— Do que é que está rindo? — Indagou o caçador.

— Bem... — ele cessou o riso. — Vocês pregaram uma peça na Morte... como fizeram?

— Como em qualquer bom time — começou Jason —, foi tudo decidido no vestiário. O plano foi da picolé, tenho que admitir. Na hora me pareceu ridiculamente simples e sem sentido, até que ela me contou que poderia ficar invisível.

— Invisível...?

— É, invisível, que não dá para se ver. Quando ela me passou esse detalhe, botei fé no estratagema dela.

— Parece que a Morte não leu A Arte da Guerra — comentou Yuna. — Conheça a si mesmo, e ao seu inimigo, que as chances de vitória serão de cem por cento.

— E o que ela sabe sobre você, que talvez nem você saiba, é que a joia que você usa como fonte de energia é poderosa, mas não é infinita. Ela é auto reciclável, se recarrega sozinha, mas também pode descarregar rapidamente dependendo do uso. E, pelo visto, você já percebeu. Por isso disse que só usaria as habilidades de seu receptáculo, não é? Você já estava com a energia para acabar. Yuna também notou seu blefe e seu clone investiu com tudo, o forçando a usar o restante da energia da joia. Para uma caolha, ela é bem observadora.

— Um... clone? Quer dizer que...

— Isso. Eu criei um clone de neve no vestiário e foi ele quem entrou em campo com o ladrão de tortas. Logo atrás, eu adentrei invisível e fiquei sentada na pista de atletismo, esperando o momento certo. Como assassina, ocultar minha presença de todos foi fácil.

— Mas esse clone, não entendo — falou a entidade. — Como um clone de neve, mesmo que místico, pôde ser tão resistente?

— Isso foi graças a mim.

A voz, para mim, era extremamente familiar. Literalmente familiar. Vindo diretamente do vestiário, meu mestre apareceu na pista de atletismo.

— Quem é você? — Rosnou o Neutro.

— Hideki Takashi, uma lenda no campo como caçador de mitos! O mesmo que reforçou o clone da garota com uma quantidade absurda de chi! E... graças a isso, tive de ficar de fora do combate... enfim. Neutro, você já era!

— De onde você saiu, mestre?!

— Daigo! Sua namorada me ligou hoje de tarde. Explicou tudo e disse para eu encontrá-la aqui em Yokohama. Eu não poderia recusar um encontro com ela.

— Acho que não era bem o tipo de encontro que você pensou, mas, impressionante, mestre!

— Agora que já sabe de tudo — o caçador girou sua espada na mão —, tem alguma última pergunta?

— Tenho sim. É sobre a invisibilidade. Como ela ficou invisível?

— Meu uniforme — respondeu Yuna. — Esse uniforme aqui é um dos vários que eu tinha, até você acabar com a AAA. São roupas tecnológicas e místicas. Cada uniforme tem uma habilidade especial. Coloquei esse porque, quando estávamos investigando quem sequestrou Yamato, uma das nossas maiores pistas é que ele era de alguma forma muito rápido e silencioso. Julguei que, se precisasse entrar em combate contra alguém assim, seria fácil vencer sua velocidade com um letal ataque surpresa. Por isso a invisibilidade.

O Neutro estava sem palavras. Eu também.

Sem energia da joia Magatama restando, a entidade só poderia contar com os poderes de Yamato. Porém, com as pernas presas ao solo e com a assassina segurando seus tornozelos congelados para mante o gelo firme, não havia a opção de escapar por uma fenda para a Dimensão Espelhada. Criar armas de vidro também não adiantariam de muita coisa, considerando que Jason já estava bem próximo. Com isso...

— Eu perdi — o Neutro relaxou os ombros. — Eu perdi a Partida da Morte. Mas, o que vão fazer? Vão matar o amigo de vocês para que eu volte a me espalhar pelo cosmo? É só uma questão de tempo para... Urgh!

Sem gentileza nenhuma, o Caçador de Górgonas atravessou o corpo da entidade com a lâmina de Agni. Não foi usada muita força e também não foi em um ponto vital. A espada de prata feriu o Neutro um pouco abaixo das costelas, mais para a lateral do abdômen.

— Bem, fim da linha para você — disse Jason. — A prata olimpiana vai tirá-lo desse corpo que não te pertence.

— Finalmente — suspirou Yuna, soltando os tornozelos congelados da entidade. Ela se levantou e bateu a poeira da roupa. — Meus seios já estavam começando a doer. — Ela disse aquilo os apertando delicadamente. Foi difícil ignorar aquilo.

O caçador retirou sua espada do Neutro e com um movimento rápido para o lado, ele limpou o sangue que ficou em sua lâmina. A entidade, por sua vez, fechou os olhos e baixou a cabeça, parecendo um robô quando é desligado à força.

— Picolé, agora é com...

DOOM! Foi súbito e poderoso. O que me pareceu ser uma onda gravitacional jogou Yuna e Jason longe com sua força. Meu mestre e eu que não estávamos tão próximos, somente sentimos uma grande dor no estomago que por pouco não nos fez vomitar.

Mais para o meio de campo, o Neutro começou a berrar alto. Ele começou a berrar extremamente alto, levando as mãos a cabeça.

— O que está havendo?! — Perguntei ao meu mestre.

— Use o Olho! — Respondeu ele.

Sem pensar duas vezes, botei para funcionar o meu olho cego, ativando o Olho Que Tudo Vê. Comecei a analisar o corpo da entidade de cima para baixo, e logo notei que o fluxo de energia daquele corpo estava completamente descontrolado. Então... o que era aquilo? Fora do corpo do Neutro, flutuando sem consciência na forma astral...

— Yamato...? Então... a Morte ainda está no corpo dele?

Meu mestre chegou perto de mim.

— O que viu?

— Yamato... foi exorcizado do próprio corpo...

— Espera... está dizendo que... — meu mestre arregalou os olhos. O desespero correu por cada traço de seu rosto. — Pessoal, precisamos sair...!

Meu mestre foi interrompido bruscamente. Gotas de sangue fresco pingaram em meu rosto. A entidade surgiu diante de meu mestre em uma velocidade que nem mesmo o Olho Que Tudo Vê pôde captar. Seu braço atravessara o corpo de meu mestre, na altura do plexo solar. Por cima de seu braço esticado, o Neutro voltou seus olhos verdes para minha pessoa. Aquele olhar era para ser o último da minha vida, mas...

— Não vai levar o meu aluno hoje — meu mestre usou suas forças finais para segurar o braço da entidade que estava passando por dentro de seu corpo, e impedi-lo de colocar um ponto final em minha história.

No momento seguinte, um vulto branco passou, me apanhou nos braços e me levou até a extremidade da pista de atletismo. Fui colocado no chão. Acima de mim, o rosto de Yuna estava voltado na direção do Neutro e meu mestre.

— Droga, ele matou o pedófilo — murmurou ela.

— Insensível — falei.

— Hã, você ouviu? — Ela voltou o olhar para mim. — Foi mal, acabei pensando alto...

— Você não se importa nem um pouco?!

Fui ignorado. A assassina só virou a face, voltando sua atenção para a entidade, que retirou o braço de dentro de meu mestre.

— Minha reação à morte é um pouco diferente do que as de vocês — disse Yuna, enquanto o corpo abatido de meu mestre desabava no gramado com sua vida se esvaindo. — Não é como se eu não me importasse, seu pamonha. — Ela deu um passo adiante, ficando de frente com o Neutro. — Eu só não sei expressar meus sentimentos, até porque, só sou metade humana. — Ela me olhou por cima do ombro. — Sendo assim... eu te amo... Daigo.

Ela me chamou pelo nome. Meu coração reagiu de maneira esquisita às palavras de Yuna Nate. Talvez eu...

— Você... se lembra?

— Hmph, seu pamonha — a Assassina de Youkais deixou de me olhar, para encarar a entidade de pé no gramado, que também mantinha seus olhos, agora sem brilho, nela. — Você deveria saber que um sentimento como esse, não se esquece nem com a morte.

Pois é, era isso. Yuna nunca deixou de me amar. Ela sempre fugiu disso. Ela nunca quis isso. Mas ela nunca deixou de me amar. Então, ela tentou conviver com isso e esconder isso. Poupou minha vida uma vez, ou melhor, várias vezes. Fui a única ordem de assassinato que ela não completou... Hmph, eu sou mesmo um pamonha.

A resposta é simples. A solução é lógica. A equação Yuna Nate estava resolvida em minha cabeça.

— Isso é embaraçoso. — A assassina caminhou, cruzando a pista de atletismo e adentrando novamente o gramado. Ela retirou a bandeirinha do escanteio com um puxão sem esforço e rasgou a bandeira do mastro com outro puxão. Uma camada de gelo revestiu o objeto e se alongou, tornando-se um bidente no estado sólido da água.

O Neutro berrou novamente, gerando uma forte ventania que empurrou os cabelos negros de Yuna para trás, os fazendo parecer a capa de uma super-heroína.

Em resposta ao grito enlouquecido da entidade, a assassina tomou sua posição de lanceira.

— Eu nunca fui chegada em espadas, para o seu azar — disse Yuna.

Como se submerso em insanidade, o Neutro sorriu. Um sorriso largo e tenebroso. Um sorriso que representava a morte, deixando a saliva escorrer pelo canto de sua boca.

Vendo aquele sorriso, eu instintivamente retirei o pergaminho que estava em meu bolso.

Logo depois, a entidade se moveu. Yuna também.

Seja você um rei ou um catador de lixo, no final, ambos serão acolhidos pelos braços da Morte.

Eu não sou capaz de descrever o combate entre Yuna Nate e o Neutro. Não só porque a Assassina de Youkais e a entidade cósmica travaram um confronto em um nível absurdo. O maior motivo, é o resultado do duelo.

Yuna estava morta. Todos estavam mortos. E a culpa era toda minha.

Todo gramado morto estava gélido. Ao centro do campo, uma grande árvore de gelo se erguia alta, com seus galhos nus ultrapassando a altura do Estádio de Yokohama. As raízes grossas de gelo serpenteavam pelo resto do campo, algumas quebrando até partes da pista de atletismo. No centro dessa árvore, podia-se ver a imagem congelada, pelo tronco cristalino, da assassina com seu bidente atravessado no tórax do Neutro. Já a entidade, tinha seus dois braços dentro do abdômen dela.

Sem os poderes completos, Yuna não conseguiria criar um monumento de gelo daquela magnitude, resistência e beleza. Isso era um fato. O que ela planejou foi cravar os dentes de sua arma gélida no Neutro e absorver a energia da joia Magatama, que corria descontrolada por seu corpo, para criar o sarcófago de gelo que selou a morte encarnada. Isso acabou custando a vida dela.

Porém, em vão.

Mesmo o Neutro estando selado no gelo, a entidade Morte, ainda tinha um receptáculo, que com a morte do corpo de Yamato, agora era a própria árvore. E, por essa árvore, a Morte descontrolada, continuou a matar um por um dos seres vivos no planeta Terra.

Jason Drake... Ulim...

E como minha hora não havia chegado...

— Então — começou Senhor Demagogias, um pouco depois de eu tê-lo invocado do pergaminho —, que momento deseja alterar de seu passado? Qual o seu maior arrependimento?

— Meu maior arrependimento... Demagogias...

— Isso.

— Isso é tão fácil de responder agora... — eu desviei meu olhar sem brilho para a árvore de gelo. —Senhor Demagogias, há quatro meses... eu desejo... eu desejo não cegar Yuna Nate.

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