003
Entre os mais capacitados agentes da Mythpool, havia uma mulher digna de empunhar a lendária lâmina Totsuka. Até mesmo eu já tinha ouvido rumores sobre a espadachim. Diziam que ela era rápida como o vento. Feroz como o fogo. Silenciosa como uma floresta. Inabalável como uma montanha. Era o que diziam as más línguas.
Seu nome é Suny McSun. E, de fato, sou uma das provas vivas de que as más línguas estavam corretas.
Era noite do dia vinte e cinco quando a encontrei pela primeira vez. Não foi um encontro amistoso. Foi em um armazém abandonado, digno de um filme policial. Yuna estava comigo. Ela não desgrudou de mim o dia todo.
Depois que ela deu fim ao shinigami, o sinal na região de Dotonbori voltou ao normal. Então, liguei para meu mestre, para avisá-lo da conclusão da missão. O telefone chamou e chamou, mas no final caiu na caixa postal. Tentei novamente e novamente caiu na caixa postal. Era esquisito. Meu mestre sempre atendia minhas chamadas. Tínhamos celulares de flip, só para negócios, justamente para isso.
— E eles sempre se desfazem em pó? — Indagou Yuna, sobre a morte de um shinigami.
— Sim, a maioria — respondi. — No caso, os mais altos no ranking, que já tem um corpo humano estabelecido, provavelmente se regenerariam do seu golpe crítico, mesmo que não rápido suficiente para impedir que você os finalizasse.
— Hmph, isso porque sou impressionante. — Ela entrelaçou os dedos sobre a nuca ao dizer isso.
Naquele momento nós estávamos voltando para a AAA. Yuna precisava de outro banho, mas não era só por isso que estávamos voltando lá. Eu estava envolvido no jogo de Yuna para encontrar Yamato primeiro do que Mena e Ulim. A Associação de Assassinos Anônimos era nossa base de operações. Um local para salvar o progresso, como nos jogos da série GTA.
Ao chegarmos lá, a assassina foi banhar seu corpo nu, e dessa vez eu esperei na sala de jantar. No silêncio daquela mansão vazia, podia-se ouvir o som do chuveiro no segundo andar. Então, quando escutei o chuveiro fechar, me preparei para qualquer tipo de provocação que Yuna pudesse fazer.
E os passos ecoavam na escada, enquanto eu pedia aos deuses que ela estivesse vestida.
— Partiu, seu pamonha... o que foi? Por que está com os braços à frente do rosto? Achou que ficou ruim?
Ruim? Baixei meus braços para olhá-la. Ela estava vestida. Praticamente do mesmo jeito de quando nos encontramos no campo de golfe. O que mudava eram as cores. A regata era branca, onde se lia Osaka, 23, em vermelho. A luva na mão esquerda também era branca, assim como os tênis.
— Você não disse que essas roupas eram armas? — Questionei.
— É, cada uma tem uma capacidade especial... mas, não mude de assunto. Por que estava tapando a visão?
— E-Eu...? Bem, eu achei que iria aparecer nua, de novo...
— Hã? — Sua face passou a expressar aversão, e ela deu um passo para trás, como quem toma distância de uma doença contagiosa. — Quem você pensa que eu sou, hein?
— Não, é que achei...
— Não me toque!
— Ué, mas... eu mal me movi direito...
— Afaste-se!
— Não, sério, eu estou parado. Sério.
— Hmm... — ela levou as mãos a cintura. — Escuta aqui, seu taradinho, eu só apareci nua para você porque queria me divertir um pouco, só isso. Claro, sua mente pervertida entendeu tudo errado.
— Taradinho... pervertido... — eu cerrei meus dentes. — E isso é lá brincadeira que se faça, hein?! Você não entende que sou um garoto de dezessete anos?! E você já se olhou no espelho, afinal?!
— Ah, entendi. Finalmente vai assumir que sou a mais belas das mulheres.
— Isso não irá sair da minha boca! Jamais!
— Hmph, você não vale o c* doce que faz, sabia?
— Ora, sua...
Meu celular tocou. Justo no momento em que ia descer meu repertório de ofensas naquela garota desmemoriada. E após conter minhas palavras de baixo-calão, eu puxei meu celular do bolso. Celular de flip, só para negócios. Eu também atendi a ligação, senti que era importante para conseguir falar com quem estava me ligando.
Então...
— Alô... como assim... meu mestre...
+++
Foram um pouco mais de duas horas para chegarmos até a ACAP, em Tóquio. Lugar onde eu morava e também nosso escritório. Ficava no segundo andar de um edifício de esquina, entre um salão de cabelereiro e um curso de informática. Tínhamos feito uma pequena reforma no escritório, que sofrera alguns danos nas férias de verão, muito por conta da assassina que estava ao meu lado. Mas, quando chegamos na Agência de Combate Anti-Psicopompos, o estado de minha residência estava deplorável.
Estava só o pó.
E o pior. O motivo por termos corrido de Osaka a Tóquio. Meu mestre, realmente, como a voz misteriosa disse ao telefone, foi sequestrado.
Tudo, praticamente, estava de cabeça para baixo no escritório. A estante de livros favoritas de meu mestre estava repartida ao meio, como se golpeada friamente pela lâmina de uma katana. As paredes também tinham marcas de cortes fundos e precisos. Com certeza, uma batalha aconteceu ali.
— Está ouvindo? — Yuna olhou para a parede à direita.
— Ouvindo...? — Eu olhei para onde ela olhava.
Sem saber o porquê, a assassina se moveu na direção da porta de meu quarto, e o adentrou sem dó ou piedade.
— Ei, o que quer aí?
Eu rapidamente a segui para verificar o porquê daquela agilidade para entrar no recanto do samurai. Não que eu tivesse algo a esconder, claro.
— Então é aqui que fica a escrava sexual de vocês?
Eu ouvi Yuna dizer aquilo, enquanto passava pela porta de meu quarto. Sem entender a parte da "escrava sexual", quando já estava dentro de meu recanto, vi que Yuna observava algo ao chão, praticamente no canto do cômodo...
— Você é sadomasoquista, é? — Ela me olhou por cima do ombro.
— Como? Eu? — Me aproximei para ver o que a assassina estava observando que a levou a formular uma pergunta dessas e...
Havia uma garota muito ferida, da cabeça aos pés, com arranhões, marcas de mão e de mordidas, e um corte fundo na lateral esquerda de seu abdômen, que aparentava estar bem recente.
Aquela garota, era a mesma cliente colegial que meu mestre ficou de proteger. Será que o Senhor Demagogias tinha vindo atrás dela e acabou levando meu mestre?
— Droga, ela tá muito ferida — falei. — Precisamos fazer...
Ignorando minhas palavras desesperadas, Yuna agachou e passou o dedo sobre o corte fundo, o congelando e cessando o sangramento.
— Era o pior dos ferimentos — disse ela. — Os outros vão cicatrizar tranquilamente.
— Yuna...
— O que é?
— Essa colegial... foi ela quem falou sobre o Demagogias. Ela estava aqui para meu mestre protegê-la...
— Proteger não é bem a palavra que eu usaria, seu pamonha.
— Está dizendo isso só porque meu mestre foi sequestrado, mas ele tentou defendê-la...
— Não era exatamente a isso que eu estava me referindo. — Ela se ergueu. As mãos foram à cintura. — Bem, analisando o corte na garota e nas paredes, não é difícil concluir que são obras de uma lâmina bem afiada. Não me lembro do shinigami utilizar uma espada, então, podemos descartá-lo. Até porque, a Mythpool está com ele. Não seria possível que eles fossem tão pamonhas a ponto de deixá-lo escapar.
— Ok, é um argumento plausível. Mas, quem iria invadir minha casa, fazer tudo isso com uma espada, e ainda por cima sequestrar meu mestre?
— Katana.
— Quê?
— Foi uma katana, na verdade — ela se virou para mim. — Se fosse uma espada comum, as marcas na parede seriam diferentes.
— Que seja, é tudo a mesma coisa.
— Não. Se fosse a mesma coisa, teriam o mesmo nome, seu pamonha.
— Sua lógica não faz sentido.
— Hã, claro que faz.
— Claro que não. Por exemplo: bosta e merda, são nomes diferentes para a mesma coisa. E, a propósito, o nome disso é sinônimo.
— Agora quer pagar o cara de QI alto, é? Fique você sabendo que a merda é mole, meio pastosa, e a bosta é mais dura e roliça. Por isso que o besouro rola bosta, e não merda.
Vendo por esse ângulo...
— Você não deveria cabular as aulas de biologia — concluiu ela.
— Tá, tá, isso não é importante. Não sei porque começamos a falar de fezes.
— Ué, você quem deu um exemplo idiota. O que mostra o quão limitado é o seu cérebro. Você não serve nem para dar um bom exemplo.
— Já chega, eu já entendi. Você quer me zoar. Acha que sou um bosta...
— Um merda, para ser sincera. A bosta ainda é útil para os besouros.
Ela dizia aquelas coisas cruéis para mim com a maior naturalidade, sem mover em nada sua feição. Para Yuna, lançar ofensas a mim parecia ser algo automático, como se cumprisse uma clausula contratual de seu próprio cérebro.
Àquele dialogo esquisito e totalmente fora de hora, eu decidi desistir. Simplesmente virei as costas e saí do quarto. Olhei ao redor, para minha residência destruída. Alguns livros que estavam nas estantes, agora, estavam ao chão, e enquanto meus olhos vasculhavam a bagunça em busca do Ranking Mundial de Shinigamis, eu visualizei um pedaço de papel.
Um cartão, melhor dizendo. Daqueles produzidos em gráficas baratas.
— Hmm...
Eu me agachei. Apanhei o cartão. Um lado estava em branco, já o outro, podia-se ler: Estou com Hideki. Se estiver com a hanyou, vá até o local indicado nas coordenadas abaixo. Assinado: SS.
— Ô, Yuna. Vem cá ver isso aqui.
+++
E assim fomos parar no armazém abandonado. Era onde as coordenadas nos levavam. Um armazém sem dono. Um armazém bastardo. Totalmente vazio e um pouco escuro ao anoitecer. Ok, sobre estar totalmente vazio, não era verdade. Quando nós chegamos lá, após levarmos a colegial para o hospital mais próximo, o que encontramos era o que esperávamos: meu mestre, acorrentado a uma cadeira.
Deduzi que aquelas correntes deveriam ter algum tipo de feitiço, porque meu mestre poderia simplesmente desfazer aquela prisão com suas técnicas. Porém, se aquelas correntes estivessem com algum aprimoramento místico, meu mestre estaria em situação de igualdade, ou até em desvantagem, com aquela prisão de ferro.
Seu nome é Hideki Takashi. Ele tem mestrado em artes místicas, artes marciais e artes sensoriais, embora esta última eu não tenha a menor ideia do que se trata. Ele é um cara de vinte e nove anos de idade, loiro de olhos verdes, com um cavanhaque simbólico, e mesmo assim, oriental. Geralmente veste um sobretudo branco e tem vários modelos em seu guarda-roupa, assim como Yuna tem suas regatas de basquete.
— Na verdade, eu odeio basquete — explicara a assassina, quando a questionei sobre. — Nada contra o esporte em si. Até achava interessante. Só que o jogo exige uma das únicas coisas que não tenho...
— Coração?
— Não, seu pamonha. É altura.
Argumento muito válido, pensei. Yuna Nate tinha seus um e sessenta, um e sessenta e cinco de altura, ou por aí. Além de um coração, Yuna também não tinha altura. Não que eu fosse um exemplo de pessoa alta, claro.
— Daigo! Leve a garota daqui!
Meu mestre advertiu com rapidez assim que notou que havíamos chegado. E o motivo dessa advertência de meu mestre, foi logo em seguida nos revelado, com um zunido vindo do alto em nossa direção.
Ligeiros, saltamos para lados oposto para nos safarmos de seja lá o que for que voou contra nós. O som de metal se cravando no solo, acabou confirmando minhas suspeitas.
Era uma espada. Ou melhor, katana.
Uma longa katana, cuja lâmina brilhava em laranja, mesmo tendo seu metal no tom prateado, como um raio lunar. Seu punho era coberto por uma bandagem avermelhada, como se tingida por sangue fresco.
— Tsc — de súbito, Yuna reagiu a algo, criando uma shuriken de gelo em sua mão, que logo jogou para o alto no armazém. E, caindo da penumbra do teto, uma nova garota, rebateu a shuriken de gelo com a bainha vazia de uma katana, e pousou ao lado da lâmina cravada ao solo.
Os cabelos escuros e curtos. Os olhos negros e intimidadores. A aparência em geral era bem feminina e delicada, mesmo usando trajes negros como uma legião de sombras e sendo a portadora de uma arma tão poderosa. O correto seria vocês a conhecerem como Agente 2k9, mas sua fama transcendia até mesmo seu codinome.
Suny McSun era seu nome. Uma agente de elite da Mythpool. Era a Mulher Maravilha deles. E "maravilha", no caso dela, é a palavra mais do que correta. Tanto em força e habilidade, quanto em sagacidade e beleza, "maravilha" era a melhor definição.
— Há quanto tempo, híbrida — a agente retirou a lendária lâmina Totsuka do solo.
— Quanto tempo...? — Confusa, ela direcionou o olhar para mim. — Seu pamonha, ela está com você?
— Comigo? Eu achei que estivesse com você, na verdade. Você quem é chegada da galera da Mythpool.
— Eu não conheço ninguém de lá.
— Ah, mas...
— Estão me ignorando, é?! — Clamou a espadachim, nos interrompendo e chamando a atenção de volta para ela. E então se voltou para mim. — Moleque, escute. Parece que sabe que sou uma agente da Mythpool, então não preciso ficar botando banca aqui.
Quem é que fala "botando banca" em 2017?
— Essa garota é maligna. É uma máquina de matar. Eu sei bem disso. Você fez muito bem em trazê-la aqui, obrigada. — Ela agora se voltou para Yuna. — Não vou perder essa chance de aniquilá-la.
A isso, Yuna estreitou o olhar, encarando sem temor a agente, como se de antemão aceitasse o desafio. A expressão da assassina era de quem não gostou muito do que ouviu.
— Ok, eu não sei de onde me conhece, ô da katana, mas eu não tenho tempo para perder com você. — O tom de Yuna havia mudado um pouco, mostrando que ela não estava de brincadeira. — Só quero que liberte o pedófilo ali, e o taradinho e eu o levaremos para casa.
— Eu não sou pedófilo — comentou meu mestre.
— E eu não sou taradinho — comentou eu mesmo.
Os lábios da espadachim tremeram, segurando o início de uma boa risada. Ela suspirou, começando a se mostrar impaciente.
— Até quando vai fingir que não sabe o que está acontecendo? — Disse Suny a Yuna.
— Até quando? Como assim? A única coisa que sei é que você sequestrou um pervertido e que isso está me tomando tempo. Eu ainda tenho outro sequestro para resolver, então, vê se liberta o quarentão e puxa o carro, entendeu?
— Hmph, não me venha com essa, Assassina de Youkais. Você é a única sequestradora aqui. Você, e o resto da AAA...
— Quê? Não. Quem foi sequestrado foi o Yamato, da AAA.
— Quem é Yamato? Vocês da AAA sequestraram o 3k1...
— Espera — eu me envolvi no debate. — 3k1 não é o agente que prendeu o Senhor Demagogias ontem?
— É, verdade, acho que era isso — comentou Yuna.
— Ei, você conhece o 3k1? — Indagou a agente.
— Bem, para ser sincero, só falei com ele ontem, mesmo...
— Então você é cumplice dessa sequestradora assassina — ela apontou sua lâmina para mim, e eu logo dei um passo para trás, erguendo as mãos.
— Calminha aí, a única sequestradora é você aqui — falei. — Nós só encontramos com ele ontem, nada além disso.
— História mal contada — rosnou a agente.
— Escuta, sua pamonha, se você não acredita, não podemos fazer nada. Se esse 3k1 foi sequestrado, eu sinto muito, ele parecia ser uma ótima pessoa, só que isso não é problema nosso. Como disse, temos mais o que fazer.
— Tsc — a espadachim se virou para a assassina. A expressão clara de descontentamento. — Sua fedelha, como...
— Ninguém se mexe! — Meu mestre bradou em um misto de raiva e desespero. Isso chamou a atenção imediata de nós três para ele. — Parem para pensar. Pelo o que parece, houve dois sequestros em duas organizações que não vivem no melhor de seu tratado de paz. É provável que o sequestrador seja alguém que tenha algo contra as duas organizações e queira causar um conflito entre elas. Yamato e esse 3k1 foram sequestrados no mesmo dia, e isso fez com que vocês duas se encontrassem para um duelo mortal.
— Pode haver um sentido nisso — disse Yuna. — Mas o que o Yamato tem a ver com o agente?
— Vocês duas. Vocês duas são a ligação entre um e outro. Você pode não lembrar da agente, Yuna, mas se vocês realmente se conhecem de antes, podemos calcular que a pessoa que realizou esses sequestros também conhece vocês duas.
— Incrível, mestre!
— Obrigado, Daigo!
— É, o coroa pode ter razão. — Suny guardou a espada na bainha. Ao fazer isso, o provável feitiço nas correntes que seguravam meu mestre, se desfez, o libertando. — Bem, vamos seguir essa linha de raciocínio e trocar informações. Trabalhando juntos, podemos nos direcionar a um norte definitivo.
— Eu não estou com muita vontade de formar uma aliança com você — comentou Yuna, entrelaçando os dedos sobre a nuca. — Mas se isso vai me fazer vencer aqueles dois...
— Yuna, não é hora pra ficar se achando — disse eu.
— Tsc. Está legal, seu pamonha, vamos trabalhar todos juntos. Só espero que não tentem nada com meu corpo.
— Droga. — Pensei ter ouvido meu mestre dizer, mas acho que só foi impressão, mesmo.
+++
Decidimos retornar para a ACAP, antes de discutirmos sobre todo o caso. Suny e Yuna se evitavam em nossa trajetória de volta ao lar. Pelo o que a agente explicou para nós, a assassina e ela tinham algumas desavenças no passado, embora já tivessem sido companheiras em uma operação. Yuna não digeriu muito bem essa história.
— Hmph, posso não me lembrar, mas duvido muito que eu consegui respirar o mesmo ar que alguém com essa cara de pamonha.
Com Yuna sendo Yuna, meu mestre e eu, tivemos de segurar Suny que queria partir para cima da garota. Mesmo eu achando que deveria me ofender também com o comentário dela, dada minha aparência aos olhos de Yuna.
Enfim.
Quando chegamos em nossa agência, era hora de colocarmos as cartas na mesa.
Primeiro, Yuna e eu, explicamos a situação de Yamato e como o sequestro ocorreu tão repentinamente. Então, Suny soltou o verbo. Ela nos contou o que ocorreu com 3k1.
— Depois que ele levou Demagogias para a sede e o interrogou, acabou conseguindo algumas informações, como a de que alguns shinigamis estão trabalhando para uma organização de assassinos. Esses shinigamis estão crentes de que essa associação possa despertar o Neutro no Ranking Mundial.
Ao ouvir isso, meu mestre que estava mais preocupado com o estado da agência, voltou total atenção para Suny, com uma expressão temerosa.
— Mestre...?
Ele engoliu em seco. Isso era raro.
— He... você não está... quero dizer, isso não é possível. Digo, é possível, mas... o Neutro... você tem noção do que é?
A agente apenas assentiu, respondendo meu mestre e enfatizando que não estava brincando.
— Ok, me expliquem o caso. — Ele do nada se interessou.
— E eu estou explicando — disse Suny. — Após o interrogatório, 3k1 simplesmente desapareceu. As informações que estou passando aqui, só foram conseguidas por conta das gravações de áudio e vídeo na jaula.
— E disso — comecei —, você associou que a organização que os shinigamis estão trabalhando é a AAA, por isso veio atrás de Yuna?
— Basicamente, sim. Mas não foi pelas informações passadas pelo deus da morte. E sim, pelo próprio 3k1. Ele conseguiu se comunicar comigo, por Código Morse, só que não sabe sua localização. Ele só pôde enviar uma mensagem curta e rápida, dizendo que quem o sequestrou é da AAA.
— Impossível — retrucou Yuna. — Primeiro: porque todos os integrantes da AAA estavam juntos nesta manhã, justamente pelo sequestro de Yamato. E nenhum de nós tem a habilidade de entrar e sair de um local como a Mythpool em um piscar de olhos e ainda sequestrar um agente de bônus.
— Na verdade, Yamato conseguiria — falei.
— Ei, seu pamonha, de que lado você está?
— Não é questão de lado. Só estou pensando. Yamato pode viajar pela Dimensão Espelhada. Ele poderia ter invadido a Mythpool e sequestrado o 3k1.
— Tsc, só me faltava essa — a assassina resmungou, foi até uma prateleira ao chão e se sentou, esticando e cruzando as pernas. — Tira uma foto que dura mais, pedófilo.
— E-Eu nem estava te olhando — meu mestre desviou o olhar. — Você quem entrou no meu campo de visão.
Yuna revirou os olhos e também desviou o olhar.
— Veja bem — continuei —, eu não estou tentando acusar Yamato, Yuna. Só que ele sumiu e logo depois o 3k1 sumiu, e o agente disse que era alguém da AAA.
— Não creio — protestou ela. — O que Yamato ia querer com um agente da Mythpool? E, como Mena diria, isso não é do feitio dele. Afinal, para onde Yamato teria o levado?
— Bem, aí eu já não sei.
— Então pronto, seu pamonha. Posso colocar ele na lista de suspeitos, mas não vou deixar de acreditar que ele continua sendo uma vítima. E, se por algum motivo cósmico, você estiver certo e ele for o sequestrador, dependendo dos motivos dele, eu vou ajudá-lo.
Ela focou seu olhar gélido em minha pessoa, como um predador faz com sua presa.
Era assustador, realmente assustador. Mesmo com um olho só, era de fechar o...
— Garota, qual o seu problema?! — Suny cerrou os dentes.
— É uma listinha longa. — Yuna respondeu sarcástica.
— Sua fedelha... — de súbito a mão da agente foi ao punho de sua katana, com uma velocidade assombrosa.
E, em resposta daquele gesto ameaçador, a assassina mirou o olhar frio para Suny. A temperatura em nossa agência começou a baixar rapidamente. Estava para se iniciar um embate mutante em um espaço estreito...
— Não! — Disse meu mestre, corajoso. — Não vão começar a brigar aqui dentro! Já não basta o aconteceu entre mim e a agente mais cedo, e olha como ficou meu local de trabalho! Vamos tentar pensar racionalmente.
Boa, mestre. Suny retirou a mão do punho de sua lâmina, assim como Yuna suavizou a expressão e voltou a desviar o olhar. Realmente muito bom, mestre.
— Agora — continuou ele —, como especialista, sei que se o Neutro está envolvido nisso, a situação do planeta pode se tornar pior do que durante a Segunda Guerra. Ouvindo o que vocês disseram até o momento, vou dizer o que penso.
Nós três nos voltamos atentamente para meu mestre.
— Vou começar concordando com a garota. Yamato é inocente.
— E por quê? — Indagou Suny.
— Porque, como deve saber, agente, o Neutro no Ranking Mundial de Shinigamis, não é um deus da morte. Ele é o próprio conceito de morte. É a Morte em si. Uma entidade cósmica, acima de Amaterasu, Buda, e os Arcanjos. Algo que existe desde os primórdios da criação de todos os universos.
— Tá saindo um pouco de xixi de mim, agora — murmurei.
— E onde Yamato entra nisso? — Perguntou Yuna.
— Bem, o Neutro, é uma entidade, quase um conceito. Ele não tem forma física, um corpo. Se essa organização que está usando shinigamis, quer despertar o Neutro, vão precisar de um receptáculo e uma fonte de energia mágica absurda, para que a entidade no corpo possa usar seus poderes.
— Que são?
— O controle absoluto de causa e consequência. Quase como controlar o destino e cancelar o livre-arbítrio. Algo que beira a onipotência. Um humano comum poderia ser o receptáculo do Neutro, tranquilamente. Porém, não existe mana suficiente em um humano para alimentar os poderes da entidade. E se tentassem acoplar uma fonte de energia mágica em um humano, seu corpo provavelmente não suportaria e se transformaria em pó.
— Ok, plausível — falou a agente. — Só que onde Yamato entra nisso?
— Verdade — disse Yuna. — Yamato é metade shinigami, um híbrido, ele não tem circuitos mágicos.
— Mas ele não precisa ter, justamente por ser um híbrido. O corpo de um híbrido de shinigami e humano, pode suportar uma quantidade absurda de energia mágica em seu corpo, por isso podem se tornar um super shinigami. Neste caso, Yamato é elegível ao processo por poder receber uma fonte de energia mágica externa.
— Hmm, agora eu entendi, agora eu saquei — a assassina levou as mãos a cintura. — Mas, espera... se essa entidade tem poderes quase onipotentes, não seria necessária uma fonte infinita de energia para que ela conseguisse usar os poderes plenamente?
— Bem, verdade — meu mestre coçou a nuca, sem graça. — Contudo, se essa organização encontrar uma fonte de energia auto reciclável, seria útil. A entidade não conseguiria usar os poderes plenamente, mas poderia usar os poderes totais, com algumas pausas para descanso.
— Tipo uma bateria de celular?
— Acho que não, seu pamonha. A bateria de um celular é somente recarregável, e depende de outra fonte de energia. Ele disse auto reciclável, então é uma fonte de energia independente, como... é... esqueci o nome...
— Como a Joia Magatama — disse Suny, em um tom soturno.
— Joia Magatama? Está falando do tesouro que fica no Palácio Imperial?
— Bem, realmente — meu mestre tocou seu cavanhaque com os dedos —, a Magatama é uma fonte de energia auto reciclável. E, pensando bem, não estava o Demagogias atrás de uma joia, Daigo?
— Verdade. Juntando as peças, sua teoria faz muito mais sentido. Demagogias estava atrás da Magatama para entregar à organização, que está com Yamato, o híbrido. É basicamente isso.
— Mas a joia ainda está no Palácio — comentou Yuna.
— Porque aquela é falsa — falou Suny. — Na verdade, a única que sabe a localização da joia, sou eu.
— Haha! Então, temos uma vantagem. — Meu mestre cruzou os braços, alegre. — Vamos, é só nos dizer onde ela está, que...
— Não — ela nem hesitou ao responder. — A localização é mais do que secreta, por isso só foi guardada comigo. Espero que entendam. A joia está segura, não se preocupem.
— Mas e...
— Não se preocupem — rosnou a agente.
...
— Ok, ok, e enquanto ao sequestrador? — Disse Yuna.
— Bem, a pista que temos, é que é alguém da AAA, e que ele pode sair e entrar dos lugares em um piscar de olhos. — Lembrei a eles.
— E não é o Yamato — observou a assassina, lançando um olhar desdenhoso para Suny.
— Tsc... — ela só ignorou.
— Ei, vocês duas, vamos focar — disse meu mestre. — Além de Yamato, quem poderia entrar e sair dos lugares em um estalar de dedos?
— Já disse, seu pedófilo, não tem ninguém. Entenda isso.
— Na verdade, existe alguém — falei. — Ou melhor, existia alguém. Isso porque ele provavelmente morreu no incidente de Saitama. Digo, ele estava no centro da explosão, só pode ter morrido.
— E qual é o nome dele? — Perguntou Suny.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro