006
O Caçador de Górgonas era uma lenda no mundo todo. Um conto de fadas sobre um jovem texano que fez um pacto com o Diabo para trazer de volta sua irmã à vida. Para isso, ele teria que capturar a cabeça das três górgonas para o anjo caído e entregá-las a ele. Se considerarmos as duas górgonas, Esteno e Euríale, não era um trabalho tão árduo, principalmente para Jason Drake, que não só teve um aprimoramento místico, como também passou por um treinamento especial na Área 51 para se tornar um super soldado. Contudo, seu maior desafio nesse acordo, era a cabeça da Medusa, que se encontrava no escudo Aegis com a deusa da guerra, Atena.
Essas informações foram todas passadas por 3k1 para nós.
Ele disse que Jason, não só conseguiu as cabeças, como também venceu a deusa grega da guerra, em Auschwitz. Ele conseguiu isso em apenas quatro meses, quando seu prazo era de um ano.
A irmã dele, Jenneth Drake, atualmente passa bem.
O que aconteceu quando ele entregou as cabeças ao Diabo, o agente não pôde nos dizer.
A questão é que o Caçador de Górgonas lutou ao meu lado contra a entidade cósmica no corpo de Yamato. Ok, não necessariamente do meu lado, mas ele estava no meu time durante a Partida da Morte.
— Será um combate até o fim de suas vidas — disse o Neutro, jogando ao chão a cabeça de Tetsu Tetsuya. — O genocídio é contra meus princípios. Contra as leis da morte. Só os que morrem são os que procuram a morte. Eu vim até vocês, pois o seu cheiro — ele olhou diretamente para Yuna —, estava impregnado nesse jovem ariano ao solo. Pelo menos do que restou dele.
— Espera — comecei —, você está nos propondo um desafio, é isso? Quer que a humanidade vá até você para morrer? Isso não faz sentido. Claramente é só nós o evitarmos.
— Não há como evitar o inevitável, criatura mortal. Com minha presença concentrada nesse corpo, com o tempo, tudo ao meu redor falecerá, simplesmente por minha presença. Se eu só ficar parado em qualquer ponto deste planeta, sem nenhum tipo de distração, dez dias serão o suficiente para que toda vida na Terra acabe. Entretanto, para aqueles que vierem até mim e me enfrentarem, estarão louvando o verdadeiro shinigami e terão suas almas libertas para reencarnar e me enfrentarem novamente. Com um corpo físico, logo serei a entidade mais louvada do universo.
Enfrentar a Morte e morrer, é pela Morte, derrotar a morte. Era mais ou menos isso que o Neutro parecia estar querendo dizer. Outra coisa que ele também tentou dizer, é que ele é um menino carente e vaidoso, que busca por atenção e adoração. Nós precisávamos enfrentá-lo nessa Partida da Morte, e assim ganharíamos tempo para o resto do planeta. Se deixássemos ele só existindo, morreríamos da mesma maneira, mas sem lutar.
— E eu sei que vocês virão — disse a entidade. — Vocês anseiam pelo conflito. A maioria de vocês não conseguirá morrer sem resistir. E o que eu quero, é que aceitem a morte de braços abertos. A morte é, muitas vezes, a salvação.
Com essa injeçãozinha de ânimo, uma taboa de vidro surgiu às costas do Neutro, que com dois passos para trás, foi absorvido pelo óxido metálico, adentrando à Dimensão Espelhada. O vidro desapareceu logo em seguida.
— Isso significa que ele tem controle total sobre os poderes de Yamato — observou Yuna, que brincava com peças de xadrez em uma das salas de reuniões da Mythpool.
No final do dia, após a entidade desaparecer no vidro, nós ficamos sem saber o que fazer. Ficamos sem chão. Ficamos sem um norte. Nossas mentes estavam perdidas como baratas tontas. Até que 3k1 disse que seria melhor irmos para o QG da Mythpool, para que pudéssemos organizar as ideias.
E lá estávamos nós.
Em uma das salas de reuniões, com sofás confortáveis e uma cafeteria particular.
— Esse lugar é um luxo — murmurei.
— Você está prestando atenção, seu pamonha?
— Ah, sim... estou sim.
— Bem — começou Ulim —, se ele consegue usar a Dimensão Espelhada, ele pode viajar de um ponto ao outro quase tão rápido quanto Tetsu.
— Mas não seria o suficiente para vencê-lo — falei. — Tetsu poderia ter fugido para o outro lado do globo ao perceber a hostilidade do Neutro.
— E pelo o que eu entendi, a entidade não o mataria simplesmente por matar — comentou 3k1. — Se fosse assim, teria nos matado também. O mais provável, conhecendo a personalidade do Assassino Intocável, é que ele tentou enfrentá-lo. Provavelmente pela ideia do Neutro de atrair as pessoas para morte, como forma de devoção, e não cometer o genocídio clichê que Tetsu tanto curte.
— Realmente, não duvido que a ideia de Tetsu fosse usar a entidade como uma arma — ponderou o cão.
— Meu mestre explicou que o Neutro pode matar qualquer um, simplesmente por querer. Tetsu podia ser intocável, mas não era mais rápido que a velocidade do pensamento. Talvez a entidade só desejou que ele perdesse a cabeça, e assim foi feito.
Todos aceitaram minha teoria, assentindo um para o outro.
— Mas este não é o foco aqui. — Mais uma vez, Ulim solta a voz. — Vamos seguir com nosso plano. Agente, entre em contato com esse tal de Jason Drake...
Toc! Toc! Toc! Toc!
Alguém bateu na porta da sala, quase que desesperadamente, interrompendo nossa reunião. Mesmo sem a ordem de 3k1 para entrar, um agente aleatório abriu a porta e adentrou a sala com uma TV portátil em sua mão.
— Vejam!
Ele colocou a pequena tela de led sobre a mesa entre os sofás e nós olhamos atentamente. A imagem mostrava o Neutro, ao centro de um tapete verde de grama. Não totalmente verde, para ser sincero. Uns três passos ao redor da entidade, a grama estava cinza, seca e sem vida. O Neutro olhou para câmera que o focava.
— Quantos estão vendo? — Perguntou 3k1.
— Era uma transmissão nacional, mas logo que vimos, demos um jeito de manter somente na região de Kanto.
— Ótimo. E a internet?
— Nossos hackers bloquearam as transmissões online.
— Perfeito.
Os olhos esmeralda da entidade ficaram fixos encarando a lente da câmera... então, seus olhos brilharam intensamente com uma luz esverdeada. No instante seguinte, todos os aparelhos eletrônicos de comunicação na sala começaram a vibrar. Eu retirei meu celular do bolso e em sua tela estava a mesma transmissão que víamos na TV portátil. Tanto 3k1 quanto o outro agente, olharam seus celulares e se depararam com a mesma imagem. O agente aleatório recebeu uma mensagem...
— "Ele alterou a transmissão..." — leu ele. — "Conectou ao mundo todo".
...
Os lábios do Neutro se moveram suavemente. Nossa atenção se voltou ao máximo para a tela led à mesa.
— Seres mortais — o discurso começando —, eu sou a Morte. Não sou um shinigami, ou Anúbis. Eu sou a própria Morte. O conceito do fim da vida, agora em carne e osso. Todos nesse planeta devem estar me assistindo nesse momento. Isso me deixa feliz. A raça humana é uma das que mais me idolatra desde que foram criados. Por conta disso, estou muito feliz em ter sido evocado nesse planeta. O que venho dizer aqui é simples. Todos os seres vivos do planeta morrerão em dez dias, somente se eu permanecer parado aqui. Oh, mas não se preocupem, vim separar os corajosos dos covardes. Aqueles que estiverem dispostos a lutarem por suas vidas, por favor, fiquem à vontade. Eu estarei aqui para que possam me idolatrar, mortais. Prometo que serão recompensados com inúmeras reencarnações. Entretanto, aqueles que se acovardarem, morrerão do mesmo jeito, mas nunca mais poderão voltar à vida. Serão apagados da existência. Essa é a Partida da Morte. Minha localização é o Estádio de Yokohama, no Japão. Suponho que é de fácil localização para todos. E, não importa o quão demorem, os que quiserem lutar pela vida, serão poupados até que cheguem até mim. Boa sorte.
Com isso, a transmissão se encerrou.
— Merda! Merda! — Rugiu 3k1. Ele se voltou ao outro agente. — Avise todos, precisamos manter o estádio dentro de um perímetro controlado, ninguém deve chegar perto daquele local! Bloqueie os aeroportos de todo mundo. Mande mensagem para todos os presidentes e todos os serviços secretos. Quero ver o mundo em quarentena! E envie um jato particular para o Texas!
— C-Certo — o agente saiu apressado da sala.
— Não quero ninguém do "alto escalão" se envolvendo nesse caso — resmungou 3k1, mexendo em seu celular.
— Eu achei que a Mythpool era o alto escalão — comentei.
— No ponto que a situação está, é possível que as Forças Aladas de Zeus apareçam, só que isso vai gerar um outro problema que envolve a Data Limite.
Até hoje, não entendi nada do que ele falou. Yuna também deu de ombros. Ulim sentou e inclinou a cabeça. Nós não entendemos nada, mas todos nós fingimos compreender para não gerar mais explicações confusas.
— Droga — ele continuava resmungando. — Preciso fazer muitas ligações. Podem dormir aqui, fiquem à vontade. Estejam descansados. Assim que Jason chegar, vamos colocar a Operação Morte Matada em pratica.
3k1 saiu da sala.
— Ele... ele deu um nome para essa situação? — A pergunta de Yuna encerrou nossa reunião.
+++
Não demorou muito para irmos dormir. Coisa de vinte minutos. Mais uns cinco minutos para pegarmos os futtons no andar de cima. Nos acomodamos naquela sala mesmo. Até porque, tinha uma cafeteria particular. Ulim, que não precisava de futton, acabou adormecendo antes do que Yuna e eu. Na verdade, nós dois enrolamos um pouco mais para cairmos no sono, de fato.
— Ei, seu pamonha. — Havia uma distância boa entre meu futton e o dela, mas estávamos lado a lado.
— O que é, Yuna?
— Eu... estou com frio...
— Hmph, péssima tentativa. Eu sei que você não sente frio.
— Ah... verdade...
— ...
— Então... seu pamonha, eu estou com vontade.
— Ué, tem café de monte ali...
— Não de café...!
— Então do que?
— Bem, é de outra coisa... sabe...
— Nops. Não faço ideia.
A assassina bufou.
— Deve ser difícil, não é?
— Difícil o que, Yuna?
— Se tudo der errado, o Neutro vai acabar com todos nós, e você irá morrer virgem...
— Quê!? Eu não sou virgem, tá legal?
— Sei...
— E o que é que você está dizendo. Aposto que é tão ocupada com essa coisa de Assassina de Youkais que nem ao menos deve ter beijado alguém na vida.
— Se eu beijei, eu não me lembro... — ela disse aquilo um pouco perdida em seus pensamentos. Mas ela tinha razão. Ela perdera as memórias, não poderia se lembrar desse tipo de banalidade. — Só que... sinto que não sou virgem.
— Espera, como assim?
— Não posso dizer, já que não me lembro. Mas... sei lá, é esquisito.
— Ah... ok...
— Tsc, seu pamonha, por que fica entrando em assuntos delicados, hein?
— Foi você quem...
— Boa noite — ela virou as costas para mim e se aquietou, ignorando totalmente minha existência.
...
Eu parecia ser o único ainda acordado.
Estava sendo solitário e esquisito não conseguir dormir ali, naquela sala luxuosa de luzes apagadas. Ao mesmo tempo, era quentinho e gostoso ficar naquele futton confortável, aproveitando o silêncio raro para quem convive com Yuna. Porém, eu gostaria realmente de dormir. Será que tomei muito café? Que seja, não me arrependo, era de graça.
Eis que meu estomago roncou.
Meu mal era fome.
Me certificando de não causar ruídos que pudessem despertar meus companheiros, eu me levantei de minha tentativa de sono profundo e me esgueirei pela porta. Sorrateiro, segui pelo corredor à esquerda, porque os canhotos são minoria, e também porque era o caminho para a cozinha daquele andar.
Uma cozinha para visitantes.
Não era uma cozinha espaçosa. Parecia muito com uma cozinha americana, na verdade. Havia um balcão mais ao centro e uma grande geladeira de duas portas. E, assim que vi a geladeira, não prestei atenção em mais nada. Como um profissional do assalto à geladeira, digo que uma das regras mais importante é: quando encontrar a geladeira, nada mais importa. Foi um tiro reto de meu próprio corpo até as portas gêmeas que guardavam um exército de alimentos alheio.
Eu as abri, e meus olhos brilharam, como se refletissem a luz branca daquele guarda-roupa alimentício.
— Você deve estar com fome...
— Realmente, estou... espera, como?
Eu me virei ao perceber que a voz que chegou aos meus ouvidos não era da geladeira, ou de minha consciência. Cambaleei para trás ao ver o dono daquela voz recostado na parede da porta de entrada. E de primeira, o que me chamou a atenção foram seus olhos dourados, que se destacavam ainda mais graças ao seu cabelo negro desgrenhado. Trajava uma camiseta de manga longa listrada horizontalmente em preto e grená; calça negra, rasgada no joelho e tênis da mesma cor. Às costas, uma espada de um prateado límpido, estava presa na diagonal, deixando seu punho à mostra sobre o ombro direito de seu dono.
— Quem é você? — Era a pergunta óbvia a se fazer ali.
— Eu sou... — o jovem deu um passo à frente. — Eu sou seu pai.
— Hã?
— Brincadeira — ele sorriu, e ergueu as mãos cobertas por luvas negras. — Nem tem como eu ser seu pai. Eu sou frígido.
— Quê? Vem cá, como é que você sai falando essas coisas particulares assim, no primeiro encontro?
— Bem — ele baixou os braços —, acho que isso é o tipo de coisa que se diz no primeiro encontro. Sabe, é uma informação importante. Imagine se estamos em uma situação em que precisamos ter uma relação sexual e...
— Ok, já entendi! Não vamos transformar isso em um Yaoi, está bem?
— Não é como se eu quisesse, até porque sou frígido, mas tudo bem.
— Ótimo. E então, não me disse quem é você ainda...
— Ah, verdade. Foi mal, japa. É que eu não podia perder a piada de Star Wars.
— Ok, tranquilo.
— ...
— É... você não ia me dizer quem é?
— Oh, claro. Ainda bem que eu lembrei, hein. Meu nome é Jason Drake.
— Espera, espera, espera — falei. — Você é Jason Drake, O Caçador de Górgonas...
— Não, cara — ele bufou e revirou os olhos. — Esse nome não. Parece nome de franquia. Eu não sei de onde tiraram esse nome tosco. O mundo não poderia me chamar só de Jason Drake? Ou, sei lá, Batman?
— É que já existe um Batman e... é do seu país, cara... não tem como você não saber.
— Sério? Ele não é alemão?
— Você... está tirando uma com minha cara, não é?
— É, desde que essa cena começou. — Ele caminhou até mim, na verdade, até a geladeira aberta, e apanhou uma garrafa d'água. Foi até o balcão e se sentou em um dos bancos. — É claro que eu sei quem é o Batman. Uma vez eu e ele lutamos juntos contra o Duende Verde.
— Mas o Batman é um personagem de quadrinhos...
— E eu de um livro. Tudo certo. — Ele deu aquela quebrada de leve na quarta parede, mas deixei passar. — Como eu ia dizendo. Eu e o Batman estávamos enfrentando o Duende Verde na Cidade Z, quando...
— Espera, você está viajado. O Duende Verde não é vilão do Batman e nem seu. E outra, os direitos autorais nunca deixariam essa união acontecer. Não até a Disney comprar o resto do mundo. — Quando me toquei, já era tarde. Estava quebrando a quarta parede também.
— Então — Jason bebeu um pouco da água na garrafa —, era uma fã fic. Daquelas escritas por um garoto nerd de quatorze anos, viciado em animes, cuja orientação sexual ainda é confusa, e que passa maior parte do tempo utilizando a internet na guia anônima.
— Você ainda será processado... é sério.
— É, deve haver alguma verdade nisso.
— Você será preso. Vai dividir cela com o Deadpool e a galera do South Park.
— Esse é o elenco de um filme que eu pagaria para ver, mesmo estando nele. E mesmo não gostando de crossovers, claro. Só estou aqui porque nosso querido autor me prometeu escrever uma história inédita, considerando a reação do povão.
— Chamando-os de povão vai ser um pouco difícil... mas, espera, fechando totalmente a quarta parede agora. Como você chegou aqui? 3k1 enviou um jato para te buscar, mas só se passaram poucas horas.
— É, ele disse algo sobre um jato no telefone. Só que eu estava sem nada para fazer e acabei pedindo um favor para uma amiga. Ela me teletransportou direto para cá. Só preciso lembrar de pagar um Starbucks para ela, depois que tudo isso se resolver.
— E porque sua amiga não veio ajudar também?
— Bem, ela não é do tipo que se importa com o que está havendo. E também, ela está um pouco acima dos conceitos de vida e morte.
— Ah... beleza...
— E já que entramos no assunto da missão, garoto que não sei o nome...
— É Daigo Kazuo.
— Isso. Daigo. Lembrei. Já que entramos no assunto da missão, vocês, ou melhor, nós, já temos um plano B?
— Bem, agora que falou... acabei de me lembrar de uma ideia que tive mais cedo.
— E qual seria?
+++
Na manhã seguinte houve um pequeno alvoroço por conta do repentino aparecimento do Caçador de Górgonas. Depois de nossa conversa na madrugada, enquanto assaltávamos a geladeira, eu voltei para a sala onde estávamos hospedados e convidei Jason para vir comigo (o que foi bem Yaoi da minha parte), mas ele preferiu ficar mais um pouco na cozinha.
Conclusão: quando os primeiros agentes aleatórios despertaram e chegaram no QG, eles encontraram um jovem estatelado no chão, atrás do balcão, com a mão estendida na direção da geladeira, como se tentasse alcançar desesperadamente o gélido armário alimentício.
Falando em gélido, Yuna teve uma péssima primeira impressão de Jason Drake. Não por ter chego sorrateiro na madrugada e desmaiado de sono no meio da cozinha para hóspedes. O motivo foi...
— Tinha uma torta de limão nessa droga de geladeira! — A assassina bateu as portas do eletrodoméstico e se virou, transbordando ira em seu olhar. — Eu só vou perguntar uma vez...
Todos no cômodo se voltaram para a garota só de lingerie, em uma mistura de admiração e medo. Estávamos a fitando como um bando de pescadores faria ao se deparar com uma sereia em fúria. Era lindamente amedrontador.
Eis que ela indagou.
— Quem de vocês comeu minha torta de limão?
Ninguém se manifestou.
A isso, Yuna mirou seu olhar irado diretamente em mim.
— Não foi eu — falei, erguendo meus braços em sinal de inocência.
— Então... não tenho outra escolha, além de matar todos nesta...
— Se você está perguntando sobre a torta de limão escrito Yuna no rótulo — começou Jason, que estava sendo examinado por detectores de radiação-gama por dois agentes —, é provável que tenha sido eu. O que é engraçado, porque não sabia que era sua. Deveria ter colocado seu nome nela.
— Quê?! Mas eu coloquei, seu pamonha. Meu nome é Yuna. Yuna Nate.
— Yuna...? Ih, foi mal. Achei que "Yuna" era "limão" em japonês. Foi tudo um mal-entendido, ô tapa-olho.
Diferente de todos naquele local, o Caçador de Górgonas não demonstrava medo ou admiração enquanto encarava a Assassina de Youkais. Ele a observava seu voraz olho azul-escuro, sobre toda aquela pele exposta, com a maior indiferença possível. Parece que o efeito que Yuna causava no sexo oposto, não era muito eficaz diante de alguém frígido.
— Escuta aqui, eu não gostei de você, caçadorzinho. Que fique bem claro, assim que terminarmos essa missão, quero resolver minhas diferenças com você, seu pamonha. — Após sua declaração, ela saiu batendo o pé, de volta para o quarto.
— Hmph — Jason nos olhou —, quando ela tiver um livro físico, aí a gente conversa.
Ainda bem que ela não ouviu aquilo.
Enfim.
Encerrado o alvoroço, eu coloquei em prática uma de minhas ideias, que acabei lembrando em minha conversa com Jason. Fui até 3k1 e expliquei para ele antes, para ver se meu pensamento se encaixaria no estratagema geral.
— Bem, é uma boa. Nos economizaria tempo — disse ele. — Mas vai precisar conversar com ele primeiro.
— Pode me levar até ele?
Com um gesto positivo, o agente me guiou até o subsolo da Mythpool. O andar de número -1 parecia um corredor da morte. Tecnicamente, talvez fosse um corredor da morte, só que para pessoas peculiares. Era praticamente todo de adamantina, um metal mitológico greco-romano. As portas das celas de segurança máxima, eram grossas como as dos cofres de banco. Ele me levou até a segunda porta à direita, e terceira no sentido do elevador para o fundo.
— Prefere entrar sozinho? — Perguntou 3k1.
— Bem, ele está amordaçado? Porque eu já estou bem zoado.
— Não se preocupe, a jaula, além de resistente, tem um encanto mágico que neutraliza as capacidades dele como shinigami.
— Sendo assim, vou sozinho.
O agente abriu a porta para mim.
Eu entrei.
A porta se fechou.
Um pouco mais adiante, Senhor Demagogias estava sentado no chão de adamantina, abraçando as próprias pernas e com a testa recostada nos antebraços. Uma pose típica de quem tem problemas de autoestima.
— E aí — acenei.
Ele ergueu um pouquinho a cabeça, só o suficiente para que seus olhos verdes conseguissem me encontrar.
— Aquela garota... está com você?
— Fala da Yuna...? Não, não, não. Pode ficar tranquilo Demagogias, ela não está aqui.
— Ela é forte.
— Realmente, as pernas dela... espera, não era disso que estava falando, não é?
Sem responder minha pergunta idiota, o shinigami se colocou de pé.
— O que você quer?
— Ok, direto ao ponto, então — murmurei, antes de sacar um pergaminho do bolso. — Bem, Senhor Demagogias, acho que chegou o momento de deixarmos nossas diferenças de lado. Eu sei que você foi forçado a procurar pela joia Magatama, e tudo mais. Você é inocente. E eu não bato em quem é inocente. Sou um cara legal.
— O que você quer?
— Caramba, segura as pontas aí. Pô, parece patrão de novela mexicana.
— ...
— Beleza, vou direto ao ponto. Está vendo isso? — Eu o mostrei o pergaminho enrolado na palma de minha mão. — Isto aqui é um pergaminho. Não sei se já ouviu falar. Ele, basicamente, é um rolo de papel, pelo menos ao meu ver. Só que, este pergaminho, pode ser a chave de sua liberdade.
— Continue.
— Eu soube que você tem uma habilidade especial que só pode ser usada para alguém, e não para si mesmo. Sei que pode modificar um ato no passado, apagando assim totalmente uma linha do tempo, por meio de um desejo de alguém.
— De fato, eu posso. Mas o desejo dessa pessoa precisa ser puro. Melhor dizendo, precisa ser um grande arrependimento da sua vida.
— Um... arrependimento... entendo...
— Mas como isso me trará a liberdade? Qual é a relação?
— A relação é que eu posso precisar que você realize um desejo para mim. Se isso acontecer, a linha do tempo será modificada e você terá uma segunda chance.
— Hmm, sim...
— E, se você colaborar com minha ideia, mesmo se eu não precisar de realizar o desejo, estará livre deste lugar de qualquer maneira.
— E o que preciso fazer?
Em resposta, eu abri o pergaminho, o esticando com as duas mãos.
— Nada demais. Só vou precisar te selar nesse pergaminho.
+++
Durante o resto do dia, até o final da tarde, Yuna, Ulim, Jason e eu, tiramos o tempo para relaxarmos. A Mythpool já havia criado um perímetro controlado no Estádio de Yokohama e seus agentes mais bem pagos estavam o monitorando constantemente. 3k1 passou no hospital onde se encontrava Suny e ela ficou toda emocionada ao ver que ele estava bem. Acho que rolava algo entre os dois, além do companheirismo de trabalho.
Já a assassina e o caçador, ficaram trocando ofensas quase toda vez que se encontravam no QG.
— Ei, por que você usa esse gorro, hein? Por acaso você é calva?
— Calva? Eu?
— Isso. Calva. Não Calvin Klein.
— Eu não disse Calvin Klein, seu pamonha.
— Claro que disse, você acabou de dizer.
— Sim, mas eu não disse antes.
— Claro que disse antes, já que não disse agora.
— Aí, você tá gozando com minha cara?
— Olha, não é com a sua cara que se faz isso.
— Hã, sério? Que piadinha de pedófilo, seu taradinho.
— Isso não faz sentido, não posso ser tarado se sou frígido. A única tarada aqui é você, que ficou desfilando seminua para os agentes verem e torrar o saco da Playboy com e-mails pedindo uma edição sua.
— Eu não fiquei desfilando para chamar a atenção, seu pamonha! Eu não sinto frio, então costumo não usar muita roupa, só isso!
— Então por que não tira esse gorro da cabeça?!
Yuna rangeu os dentes. A temperatura começou a cair drasticamente na sede da Mythpool. Estaria minha querida Assassina de Youkais, prestes a mudar seu título para "Assassina de Caçadores de Górgonas"?
— Os dois — a voz que chamou era de 3k1. — Vamos fazer uma reunião final e partir para o campo de batalha.
+++
— Primeiramente, boa noite — começou o agente. — Todos que estão aqui irão participar da Operação Morte Matada, de alguma maneira.
Na sala, a mesma com a cafeteria particular, estávamos reunidos eu, Yuna, Jason, Ulim e 3k1.
— O Neutro continua parado no meio do campo do Estádio de Yokohama — continuou o agente. — O gramado, antes verde, agora está sem cor por todo o campo. Os outros materiais que compõem a estrutura do estádio, também estão estragando. Alguns agentes próximos do perímetro controlado, acabaram morrendo de súbito em suas patrulhas. Vamos ser realistas, a entidade pode acabar conosco em um piscar de olhos. Nossas chances são de uma em um milhão, mas isso é o suficiente. Yuna, Jason, eu já vi os dois em ação e já trabalhei com os dois também. Sei o que são capazes de fazer, principalmente você Yuna.
— Você formulou alguma estratégia? — Questionou Ulim.
— Sim. Porém, não é nada muito além do básico. Já conversei com Daigo, um pouco, e ele está ciente que não poderá lutar nessas condições. Entretanto, ele está encarregado de nosso recurso de emergência... já fez os preparativos... até...
3k1 parou por um instante.
— Você está bem? — Perguntou Jason.
— S-Sim, me desculpem... não sei o que deu em mim.
Aquilo foi esquisito, mas relevamos.
— Voltando à estratégia. Yuna e Jason, vão lutar juntos contra o Neutro. O objetivo é golpeá-lo com a espada Agni de Jason. Lembrando que o golpe não pode ser letal ao corpo de Yamato, para que ele possa sobreviver após a prata olimpiana fazer seu efeito. Depois disso, Yuna vai selar o corpo de Yamato o congelando, assim a entidade, sem receptáculo, vai voltar a se espalhar e Yamato poderá ser descongelado, mesmo com a joia ainda no corpo. Ulim irá proteger Daigo e também se certificará de que o Demagogias não nos traia, caso for necessário... evocá-lo...
A mão do agente foi de súbito ao seu peito.
— Ei, 3k1?
Antes mesmo que nós pudéssemos nos dar conta do que estava acontecendo com o agente, seus olhos, simplesmente, perderam o brilho. Ele caiu de joelhos, antes de desabar de cara no chão.
O agente 3k1, estava morto.
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